1. Mais uma nota solta do nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), enviada em mensagem do dia 19 de Março de 2010:
NOTAS SOLTAS DA CART 643 (14)
Recordando uma manifestação de amizade
Felizmente todas as Companhias tinham elementos que eram o exemplo da amizade.
O Américo Leong Monteiro, ex Furriel Miliciano, mais vulgarmente conhecido pelos amigos como MAITÁ, era um deles.
Oriundo de uma familia tradicional chinesa, nascido, criado e residente na longínqua Macau, veio para a Metrópole por obrigação prestar o serviço militar, tendo mais tarde sido mobilizado para a Guiné, como elemento da CCS do BART 645.
O Batalhão embarcou a 4 de Março de 1964, mas no fim de Setembro de 1963 já estava em formação em Santa Margarida. Foi nesse aquartelamento, como todos sabem localizado num "deserto", que fizemos amizade, portanto estivemos juntos cerca de 5 meses, foi em Santa Margarida que os AGUIAS NEGRAS criaram "endurance", nas noites gélidas e chuvosas do inverno de 63.
Mas estas notas soltas, simplesmente querem dar a conhecer que o MAITÁ em certa altura mostrou novamente a verdadeira amizade. Todos nós esperávamos ansiosamente pela sexta-feira, para o desejado fim de semana, mas havia obrigações de serviço à Companhia, o Sargento de Dia e da Guarda, que quando calhava nesse período era uma seca das grandes, mas claro este sacrifício passava por todos.
Chegou o Natal e Fim de Ano, ao Rogério Cardoso calhou o serviço de Dia e Guarda, nesse período citado. Fiquei aborrecido por saber que toda a malta ia para casa e eu casadinho de fresco, a 22 de Setembro, ficava naquele deserto.
Então o MAITÁ sabendo que eu estava "condenado", veio junto a mim e disse:
- Oh Rogério, eu não tenho ninguém de familia por cá, o que é que eu vou fazer numa cidade como Lisboa, por exemplo, portanto vai tu para junto dos teus pais e mulher e desejos de um Natal Feliz para todos vós. - Foi com estas palavras que tomou a decisão.
Claro que fiquei deveras contente, de repente e sem esperar vi o meu problema resolvido.
Todos os anos o MAITÁ vem a Portugal, lá para Maio, este ano passado de 2009 estivemos a almoçar no Estoril, tinha que ser Chinês, eu lembrei-me de falar neste assunto, ele não se lembrava ou não estava interessado, mas uma coisa é certa, a mim nunca me vai cair no esquecimento, atitudes desta natureza são para ser divulgadas, aliás ele era considerado por todos os elementos da CCAÇ 645.
Um abraço do sempre amigo
Rogério.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6034: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (13): Perigo, mina na estrada Bissorã-Olossato
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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2 comentários:
Rogério: Foi um gesto bonito, da parte do teu amigo... Mas mais bonito ainda foi, da tua parte, recordá-lo com gratidão... Este ano, em Maio, vais tyu fazer-lhe um gesto bonito, que é trazê-lo para a nossa Tabanca Grande... Precisamos de camaradas de Macau!
Posso contar contigo e com o sucesso da missão ?
Eu por acaso já não me lembrava de ter feito esse favor ao Fur Mil Rogério Cardoso, mas se o fiz foi por livre vontade, porquanto tendo eu vindo de tão longe, como a distante Macau, não tendo família, nem namorada e, principalmente, por falta de Escudos para poder pagar o transporte até Lisboa, nada me custava fazer esse jeito a um camarada. Já quando na Guiné vim de férias a Portugal,em 1965, quero aqui expressar a minha gratidão ao então lo cabo Sérgio Sá, que se ofereceu para me hospedar em sua casa na Areosa, Porto, onde passei uns felizes 30 dias no seio da família Eduardo Moura de Sá, hoje já falecido, mas que todos os Natais, desde, salvo erro 1966, costumo enviar um cartão de Boas Festas. Ainda em 2009 enviei um cartão à D. Luísa de Moura, que prontamente me responde sempre com um lindo cartão, a quem envio muitos cumprimentos e beijinhos de gratidão. Vive agora com alguns dos seus filhos, em Trofa, Santo Tirso. Bem hajam a todos. Américo Monteiro (Maitá).
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