sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4849: A galeria dos meus heróis (6): O Renoir de Montemuro, nascido no ano zero da idade atómica (Luís Graça)

Pierre-Aguste Renoir (1841-1919): Pintura a óleo, Le déjeuner des canotiers, 1880-1881. Fonte: Wikipedia. Uma das obras-primas da pintura ocidental, que mais me fascina (LG).


A galeria dos meus heróis (*) > Nascido em 45, no ano zero, o Renoir de Montemuro

por Luís Graça


Nascido no ano zero. 1945... Lembro-me de teres escrito isso, muitos anos depois, no catálogo da minha primeira exposição de pintura no SNI (Lembras-te, em 1965 ?!... Ainda pensámos em dar o salto até Paris, éramos vagamente existencialistas, anticolonialistas e anti-imperialistas, eu sonhava com Montmarte, enquanto tu devoravas o Camus e o Sartre!... Não conseguimos convencer o nosso gestor de conta a financiar o nosso inconsistente projecto de aventura).

1945… Ano zero da idade atómica. Hiroshima. O cogumelo. O horror. Mas também o fim da guerra. Libération, diziam os franceses. O fim do pesadelo da ocupação nazi. O direito à esperança. O recomeço da humanidade… As palavras eram tuas, escritas no meu catálogo que até estava bonito… não estava ?! ... Ah!, 1945, que raio de ano para se nascer, o fim de uma época, o início de outra… 

Que ilusão, meu amigo, tu que me chamavas o Renoir de Montemuro… Só por que eu fazia umas coisas démodées, vagamente impressionistas... Enfim, aprendiz de Renoir...

Na minha cédula pessoal, um nota a lápis já meio sumida. Letra talvez de merceeiro, de padre ou de conservador do registo civil. Mais uma boca com direito a senha de racionamento. Milho, açúcar, farinha, azeite… Havia racionamento de géneros por causa da guerra, a II Guerra Mundial. Lembras-te ? Talvez não, nasceste depois, em 47, já não apanhaste esses tempos que foram duros para os nossos pais e irmãos mais velhos. E estavas mais perto da capital, no Oeste Estremenho.

Nesse mesmo ano e mês em que nasci, acabava de regressar da Índia (da Índia portuguesa, como então se dizia, englobando os territórios de Goa, Damão e Diu) o filho do francês, o cabo chefe da aldeia e um dos poucos que sabia ler, escrever e contar. Tinha uma pensão do ministério da guerra. Fora gaseado na Flandres. Regressara tuberculoso e herói de La Lys. Admirava Pétain, Sidónio Pais, Gomes da Costa e Salazar. Vociferava contra a corja dos republicanos

Era meu padrinho. Por favores que lhe deviam (e deferências que lhe prestavam) os meus pais. Nunca soube quais. Nunca quis saber. Quando comecei a pensar pela minha própria cabeça, passei a detestar as relações de clientelismo e dependência que vigoravam na aldeia. Na minha aldeia da Serra de Montemuro, uma aldeia de pastores que não era muito diferente de tantas tabancas fulas por onde passei na Guiné… Ainda hás-de conhecê-la, a minha aldeia, e eu reconhecê-la, contigo, num próximo verão em que fores lá cima ao Norte, a Candoz… Em Agosto, no teu e meu querido mês de Agosto

Havia sempre festa na aldeia quando um filho regressava das colónias. Mais tarde, Ultramar. No nosso tempo, Ultramar, como bem te lembras. Quando puto, ainda sonhei ser missionário, e ajudar a converter os pretinhos lá nas missões do Ultramar. Problemas de pulmões impediram-me de seguir essa vocação precoce. Estás-me a imaginar de sotaina branca e longas barbas pretas, não estás ?! E acabar, santo e mártir, frito no caldeirão de uma tribo de canibais!... Ah! Como era rica e delirante a nossa imaginação de putos…

Em 45 os tempos ainda eram bem duros. Escondia-se, na serra, o milho, os cabritos e os anhos, dos fiscais do Governo. Contavam os meus pais. Mesmo assim fazia-se festa rija. O foguetório não era como hoje. Nesse tempo era um luxo. Lançavam-se uns petardos. Pólvora seca. Não havia dinheiro para nada. Só no São João. Era a altura em que se fazia algum graveto. Os cabritos e os anhos do São João ajudavam a compor o tísico orçamento das gentes da minha aldeia. Iam para o Porto, de comboio, pela linha do Douro. Ou até nos barcos rebelos, embarcados no ancoradouro de Porto Antigo. Ainda não havia as barragens, e o Douro era belo, puro, duro e selvagem… Hoje está completamente amansado.

O francês, meu padrinho, emprestava dinheiros a juros. Era o banqueiro do povo, diríamos hoje. Negociante de gado ou, melhor, intermediário. Era, além disso, o dono da única mercearia da aldeia, com um anexo, misto de café e tasco, onde se podia ouvir a Emissora Nacional, através do único rádio existente ali e nas redondezas… Enfim, uma espécie de rádio, uma galera… Ele era engenhocas. E, além disso, dava-se bem com gente graúda: por exemplo, o major de Porto Antigo, que, segundo se dizia, descendia do Serpa Pinto e estava bem colocado nos meios políticos e militares da época. A esposa mandava cartas ao Salazar, contava a minha mãe, sempre atenta a (mas não menos temerosa de) os fios com que se costurava o poder. Nem por isso o meu padrinho metera uma cunha para livrar o filho da tropa, durante a II Guerra Mundial. O rapaz esteve em Goa, como expedicionário, com muito orgulho do pai e maior mágoa da mãe.

Já doente, com setenta e tal anos, o meu padrinho soube da minha partida para África em 1968. Eu nunca lhe pedira nada, nem sequer o Pão-Por-Deus. E muito menos que me safasse de ir parar à Guiné. Inclusive proibi os meus pais de o fazerem por mim. Tinha a mania dos princípios. E da coerência. Coisas que hoje não vejo ser valorizadas pelos mais novos, por exemplo os meus filhos e sobrinhos.

Quando voltei, em 1970, já tinha morrido. Ele e o Salazar. O seu maior desgosto era um dos netos que devia seguir as peugadas do pai, advogado no Porto. Numas férias de verão, em meados dos anos 60,  ficou em Londres a lavar pratos. Em Setembro desse ano estava na Suécia. Fazia 20 anos. Foi dado como refractário ou desertor, não te sei dizer ao certo, que eu de RDM fiquei farto até aos cabelos. Como estava a estudar na Faculdade de Direito, beneficiava do adiamento da data de incorporação. Eu sei que nessa época ninguém escapava à guerra, até filho de general era mobilizado. Nunca conheci nenhum, mas imagino que, na pior das hipóteses, ficavam na guerra do ar condicionado: em Bissau, em Luanda, em Lourenço Marques…

O avô, pelo menos publicamente, viu na traição do neto uma desonra para a família. Coimbra, a república dos estudantes, dera-lhe a volta à cabeça, lamentava-se. Para mais era o seu neto querido, o mais inteligente, o mais parecido com ele. Rédea comprida e chicote curto, eis a desgraça, concluía o meu padrinho, quando o fui visitar, nas minhas férias em Julho de 1969. Sua bênção, padrinho - foram as primeiras palavras que lhe disse, desde há anos… Já o pai não prestava, era um fraco, arrematava ele, entre dois ataques de tosse. As melhoras, padrinho – foram as últimas palavras que lhe dirigi… Julgo que eram sinceras, que nada tinham de cínico. 

Impressionou-me a sua decadência, a sua descida do pedestal, acabrunhado pelos acontecimentos dos últimos tempos… A família a desmoronar-se, a Pátria a esvanecer, a aldeia a minguar com a emigração… Não podia ouvir falar do Marcello Caetano, que era para ele o coveiro do Estado Novo. Ele próprio morreria, na aldeia, um ano depois,  respeitado mas não amado. Durante décadas fora pai, padrinho e patrão, um verdadeiro cabo chefe de uma aldeia serrana do nosso velho Portugal…

Gustavo, o neto do meu padrinho, ainda me escrevera um dia para o meu SPM, já no final da minha comissão. Éramos amigos. Ou melhor, mais conterrâneos do que amigos , tínhamos brincado juntos, quando garotos, nas férias de verão. Estudara em colégio particular. Vivia no Porto. Passava férias na aldeia. Agora, em Estocolmo, na Suécia, militava num grupúsculo marxista-leninista qualquer e angariava dinheiro para o PAIGC. Dinheiro que tanto servia para comprar livros e medicamentos como armas e munições, questionava-me eu. Irritou-me a sua missiva, cheia de metáforas, frases pomposas, retiradas do livrinho vermelho do execrável camarada Mao (Devo dizer-te que sempre fui mais sinófobo do que sinófilo)…

As minhas próprias simpatias iniciais pelo PAIGC desvaneceram-se com os imperativos da camaradagem na caserna e na frente de batalha. Não se podia objectivamente estar do lado de cá, fardado de camuflado, e equipado com a G3, e ser-se um simpatizante, vagamente romântico, daqueles que nos combatiam (e nós combatíamos)… Além disso, chocavam-me os métodos de terror usados pelo PAIGC contra os fulas, na zona leste… Tinha alguns amigos guineenses, entre eles, fulas…

Nunca lhe respondi. Achava-o um puto mimado e provocador. Não me admirei de o vir a encontrar, depois do 25 de Abril, num dos partidos do poder. Andará hoje por Bruxelas, segundo me disseram. Tinha-se casado com uma sueca. Mas já estava divorciado nos finais da década de 1970. Secretamente, invejava-lhe a sorte, ele ali no bem bom da Suécia e das suecas… e eu a gramar a pastilha de uma comissão de serviço militar na Guiné. Achei que o mundo não era justo. Mas mesmo assim não me podia queixar. Estava vivo. E os primeiros tempos, passados entre Nova Lamego  e Bambadinca, até nem foram maus. Ainda fiz o gosto ao dedo e pintei alguns quadros que até tiveram um ou outro comprador. Outros ofereci, a um família de comerciantes libaneses que costumava frequentar. Mas depressa percebi que esgotara o meu filão artístico. Afinal o teu Renoir nunca passara da cepa torta, isto é, de Montemuro…

Passei por uma crise existencial, ainda tive, uma vez, uma única vez, depois de ter despejado uma garrafa de uísque, a pistola Walther apontada ao céu da boca. Mesmo anestesiado, era demasiado cobardolas para resolver, com um tiro mortal, as minhas contradições pequeno-burguesas, agravadas por uma idiota dor de corno.

A Flora, que tu ainda conheceste, no tempo da minha/nossa famosa exposição do SNI, a bela menina-família do Funchal, que estava a estudar serviço social, ali no Campo de Santana, em Lisboa, tinha-me trocado por um javardo de um herdeiro de uma fortuna venezuelana… Ainda trabalhara uns tempos na Misericórdia de Lisboa, num dos projectos de realojamento de população de um bairro de lata. Não esqueço a última carta que me mandou, de despedida. Era um encanto de miúda, delicadíssima, mas com pouca margem de decisão em relação à sua vida pessoal.

O clã é sempre quem mais ordena. O pai, tanto quanto percebi, era um homem do regime, da média burguesia funchalense, mas com problemas financeiras, por negócios, mal sucedidos, na área da exportação de banana. Família numerosa, muitos manos. Nunca iria dar certo o meu casamento com a Flora. Nunca pensei, de resto, em pedir-lhe a mão. Muito menos depois de conhecer o paraíso da Guiné. Não me lembro de alguma vez lhe ter pedido a mão. Fui surpreendido quando um dos meus amigos do Funchal me veio lembrar que seria bom decidir-me e pedir-lhe a mão em casamento. Foi um choque. Não estava preparado para tomar nenhuma decisão. Muito menos para decidir quem deveria ser a mãe dos meus filhos. Estava na Guiné, estava na guerra, sem saber o que fazer da minha vida… sem saber sequer se iria chegar à meta, que era cumprir a minha pena de 21 meses, de “perigos e guerras esforçados, mais do que prometia a força humana”, a que fora condenado… No mínimo, chegar inteiro à meta. Ainda tentei telefonar-lhe, de Nova Lamego. Em vão. A chamada caiu. Nunca mais tive a conversa que gostaria de ter tido com a minha noiva que afinal nunca o fora. (Acabei por casar com uma galega de Orense, que nunca chegarás a conhecer, por que já fomos cada um à sua vida…).

Depois,  meu amigo, veio o rol de desgraças que me aconteceram. A descida aos infernos. A cafrealização, à maneira do Rimbaud. A porrada do segundo comandante no Gabu. A ida, por castigo, para o sul, em rendição individual. A mina que me mandou quase um ano  para o Hospital Militar da Estrela. Poupo-te os pormenores, eu próprio só agora fui desenterrar esses pesadelos que ainda povoavam o sótão da minha memória…

 Esqueci a Guiné durante décadas. Até ao dia em que, não sei porquê, vi na Internet o teu nome, a tua cara, os teus óculos, associado a Bambadinca, um dos poucos sítios de que eu até guardava boas memórias… Desencontrámo-nos na Guiné. Tu e eu. Nem sequer sabia que estiveste lá, depois de mim… Mas achei piada ao teu jogo de palavras: “o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca… é Grande”.

Um dia hei-de telefonar, para conversarmos com mais tempo e vagar. Até lá, um abraço, como vocês dizem,  do tamanho do nosso Rio Geba. O teu falhado amigo pintor, e, pior do que isso, frustado companheiro da viagem a salto, até Paris, viagem que nunca passou de um devaneio de umas tantas tardes de verão em que estivemos, juntos, em 1965, no SNI, entre copos de ginjinha nos Restauradores. Teu Renoir de Montemuro.

PS – Nunca mais voltei aos Restauradores para beber ginjinha… Nunca mais te pus a vista em cima.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. restantes postes da série A galeria dos meus heróis:

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1014: A galeria dos meus heróis (5): Ó Pimbas, não tenhas medo! (Luís Graça)

1 de Agosto de 2006 > Guiné 63/74 - P1011: A galeria dos meus heróis (4): o infortunado 'turra' Malan Mané (Luís Graça)

12 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXLIV: A galeria dos meus heróis (3): A Helena de Bafatá (Luís Graça)

14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXLII: A galeria dos meus heróis (2): Iero Jau (Luís Graça)

13 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXXVIII: A galeria dos meus heróis (1): o Campanhã (Luís Graça)

7 comentários:

JD disse...

Camaradas,
Eis um texto muito bonito, que descreve o Portugal medievo que chegou aos nossos dias, os sonhos de juventude e a descoberta da dificil responsabilidade de defender a Pátria, mesmo quando a razão se opõe.
Abraços fraternos
José Dinis

Anónimo disse...

Caro Luís Graça
Lindíssimo texto. Transportou-me por momentos para a aldeia onde nasci.
Obrigada
Filomena

Anónimo disse...

Culto Inteligente Brilhante..Um texto à medida do Autor.
Abração
Jorge Cabral

Anónimo disse...

Quero mais!

Porquê?

Porque isto é a verdadeira e malfadada História do meu País, Povo meu.

Neste momento sinto o nariz cravado na janela da Escola Primária vendo o cadáver do "ratinho" ou "gaibéu" envolto no lençol que o levaria à terra porque não tinha dinheiro para umas tábuas.
A Dª. Maria Alice repreendeu a malta pela visão não autorizada.

O ano zero não era 45 era 42.

Escreve meu amigo, porque a tua escrita é Vida!

Mário Fitas

Hélder Valério disse...

Caro Luís G.
Espero que as férias sejam retemperadoras para te proporcionarem as energias necessárias para mais um ano de árduas tarefas...
Li a correr este texto e gostei. Gosto sempre de coisas que me fazem pensar, mesmo que não concorde com tudo o que por vezes está contido nesse escrito.
Neste, em particular, algumas coisas aproximam-se tanto de mim que até me pareceu estar a ler algum escrito meu. Noutras, nem por isso...
Também, como li a correr, tal como disse, não descortinei a quem te referes, ou diriges a prosa ou as recordações. Não sei se é um amigo real ou imaginário. Um camarada da Guiné. Um familiar. Um outro camarada. Um "companheiro de estrada". E quem era o "Renoir de Montemuro"? Tu? Presumo que sim, pois foi o que "foi escrito no catálogo da minha primeira exposição de pintura", e mais no final do texto "assinas" como tal. Mas porquê Montemuro (não tenho nada contra)? Não és da Lourinhã?
Prometo que vou ler com mais cuidado e mais tempo...
Um abraço
Hélder S.

Unknown disse...

Já aqui falei, quer dizer escrevi, que um editor deveria ler este blogue.
Um abraço para a Tabanca
Jorge Portojo

Luís Graça disse...

Meu caro Hélder:

Obrigado pelos teus comentários, observações e perguntas.

As minhas férias estão, felizmente, a correr bem. Acabei a segunda parte do planeado para este ano: depois da Lourinhã (onde sou efectivamente natural e onde tenho um pequeno apartamento na Rua da Misericórida...), depois de três semanas de praia, dei um asalto ao "Alentejo profundo" de que também gosto muito. Andei em "turismos rurais" (Marvão, Moura, Mina de São Domingos)... Olha, fui ao Pulo de Lobo, sítio fascinante (dos mais belos de Portugal), coisa que andava para fazer há anos... E ao Alqueva, claro... Gantando, patrioticamente, o meu dinheiro "cá dinheiro"... Regressei ontem a Lisboa, com passagem pela tua terra para matar sudades do choco fito (se bem que o meu, comido na praia da Peralta, a ver o por do sol no bar do Victor, seja melhor, mais fino, mais gostoso...).

Fico dois dias em Lisboa, esperando o regresso do meu filho que foi tocar à Croácia, e que segue logo para o Peru, de férias.

A 3ª e última parte das férias no "meu querido mêds e Agosto" são passadas em Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses... Se passaraes por lá, até à primeira semana de Setembro, bate à porta (é na Quinta de Candoz, tens um sítio na Internet).

Quanto â 6ª história da "galeria dos meus heróis", é parcialmente ficcional e autobiográfico. De facto, fiz o católogo de exposição (de gravura) de um amigo de adolescência e juventude (que era beirão, mas não exactamente de Montemuro). NO SNI, lembras-te ? Secretariado Nacional de Informação, nos Restauadores, em Lisboa... Aos 19 anos, no Portugal de 1966, era normal os jovens "pensarem em dar o salto" até à Paris, uns para trabalhar, outros para fugir à guerra, outros pelo simples apelo da aventura e da liberdade... Eu, de facto, nessa época era "existencialista"...

O Renoir de Montemuro não sou eu... Nunca fui pintor. Mas o meu amigo existiu (e ainda existe, espero bem). É beirão. Como existe a linda madeirense Flora (espero bem), embora com outro nome... O padrinho de Montemuro, "o padre padrone" de Montemuro existe (ou existiu)...mas é evdiente que é uma personagem "inventada por mim"... Como se costuma dizer, na contracapa dos romances, qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência...

O texto está escrito sob a forma de uma carta/mail enviada por amigo pintor, ao reencontrado amigo de juventude, agora "blogmaster", editor de um blogue sobre a guerra colonial...O amigo pintor, o "Renoir de Montemuro", há muitos anos que não o vejo... Se queres saber mais, fez a guerra em Angola, enquanto eu fui parar à Guiné... A vida depois levou-nos cada um para seu lado... Reencontrei-o há 15/0 anos, talvez... Mas hoje não sei mais nada dele... Puta de vida!

Porquê Montemuro ? De Candoz vejo a serra de Montemuro, e gosto de a atravessar e visitar as suas povoações...

Em suma, a ficcção dá-me mais margem de liberdade, em termos de escrita... É um texto "das horas vagas", que se escreve quando se está de férias e se fica descansado com o Carlos Vinhal a tomar conta do barco (com a ajuda do Eduardo e a vigilância do Virgínio)...

Como sabes, o blogue durante o ano não me deixa tempo para eu próprio escrever os meus textos de memórias...

Aui tens. Boa saúde, bom trabalho ou boas férias, para ti.

Luís