O nosso Camarada Manuel Reis (*), ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350, (Guileje, 1972/74), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 19 de Abril de 2010:
Camaradas,
Este tema poderá já ter sido abordado no Blogue, anterior à minha participação no Blogue, que data dos finais de 2008.
Não é minha intenção provocar uma tempestade, num momento em que o Blogue navega num mar de calmaria e caminha para o seu 6º Aniversário.
Mensagem de Manuel Reis ( Ex-Alf. Mil. da C. CAV. 8350) sobre:
A LFG Orion no Cacheu. Foto do Lema Santos, com a vénia devida.
O PAPEL DA FRAGATA ORION NA BATALHA DE GADAMAEL
Estava em Gadamael quando estes factos ocorreram, mas só tive conhecimento do apoio dos “fuzos” ao pessoal em fuga para Cacine. Sobre a actuação da Fragata Orion o meu desconhecimento era total.
Nos meus recortes de jornal sobre a Guerra Colonial, encontrei um texto sobre o desempenho da tripulação da fragata Orion na batalha de Gadamael. É um trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso, publicado no Jornal Público no dia 26 de Junho de 2005, descrito nas páginas 12-13-14, com título de 1ª página “ A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos”.
Recordo, de forma resumida e com a devida vénia e respeito, o que nessa data foi escrito pelo jornalista Eduardo Dâmaso.
O trabalho do jornalista é baseado em depoimentos do Comandante, então imediato, Pedro Lauret e do soldado grumete electricista Ulisses Pereira.
A fragata Orion encontrava-se no rio Cumbijã, em missão de apoio aos aquartelamentos construídos recentemente no Cantanhez, quando no dia 1 de Junho de 1973, à hora de jantar, o seu Comandante recebe uma mensagem do Comandante em Chefe, António de Spínola, para subir o rio e proceder ao embarque de uma Companhia de Pára-quedistas, em reforço no Cantanhez.
Participaram nesta operação, para além da fragata Orion, duas lanchas de desembarque médio (LDM), oito botes zebro e uma companhia de “fuzos”.São dadas ordens aos “patrões” das LDM para seguirem para Cacine pelo canal do Melo, enquanto o Orion segue rio acima para recolher a Companhia de Pára-quedistas.
Só às 8 horas da manhã do dia 2 de Junho a Orion chega ao largo de Cacine. Aí, a tripulação é informada pelo Major Pessoa, Comandante do Batalhão de Pára-quedistas, da situação de caos que se vive em Gadamael: Do efectivo de 3 companhias que aí se encontravam não existiam mais de 30 homens a defender o aquartelamento. Os restantes e a população encontravam-se em fuga para Cacine ou na orla da mata.
São transmitidas as ordens de Spínola: “ É proibido o auxílio a cobardes”.
Contrariando as ordens de Spínola, Major Pessoa informa da urgência no socorro a essas pessoas e promete ir buscá-las, nem que fosse de canoa, caso o Comando da Orion não discordasse das ordens de Spínola.
As tropas Pára-quedistas desembarcam e seguem nos botes para Gadamael.
A Orion avançou em apoio das tropas fugitivas até ao ponto onde lhe era possível, sem qualquer comunicação ao Comando da Defesa Marítima. As LDM começaram a percorrer as margens e com a colaboração dos zebros recolheram os soldados que andavam perdidos.
“Havia mortos e feridos. Desaparecidos e enlouquecidos”. Improvisou-se um hospital no convés para assistir os feridos ligeiros, enquanto os feridos graves eram colocados na coberta dos “praças”. Foram recuperadas entre 300 a 400 pessoas que posteriormente foram transportadas para Cacine de modo a terem uma assistência mais eficaz.
Pedro Laurent, Comandante do Orion, recorda uma imagem que nunca mais o abandonou: “À noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos, não havendo lugar para as praças se deitarem”
Sobre este acontecimento fez-se um manto de silêncio. A hierarquia nunca questionou a desobediência da Orion e o seu Comando e tripulação não foram alvo de qualquer processo disciplinar.
Outras histórias são relatadas pelo Comandante Pedro Lauret e pelo Grumete Ulisses Pereira, que me vou dispensar de as transmitir.
Para todos os camaradas, ex-combatentes, um abraço amigo,
Manuel Reis
Alf Mil At Inf da CCAV 8350
Nos meus recortes de jornal sobre a Guerra Colonial, encontrei um texto sobre o desempenho da tripulação da fragata Orion na batalha de Gadamael. É um trabalho de investigação do jornalista Eduardo Dâmaso, publicado no Jornal Público no dia 26 de Junho de 2005, descrito nas páginas 12-13-14, com título de 1ª página “ A nave dos feridos, mortos, desaparecidos e enlouquecidos”.
Recordo, de forma resumida e com a devida vénia e respeito, o que nessa data foi escrito pelo jornalista Eduardo Dâmaso.
O trabalho do jornalista é baseado em depoimentos do Comandante, então imediato, Pedro Lauret e do soldado grumete electricista Ulisses Pereira.
A fragata Orion encontrava-se no rio Cumbijã, em missão de apoio aos aquartelamentos construídos recentemente no Cantanhez, quando no dia 1 de Junho de 1973, à hora de jantar, o seu Comandante recebe uma mensagem do Comandante em Chefe, António de Spínola, para subir o rio e proceder ao embarque de uma Companhia de Pára-quedistas, em reforço no Cantanhez.
Participaram nesta operação, para além da fragata Orion, duas lanchas de desembarque médio (LDM), oito botes zebro e uma companhia de “fuzos”.São dadas ordens aos “patrões” das LDM para seguirem para Cacine pelo canal do Melo, enquanto o Orion segue rio acima para recolher a Companhia de Pára-quedistas.
Só às 8 horas da manhã do dia 2 de Junho a Orion chega ao largo de Cacine. Aí, a tripulação é informada pelo Major Pessoa, Comandante do Batalhão de Pára-quedistas, da situação de caos que se vive em Gadamael: Do efectivo de 3 companhias que aí se encontravam não existiam mais de 30 homens a defender o aquartelamento. Os restantes e a população encontravam-se em fuga para Cacine ou na orla da mata.
São transmitidas as ordens de Spínola: “ É proibido o auxílio a cobardes”.
Contrariando as ordens de Spínola, Major Pessoa informa da urgência no socorro a essas pessoas e promete ir buscá-las, nem que fosse de canoa, caso o Comando da Orion não discordasse das ordens de Spínola.
As tropas Pára-quedistas desembarcam e seguem nos botes para Gadamael.
A Orion avançou em apoio das tropas fugitivas até ao ponto onde lhe era possível, sem qualquer comunicação ao Comando da Defesa Marítima. As LDM começaram a percorrer as margens e com a colaboração dos zebros recolheram os soldados que andavam perdidos.
“Havia mortos e feridos. Desaparecidos e enlouquecidos”. Improvisou-se um hospital no convés para assistir os feridos ligeiros, enquanto os feridos graves eram colocados na coberta dos “praças”. Foram recuperadas entre 300 a 400 pessoas que posteriormente foram transportadas para Cacine de modo a terem uma assistência mais eficaz.
Pedro Laurent, Comandante do Orion, recorda uma imagem que nunca mais o abandonou: “À noite, a coberta das praças estava completamente repleta de feridos, não havendo lugar para as praças se deitarem”
Sobre este acontecimento fez-se um manto de silêncio. A hierarquia nunca questionou a desobediência da Orion e o seu Comando e tripulação não foram alvo de qualquer processo disciplinar.
Outras histórias são relatadas pelo Comandante Pedro Lauret e pelo Grumete Ulisses Pereira, que me vou dispensar de as transmitir.
Para todos os camaradas, ex-combatentes, um abraço amigo,
Manuel Reis
Alf Mil At Inf da CCAV 8350
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Nota de MR:
Vd. último poste da série em:
14 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5814: Estórias de Guileje (7): O percurso da CCAV 8350 (Manuel Reis, ex-Alf Mil At Inf da CCAV 8350)
4 comentários:
Nao fazendo qualauer comentario ao texto do meu amigo Reis, uma vez que a mim proprio impuz a a inibicao de fazer comentarios, quero no entanto manifestar a minha congratulacao pelo sexto aniversario do Blogue, do qual apesar de tudo continuo a ser visita diaria.
Um abraco
V. Alfaiate.
Reis no dia 5 de Junho la estarei.
Nao fazendo qualauer comentario ao texto do meu amigo Reis, uma vez que a mim proprio impuz a a inibicao de fazer comentarios, quero no entanto manifestar a minha congratulacao pelo sexto aniversario do Blogue, do qual apesar de tudo continuo a ser visita diaria.
Um abraco
V. Alfaiate.
Reis no dia 5 de Junho la estarei.
SÓ QUERO QUE RESPEITEM A MINHA OPINIÃO E ERA ISTO O SRº. SPINOLA "NÃO SE DÁ APOIO A COBARDES", ESSES COBARDES QUE ELE FÁ-LA ESTAVA A DAR A VIDA PELA PÁTRIA, SEM CONDIÇÕES DE DEFESA E SENDO ELE O COMANDANTE CHEFE DA GUINÉ ERA O RESPONSÁVEL PARA QUE NÃO FALTASSE NADA AOS SEUS HOMEM, MAS FALTAVA TUDO E NÓS QUE LÁ ESTIVEMOS SABEMOS QUE ERA ASSIM. FICO-ME POR AQUI.OBRIGADO MANEL POR ESTE TEXTO DENUNCIANDO ALGUMA VERDADE SOBRE O SRº: SPINOLA.
UM ABRAÇO DO TAMANHO DA GUINÉ PARA TODA A TABANCA.
AMILCAR VENTURA EX-FURRIEL MIL. MECÂNICO AUTO DA 1ª. COMPª. DO BCAV. 8323 BAJOCUNDA 73/74
Pois é grande amigo Manel, isto aconteceu na Orion, e um pouco disto, ou mais em Cacine!
Um dia ainda vou escrever e... se calhar... dar-lhe o título "Um quartel de feridos, mortos e enlouquecidos"!
Quanto ao não cumprimento das ordens de Spínola, houve mais quem as não cumprisse!
Hoje não vou mais longe!
Um forte abraço.
Juvenal Candeias
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