1. O nosso Camarada António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA12, Bissalanca, 1972/74, hoje Ten Gen Pilav Res), enviou-nos hoje, dia 16 de Dezembro, a seguinte mensagem:
Camaradas,
Aproveito para desejar a todos os camarigos um bom Natal.
Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra?"
Isto de escrever para o blogue tem que se lhe diga, aos poucos vamos criando os nossos hábitos e raízes, por outro lado os camarigos também nos vão catalogando conforme as nossas ideias e a nossa maneira de escrever, bom, mau, rambo, realista, esquerdista, salazarista, desbocado...Pela minha parte tenho feito os possíveis por me manter fiel ao que vivi na Guiné, contando factos e tentando justificar as minhas opiniões com coerência e sem grandes floreados ou divagações.
O que não impede de por vezes me caírem em cima, não pelo cerne da questão mas por pequenas ninharias, se disser que “quatro é igual a dois mais dois”, alguém refila, que não senhor, que a minha visão está deturpada, a verdade verdadeira é que “quatro é igual a cinco menos um”. Feitios.
Mas tenho que reconhecer que às vezes também é bom dizer umas m... sair das baias do dia-a-dia, entrar no disparate, gritar umas inconveniências, partir a louça, que a vida são dois dias e de tristezas já está o mundo cheio.
E para defender este meu ponto de vista, já lá dizia um português dos imortais que “mais vale experimentá-lo que julgá-lo”, não vos estou a dar nenhuma novidade, mesmo que nunca tenham lido o Camões já todos certamente “o experimentaram”.
Até porque tudo isto também é importante para a satisfação do nosso ego, anda por aí um alemão a ver se nos cala (o Alzheimer), qualquer dia já nem nos lembramos de como se atam os sapatos.
Tinha que dar esta introdução, um pouco longa, porque hoje resolvi pôr em cheque a minha pequenina reputação e avançar para o desconhecido... nada de factos devidamente comprovados... só suposições, bocarras de fazer tremer as paredes, só teorias disparatadas e ideias malucas.
Nesta ordem de ideias o tema que hoje proponho vai-vos dar cabo da cabeça, é um desafio ao pessoal da Tabanca, os mais nervosos que fiquem a ver a telenovela.
Dos que quiserem afrontar a coisa depois que ninguém se corte, que aqui não há pegas de cernelha, todos entram de caras, os comentadores de serviço, os ideólogos e pensadores, os estrategas, passando igualmente pelos historiadores, pelos rambos, pelos normais e anormais, os que sabem tudo e os que só sabem que nada sabem, enfim, os que passaram por terras da Guiné e que ainda gostam de pensar com as suas cabeças.
Se já estão bem instalados frente ao computador, limpem os óculos, apaguem o cigarro antes que engulam a cinza, ponham a mulher, filhos e eventuais netos com destino e preparem-se para o embate.
E a pergunta que faço é a seguinte:
Será que os políticos do PAIGC queriam ganhar a guerra?
OK, já estou a ver a vossa cara de espanto, semblante carregado e testa enrugada, surpresos, “o gajo passou-se”, “foram os cortes do Sócrates”, “ o FMI”, “ o Sporting que só lhe dá desgostos”... e por aí fora.
Tenham calma, não me julguem antes que as minhas ideias possam ser passadas ao papel e devidamente lidas e interpretadas pelas vossas mentes iluminadas.
Deixem-me explicar as minhas teorias, se no fim chegarem à conclusão que me fartei de dizer asneiras, atirem-me com um cartão vermelho directo, cartões amarelos já não me causam mossa, passei a vida a coleccioná-los.
Estão prontos? Cá vai:
O PAIGC, Partido para a Independência da Guiné e Cabo Verde tinha duas correntes de funcionamento, os guinéus a vergar a mola, de bolanha em bolanha, umas vezes emboscando, outras vezes emboscados, vida difícil…
A outra corrente, os cabo-verdianos a angariar apoios, Nova Iorque, Estocolmo, Moscovo, até foram a Roma visitar o Papa... vida difícil...
E todos eles sabiam (uns e outros) que no final, quando os portugueses se cansassem da guerra e abandonassem a Guiné, uma “outra guerra” iria começar, a luta interna pelo poder e pelas suas mordomias (parece que passados estes 36 anos ainda não acabou)!!!
Os guerrilheiros do mato, essencialmente balantas, manjacos e mandingas estariam mais que desejosos de ver o fim da guerra, eram sempre os mesmos, a fonte de recrutamento era bem escassa.
O dia-a-dia do PAIGC sempre foi incerto, por um lado conseguiam saber dos movimentos da nossa tropa quando esta saía dos quartéis, podendo assim avaliar as forças em presença e, num jogo de gato e rato, calcular se podiam ou não enfrentar-nos.
Por outro lado nunca conseguiam adivinhar para onde se dirigiam os aviões G-91 que todos os dias descolavam de Bissalanca a fim de largar uma série de bombas numa das chamadas “zonas libertadas”.
Ao contrário do normalmente apregoado, os guerrilheiros do PAIGC não podiam ser muito populares junto das populações.
Os comissários políticos iam falando de uma Guiné livre mas, para além de retórica, nada mais ofereciam, antes pelo contrário, “roubavam-lhes” os parcos víveres e levavam à força os jovens em idade de combater.
Do lado do opressor, o nosso, entre outros apoios respondíamos às suas questões através dos “Congressos do Povo”, dávamo-lhes armas para se defenderem e assistência médica H-24, por sinal bem superior à que tinham (e ainda hoje têm) os habitantes de Trás-os-Montes.
Sim, que eu deixei algumas vezes de almoçar para ir buscar uma parturiente ou um doente a Susana ou Cacine ou Buruntuma.
Que fique “clarinho clarinho” como costumam dizer os militares, a “Guiné Libertada” não passava de uma utopia, o pessoal do PAIGC tanto morria no meio da bolanha e em combate contra as tropas portuguesas como a descansar nas ditas “zonas libertadas” do Morés, Caboiana ou Cantanhês, só eram “libertadas” enquanto os portugueses não fizessem intenção de lá ir.
Como exemplo do que acabo de afirmar, o Cantanhês, dizia o PAIGC ser uma área totalmente controlada e onde até planeavam declarar a independência.
Quando em finais de 1972 Spínola resolveu reocupar aquele território e lá estabelecer 3 novos quartéis (Cafine, Cadique e Caboxanque), logo se acabou essa coisa de “zona libertada”, a população fugiu mas logo voltou, até gostou da mudança, os guerrilheiros é que tiveram que atravessar o rio Cacine em passo de corrida.
Igualmente em Setembro de 1973, quando o PAIGC declarou a independência supostamente nas terras libertadas de Medina do Bué, os intervenientes estavam num outro local, bem escondido e ao abrigo de um eventual ataque aéreo.
Certamente estariam para lá da fronteira, não podiam arriscar ser detectados e pôr em perigo a vida dos seus convidados, até porque já tinham tido essa má experiência.
No ano anterior e durante a visita de uma delegação da ONU, tinham passado as passas do Algarve para se safar da enrascada, com os pára-quedistas no seu encalço.
Por outro lado e ao contrário do que normalmente consta, o PAIGC não era bem recebido no Leste da Guiné, já que os fulas nutriam uma maior simpatia pelos portugueses.
No Bué e por mais que procurássemos naquelas terras desérticas nada encontrámos que pudesse indicar a preparação de uma cerimónia.
Comparando as fotos tiradas na altura com as de tempos anteriores tudo continuava igual, sem o mais pequeno vestígio de qualquer movimentação.
Não contentes com as fotos, os nossos amigos Páras ainda tinham ido ao local, dar uma mirada, não enxergaram nem vivalma, tudo continuava como havíamos deixado.
Na eventualidade de ainda aparecer alguém por aquelas paragens, acabámos por lá deixar uma prenda, uma daquelas louças típicas das Caldas (não é gozo, é a mais pura das verdades, há fotos a comprovar).
Não sei se os camarigos sabem mas nós dispúnhamos de cobertura fotográfica de toda a Guiné, renovando-a periodicamente e assim descobrindo as diferenças existentes entre fotos tiradas no mesmo local mas em tempo diferente, trilhos, tabancas, machambas, cambanças...
Este reconhecimento fotográfico era maioritariamente feito pelo avião Dakota e posteriormente interpretado por uma equipa especializada da Base.
Os voos do Dakota até acabaram por ficar registados em filme, conforme aparece na série “ A Guerra” do jornalista Joaquim Furtado, na área do Morés vê-se de súbito a população da dita “área libertada” a refugiar-se por causa da aviação.
E por entre a folhagem das árvores lá se vê passar o pachorrento Dakota, nada de agressivo, tão só a fazer umas fotos.
Todo este palavreado para chegarmos à conclusão de que a Força Aérea seria a principal causa do desconforto do PAIGC.
Para se furtarem aos G-91, Heli-canhão, T-6 e até por vezes o DO-27 com foguetes nas asas (ideia bem parva de um qualquer iluminado), só para lá das fronteiras é que podiam garantir o estar em segurança e sem receio de serem bombardeados.
Passo seguinte, se a FAP era o calcanhar de Aquiles, como a neutralizar?
Lá chegamos aos STRELAs e aos MIGs.
Dos STRELAs já aqui se falou inúmeras vezes, asseguraram os comissários políticos à população que nunca mais seriam bombardeados e, no entanto, nunca e em tão curto espaço de tempo tantas bombas caíram sobre as suas cabeças.
Algumas dessas equipas de mísseis fora mesmo pulverizadas pois, ao dispararem da orla da mata, acabaram por permitir o referenciar das suas posições.
Constou-nos igualmente que algumas das equipas dos STRELAs acabaram por ser averbadas pela própria população, descontentes com as promessas entretanto feitas e não cumpridas.
Com os MIGs foi uma outra história, agora é que ia ser... ia do verbo ir... nunca ninguém os viu e nunca nada aconteceu!!!
E pronto, não conseguiram descortinar mais nada, soluções esgotadas.
É neste ponto que chegamos ao vértice da questão.
Então não havia outras maneiras de tentar aniquilar a FAP?
Deixem-me por momentos envergar a camisola do PAIGC e planear medidas contra os Tugas:
MEDIDA 1
Todos os dias e sempre à mesma hora (19:00), um autocarro Mercedes tipo TP21 saía da Base de Bissalanca em direcção a Bissau, transportando os pilotos que quisessem ir jantar ao Pelicano ou Solar do Dez, ou às ostras...
Quantos pilotos seguiam no autocarro?
Umas vezes 8, ou 13, ou 17, dependia da qualidade do jantar na base, carne ainda a coisa aguentava, se fosse peixe dava um autocarro cheio.
E todos os dias à mesma hora (21:00) o autocarro regressava à Bissalanca.
O local para um possível encontro, a estrada entre a Base da Bissalanca e o quartel mais próximo, uma recta de uns bons dois quilómetros de completa escuridão, tabancas de um lado e do outro.
Agora imaginem 3 guerrilheiros devidamente fardados de paisanos e uma bazuca, um deles a ver se o autocarro vinha cheio, caso contrário adiava-se a coisa para o dia seguinte, outro a municiar e outro a apontar e disparar.
E no fim até podiam deixar a bazuca de prenda e ir comemorar o resto da noite ali ao Pilão, era bem perto.
Já perceberam porque razão comprei uma moto?
MEDIDA 2
Eu e a maioria dos pilotos de G-91 morávamos em Bissau.
Por vezes acontecia que, já noite cerrada, alguém me batia à porta.
Abria-a com a mesma ligeireza com que abro a porta da Pensão Montanha quando vou ao cozido da Dona Preciosa.
Uma das vezes apareceu-me um jovem africano a pedir dinheiro para livros de francês, disse ele “quando vocês forem embora o francês passa a ser mais importante que o inglês”, o rapazito até sabia de política internacional.
Imaginem, se em vez do estudante aparecesse o...
MEDIDA 3
Que raio de ideia quererem MIGs, isso era material demasiado caro.
Receita bem mais económica, uma avioneta das mais vulgares, daquelas que não custavam mais que o Mercedes do delegado do PAIGC em Nova Iorque, um piloto (dos mercenários do Nigéria/Biafra, não eram caros), um voluntário para fazer de ajudante e uma caixa de granadas.
Descolagem ao entardecer, de Ziguinchor ou de Boké, navegação calma e suave com o apoio das luzes dos quartéis dos tugas, evitar a Base Aérea que tem antiaéreas, chegada a Bissau já de noite, largada da carga uma a uma, alvos preferenciais, os depósitos de combustível da SACOR, o CG, o Palácio, o Solar do Dez... o granel na cidade.
E se não tivessem granadas, podiam largar tijolos que o efeito seria muito semelhante, os voos da TAP para Lisboa esgotavam-se nos meses seguintes.
Sem me querer alargar mais, qualquer destas três medidas podia acabar rapidamente com a guerra.
Tudo o que acabo de dizer tem um denominador comum que dá pelo nome de “Terrorismo Urbano”, utilizado no Vietname, Argélia, Cuba, País Basco... enfim, em todos os locais onde a vontade da população em correr com o opressor é grande.
Por que razão nunca aconteceu na Guiné?
Alguém sabe?
Será que os guinéus em Bissau se sentiam bem com os portugueses ou, pelo contrário, queriam ver-nos pelas costas?
E as populações do mato?
E a população de uma tabanca da qual já não me lembro o nome, onde fui buscar um jovem a quem os curandeiros da aldeia já nada sabiam o que fazer para o salvar, e que, duas semanas depois, tive o privilégio de voltar a devolver à tabanca, fresco que nem uma alface e já sem o apêndice.
Alguém acredita que aquela população nos queria ver pelas costas?
E havendo tantos cabo-verdianos no PAIGC por que razão não havia terrorismo em Cabo Verde? E nos Bijagós?
Vão-me responder que era por serem ilhas? Bah, que falta de imaginação!!!
Então os pensamentos e vontades do PAIGC eram alimentados pelo povo local ou tinha a ver com coisa importada?
Terá sido por isso que já depois do 25 de Abril e nas cerimónias de entrega de vários quartéis, grande parte dos guerrilheiros só falava francês?
E todos estes nossos camarigos que nos dias de hoje vão à Guiné e são recebidos de sorrisos abertos, será que ainda não perceberam que eles sempre gostaram de nós?
Estas e outras questões seriam interessantes para conversar com os nossos amigos, os antigos membros do PAIGC.
Perguntas que provavelmente ficariam sem respostas pois que, passados todos estes anos e apesar de um franco diálogo (dizem), continuamos sem conseguir saber como foram os acontecimentos vistos do seu lado.
Como resultado da democracia por lá instalada, os nossos amigos afectos ao PAIGC leram todos pela mesma cartilha, a versão oficial diz que para eles só houve vitórias sobre vitórias, esquecendo algo importante, que as derrotas também podem ajudar a unir um povo.
E se alguém duvida destes comportamentos, basta ler as últimas páginas do livro do Cor Calheiros “a Última Missão”, contêm um depoimento do Comandante Manuel dos Santos, “Manecas”, Comissário Político da Zona Norte.
Neste texto e a propósito da operação dos Comandos Africanos a Cumbamori, afirma que o que é relatado pelos nossos militares, o armamento e os paióis destruídos, as baixas sofridas, tudo isso não passou de pura fantasia e que a operação Ametista Real em nada os afectou.
Nós reconhecemos termos tido inúmeras baixas, eles zero, nicles, null, népia...
Enfim, opiniões!
Em resumo, andámos nós e eles (os militares) a peneirar anos e anos pelos buracos da Guiné enquanto que nós e eles (os políticos) andaram a sofrer as agruras da guerra pelas salas de conferência dos Hotéis de 5 estrelas.
O 25 de Abril acabou por mudar as variáveis.
Para os militares (os portugueses e os balantas, manjacos e mandingas) significou o fim dos combates, nós fartos, rodávamos a tropa de dois em dois anos, eles bem pior, eram sempre os mesmos.
Para os políticos foi o fim de muita coisa.
Do nosso lado uns partiram para um exílio dourado, enquanto outros regressaram de um exílio dourado.
Para os nossos políticos o trabalho seguinte foi fácil, independência para todos já, quer queiram quer não queiram.
E foi o que se viu, até os que não queriam ser independentes (S. Tomé) tiveram que se chegar à frente.
Aos políticos do PAIGC a transição foi bem mais difícil.
A partir desse dia tiveram que regressar à Guiné, deixaram o papel de “Executivos” e passaram verdadeiramente a arriscar a vida, tentando passar por entre as gotas da chuva, sobreviver aos vários “ajustes de contas”, aos golpes e contragolpes, até só sobrarem os “Eleitos”.
Passada essa fase má (já passou?) o democrata Nino Vieira lá acabou por correr com os políticos cabo-verdianos do PAIGC e, de golpe em golpe, a Guiné lá se tem conseguido transformar em país charneira para o tráfico de droga.
E os políticos que sobreviveram a tudo isto, devem andar a pensar:
“Estávamos tão bem sem termos que ganhar a guerra...”
Um abraço,
António Martins de Matos
Ten Pilav da BA12
__________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
1 de Dezembro de 2010 >
Guiné 63/74 – P7366: FAP (56): MIGs, MIRAGEs e miragens (António Martins de Matos)
24 comentários:
Comecei a ler e pensei, temos a História do Velho o Rapaz e o Burro, mas não, descambou tudo num postal de Boas Festas do nosso Camarigo Martins de Matos, de seu nome António que, fazendo perguntas e dando algumas respostas e embora sendo muito mais que isso, parece-me ter voltado a colocar na ordem do dia a discussão da guerra ganha ou perdida, numa outra vertente.
Vou ficar a aguardar os próximos episódios, mesmo não apreciando séries, não sou fiel seguidor, fico desgastado, vou tentar não perder pitada.
Um abraço
BSardinha
Caro General Martins de Matos
Bonito serviço ao por estas questões.Não vou contestar nada, só quero acrescentar as seguintes:
- Porque é que na entrega de gadamael a grande maioria dos guerrilheiros só falava francês?
Conheci em 2006 em Bissau o comissário político da região do quitafine em 1974 e fiquei siderado com algumas coisas que me contou.Em março de 74 explodiram duas bombas em bissau uma no café ronda e outra no QG, que foram colocadas por um alfers mil. segundo constou na altura
Está aberta a discussão ,vamos a isso. Por agora é só.
um artilheiro de gadamael
c.martins
Caro Martins
- Porque é que na entrega de Gadamael a grande maioria dos guerrilheiros só falava francês?
E que os paises e regioes limitrofes, caso da Casamance no Senegal,serviram naturalmente de centro de recrutamento de militantes a causa nacionalista guineense...particularmente de guineenses exilados ou emigrados..e natural seria que muitos, tivessem a lingua francesa como lingua segunda..e nao a portuguesa...que convenhamos na propria provincia..em termos de numero de falantes..deitava por terra os argumentos da colonizacao !
E mais..(pasme-se!) por altura da transferencia do poder, uma boa franja dos guerrilheiros nem o criolo falava... Por razoes obvias ligadas ao tipo de recrutamento...camponeses, na sua maioria do Sul do pais !
- Em março de 74 explodiram duas bombas em Bissau uma no café ronda e outra no QG, que foram colocadas por um alferes mil. segundo constou na altura"
Uma "terceira" bomba explodiu no passeio oposto a messe dos sargentos da FAP..a escassos metros da minha casa..repito escassos metros... explosao extemporanea que tinha por alvo os homens da FAP que rotineiramente, no local aguardavam diariamente pelo tal autocarro azul, para as sessoes de cinema na base aerea n 12 !
Gracas a previdencia divina,a partida para Bissalanca fora nessa noite antecipada ..e vidas humanas poupadas ...de entre elas, a de muitos militares amigos da meninada do bairro !
Tais accoes foram reivindicadas na altura pelas celulas clandestinas do PAIGC em Bissau !
Mantenhas
Nelson Herbert
Mr Matos
Que pinte a sua "guerra" com as cores da sua fertil imaginacao...nada a declarar !
Afinal de contas ha guerras "porreiras" pa !
Mas que deturpe ou tente reduzir a insignificancia nesse seu exercicio da escrita,a historia da emancipacao de um territorio e respectivo povo..hoje estado soberano, da forma como o faz...como calcula, de forma alguma, na qualidade de guineense... poderia concordar consigo !
Mantenhas
Nelson Herbert
Caro Nelson Herbert
Não meu caro,eram militares do exército da Guiné-Conakry, e sei do que estou a falar. Já agora sei de tanta coisa que dava para reescrever a história.Os verdadeiros guerrilheiros sabiam falar português(mal ou bem ,mas sabiam) ou já se esqueceu que era ponto de honra, no programa politico do Paigc,todos os militantes aprenderem a falar e a escrever português, graças ao grande visionário e estadista AMILCAR CABRAL.Gostaria de trocar impressões consigo sobre este e outros assuntos, que não cabem no âmbito deste blog,via e-mail.
Pode enviar-me uma mensagem para o 964396059 com o seu e-mail.
mantenhas
c.martins
Brilhante o exercício de inteligência e ironia do nosso tenente-general. Honra o nosso blogue.
Com factos, muitos factos de quem viveu aquela guerra por dentro e por cima,ao comando dos Fiats e DOs, 72/74.
Como eu desejei há uns três anos atrás, naquela polémica com o Mário Beja Santos sobre o disparate da "guerra militarmente perdida" da "superioridade militar dos homens do PAIGC" que aparecessem os homens da Força Aérea a explicar, com factos, o que aconteceu na Guiné 72/74!...
Felizmente apareceram, a Giselda, o Miguel Pessoa, o nosso tenente-general António Martins de Matos.
É a nossa História. Tenho todo o direito de não gostar de quem falsifica a nossa História.
Claro que haverá sempre os convencidos de que a falsificação é que é a verdade.Que vão ver a telenovela e descansem em paz.
Forte abraço ao
António Martins de Matos.
o vosso
António Graça de Abreu
Camaradas e Amigos,
Reforço as palavras do C. Martins, garantindo aqui, e em qualquer lado que seja necessário fazê-lo, porque fui testemunha in loco disso, que em Mansoa na entrega do quartel ao PAIGC esteve um grupo de soldados que só falavam francês e me disseram ser da Guiné- Conacri.
Sobre esta matéria que cada um tire as suas ilações, mas factos são factos!
Um abraço,
Magalhães Ribeiro
Meu Caro António,
Também concordo que houve alguma brandura da guerrilha com o objectivo da independência, de que já fizemos brevíssima alusão.
De facto, nunca aconteceu a guerrilha urbana, organizada e de forma continuada. Houve o lançamento dos mísseis à Sacor em Junho de 70, mas falharam.
Também no mato, os tais dois ou três guerrilheiros, poderiam alvejar a primeira viatura de uma coluna qualquer, com sucesso garantido, e o consequente molestar físico e moral para as NT. E ninguém os apanharia, como não chegámos a apanhar o Nino depois de nos emboscar. Bastas vezes me perguntei porque não o fariam. Como também nunca a guerrilha recorreu a outras formas de nos eliminar, de que a sabotagem das fontes poderia ser uma tentação fácil.
Sobre os ajustes de contas do fim da guerra, o mesmo aconteceu em relação a outras independências africanas, pois se os independentistas se agregavam a partir de um escol de intelectuais que, normalmente, frequentavam universidadesc europeias, quem dava o corpo ao manifesto eram os rudes homens do campo, que passavam a saber o valor do uso indiscriminado da força, e no fim dos conflitos, tarde ou cedo, acabavam por apresentar a factura aos líderes e intelectuais. São tantos os exemplos africanos.
Sobre o 25 de Abril e a descolonização, sem desmentir o que escreves, considero que houve outras variantes de influência decisiva, e os militares não estão isentos de responsabilidades.
Um abraço
JD
Bom dia, Sr. Ten Pilav Res António Martins de Matos, a postagem é realista quanto à guerra na Guiné…
Referente à afirmação do Ex Comandante Manuel dos Santos, “Manecas”, Comissário Político da Zona Norte. No livro do Cor José de Moura Calheiros “A Última Missão”:
“A operação dos Comandos Africanos a Cumbamori, diz que o que é relatado pelos nossos militares, o armamento e os paióis destruídos, as baixas sofridas, tudo isso não passou de pura fantasia e que a operação Ametista Real em nada os afectou”. É de lamentar a sua afirmação.
Aproximando-se a operação das nossas forças armadas e sabendo do seu planeamento, a acção do IN dividiu-se em responder ao provável contra ataque a Cumbamory e continuar a pressão contra Guidage (que abrandou).
A invasão do Senegal e o ataque a Cumbamory pelo Bat Comandos Africanos e pela FAP provocou a sua destruição (não digo na sua totalidade) …
Afectou profundamente a pressão sobre Bigene, Guidage e a estrada Binta-Guidage. As flagelações decaíram de: 5, 4, 3 e 2 por dia para uma. Do dia 20 Maio 73 até ao dia 01 Junho 73, oito flagelações, não falando no dia 23 em que realizaram duas!
Apareceram a partir do dia 22, salvo erro, com o mort 120. Que no dia 25 provocou a explosão de uma granada na ponta de um abrigo embutido no terreno, em cima da parede e a morte de 5 soldados…
Mantiveram forte pressão na estrada, na zona do Cufeu, não conseguindo travar a passagem da coluna Binta – Guidage, em 29 Maio 73. Tendo o embate principal com a 38 Comp Comandos. De notar que o PAIGCV tinha transportado bastante material para a zona em viaturas auto e criado vários armazenamentos pequenos dentro do nosso território; antes e durante a acção contra Guidage…
Na batalha de Guidage, a FA teve papel preponderante, apesar de se notar um tempo de ausência… devido aos mísseis. Mas em determinados momentos apareceu e surpreendeu, provocando estragos avultados no IN. Recebemos notícias que alguns operadores dos Strelas morreram…
No Maio de 73, no norte, o PAIGCV teve baixas avultadas… Sou de opinião que triplicaram as nossas que se aproximaram das 50 (47salvo erro).
Um Santo Natal a todos e um Bom Ano Novo.
Um abraço,
José Pechorro
Ex 1º Cabo Op Cripto
CCaç 19 - Guidage
Caro António Martins de Matos
Uma visão interessante e uma pergunta importante que eu fiz a mim próprio, quando andava por aquelas bolanhas e picadas.
Também no Dulombi-Leste da Guiné- segundo relato dos últimos elementos da 1ª CCAÇ, do BCAÇ 4518/73, que lá ficaram, no blogue da CCAÇ2700 e no Blogue da CCAÇ3491 (a minha companhia), os elementos do PAIGC que vieram fazer os contactos com a população da Tabanca do Dulombi, só se expressavam em francês e tiveram de perguntar à população que encontraram no caminho onde ficava a tabanca e o quartel, tendo sido a nossa tropa que os foi buscar ao mato!!!
Dado que o quartel era flagelado com alguma frequência, era óbvio que se fossem elementos do PAIGC saberiam o caminho.
É pena, como diz, não sabermos a verdade sobre a guerra, da parte dos nossos opositores, especialmente, após estes anos todos,reconhecerem, também, que a situação e a pressão sobre eles, tornava a vida dos que andavam no mato bastante difícil, isto não obstante o seu empenho e o material bélico que iam apresentando (especialmente os mísseis SAM-7).
Um forte abraço
Luís Dias
"Mas que deturpe ou tente reduzir a insignificancia nesse seu exercicio da escrita,a historia da emancipacao de um territorio e respectivo povo..hoje estado soberano, da forma como o faz...como calcula, de forma alguma, na qualidade de guineense... poderia concordar consigo !"
Este choro mete nojo. Então por em causa as "retumbantes vitórias" do PAIGC é deturpar? Ele há com cada maluco. É por estas e outras que me recuso a fazer parte desta dita "Tabanca Grande"; não compactuo com sujeitos destes, que se recusam a ver a realidade: a Guiné-Bissau não tem condições para ser um Estado independente, a sua luta de libertação nacional teve episódios hiperbolizados e o lado português não era assim tão mau como se diz. Os militares do PAIGC eram de qualidade? Sim, e muita. Porém, outros não passavam de genocidas, quer contra o inimigo, quer contra os próprios nativos da Guiné. Também havia disso no nosso lado? Claro que havia. Mas imbecis a soldo de poderosos como as Felícias Cabritas e Dianas Andringas deste país só fazem questão de mencionar as nossas atrocidades; as do PAIGC e quejandos eram apenas e só parte da "luta de libertação nacional". Vergonhoso.
Parabéns ao Sr. TGen. Martins de Matos (e outros), por tê-los no sítio e a ajudar a desmistificar estas palhaçadas que andam a propagar desde há 36 anos, contaminando até os jovens, através dos livros de escola.
Quanto ao Sr. Herbert: truth hurts, deal with it.
"É pena, como diz, não sabermos a verdade sobre a guerra, da parte dos nossos opositores... "
Li algures num dos comentarios a este poste!
Concordo plenamente quanto mais nao seja para "botar" a claro...ou contextualizar, essa historia de tropas da Guine Conacry ...na vez dos guerrilheiros ...
Isolar os paises vizinhos da hoje Guine Bissau, concretamente a Guinee Conacry,do contexto da guerra travada naquele entao territorio ultramarino seria ingenuidade por demais...A Operacao Mar Verde contra a capital guineense Conacry e prova cabal disso !
Em abono da verdade historica, converia nao perdermos de vista que tambem em outros teatros da guerra de libertacao ou colonial, refiro-me concretamente a Angola e Mocambique... em determinadas operacoes militares..falou-se igualmente o ingles, o boer e o frances !!!
Enfim, valha-nos o blogue que nos permite a todos... depositar o seu tijolo na construcao da historia da minha e nossa Guine !
Mantenhas
Nelson Herbert
"Quanto ao Sr. Herbert: truth hurts, deal with it."
Off course !!
Na minha terra diriamos..bardadi e suma malgueta..I ta yardi...
Nacionalismo e emancipacao..o direito a autodeterminacao de um povo... nada tem a haver com o se gostar ou nao dos portugueses..
Alias a historia comum existe para provar o quanto condenados estamos a coabitacao!
O grande erro ..e neste caso o seu,meu caro DF7 e quando se confunde o PAIGC e as suas ditas retumbamtes vitorias...a desgraca a que a Guine fora devotada no pos independencia, com a essencia do nacionalismo guineense !
Essa sim, garanto-lhe recheada das melhores intencoes.
E foi pois onde quis chegar no meu comentario..isole o PAIGC das suas magoas...e encare como limpida e cristalina o direito dos guineenses ( que esta para alem do PAIGC) a terem um estado soberano..
Entre a audeterminacao, o nacionalismo e o PAIGC..existe um fosso !!!
Podiamos e somos independentes, o que pressupoe a ruptura com algo..com um regime colonial...mas orgulhosamente de lacos afectivos aos portugueses...
O que condeno e denuncio e toda e qualquer abordagem ou linguagem paternalista e fa-lo como guineense !
A ver se nos entendemos desta !
Mantenhas
Nelson Herbert
Eu sabia que isto ía dar "bronca"
Nos compêndios de história o que mais se encontra é a mistificação de factos e personagens,tudo depende de quem os escreve.Por exemplo nos relatos históricos sobre o tráfico de escravos raramente se lê que quem capturava e vendia aos brancos (portugueses,espanhois,franceses, etc) os escravos, eram na maioria das vezes outros negros."Historicamente" o onus ficou só para os brancos.
c. martins
Só passei uma vista de olhos, lendo só os nomes de quem comentou...só e esqueci...
Este Poste tem um escrito óptimo.
Ia lendo e cada vez mais de acordo estava com as palavras. Bem descrito, bem explanado.Óptimo!
Uma sugestão: deixem-no ficar, como é lógico, no seu lugar. Depois comecem a pensar em se encontrar um lugar para, após copy/paste, de certos escritos e fotos- não esquecer a poesia - fazer-se uma galeria. Comentários ficam á porta.Sugestão aos Editores.
Meu Caro António Martins de Matos os meus Parabéns e um abraço do Torcato
Caro Martins
Antes de mais, recebeu o meu text message com o meu email, tal como solicitado... Enviei ontem..se nao chegou e porque deve estar a cruzar ainda o atlantico..ou sera porque definitivamente sou um azelha nisso de novas tecnologias...
Relativamente a escravatura e ao seu comentario "Historicamente o onus ficou só para os brancos." sugiro-lhe o visionamento do documentario "Wonders of the African World " do professor, ensaista, cineasta Henry Louis Gates..da serie de documentarios produzido por esta conceituado historiador negro americano versando a origem dos afro-americanos...nestas paragens...
Numa das passagens do documentario e posto documentalmente a descoberto o papel dos reinos e reis africanos na escravatura...isto na perspectiva terrena e lucida de um intelectual negro...
Mas quem e este senhor.. Uma dica: e o tal, da bronca com o agente da policia, na cidade de Cambridge, Massachussets..que acabou em tempos resolvido numa rodada de cervejas a tres com o presidente Barack Obama na Casa Branca !
Henry Louis “Skip” Gates, Jr., (born September 16, 1950) is an American literary critic, educator, scholar, writer, editor, and public intellectual. He was the first African American to receive the Andrew W. Mellon Foundation Fellowship. He has received numerous honorary degrees and awards for his teaching, research, and development of academic institutions to study black culture. In 2002, Gates was selected to give the Jefferson Lecture, in recognition of his "distinguished intellectual achievement in the humanities." The lecture resulted in his 2003 book, The Trials of Phillis Wheatley.
As the host of the 2006 and 2008 PBS television miniseries African American Lives, Gates explored the genealogy of prominent African Americans..."
Mas como bem diz um refrao de um tema musical de um artista caboverdiano...foram as Caravelas que trouxeram a Cruz e o Menino de Jesus...
Ja agora porque nao adiar esses nossos momentos do "contraditorio"...para depois do Natal..celebracao que nos e comum..
Bom Natal aos bloguistas...e um Ano Novo cheio de novas energias...
Nelson Herbert
Antª Martins de Matos
Agora passei com mais ,não muita, atenção os comentários e tem razão. Felizmente dá bronca. Felizmente.
O pensamento plural ainda causa...certos constrangimentos. Engraçado.
Sem mais comentários.
Abraço Torcato
Caro António Martins de Matos,
Depois de digerir bem este magnífico exercício de inteligência com que nos presenteaste,e,de igual forma ler e reler os muitos comentários do pessoal atabancado,quero aqui deixar de forma ineludível o meu assentimento,a minha concordância com a dúvida e simultâneamente resposta aqui encontrada.
Um grande abraço de parabéns.
manuelmaia
... citando >
– «Em março de 74 explodiram duas bombas em bissau uma no café ronda e outra no QG, que foram colocadas por um alfers mil. segundo constou na altura
Está aberta a discussão ,vamos a isso. Por agora é só.
C. Martins (ex-15ºPelArt/GA7), em 17Dez2010 01:07»
[...]
– «Uma "terceira" bomba explodiu no passeio oposto a messe dos sargentos da FAP..a escassos metros da minha casa..repito escassos metros... explosao extemporanea que tinha por alvo os homens da FAP que rotineiramente, no local aguardavam diariamente pelo tal autocarro azul, para as sessoes de cinema na base aerea n 12 !
Gracas a previdencia divina,a partida para Bissalanca fora nessa noite antecipada ..e vidas humanas poupadas ...de entre elas, a de muitos militares amigos da meninada do bairro !
Tais accoes foram reivindicadas na altura pelas celulas clandestinas do PAIGC em Bissau !
Mantenhas
Nelson Herbert Lopes, em 17Dez2010 01:58»
[...]
– «De facto, nunca aconteceu a guerrilha urbana, organizada e de forma continuada. Houve o lançamento dos mísseis à Sacor em Junho de 70, mas falharam.
(José Manuel Matos Dinis, 17Dez2010 10:40)»
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4ªf 09Jun71 - Durante a madrugada, de lua-cheia, no subúrbio noroeste de Bissau, um grupo do PAIGC comandado por André Gomes - tendo em vista a próxima deslocação de Amílcar Cabral a Addis-Abeba para a cimeira da OUA -, infiltra-se até ao extremo sudeste da pista de Bissalanca e lança 2 obuses sobre a capital: um deles explode para lá do canal do Impernal e causa um ferido grave nas proximidades do emissor de Nhacra; o outro projéctil cai nas águas do Geba, entre o ComDefMarG (junto à SACOR, por baixo das instalações dos fuzileiros), e o ilhéu do Rei, sem causar quaisquer danos.
Quanto aos primeiros actos de terrorismo urbano sucedidos na Guiné, verificaram-se em 1974 e apenas em 3 datas, locais e circunstâncias seguintes:
2ªf 21Jan74 – Cerca de 24 horas decorridas sobre o regresso do ministro do Ultramar a Lisboa, ocorre na Guiné o primeiro acto de terrorismo urbano: deflagram dois engenhos explosivos, designadamente: à entrada da BA12 (frente à messe de sargentos da FAP); e na viatura de um funcionário da subdelegação da DGS.
6ªf 22Fev74 – Em simultâneo com a colocação à venda, em Lisboa, do 'best-seller' assinado pelo ex-CCFAG, um alferes miliciano (militante clandestino das BR/FPLN e recém-regressado de férias em Lisboa), no forte de São José da Amura faz detonar uma bomba plástica, que causa a destruição parcial das instalações e ferimentos ligeiros no inspector do CTIG coronel de infantaria António Vaz Antunes, pondo em risco de vida o comandante do CTIG e do COMBIS brigadeiro Octávio de Carvalho Galvão de Figueiredo (evacuado para a Metrópole): «Horas depois, nós [BR/FPLN] dissémos [através da "Rádio Voz da Liberdade" locutada em Argel por Manuel Alegre], que tínhamos sido nós a destruir o quartel»; (cf declarações de Carlos Carneiro Quintas Antunes)
3ªf 26Fev74 – Durante a manhã no centro de Bissau, aproveitando a descontração do feriado de Carnaval, um grupo terrorista do PAIGC lança contra o "Café Ronda", frequentado por militares portugueses, dois engenhos explosivos que provocam a morte de 1 civil e ferimentos graves e ligeiros em 63 civis e militares, a maioria dos quais de origem europeia: foi José Carlos Schwarz - que chefiava o grupo "musical" Cobiana Jazz, ligado ao PAIGC e actuante em Bissau -, «o autor das primeiras sabotagens feitas com explosivos no centro de Bissau»; (cf declarações de Luís Severino Almeida Cabral).
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Tenho todo o direito de não gostar de quem falsifica a nossa História.
Claro que haverá sempre os convencidos de que a falsificação é que é a verdade. Que vão ver a telenovela e descansem em paz.
(António Graça de Abreu, 17Dez2010 04:21)
Abreu dos Santos (senior) disse...
... citando >
"...um grupo do PAIGC comandado por André Gomes... -infiltra-se até ao extremo sudeste da pista de Bissalanca e lança 2 obuses sobre a capital: um deles explode para lá do canal do Impernal e causa um ferido grave nas proximidades do emissor de Nhacra; o outro projéctil cai nas águas do Geba, entre o ComDefMarG (junto à SACOR, por baixo das instalações dos fuzileiros), e o ilhéu do Rei, sem causar quaisquer danos.."
Nesse seu comentario, retive a sensacao de estarem "diluidas" duas operacoes, dois acontecimentos que aparentemente, quer em termos temporais quer em alvos, nao coincidem...
Explico-me. A infiltracao do grupo do PAIGC, sobre o comando de Andre Gomes ( o tal comandante da guerrilha do PAIGC no chamado Chao Mandjaco..dos majores assassinados ) teve por proposito o ataque ao aeroporto de Bissalanca...por estranho que pareca, reprovado por Amilcar Cabral...ja que a iniciativa teria partido do proprio comandante Andre Gomes e consta,em certa medida a revelia da cupula da guerrilha...
Os riscos de um ataque do genero, acabaram por se comprovar, na sequencia da pronta reaccao das forcas portuguesas em cortar a retaguarda ao grupo...que so em debandada e dispersao ... (facto confirmado pelo proprio Andre Gomes em entrevista )conseguiu furtar-se ao cerco que se adivinhava !!!
Por conseguinte, dificilmente uma operacao do genero poderia merecer o aval da lideranca do PAIGC...
E mais este ataque..sucede...em termos temporais...a morte dos majores no Chao Manjaco...No seio da guerrilha era voz corrente, que Andre Gomes teria assumido a iniciativa, para "limpar" a reputacao da Frente sob o seu comando...de toda a onda de suspeita gerada em torno das celebres e tragicas negociacoes com Spinola e os majores...
No entanto,o ataque dos obuses...a cruzarem os ceus de Bissau..esse sim esteve sob o comando de Agnelo Dantas, caboverdiano da artilharia...tambem ele da Frente Norte... no pos independencia,o primeiro chefe de estado maior das Forcas Armadas caboverdianas e mais tarde ministro da defesa...
Por alvo, a operacao elegera..os depositos de combustiveis da SACOR,a Central Electrica e o Porto de Bissau...
Desse ataque retenho ainda hoje a "certeza"...de que um dos obuses caiu precisamente numa bolanha..na entao estrada da Sacor/Pere...a "palmos" do murro de vedacao da Central Electrica de Bissau...e do Matadouro Municipal...
Recordo perfeitamente, nessa manha de Domingo, da afluencia de curiosos
( inclusive nos, das imediacoes) a cratera aberta pela explosao no local...
Os pormenores destas duas operacoes estao registadas em entrevistas concedidas respectivamente por Andre Gomes ( a Radio Nacional da Guine Bissau) e Agnelo Dantas ao hoje extinto jornal caboverdiano,"Tribuna...
Mantenhas
Nelson Herbert
Este m/comment, destina-se a tentar elucidar eventuais leitores deste weblog, e deste específico postal do TGen Martins de Matos, à excepção de Nelson Herbert Lopes que se considera (e eu considero) suficientemente informado sobre a História oficial do PAIGC.
O único "ataque ao aeroporto de Bissalanca", ocorreu na 2ªfeira 19Fev1968, na sequência da visita do PR almirante Américo Thomaz; e foi comandado por André Pedro Gomes.
E o único "ataque à cidade de Bissau", ocorreu na 2ªfeira 09Jun1971; também foi comandado por André Pedro Gomes; e nada tendo a ver com os assassinatos de Jolmete perpetrados em 20Abr70.
Além disso, tal como nas imediações de Bissalanca não existia "bairro" algum, também nenhum daqueles actos ocorreu a um domingo.
O veterano José Dinis referiu-se, em comentário, a um «lançamento dos mísseis à Sacor em Junho de 70»: e apenas pelo facto de o ano ali referido não ser o correcto, entendi acrescentar, à exacta cronologia e circunstância dos primeiros actos de terrorismo urbano, verificados em Bissau, alguns pormenores do tal "ataque à cidade de Bissau", os quais não constam em relatórios mas sim em relatos de oficiais milicianos que, naquela data (vespéra das celebrações do "10 de Junho", organizadas pelos SRI/RepACAP), estavam em Bissau.
Quanto a Agnelo Dantas: nasceu em 1945 na ilha caboverdeana de Santo Antão; no final de Fev65, com outros cerca de 30 militantes caboverdeanos do PAIGC – entre eles Amâncio Lopes, Eduardo Santos, Honório Chantre, João Pereira da Silva, José João Lopes da Silva, Júlio "Julinho" de Carvalho, Manuel Maria "Manecas" Monteiro dos Santos [nascido em 1942 na ilha caboverdeana de Santo Antão, refractário do Exército], Olívio Pires, Silvino Manuel da Luz e Timóteo Tavares –, seguiu do norte de França para Argel e dali, com Pedro Pires, para Havana onde permaneceu até Mar66 a receber a primeira instrução militar, destinada a formar os futuros quadros das FARP; de Cuba foi seguidamente com os demais enviado para Baku (URSS) e ali recebeu treino específico em artilharia; regressado a Conackry, foi ali mantido na retaguarda até Nov71, sendo então enviado como comandante de artilharia para o Morés, onde permaneceu até Ago74. Agnelo Dantas, além de nunca ter actuado em chão manjaco nem em chão papel, também não consta na foto publicada no "PAIGC Actualités", onde se pode ver Amílcar Cabral a "condecorar" André Pedro Gomes e demais grupo que procedeu a incursões nas imediações da capital da Guiné.
Posto isto, encerro pela minha parte "a discussão" aberta no pretérito dia 17, nestes comentários de pé-de-página, por C. Martins artilheiro de Gadamael.
Camaradas,
O Abreu dos Santos (senior) corrigiu, e muito bem, a indicação que dei de um ataque a Bissau em 1970.
Foi de facto em 1971, e constou de quatro disparos (mísseis?) cujo lugar de impacto desconheço.
Eu tinha ido a Bissau para participar na cerimónia do 10 de Junho, ouvi os quatro rebentamentos, mas não retive qualquer comentário especial sobre o assunto.
Lamento o meu engano anterior, que agora fica esclarecido.
Acrescento que o meu comentário se reportava exclusivamente ao período em que servi na Guiné, de FEV/70 a DEZ/71.
Abraços
JD
"Agnelo Dantas, além de nunca ter actuado em chão manjaco nem em chão papel, também não consta na foto publicada no "PAIGC Actualités", onde se pode ver Amílcar Cabral a "condecorar" André Pedro Gomes e demais grupo que procedeu a incursões nas imediações da capital da Guiné."
* Andre Pedro Gomes foi condecorado por Amilcar Cabral, pelo operacao ao aeroporto de Bissalanca...em que nao participa o Agnelo Dantas...
..."e nada tendo a ver com os assassinatos de Jolmete perpetrados em 20Abr70."
Nos circulos da guerrilha, existe ainda hoje quem ache que a razao da iniciativa de Andre Pedro Gomes pode ter a haver com o caso Jolmete, pelas razoes que exponho no meu anterior comentario a este poste...
* O ataque com misseis, a Bissau, insisto contou com Agnelo Dantas no comando da artilharia ..Dantas avanca inclusive numa entrevista alguns episodios na preparacao do ataque que segundo ele terao estado entre as hipoteticas razoes do falhanco dos alvos (jornal a Tribuna,tambem parte da documentacao do meu espolio)...
* Nao compreendi a que proposito entra a tal passagem do bairro na periferia de Bissalanca ?
*Insisto um dos misseis caiu numa bolanha a escassos metros da Central Electrica...na estrada da Marinha/ Sacor..Estive la entre os curiosos que afluiram a cratera,no dia seguinte, ja que da minha rua..a da messe dos sargentos da FAP ao local, apenas 15 (ou menos) minutos medeavam o trajecto ! Um segundo missil cruzou por cima, o Porto de Bissau...onde nessa noite meu "Velho" estava de servico..na operacao de descarga de um navio ...quica o tal que caiu no canal Impernal.
E a proposito de guerrilha urbana, "deixou-se de fora"..a explosao de uma das bombas no estacionamento do cinema UDIB, que tivera por alvo o veiculo do inspector ou director da PIDE/DGS em Bissau...
*O PAIGC, durante a guerrilha teve tres Frentes...a Norte sob o comando de Chico Te, a Sul comandada por Nino Vieira e a Leste por Osvaldo Vieira !
E desta forma dou tambem por encerrada a minha participacao no debate despoletado por este poste !
Valeu
Nelson Herbert
Meu Caro Batata:
Belíssima reflexão, que encontrei por acaso. Tal como o outro artigo, o do regresso e aterragem pendurado nas 270 lbs do Collect Tank.
Grande abraço,
Bezoro
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