sábado, 18 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7465: (Ex)citações (121): A política dos povos é algo demasiadamente importante para ser entregue a militares (José Belo)

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 17 de Dezembro de 2010:

Caros Camaradas e Amigos.
Alguém escreveu: "A política dos povos é algo demasiadamente importante para ser entregue a militares."

A ter-se em conta os exemplos nacionais dos últimos 80 e tal anos, muito de verdadeiro haverá na afirmação.
De todos os Ramos das Forcas Armadas e da maioria das Armas do Exército existem bons exemplos de Generais e Almirantes que melhor imagem teriam na História se não tivessem abandonado casernas vocacionais por grandiosas missões de salvação nacional nas ribaltas políticas mais variadas. Sem querer de modo algum ofender o Camarada da Guiné que neste blogue publicou o poste sob o título: "Será que o PAIGC queria ganhar a guerra?", colocando-o em companhia de alguns destes senhores-históricos, permito-me alguns comentários de "desbocado". E, "desbocado", por (hoje), não me identificar de modo algum com as outras classificações possíveis apresentadas pelo autor no início do poste.

Tendo em conta que as visões de vitórias nos horizontes das guerras coloniais são sempre mais evidentes quanto elevadas as perspectivas (e passe a ironia involuntária quanto ao elevado das perspectivas de aviadores lá nos altos azuis); é óbvio que em nada se poderão comparar com as "visöes" de um par de botas enterradas na lama das bolanhas, sejam estas de "tropa macaca" ou "especial".

É claro que nisto de... altitudes, seria injusto a referência única às geográficas.

Do alto de sedes de Batalhão, (onde as intelectualidades dos pobres dos combatentes nunca atingiam níveis analíticos de outras especialidades por lá existentes), a tal altitude visionária de certezas absolutas feita ainda hoje é evidente. Não sei se seria a água podre que tantos foram obrigados longos meses a beber, se a comida indigna de animais que chegava às marmitas dos destacamentos isolados, o dormir no chão de um alpendre de palhota (época das chuvas incluída!), que acabaram por criar péssimos campos de cultura para tais visões de vitórias evidentes junto destes... "mais desfavorecidos".

Aparentemente na sua busca de um... clarinho, clarinho, para militar entender... o autor do poste simplificou (talvez em demasia), uma muito vasta e complexa realidade política e militar, tanto aos níveis locais e nacional, como, não menos, internacional. Se no entanto, buscamos com estas nossas tão inocentes trocas de opiniões atingir um certo (e saudável!) humor, a frase posta em suposto pensamento de políticos nacionalistas guineenses: "Estávamos tão bem sem termos que ganhar a guerra", obterá talvez o mesmo sentido humorístico se colocada no pensamento de alguns dos Barões Galaico-Portugueses, antes de um tal príncipe A. Henriques se ter lembrado de criar todas as condições de base para a grave crise económica que hoje tanto atormenta o nosso querido Portugal.

Um grande abraço desde Estocolmo.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7295: (Ex)citações (109): Alguns considerandos muito intimistas (José Belo)

Vd. poste de 16 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 – P7452: FAP (57): Será que a cúpula do PAIGC queria ganhar a guerra? (António Martins de Matos)

Vd. último poste da série de 15 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7439: (Ex)citações (120): Destruição e incêndio do Mercado Central de Bissau (Francisco Henriques da Silva)

9 comentários:

António Martins de Matos disse...

Caro amigo
Concordo consigo, a política dos povos é algo demasiadamente importante para ser entregue a militares, a política é para ser feita pelos ... políticos.
E foi por isso que os militares de Abril, revolução feita, regressaram a quartéis.
Mas tenho que lhe dizer, o meu amigo parece confundir o que é ser um “político”, já que “militares-políticos” não existem, quanto muito alguns foram militares e depois, por razões várias, passaram à política.
Exemplos de políticos que anteriormente tinham sido militares, Melo Antunes, Ramalho Eanes, Eisenhower, ... Fidel, Hugo Chavez.
Um “político" tanto pode ser um médico, ou engenheiro, ou operário fabril, ou militar, ou qualquer outra coisa, é alguém que, independentemente da sua profissão, num dado momento da sua vida resolve entrar na política a fim de servir o país.
Claro que há os outros políticos, os de profissão, os que logo desde pequeninos quiseram seguir a carreira, não para servirem os interesses do país, antes para se servirem dele.
Pelo seu texto fico com a sensação (talvez errada) que é desses políticos “de carreira” a que se refere.
E já agora, o que pensa de Winston Churchill? Foi militar...
Voltando aos “políticos profissionais” até há bons exemplos por toda esta Europa, (não menciono os portugueses por vergonha), o senhor Berlusconi , ou o senhor Chirac, ou mesmo na sua Suécia onde querem agarrar Julian Assange, o fundador da WikiLeaks, com um mandado de detenção internacional, acusado de agressão sexual a duas mulheres, virgens certamente.
E já que estávamos a falar de África, o presidente do Sudão que desviou nove mil milhões de dólares, ou o de Moçambique (entre 35 e 50 milhões), ou o da Costa do Marfim, ...
Pergunto isto porque aquela sua afirmação de que os militares não servem para a política, parece insinuar, ainda que de maneira velada, um medo a eventuais ditaduras.
Quero informá-lo de que, com excepção da Birmânia, as ainda ditaduras deste planeta são geridas por políticos “civis”.
E, sem o querer ofender, aí em Estocolmo há jornais?

Um abraço
António Martins de Matos

Anónimo disse...

António Martins de Matos,

esclareceu e muito bem, (a meu ver) as (Ex)citações do J. Belo.

Oh Luís, também me dá vontade de........ fica para outra.
´
Eu peço a saída das G3 de quando em vez! Mas estão a sair mísseis.

É bom!

Clarifiquemos!

É bom não esquecer que este comentário é de um "farda amarelo de camuflado".

Irei voltar com a "Guerra de Gerrilha" porque as outras já não val a pena. Podemos não ter estado lá mas conhece-mo-las.

Um abraço para Toda a Tabanca, com os parabéns aos aniversariantes que por questões técnicas não consegui enviar.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Caro Camarada e Amigo Martins de Matos.Que me seja permitido "concordar em discordar" com alguns pontos do Seu comentário.O primeiro;na afirmacäo de que o pronunciamento militar de Abril/74 tenha sido uma Revolucäo.Como bem saberá,as razöes que levaram a esmagadora maioria dos participantes muito tinham de aspectos legais quanto a carreiras profissionais,alguma vontade de näo continuar a guerra de África,ou,ambicöes políticas pessoais,como no caso do Sr.General Spínola.Neste distinto "ramalhete" poucos revolucionários havia,apesar de,por bastante activos e politizados o terem conseguido...aparentar. Segundo;A afirmacäo de que os militares regressaram a quartéis abandonando voluntariamente a accäo política.Muito pelo contrário,terá sido a sociedade civil,através da colaboracäo dos dois partidos maioritários que,utilizando meios legais e constitucionais acabaram por levar ao encerramento do chamado Conselho da Revolucäo. terceiro;quanto ao facto de os militares ao "despirem a farda",se tornarem em vulgares políticos como todos os outros Srs.Drs. A carreira política do Sr.General Spínola terminou abruptamente no momento em que passou a näo dispor de apoios militares...operacionais.O Sr.General Ramalho Eanes,será outro bom exemplo.Ao procurar enveredar por caminhos partidários próprios pouco tempo "sobreviveu" como figura política com poder semelhante ao que,sem dúvida,ainda teria junto de militares operacionais.E,será aí que reside o perigo dos tais militares/políticos,(ou,político/militares),por se moverem numa realidade envolvente muito distinta de um qualquer Sr.Prof.Dr.civilista.E näo vamos ser ingénuos neste pequeno detalhe,ou seräo bem recomendáveis as leituras de opiniöes sobre este assunto por parte de amadores como Sá Carneiro,Mário Soares,e mesmo Álvaro Cunhal. Quarto;por formacäo,e por bom conhecimento de alguns dos meandros da justica local,näo será talvez apropriado ironizar com as graves acusacöes apresentadas contra o Sr.Julian Assange por abuso e violência sexual na pessoa de duas mulheres.Ao afirmar com alguma ironia:"Por certo virgens",estará a esquecer que perante a lei,este tipo de crimes säo julgados do mesmo modo,caso se trate da mais virgem das virgens,ou,de a mais prostituída das prostituídas.Numa sociedade com fortíssimas tradicöes de direitos legais,o importante é que säo mulheres violentadas,independentemente das valorizacöes desse tipo.Näo seräo pressöes políticas norte-americanas que väo condicionar o funcionamento da Procuradoria de Justica da neutral Suécia,sempre muito cuidadosa em demonstrar independências agressivas em relacäo a métodos e políticas dos Estados Unidos. E,a ser-me permitido terminar este diálogo de uma forma mais pessoal,gostaria de salientar que o termo:"A minha Suécia" nada me diz,por nestes 35 anos que aqui vivo,trabalho,e constituí família,nunca o ter utilizado.Chega-me bem o "meu querido Portugal",a "minha Lisboa",ou mesmo "o meu Estoril".E,se me dá licenca,lá irei ler os tais jornais da Sua pergunta amiga. Um grande abraco.

Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...
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Anónimo disse...

Posso esclarecer os curiosos que os 3 comentários retirados pelo autor nada de "desbocados " tinham.Foi uma simples demonstracäo temperamental por parte do computador que repetiu o original só....4 vezes!

António Martins de Matos disse...

Caro amigo
Ao reler o comentário que fiz ao seu texto fiquei com a sensação de me ter excedido, desde já lhe quero pedir desculpa, ainda que por vias diferentes, até partilhamos muitas ideias.
Há no entanto alguns pontos em discórdia, deixe-me apenas apontar alguns deles:
O General Spínola não entrou no 25 de Abril, apenas no 26 (ou para ser mais exacto, no 25 à noite), e, como o General Ramalho Eanes, ambos foram bons militares e maus políticos.
Quanto aos dois partidos maioritários que, utilizando meios legais e constitucionais acabaram por levar ao encerramento do chamado Conselho da Revolução, caramba, levaram sete anos para o fazerem, até os militares (os que estavam nos quartéis) já estavam fartos deles.
Em relação ao tema de, na política, os militares serem mais perigosos que qualquer Sr. Prof. Dr. Civilista, deixe-me lembrar-lhe que hoje mesmo há eleições na Bielorussia, a última ditadura da Europa, e onde o seu Presidente, o “Doutor” Alexander Lukashenko, já tem acumulada uma fortuna pessoal calculada em 9 mil milhões de dólares, amealhada ao longo de 16 anos de poder.
Parece que não lhe chega, determinou que iria ganhar as eleições com 80% dos votos.
E a propósito do Sr. Julian Assange, não sei porque falou em pressões dos Estados Unidos, eu cá nem disse nada...
Para terminar, quando fala da Suécia neutral, deixe-me apenas ...sorrir.
Era a Suécia um país neutral quando apoiava o PAIGC?
No presente, será que ainda é neutral, com tropas no Kosovo e Afeganistão?

Um abraço
AMM

Anónimo disse...

Caro Camarada e Amigo Martins de Matos. Se me é permitido,e por questäo unicamente "legalista" gostaria de me referir um pouco ao conceito legal(!) de neutralidade,internacionalmente regulamentado pela Segunda Convencäo de Haia. O conceito de "neutralidade em conflitos" é aí apresentado como bem distinto do conceito muito mais vasto do "näo alinhamento".Ou seja,a recusa em participar em aliancas militares (tipo NATO ou antigo ,e defunto, Pacto de Varsóvia,entre outros),para assim conservar a neutralidade em caso de guerra. O conceito internacional de "neutralidade em guerra" é bem definido pelas Nacöes Unidas abrangendo todos os seus estados membros.Tanto quanto ao seu apoio humanitário(e será importante de salientar no caso do PAIGC, se näo tratou nunca de apoio militar)aos movimentos de libertacäo africanos,como nas missöes militares no antigo Congo Belga,Kosovo ou Afeganistäo,a Suécia encontra-se com uma carta de missäo das Nacöes Unidas,e näo sob o comando NATO,como alguns outros países näo neutais.À luz do Direito Internacional é uma diferenca fundamental.A Suécia,como País(!),näo entra em guerra desde 1814-guerras napoleónicas.E,mais uma vez se deve reparar no termo---como país,e näo sob mandatos e resolucöes várias das Nacöes Unidas.Isto torna-a o país neutral mais antigo,logo seguido da Suíca.É óbvio que, no respeitante ás Nacöes Unidas se podem ter opiniöes valorativas das mais díspares,mas esse facto subjectivo näo se espelha à luz do Direito Internacional vigente e acordado entre os Estados.Alguns confundem o conceito de" neutralidade",com pacifismo ou desarmamento.Tanto nos casos sueco como suíco isso em nada corresponde ás realidades.Ambos os países estäo bem armados e com forcas militares bem treinadas e competentes.No caso Sueco, dispondo de enorme e sofisticada indústria de guerra,(mesmo a nível mundial)construindo modernos aviöes e helicópteros de combate,submarinos e outros tipos de barcos de guerra,misseis,carros de combate ligeiros e pesados,todo o tipo de material de artilharia,armas de infantaria e municöes várias,o que lhe permite manter a tal "neutralidade de compra". Näo terá sido só pelos olhos azuis dos nativos,ou por todo o possível...Direito Internacional, que tanto Alemäes como Russos evitaram( quando para isso tiveram oportunidades) de entrar nestes dois países neutrais disponde de imensos recurssos naturais e económicos que lhes eram bem necessários. um grande abraco.