quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7410: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (2): Dia 20 de Novembro de 2010

1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Dezembro de 2010:

Malta,
Peço desculpa pela demora no envio do meu registo referente ao dia 20 de Novembro.

Aproveito para pedir uma alteração: sempre que se escreve Azulai deve constar Azalai. Procurei escrever todos os nomes alusivos à imagem. Nem sempre andava bem dormido, por vezes a mente vagueava por outros sítios, peço desculpa por certas imprecisões.
Agora vou acabar o relato do dia 20, em que me aboletei no Bairro Joli, por incrível que pareça fiquei num 2º balcão a olhar para a bolanha de Finete, a avistar os palmeirais de Chicri e a supor que, um pouco mais à frente, e se eu estivesse num 20º andar, era possível desfrutar os meandros do Geba frente a Mato de Cão.
A partir de 21 acabou-se o turismo vadio, as passeatas erráticas. O déspota do Fodé vai tomar conta de mim, do Bambadincazinho até ao Xime, e daqui até ao Xitole. Depois procurei emancipar-me, já era tarde, mas ainda fugi de casa deste pai tirano, andei de motocicleta pelos territórios do antigo inimigo. Eu vou contar…

Um abraço do
Mário


OPERAÇÃO TANGOMAU - ÁLBUM FOTOGRÁFICO (2)

Dia 20 de Novembro de 2010

Antes de partir para a Embaixada de Portugal, onde almoçou, o Tangomau percorreu o Cais do Pidjiquiti. Dada a hora, havia pouco movimento. Mas por este cais passaram quase todos aqueles que desembarcaram nos paquetes que saíam da Rocha do Conde de Óbidos. Hoje é um puro espaço destinado a pescadores e chegadas e partidas de transporte fluvial. O Tangomau encontrou uma vedeta militar, mas é completamente interdito registar equipamentos militares de todos os tipos, formas e feitios…

A estrada de Santa Luzia tornou-se multiusos: tem comércio, edifícios de habitação, pequena indústria, sedes de ONG, serviços. Não passava pela cabeça do Tangomau encontrar uma agência funerária com matraquilhos à porta. Dito e feito, lazer e passamento sincronizados…

Estava interdito fotografar o edifício do Estado-Maior General das Forças Armadas, reduzido a escombros. Fotografou-se uma relíquia, uma guarita de controlo na estrada que dava acesso ao quarteirão da messe de oficiais e respectivos alojamentos. De referir que o muro do QG está lá, de pedra e cal

A messe de oficiais transformou-se no vestíbulo e recepção do Hotel Azalai, o último grito hoteleiro da Guiné-Bissau. O Tangomau cirandou e gostou. Afinal, até encontrou vestígios de bangalós e da piscina. Para que conste.

Uma messe de oficiais reciclada. Era um espaço de lazer com sofás, armários, bilhar, mesas para escrever. Falando por si, o Tangomau expediu aqui várias dezenas de aerogramas. Agora mudou de look e natureza. Assim tivesse acontecido com muitíssima outra arquitectura do período colonial.

Foi piscina dos oficiais, dos hóspedes do Hotel 24 de Setembro, aparece agora retocada para a inauguração do Hotel Azalai. Tem beleza e quem organizou este espaço foi feliz com o traçado do meio envolvente.

Cerca envolvente do Hotel Azalai. É melhor que os hóspedes fiquem defendidos de ver o Bairro de Santa Luzia degradado, havia ali casas bem bonitas, agora campeia a fealdade.

Os caldos Maggi estão a fazer furor na Guiné. O Tangomau encontrou esta publicidade quando descia a Pansao N’Isla a caminho da Baixa de Bissau. Até a mulher do Fodé Dahaba mandou o Tangomau comprar uma caixa das grandes para preparar a mafé no almoço de confraternização, em 25 de Novembro: vários quilos de arroz e de carne, especiarias, incluindo caldos Maggi. Seguramente que a mulher do Fodé Dahaba é uma estrela!

Isto é o estado actual do Mercado Central de Bissau. O embaixador Henriques da Silva garante que houve destruições no conflito político-militar 1998-1999. O que disseram ao Tangomau é que houve um incêndio há alguns anos atrás. Com guerra ou incêndio, perdeu-se um espaço que dava muita vida à Baixa de Bissau. O comércio faz-se à volta deste espaço, mas não é a mesma coisa.

Estado actual do Restaurante Pelicano, tinha uma vista esplendorosa sobre o Ilhéu do Rei. Fica numa encosta que dá acesso à fortaleza da Amura. No blogue, temos registado um postal com o interior do Restaurante Pelicano. Paz à sua alma!

Guarita do edifício do Comando da Defesa Marítima da Guiné. O Tangomau nunca esquecera este pormenor, viera aqui em Junho de 1969, tinha encontro marcado com o comandante Avelino Teixeira da Mota, acabaram por jantar num barco pejado de fuzileiros que iam de madrugada fazer um golpe de mão no Baio, perto do Burontoni. Hoje, o edifício pertence à Armada da Guiné-Bissau. O Tangomau, quando visitou a Ponta do Inglês, quis ir ao Burontoni e ao Baio, mas era uma grande distância, a luz caminhava para o ocaso. Mais uma razão para voltar à Guiné…

Quando o Tangomau se apresentou em Bambadinca (mais propriamente no Bambadincazinho) tinha o Fodé à espera, com uma cartilha interminável de recomendações. Ei-lo aqui, sorridente, tinha o “irmãozinho” para dar ordens, o Fodé é o mais sinuoso mandão ao cimo da terra. A seu lado, no comité de recepção, Madiu Colubali, antigo soldado milícia de Missirá e Aidja, a primeira mulher de Fodé, o ser mais paciente que o Tangomau conhece…

Fotos: © Mário Beja Santos (2010). Direitos reservados.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 7 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7397: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (3): O segundo dia em Bissau

Vd. primeiro poste da série de 5 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7384: Operação Tangomau (Álbum fotográfico de Mário Beja Santos) (1): Dias 18 e 19 de Novembro de 2010

7 comentários:

Anónimo disse...

Restaurante Pelicano ? What f... Me perdoem a expressao...mas atormenta-me esse estado de degradacao dos edificios, monumentos (e nao so, de valores tambem) na Guine...Tenho dificuldades em enquadrar a foto daquilo que foi outrora o Pelicano...Ja tentei de pino, de lado...com as pernas pro ar...mas nem por isso identifico um angulo que me remeta a imagem que tenho desse edificio, um ex libris da marginal de Bissau...

Nesse andar, nem vestigios temos um dia desses, para exibir...

Pobre Guine !

Nelson Herbert
USA

Ps: A proposito do Pelicano. Um dos guineenses, parte do grupo que assassinou Amilcar Cabral a 20 de Janeiro de 1973, foi "garcon " nesse restaurante...muito frequentado pelos entao chefes da PIDE...

Anónimo disse...

Camarigos
Que saudades do Restaurante Pelicano. Um autêntico oásis para o pessoal do mato que arribava a Bissau. Ponto de passagem obrigatório para comer um "Ninho de Camarão". Foi lá que falei com o então Capitão Salgueiro Maia , meu Comandante de Esquadrão em, Santarém pela última vez.
Abraço Camarigo
Luís Borrega

Joaquim Mexia Alves disse...

Ai, os "ninhos de camarão" no Pelicano!!!

Um dia tenho que pedir à "nossa", do Miguel, Enfermeira Paraquedista que saque dos seus dotes culinários uns ninhos de camarão!!!

Ela já deu a receita, que eu tenho algures.

Um abraço camarigo para todos

João Teixeira disse...

Vi esta semana uma foto do então chamado " Palácio do Governador " cujo interior conheci bem completamente destruído. Quanto ao "PELICANO" onde era um cliente numa base quase diária quando estava em Bissau o que aconteceu cerca de 90% do tempo da minha comissão não tenho palavras para expressar a minha tristeza pelo que vi e também só com muita dificuldade não por estarem a passar 40 anos ( Julho 1972 a Setembro 1974 ) é que consigo enquadrar o " PELICANO " no belissimo local em que estava localizado.

Mario Tito disse...

Presados camaradas ex-combatentes da Guiné!

Como "principal" protagonista em tudo que "mexa" com O PELICANO E NINHO DE CAMRÃO", não consigo visualizar a imagem do esdqueleto do local que eu "dei vida", com a inauguração oficial a 14 de Novembro de 1969 - uma 6ª feira!!!

Pela foto, tudo o que posso ver entre a folhagem, é umas réstias de cor "azul" quiça identificando parte de uma outra foto onde se via o edifício "com pensos" de cimento na fachada - sinal de pobreza, quiça efeitos de ter sido allvajadas na ferocidade das lutas internas que a Guiné e seu pobre povo foram vítimas demasiadas vezes ao longo dos anos.

Alguém me confirme que realmente o que era um lugar aprazível e um grande "tubo de escape" para milhares e milhares dos nossos, durante o tempo que eu lá estive - abri o Pelicano como já disse em 1969 e saí a meio do verão (Agosto) de 72 para abrir o Ninho de Santa Luzia em Novembro.

Interessante notar que, Novembro foi o mês que abri 3 negócios. Será que haverá algo "celestial" a influenciar a minha decisão?

1º - O Pelicano - Nov. 69
2º - O NINHO - Nov. 72
3º - A TABANCA - Nov. 74

E, se não estou em erro, ajudei ainda abrir A META, (mais tarde mudou de nome para A TABANCA) em Nov de 1967, porque um dos intervenientes no negócio era o meu chefe "tenente". Claro, como eu era o "escriturário" ele lá me engatou para "teclar" em papel cera vários mapas de controle, passar na "impressora no CGFA" e ajudar na abertura, porque tinha trabaçhado no ramo, alem de ser o cabo da Messe. O barista da Messe (Açoriano) nãop regressou aos Açores, ficando lá a trabalhar. Chamava-se Jo´se Esteves qualquer coisa, mais tarde passou a instruictor de de conduição, nma escola mesmo ao lado da META.


Mario Tito disse...

Lendo e relendo, encontrei um amensagem referindo que um Guineense foi "garçon" nesse restaurante, referindo como implicado na morte de Amilcar Cabral.

Refer também os chefes da pide frequentavam muito o Pelicano.

Pergunto...como sabe o amigo Herbert isso? Frequentava também o local? Eu era um diário, de mnhã até á 1-2 da manhã porque fui era o encarregado daquilo desde o 1º dia até meados de Agosto de 1972.

O "graçon" era um homem ás direitas! meu braço direito, chefe de sala, respeitado por brancos e pretos, Era ele que "ajudava" as aminar muitas das "quizílias" óbvias e não obvias que surgiam periodicamente. Eu tive ma casa dele com toda a minha familia, na véspera dele "desaparecer" e - fanado em PIDE - no outro dia tive a visita de "3 pastorinhos" da DGS a interrogarrem-me sobre o paradeiro do Mário Mamadou Turé, nome de registo, segundo ele, mais conhecido por MOMO TURÉ.

Só dizia bem de Amilcar. Os dois, com amis alguns empregados, oucviamos a rádio Moscovo no ultimo terraço do Pelicano, onde a onda se apanhava melhor.

Francamente, não creio que ele planeasse "matar" AC. O que havia...isso sim...era uma insatisfação nas fileiras do PAIGC, na "ala" guineense porque....porque...pois aí é que está o ponto! PORQUE SERIA?...

Quantos cidadadãos de origem "mista" ou naturais mesmo de Cverde, morreram nas linhas da frente? Quantos cidadãos Guineenses ocupavam lugares de relevo - a nível internacional ou "recatadamente" a salvo do "calor", fora da vanguarda da luta?

Questões que alguém sabe mas que não dão a conhecer. Pelo menos até agora ainda não vi nada nesse sentido.

Abraºço a todos.



Anónimo disse...

Mário Oliveira a essas ninguém responde.Topas?O plano só inclina para um lado.Porque será?Não é preciso pensar muito.