quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)

Guiné > Região de Tombali > Mampatá (?) > CCAÇ 3326 (1971/73) > Ex-1º Cabo Enf José Santos

Foto: © José Santos (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de 14 do corrente, do novo membro da Tabanca Grande, José Santos, que mora em Algés, Oeiras:

Caro amigo Luís Graça, fui 1.º Cabo Enfermeiro da Companhia de Caçadores 3326, de Janeiro de 1971 a Janeiro de 1973 em Mampatá (Aldeia Formosa) e Quinhamel.

Tenho lido algumas descrições da tabanca, e em uma delas fui encontrar o meu colega Brum, rapaz do meu pelotão e que se encontra no Canadá, e a carta foi escrita pela sua filha.

Caro Luís, tenho dois episódios muito significativos para mim, que me ficarão para sempre na minha memória, e são para serem publicados na tabanca caso entendas ok.

O primeiro aconteceu em Mampatá, certo dia estando de serviço à enfermaria cerca das 3 horas da madrugada, foi solicitada a minha presença numa tabanca a fim de dar assistência a uma africana. Quando cheguei encontrei um panorama tremendo, a mulher deu à luz um casal de gémeos que ainda respiravam, e com o estetoscópio verifiquei seus batimentos cardíacos, mas as crianças acabariam por falecer cerca de uma hora depois. A mulher encontrava-se deitada em cima de uma esteira com todo o aparato inerente a uma gravidez.

A mulher teria 7 meses de gestação, mas abortou derivado a ter levado uma tareia do marido. Cuidei dela aplicando-lhe uma injecção de buscopan para as dores, uns comprimidos,  e ajudei a limpá-la pois ainda continha impurezas.

Dias depois de já se encontrar restabelecida, foi ter comigo à enfermaria levar-me uma galinha de mato pelo reconhecimento da forma como a tratei.

O segundo  episódio passou-se em Quinhamel, também uma rapariga apresentava a canela com um buracão, carne esponjosa, ulceração, com as moscas era horrível, levei cerca de 7 a 8 semanas a tratá-la mas ficaria curada.

A seguir a isto tudo, surgiu na enfermaria com uma galinha de mato e uma dúzia de ovos, pela ajuda prestada.

Estes dois casos deixaram em mim imenso orgulho, tanto pessoal como profissional na área da saúde e não só, aliás fui durante 40 anos técnico de farmácia, e um dos meus patrões era enfermeiro diplomado da Cruz Vermelha como seu filho e nora, e aprendi muito com estas pessoas.

Estando em Mampatá fui sempre eu que acompanhava os doentes ao Hospital de Bissau, o capitão não confiava essa missão ao furriel, e assim viajei muito entre a Aldeia Formosa e Bissau.

Amigo Luís Graça,  já nos conhecemos na livraria em Oeiras, e agora vou-te comunicar o seguinte: etou com ideias de ir exercer voluntariado para o Hospital de Cumura, fui convidado por um padre médico que exerce lá esse serviço, já falei pessoalmente com ele, de momento encontra-se cá em Lisboa a fim de recolher medicamentos e material necessário, porque a falta destes é evidente.

Para mim a nível sentimental e profissional é uma enorme alegria, e caso concretize tal acto será sem duvidas poder pôr ao serviço da saúde todos os meus conhecimentos adquiridos, e ajudar e contribuir para as melhoras desta gente tão desprotegida.

Os meus contactos são (...).
 
 Um abraço

Santos

2. Comentário de L.G.:

Deixa-me, camarada José Santos, dar-te as boas vindas em nome de todos os membros da Tabanca Grande que, com a tua entrada, passam a perfazer um total de 526.  Já nos encontrámos, de facto,  na Livraria-Galeria Municipal Verney, em Oeiras, há uns meses atrás. Esse primeiro encontro deu para nos apresentarmo-nos. Depois disso já temos falado (e continuaremos a falar) ao telefone.

Ficas formalmente apresentado aos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte deste blogue. Conheces as nossas regras de convívio [, que consta da coluna do lado esquerdo do blogue,] e comprometes-te a colaborar connosco sempre que achares oportuno e necessário.

Para já ficam aqui as tuas primeiras fotos e histórias. Mais tarde falar-nos-á com mais detalhe da tua CCAÇ 3326, e dos sítios por onde andaste. Julgo que és o primeiro da tua companhia a figurar na nossa Tabanca Grande. Se não erro, só tenho uma ou duas referências à CCAÇ 3326.

Aproveito para acrescentar algo sobre esta subunidade (que, tanto quanto sei, era independente):

(i) Foi mobilizada pelo BII 17 (Angra do Heroísmo);
(ii) Partiu para o TO da Guiné em 21/1/1971 e regressou quse 24 meses depois, a 7/1/1973;
(iii) Esteve em Mampatá e Quinhamel;
(iv) Comandante: Cap Mil Art José Carlos de Paula Carvalho.

Seguiu para a Guiné, no mesmo navio, com a CCAÇ 3325 (Guileje e Nhacra), a CCAÇ 3327 (Brá, Bachile, Bassarel, Tite, Bissau), e ainda a CCAÇ 3328 (Bula, Ponta Augusto Barros e Bula). A CCAÇ 3325 era madeirense (BII 19, Funchal), e as restantes, açorianas (BII 17, Angra do Heroísmo). 

8 comentários:

Luís Graça disse...

JOsé Santos: Explica-me lá esse... cognome que vocês arranjaram para a companhia... "Os Jovens Assassinos de Mampatá"...

Julgo que vocês nunca se tenham encontrado depois do regresso a casa... A maioria da malta era açoriana, não ? Mas tu és lisboeta,. verdade ?

LG

Luís Graça disse...

José Santos: Viste este pedido do teu camarada Brum... Não sei se obteve resposta, não me lembro, mas podemos tentar ajudar...

16 de Outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5116: Em busca de... (98): Pessoal da açoriana CAÇ 3326 - Os Jovens Assassinos de Mampatá (1971/73) (António Amaral Brum, Ontário, Canadá)

Vammos recapitular:

(...) O telefone do nosso camarada Brum é o 905 664 1497 (telemóvel ? nº fixo ?). Não tenho a certeza de ter percebido bem o apelido, mas pareceu-me ser Brum. Vive em Hamilton, Ontário (possivelmente, é preciso marcar o prefixo do Canadá e da região, para contactar com ele pelo telefone).

O Brum gostaria muito de encontrar antigos camaradas, em especial o Fur Mil Martinho (ou Martins ?), bem como o Portugal, para além do seu antigo capitão (que chegou inclusive a convidá-lo para vir trabalhar com ele no Continente).

Está há 36 anos no Canadá. Há 14 teve um acidente de trabalho na fábrica onde trabalhava, e que lhe provocou traumatismo craniano (“brain injury”). Está reformado, e faz a sua vida normal, conduz o seu carro, etc.

Falei com a esposa, açoriana, com sotaque cerrado de S. Miguel. Disse-me que queria muito fazer uma surpresa ao marido. Voltou hoje a falar-me… Não conhece Lisboa. Julgava que eu tinha uma base de dados com todos os contactos de todos os militares que passaram pela Guiné, e que logo ali lhe daria o telemóvel do ex-Cap Mil Paulo Carvalho. Alguém lhe deve ter dito que eu também falava numa rádio… Meu Deus, onde já vai o nosso blogue!…

Pareceu-me ser uma pessoa simples e uma esposa dedicada… Pedi-lhe para me mandar fotos, digitalizadas, do marido. Vai pedir à filha, que sabe trabalhar com a Internet. A última vez que o casal veio aos Açores foi há 10 anos. Insistiu comigo para pôr à frente do nº da companhia o nome de guerra por que eles eram conhecidos – Os Jovens Assassinos de Mampatá…

Amigos e camaradas, quem pode dar uma ajuda a este nosso camarada da diáspora portuguesa ? (...)

J.Eduardo Alves disse...

camarada e amigo josé santos em primeiro deixame darte as boas vindas ao blogue eu josé eduardo alves fui condutor da cart 6250 que vos foi render a mampatá, estou contente por saber que estás com ideias em ir ajudar aquela gente para o hospital da camura, pois eu indireta mente estou ligado a gente que faz lá serviço de veluntariado, já fui 3 anos seguidos á guiné bissau, claro vesitar a gente de Mampatá onde tenho bons amigos, é claro vou c/ a minha esposa, e o ano proximo talvez lá volte, um abraço depois falamos o meu tlm é 966100880. que

mario gualter rodrigues pinto disse...

Caro José Santos


Em meu nome e da Cart 2519 Os Morcegos de Mampatá, doute as boas vindas ao nosso convivio.

Como deves estar lembrado a CCAÇ 3326, foi a Companhia que rendeu a minha em Fevereiro de 1971. Nesse altura metade da minha Companhia seguiu para Bissau via Buba LDG, ficando 2 G.Combate em Mampatá um dos quais o meu.

Na primeira saída que fiz com vocês para o carredor de Missirá, tiveram o v/baptismo de fogo num forte contacto e onde a CCAÇ. 3326 teve os primeiros feridos e o IN 2 mortos e algumas baixas e como resultado o v/primeiro material capturado (ronco.

Mampatá encontra-se no Blog. bem decomentada em periodos destintos conforme as unidades que por lá passaram sendo o periodo com menos informação o ocupado pela CCAÇ. 3326 1971/72, convido-te se puderes e estiveres interessado a faze-lo para conseguirmos fechar o circulo das unidades instaladas em Mampatá.


Um abraço

Mário Pinto
ex-Fur.Mil CART. 2519

Anónimo disse...

Caro José Santos:
Também te saúdo de forma muito especial porque também sou de Mampatá.Fui Fur.Milic. Enf. da cart.6250 que vos foi render, no fim de Julho de 72. Só me lembro do Real e do vosso capitão que nunca mais encontrei.Devo dizer-te que passámos a comissão a proteger os trabalhos de abertura e asfaltagem de duas estradas: uma entre Aldeia e Buba com passagem por Mampatá e Nhala e outra ligando mampatá a Colibuia Combidjã e Nhacobá.
Meu e.mail:ascarvalho1972@iol.pt
Tlm:919401036
Um abraço
Carvalho

Anónimo disse...

Olá José Santos,

Bem-vindo ao Blogue. Em tempos estive em contacto com o Brum. Por aqui, no estado de Massachusetts, conheço o Sold. Cond. Auto Manuel Fortuna, natural do Faial. Vive em Taunton. Também tenho os contactos dos Furs. Mils. José Bendito e do Fernando Portugal Portugal.

Se estiveres interessado no meu contacto, podes pedi-lo aos editores.

Já agora, tal como o Luís Graça, gostaria de saber de onde veio essa história dos Jovens Assassinos de Mampatá.

Tenho alguma dificuldade em aceitar que o vosso Cap. Paula de Carvalho, um comandante muito austero, permitisse o nome de guerra Jovens Assassinos de Mampatá. Mesmo assim tudo é possível.

Eu tenho um crachá da vossa companhia, Os Sempre Operacionais. Foi este crachá que esteve presente no último convívio da CCaç 3327 e para o qual foram convidadas as CCaçs 3326 e 3328.

Um abraço,

José Câmara
CCaç 3327

Anónimo disse...

Caros amigos,

Decidi prosseguir um pouco mais com o meu comentário anterior por ter sentido que o nome de guerra Jovens Assassinos não se coadunava com a docilidade do soldado açoriano. Também não é menos verdade que conheci muitos dos militares que compunham a CCaç 3326, com os seus graduados e mantenho correspondência com alguns. Foi a um desses graduados que me dirigi para aclarar um pouco sobre aquele nome de guerra.

Tal como deixara antever antes, nunca houve nome de guerra Jovens Assassinos de Mampatá, mas uma alcunha feita por forças exteriores à companhia.

Por ter entendido que essa alcunha não orgulhava o meu correspondente, camarada e amigo, pedi-lhe e foi-me concedida a devida autorização para usar as suas próprias palavras na explicação do que então aconteceu.

Com a devida vénia:

“Quando chegámos a Mampatá entrámos a "matar" naquela zona em que praticamente se havia perdido o controle e rapidamente o reconquistamos .
Foram uns primeiros 7 ou 8 meses verdadeiramente infernais. Mas atenção:
NÃO FOMOS NÓS QUE NOS BAPTIZÁMOS COMO "JOVENS ASSASINOS DE MAMPATÁ"
Nós fomos baptizados assim pelo PAIGC e por outras compªs que souberam do n/ percurso ao fazermos a "limpeza" da zona
Não tenho orgulho nisso, por que as guerras têm sempre o lado injusto. Mas era a lei da sobrevivência. Eram eles ou nós.”

De notar que o grande e único juízo de valor que esse nosso camarada faz, que importa realçar, é a sua afirmação “Não tenho orgulho nisso”, nesse nome, acrescento. Nas mesmas circunstâncias, como filho dos Açores e de Portugal, eu também não teria, nem tenho.

Um abraço amigo,
José Câmara

josé santos disse...

dhAmigo Luis li tudo o que foi dito com muita satisfação, e o cognome da companhia ( os jovens assassinos de Mampatá) foi uma alcunha da rádio de conakri, não era o nome da companhia,já recolhi dois contactos e vou falar com ambos os camaradas,já falei uma vez com o Brum para o Canadá, o telefone é o 0019056641497.
fiquei muitissimo contente de entrar para estes dialogos

Um abraço para todos

José Santo até breve