segunda-feira, 21 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7978: Blogpoesia (125): O cuco sabe que o Sol voltará ao Monfurado (José Brás)




1. Comentário do nosso camarada José Brás* (ex-Fur Mil, CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), autor do romance recentemente apresentado, Lugares de Passagem, deixado no Poste 7971**:

Amiga alentejana (acho que é)
Em homenagem ao seu poema

Cumprimentos
José Brás



O cuco

Ninguém avisou o cuco
que o Inverno batia ainda forte
nas encostas do Monfurado
a vinte e um de Março do ano corrente
ninguém escondeu o calendário
ninguém lhe atrasou o relógio
ninguém lhe mostrou o céu pesado
e a luz baça sufocando o montado
em cada sobreiro um novelo
a desfazer-se e a refazer-se nas cordas da chuva

Ninguém lhe disse que o Sol estava de férias
algures a sul tisnando corpos
espelhado no corpo do mar
ninguém lhe disse
da falta de sentido de um canto como o seu
imprevistamente ecoando
nos vales da serra
no desábito das memórias
e canta
ainda assim ou chora
de ter chegado aqui em tempo tão bravio

O cuco sabe
que o Sol voltará ao Monfurado
sei que o cuco sabe que o Sol voltará
expulsando o chumbo e iluminando os dias
fantasiando de luz as noites do seu canto
e a minha secreta esperança de infinito
não sei se o cuco sabe que lhe sei da voz
e do eco do seu canto
não sei se o cuco sabe
que não lhe sei do sentido mais profundo
do tempo exacto
do espaço do voar

sei
apenas
que o cuco canta no Monfurado
a vinte e um de Março
de todos os anos

In "Lugares de Passagem"

PS
e já cantou hoje

____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7764: Obrigado pelas mensagens amistosas que recebi (José Brás)

(**) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7971: Blogpoesia (118): A Primavera voltou (Felismina Costa)

Vd. último poste da série de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7977: Blogpoesia (124): Eternidade (J. Belo)

2 comentários:

Anónimo disse...

Amigo José Brás!

Tenho recebido prendas bonitas, nas manifestações de apreço pelo pouco que escrevo, mas o seu poema deixou-me encantada!

O cuco, velho companheiro de infância e juventude, nunca ficou esquecido!

Sempre que chega a Primavera, me recordo do seu cantar característico, escondido no montado próximo, e a quem as moças solteiras perguntavam: (cuco da ribeira, quantos anos estou solteira?)...

Lembranças que ficam... do tempo que passa!

Obrigada meu amigo!

Que o cuco continue a cantar para si, porque sei do prazer que se sente,quando vimos que o tempo volta...trazendo o passado!

Mil vezes obrigada, pela homenagem linda que me faz!

A Mãe Natureza é pródiga em ofertas.
Aceite-mo-las!

Um abraço

Felismina Costa

admor disse...

Camarigo José Brás,

Gostei muito do teu poema e até do teu PS gostei.

Só não gosto da personagem (cuco) e do outro P S não é por nada de especial é só por se servirem muito dos "ninhos alheios" e disso nunca gostei nem nunca gostarei.

Um grande abraço para ti e para os camarigos todos.

Adriano Moreira