1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Dezembro de 2010:
Destruição e incêndio do Mercado Central de Bissau*
Carlos,
Peço-te a gentileza de publicares este esclarecimento do nosso Camarada Francisco Henriques da Silva.
Um grande abraço,
Mário
Isto é o estado actual do Mercado Central de Bissau. O embaixador Henriques da Silva garante que houve destruições no conflito político-militar 1998-1999. O que disseram ao Tangomau é que houve um incêndio há alguns anos atrás. Com guerra ou incêndio, perdeu-se um espaço que dava muita vida à Baixa de Bissau. O comércio faz-se à volta deste espaço, mas não é a mesma coisa.
(Foto e legenda de Mário Beja Santos)
2. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, ex-Embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, dirigida a Mário Beja Santos:
Mário,
Do blogue para onde tu escreves, transcrevo da legenda à fotografia do Mercado Central de Bissau, o seguinte:
"O embaixador Henriques da Silva garante que houve destruições no conflito político-militar 1998-1999. O que disseram ao Tangomau é que houve um incêndio há alguns anos atrás. Com guerra ou incêndio, perdeu-se um espaço que dava muita vida à Baixa de Bissau."
A memória dos bissau-guineenses parece ser curta. A verdade dos factos é que houve um bombardeamento que provocou um incêndio. Parece que estás a pôr em causa a minha palavra. Sempre me assumi como pessoa honesta e rigorosa. Que crédito é que te merecem esses locais que tem do caso em apreço recordações fragmentárias e vagas? Eu não só tenho a memória bem fresca desses acontecimentos porque os vivi com intensidade, como disponho de provas documentais do que afirmo.
Ora bem,
No capítulo 37 do meu manuscrito, refiro:
"Dos muitos incidentes de guerra e não os consigo reproduzir todos, recordo, por exemplo, que em 16 de Julho, o mercado central de Bissau, bem no centro da cidade, foi atingido em pleno pela artilharia da Junta, que resultou na sua destruição parcial. No dia seguinte, o mercado foi novamente atingido por disparos de artilharia tendo morrido um número indeterminado de populares que andavam na pilhagem e também alguns soldados senegaleses. Não foi permitido pelo comando militar conjunto que alguém visse os cadáveres. O mercado ardeu na totalidade."
Mais adiante, no capítulo 41 do meu manuscrito, quando menciono aspectos da vida quotidiana em Bissau durante a guerra, a determinado passo aludo de passagem ao seguinte:
"Como já referi num capítulo anterior, o mercado central da cidade foi destruído num bombardeamento e ardeu integralmente."
Ora tudo isto pode ser documentado pela leitura da imprensa da época (o caso em apreço é referido num "take" da agência LUSA, reproduzido pelos jornais diários, p. ex. no "Diário de Notícias", de 18.07.98, de que tenho cópia no meu arquivo).
Mais. Da correspondência oficial por mim subscrita, transcrevo a parte relevante de um telegrama de 16.07.98, remetido para o MNE - de que tenho cópia:
"Para além de disparos esporádicos, pelas 11h30, novas flagelações durante cerca de 45 minutos tendo sido atingido mercado central onde lavra incêndio, imediações da zona da Mãe d’Água e vários bairros de Bissau. Desconhece-se, por ora, número de vítimas."
E, já agora, segundo telegrama que se refere ao assunto, de 18.07.98, expedido para o MNE - de que também tenho cópia:
"... bombardeamentos da zona do Cuméré para centro cidade recomeçaram cerca das 15h45, com muita intensidade no início, a que se seguiu um período de abrandamento, tendo acções de fogo cessado cerca das 20h00. Mercado Central foi novamente atingido por foguetões tendo provocado um número indiscriminado de vítimas que andavam na pilhagem. Final da tarde ouviam-se distintamente da residência oficial disparos de armas ligeiras, “rockets” e bazucas oriundos presumivelmente da zona da Granja (a Norte do Bº. de Santa Luzia). Tiroteio foi durante vários períodos contínuo intercalados por fases em que apenas se registaram rebentamentos esporádicos. Após fortíssima trovoada e muita chuva, dia amanheceu calmo, não se tendo registado acções de fogo no centro da cidade, até agora."
Não tenho mais nada a acrescentar.
Abraço
Francisco
__________
Nota de CV:
(*) Vd. poste de 9 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7410: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (2): Dia 20 de Novembro de 2010
Vd. último poste da série de 11 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7419: (Ex)citações (119): O destino marca a hora ? (Jorge Picado, ex-Cap Mil, 1970/72)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Não era necessário, o Embaixador não precisava nem pediu, mas eu confirmo a sua versão. Eu estava lá como repórter, jornalista da Antena UM.
armando pires
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