quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Guin é 63/74 - P7438: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (5): Canquelifá, a ferro e fogo, 18 de Março de 1974








Guiné > Zona Leste > Região de Nova Lamego > Canquelifá > CCAÇ 3545 (1972/74) > 18 de Março de 1974 > A paisagem desoladora da tabanca, depois do violento ataque do PAIGC com morteiros 120 e foguetões 122, durante 4 horas... 

Fotos: © Jacinto Cristina (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


Continuação da  publicação do álbum  fotográfico de Jacinto Cristina (Sold At Inf, CCAÇ 3546, 1972/74) [, foto à esquerda]  (*).


Recorde-se o trajecto (militar) do Jacinto Cristina:  (i) Natural de Ferreira do Alentejo, hoje com 61 anos, fez a recruta no RI 14, em Viseu, e a especialidade no RI 2, Abrantes; (ii) Foi mobilizado para a Guiné, como Sold At Inf, da CCAÇ 3546; (iii) esta subunidade  pertencia ao BCAÇ 3883, mobilizado pelo RI 2; (iv) A CSS estava sediada em Piche; (v) O comandante era o Ten Cor Inf Manuel António Dantas; (vi)  O comandante da CCAÇ 3546 era o Cap QEO José Carlos Duarte Ferreira; (vii) As outras companhias do BCAÇ 3883 era a CCAÇ 3544 (Buruntuma e Piche) e a CCAÇ 3545 (Canquelifá e Piche); (ix) Estas quatro subunidades partiram para a Guiné de avião,  em Março de 1972; (x) Regressaram à Metrópole, também de avião, em Junho de 1974; (xi) O Cristina esteve no destacamento de Ponte de Caium, na estrada entre Piche e Buruntuma,  cerca de 14 meses (Fevereiro de 1973 / Abril de 1974), onde foi municiador do morteiro 10,7 e padeiro.

As últimas fotos do seu álbum fotográfico são justamente estas seis, que publicamos acima... São "recuerdos", sem legenda, de Canquelifá (junto à fronteira com o Senegal) depois do ataque de violento ataque do PAIGC que arrasou completamente a tabanca (**)... O Jacinto Cristina nunca lá esteve mas comprou estas fotos a alguém do seu batalhão, que vivia do negócio da fotografia. Comprou-as e pô-las no seu álbum, para "mais tarde recordar"... Há fotos que falam por si... (***)
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Notas de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7303: Álbum fotográfico de Jacinto Cristina, o padeiro da Ponte Caium, 3º Gr Comb da CCAÇ 3546, 1972/74 (4): Parabéns ao municiador (e às vezes apontador) do Morteiro 10.7, que fez 61 anos no passado dia 14...


(**) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006
Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)


(...) Camarada, Luis Graça.


Estou há muitos anos a guardar na minha memória vários acontecimentos que se passaram na Guiné. Penso que isso acontece com todo o pessoal. Vivi à distância os acontecimentos de Guidaje e Guileje, mas a guerra passava-me pelas mãos, porque em Nova Lamego fui sempre operador de mensagens e não transmissões que de facto foi a especialidade que me despejaram em Campolide - Lisboa.

Acho que chegou o momento para contar um deles. Além de Guidaje e Guileje/Gadamael houve uma terceira ofensiva forte, levada a cabo pelo PAIGC no final da guerra, mas desta vez no Leste, no início do ano de 1974, mais precisamente no sector L4 e L6. Alvos preferenciais: BajocundaCopá, Mareué e Canquelifa, sem esquecer outros.

Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Mort 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos Helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!

Isto foi só em Nova Lamego porque em Piche não soube, nem quis saber e não sei o que se passou.

Um Alfa Bravo. A. Santos (...)


(***) Ainda sobre a batalha de Canquelifá, vd. comentário de Luís Borrega ao poste de 8 de Dezembro de 2010 >Guiné 63/74 – P7405: Controvérsias (113): Os derradeiros dias do Destacamento de Copá (Fernando Henriques)


(...) Camarigos: Sou amigo do Fernando Henriques.Tenho o seu livro e li todos os acontecimentos em Copá. Tenho-o como uma pessoa honesta e amigo do seu amigo.
Para quem não sabe, o Alf Mil OE Fernando Henriques pertencia ao BCaç 3883, que foi render em Pitche o meu BCav 2922.

O F. Henriques integrou a CCaç 3545, capitaneada pelo Cap Mil Fernando Peixinho de Cristo, que foi render em Canquelifá a CCav 2748. 

O Destacamento de Copá tinha o apoio da Artilharia do Quartel de Canquelifá. Eram 3 obuses de 14 cms, que foram substituídos, por ordem de um Crâneo,  residente em Bissau, por obuses de 10,5 cms. Como é óbvio, estes obuses, não tinham o alcance dos de 14 cms.
Esta substituição fragilizou o Destacamento de Copá, assim como o próprio Quartel de Canquelifá.


Em [18 de]  Março de 1974, Canquelifá ficou a "ferro e fogo", e muito limitado no fogo de retaliação aos ataques. Tiveram que ser socorridos pelos Comandos Africanos. A força de socorro a Canquelifá integrava a 1ª, a 2ª e a 3ª CComandos Africanos, e era comandada pelo Major Raúl Folques [Op Neve Gelada, de 21 a 30 de Março de 1974].

Eram 6 Morteiros de 120 mm a despejar fogo e ainda com Canhão sem recuo, além de 300 foguetões de 122mm. A Tabanca ficou arrasada. Como já lá não estava ,vou lendo o que se escreve.

Abraço, Camarigo
Luís Borrega


Vd. também o poste do Hélder de Sousa > 11 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

(...) Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso 'ajudar' relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545 [ "No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques], Companhia essa que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia: "A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir". (...)

3 comentários:

Anónimo disse...

Lamentavelmente não temos ninguém, na nossa Tabanca Grande, que tenha pertencido à CCAÇ 3546, e que tenha estado em Canquelifá nesse trágico mês de Março de 1974... Talvez o Fernando de Sousa Henriques, o autor de "No Ocaso da Guerra do Ultramar", possa (e queira) acrescentar algo mais a estes fotos... Ou talvez não, já que na sua primeira aparição no nosso blogue não terá sido tratado da maneira mais "camariga" que é a do nosso timbre e tradição...

O Fernando que é um homem nobre, sabe dar o devido desconto: os homens, às vezes, no "calor das batalhas verbais", excedem-se no consumo de "munições"...(felizmente de pólvora seca).

Um bom Natal para os bravos de Canquelifá que tenham chegado, vivos e são, até 2010.

Luís Graça

Anónimo disse...

Camarigo, uma sequência de imagens ilustrativas da guerra, com o condão de me mostrar de forma clara, olhos nos olhos, os nossos sofrimentos. Arrepiante!Um abraço amigo,
Vasco A. R. da Gama

José Marques disse...

Fotos que testemunham o que se passou em Canquelifá, mas estes estragos não ocorreram apenas no dia 18 Mar 74.
Nos dias seguintes a 19, 20, 21, 24 e 31 Mar 74, houve ataques mais prolongados e intensos, por isso julgo que as fotos tenham sido tiradas já após os ultimos ataques.
Estive em Canquelifá de 22 Fev 74, a 12 Abr 74, ainda apanhei os ataques de 24 Fev e 05 Mar, estes mais fracos em comparação com os ultimos.
Obrigado pela divulgação destas fotos.
Um abraço!
José Marques!