terça-feira, 24 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9796: Estórias cabralianas (71): Fixações etnomamárias: evocando o meu avoengo Carloto Cabral que, no séc. XVIII, crismou Quebo como a Aldeia das Mamas Formosas (Jorge Cabral)

1. Mensagem do nosso camarigo Jorge Cabral, mais conhecido como sósia do Alfero Cabral, um das figuras mais queridas e populares da nossa Tabanca Grande:

Olá Amigos!

Parabéns ao Blogue! Parabéns à Tabanca!

Parabéns à nossa Tribo!

Mais uma vez faltei ao Grande Encontro.

Quem lá esteve foi o Jovem Alfero Cabral. 

Abraços, Jorge Cabral.

P.S – Aí vai “estória”.



[Foto à direita: Guiné Portuguesa > Bajuda Mandinga >  Farim > Foto Lisboa > s/d >  Cortesia de Memórias da Guerra da Guiné, blogue de Luís de Matos].

2. Estórias cabralianas >  Fixação Mamária? Tenho que ir ao Divã?
por Jorge Cabral

Há uns tempos recebi uma simpática mensagem de uma leitora das “estórias cabralianas”. Gabava-me o humor mas alertava-me, algumas indiciavam uma certa “fixação mamária”. Nada de grave, que não pudesse ser tratado no seu divã, de psicanalista,  presumo.

Respondi aos elogios. Não me atribuo qualquer mérito. Escrevo “estórias” para a Tabanca, a minha Tribo. Sou apenas um “gajo” com piada e uma pancadinha saudável. Quanto à aludida “fixação”, bem, confesso, é genética ou mesma atávica. 

Citei-lhe Vasco Calvet de Magalhães, Administrador da Circunscrição do Geba, que no seu Relatório de 1914, segundo Beja Santos, escreveu: - “Uma diferença enorme existe entre a mulher fula e a mulher fula – preta. A primeira tem glândula mamária perfeitamente esférica enquanto a segunda tem-na em forma de pêra…” 

Como vê, disse – lhe eu, “este interesse etnomamário esteve sempre presente na colonização portuguesa”. E reforçando a tese, inventei um avoengo de nome Carloto Cabral, que no Séc. XVIII crismou Quebo, como Aldeia das Mamas Formosas, tendo as ditas com o tempo, e como é natural, (de)caído.

Enfim, até lhe prometi classificar os belos atributos em nova “estória”. Abacates, papaias, mangas, melões, tangerinas e figos, mas tudo boa fruta…

Agradeceu-me a explicação. Disse-me já ter consultado o livro do Beja Santos, mas pede-me agora, elementos sobre o referido Carloto. Documentos, livros… 

Como vou descalçar esta bota? Pois é. Se calhar vou ter mesmo de passar pelo tal divã.
Jorge Cabral (*)
___________

Nota do editor:

Ùltimos postes da série:

3 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9304: Estórias cabralianas (70): Sambaro, o Dicionário e o Afecto (Jorge Cabral)

(...) Agora que tenho tempo,  tornei-me um caminheiro. Logo pela manhã abalo pela cidade. Travessas, calçadas, pátios, becos, vilas, percorro devagar essa Lisboa escondida, quase invisível.  Foi num desses passeios que encontrei Ansumane. Um negro velho e calvo, que entre a Travessa da Lua e o Beco das Estrelas, arengava em crioulo. (...)


(...) Também houve Natal em Missirá naquele ano de 1970. Na consoada,  os onze brancos e o puto Sitafá, que vivia connosco. Todos iam lembrando outros Natais. 
Dizia um:
 – Na minha terra…

E acrescentava outro:
 – A minha Mãe fazia… (...)



(...) Chegado na véspera e instalado no Biafra, entrei pela primeira e última vez na Messe de Oficiais em Santa Luzia. Era noite do Bingo. Procurei algum conhecido e encontrei o Gato Félix, estudante de Letras, ora Alferes, o qual também me pareceu entediado. (...)


(...) Em Missirá não existiam rafeiros, até porque era muito mais uma Tabanca do que um Quartel. Lá viviam duzentas almas, pelotão Nativo e pelotão de Milícias, mais população e, no meio de toda esta gente, apenas dez europeus, o que levou muitas vezes o Alfero a interrogar-se: Afinal quem 'colonizava' quem? (...) 


(...) Foi na prisão de Alcoentre que conheci o Mãozinhas, por intermédio do meu amigo e cliente, o 24, nome que ganhou há muito tempo, num bordel, sito à Rua do Mundo. E porquê, 24? Ora, é fácil adivinhar. O tamanho, melhor, o comprimento (...)


(...) Estava calor e todo o quartel dormia a sesta. Em cuecas, o Alfero urinava contra a parede (bem não urinava, mijava, pois na Tropa, ninguém urina, mija). Eis que um jipe se acerca. Nele, três alferes de Bambadinca, acompanhados de duas raparigas. Ainda a sacudir “o corpo do delito”, disfarça, cora, mas que vergonha (!). Claro, ninguém lhe aperta a mão. Elas são a filha do Senhor Brandão e uma amiga de Bissau, cabo-verdiana. Vêm visitar Fá. Chama o fiel Branquinho. Que os leve a todos para o Bar, enquanto ele se veste e se penteia. Regressa impecável. À paisana, de camisinha branca, calças azul-bebé. (...)

10 comentários:

Torcato Mendonca disse...

Meu Caro Alfero
Precisava desta estória. Elevou-me o moral. Raio, que é o moral?Não. Levantou-me.Também não. Deu-me boa disposição de que estava carente. Não, carente também não.
Porra ri com boa disposição.
Não passas pelo divã. Passas pela Editora e, de uma vez por todas pões o(s)livro (s) cá fora...cá fora? Não acerto uma.
Quem me dera em Bafatá...com?...isso mesmo e menos quarenta anos. Anos? Idade.Vintes e

Abraço T.

Luís Graça disse...

O que é genial no criador do Alfero Cabral, é a a "lata" com que ele cita duas "autoridades" sobre a Guiné dos tugas, o sr. Vasco Calvet de Magalhães, Administrador da Circunscrição do Geba, e o nosso camarigo Beja Santos, transcrevendo uma hilariante (e obviamente apócrifa) passagem de um circunspecto relatório colonial, com laivos de erudição etnográfica: “Uma diferença enorme existe entre a mulher fula e a mulher fula – preta. A primeira tem glândula mamária perfeitamente esférica enquanto a segunda tem-na em forma de pêra"...

Espero que os amigos e camaradas da Guiné continuem a manter o seu sentido de humor, tão (ou mais) importante como os outros cinco sentidos, ontem, hoje e amanhã...

Tenho pena de nunca ter estado, "in illo tempore", na tão gabada Aldeia Formosa...(que só conheci, de passagem, em 2008).

... E já que estamos em matéria de (ex)citações, (ex)cite-se o nosso genial Cancioneiro de Gandembel, "Os Gandembeis", Canto IV, "Ilha dos Amores...

(...) X
Oh! Que famintos beijinhos na testa,
E que mimoso choro que suava!
Que afagos tão suaves, que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manhã e na sesta,
Que amor com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo;
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo. (...)

Luís Graça disse...

Torcato:

Tens todo o meu apoio!... Vamos lá tirar esse livro, tão desejado e ainda não anunciado, do quico do alfero Cabral!...

Esse homem foi o melhor de todos nós: foi o único que se levou a sério... no TO da Guiné. Recorde-se a sua frase mais célebre, e que gelou os corações ardentes dos seguidores de Amílcar Cabral: "Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum!"... A frase incendiou o capim do Cuor, e todo o corredor do Morés... Depois disso, o Corca Só eclipsou-se e nunca mais voltou a atacar Missirá, ele que tinha posto a cabeça do Beja Santos a prémio!...

Manuel Joaquim disse...

Meu caro alfero Cabral:

"Sou apenas um gajo com piada e uma pancadinha saudável", dizes.
Continua, faz-nos bem continuares assim, mas retira o "apenas" ou troca-o por "também". A verdade exige-o.

Abraço

Torcato Mendonca disse...

Será que o Corca Só ou lá quem era, existiu?
E se tal porventura, por acaso, quiçá, seja acontecimento de verdade prolongar-se-á ela ao ponto de decretar ou pôr a cabeça do Mário a prémio????

Valente guerreiro foi o Cabral, Jorge de primeiro nome.
Chegado a Missirá espalhou-se tamanho medo entre o dito IN que jamais ataque algum aconteceu. Só, sem Corca ou Forca,houveram esporádicos tiritos motivadores a escrita de Amanuenses e escribas do Batalhão XXX...reflecte meu caro Luís Graça e vê se razão não tenho.O LIVRO TEM QUE SAIR e aquela guerra jamais será cantada da mesma maneira, JAMAIS.
Ab T

Luís Graça disse...

Ao que diz o Bobo Keita, o Corca Só era natural de Mansoa, onde jogou nos Balantas de Mansoa...Foi depois para o Sporting de Bissau, e dali pirou-se (ou foi recrutado)para o PAIGC)... Passou pela antiga Checoslováquia, e terá morrido no sul, na sequência de um ataque de helicanhão... Quando, o colega da bola e de partido, não diz.

Agora, segundo a "versão" do Beja Santos: ele, Corca, comandava um bigrupo na zona de Madina / Belel... Ter-lhe montado a emboscada de 15 (?) de outubro de 1969 (cito de cor), ao fim da tarde, na estrada Finete-Missirá... Ter-lhe-á deixado um bilhetinho numa árvore... Mito ou realidade ? Em nunca vi o bilhete, mesmo tendo ido na coluna de socorro ao pessoal do Pel Caç Nat 52 (Estávamos a preparar-nos para jantar em Bambadinca, quando soou o alarme...). Nem sei se o Corca Só estava em meados (ou 3º trimestre) de 1970 quando o Pel Caç Nat 63, do alfero Cabral, foi destacado para Missirá... O alfero diz que nunca mais foi atacado... Verdade ?...

Bem sabes que, tanto na guerra como na paz, história e lenda misturam-se com relativa facilidade...

Torcato Mendonca disse...

Era uma vez um Alfero e um Alferes.
Um era o que o outro não era e o outro não era o que o outro era. Eram e não eram.
Conheci o que era e o que não era.
Hoje já não sei quem era quem.
Vivo feliz e contente com isso e mais feliz por não conhecer Keitas ou Corcas e sim ter conhecido o "Lobo Mau" que para mim era tão bom.

Silva da Cart 1689 disse...

Mais uma à Cabral
Dá gosto ler e reler as ditas Estórias cabralianas. Parabéns para tanto talento!

Foi um prazer ter-te conhecido em Monte Real
Um abraço do
Silva

Sotnaspa disse...

Amigo alfero,

Desta vez a lição foi sobre fruta, gostei muito, (até porque sou um consumidor regular), da estória, que como as anteriores têm a tua chancela, hilariante que só tu sabes emprestares a tua escrita.
Esta tua estória, trouxe à minha mente uma época, em que eu sempre que podia tentava apalpar a "fruta", tentava porque não era facil a bajuda Fula, minha lavadeira sabia fugir aos toques que eu direccionava aos seus melões.
Voltando a coisas mais reais, qual é data da apresentação do teu livro, fico à espera do convite.

Com um alfa bravo do

ASantos
SPM 2558

Anónimo disse...

Amigo Luís!

Tenho lata,mas não tanta.A passagem

do Relatório foi retirada do Diário

da Guiné,1969-1970,Beja Santos,pag.

360.

Quando um destes dias vos falar de

uma Tabanca,com o curioso nome de

Queca,também não estarei a

inventar.É o nosso Autor que a

refere a pags.150 do mesmo livro.

Abração com a Amizade,esta sim

Óbvia.

J.Cabral