Parassuicídio(s), em noite de São Bartolomeu
por Luis Graça
Acho que adoraria
O silêncio mecânico das ventoinhas
Nas casas de passe,
No tempo em que havia casas de passe
E os pais levavam os rapazes às meninas
Para se fazerem homens.
Em contrapartida, sempre detestei
As flores de plástico e as cruzes de guerra de latão
Nos cemitérios, no talhão dos combatentes
De todas as guerras travadas e perdidas
Nos lugares mais quentes
Da memória.
Se me permitem,
Também não suporto as revistas cor de rosa
Nos consultórios dos psis,
Mesmo se lá colocadas com a intenção piedosa
De servirem de placebo ansíolítico
Para quem espera e desespera nas salas de espera
Sem saber que vai morrer.
Huguenote, católico, judeu,
Anabatista, luterano, ateu,
Muçulmano xiita ou sunita,
Xintoísta, hindu, budista,
Animista,
Voyeurista…
Afinal a vida é,
Irremediavelmente, dizem,
Uma merda,
Um pesadelo climatizado,
Uma encenação,
Um jogo de roleta russa,
Uma bomba de relógio ao retardador.
Sou poeta agnóstico, apostólico, romano,
Mas confesso que tenho medo
Da ameaça de tempestade tropical
No final do verão da vida,
Entre dois equinócios.
Nada mais natural que o medo,
Nada mais humano que o medo do medo.
Fight or flight, luta ou foge, camarada,
Sabendo que nem sempre podes fugir,
Nem sempre podes lutar.
Setembro é um bom mês para se morrer,
Na frente de todas as batalhas.
Poupem-me o outono,
Dispensem-me do inverno,
Não me falem do natal
Nem me desejem bom ano novo.
E a primavera, por favor,
Outra vez, não!
Quem disse que a vida renasce
Todos os anos pela primavera,
Só pode ter interesse no negócio...
Sou tolerante, ecuménico e laico,
Sobretudo heterodoxo,
Sou capaz de ouvir e saber ouvir,
Com paciência e compaixão,
As lendas e narrativas contadas pelos mais velhos.
Haverá um dia em que matarão
Todos os mais velhos,
Como em Esparta.
Será o dia da amnésia final,
Tal como o massacre da noite de São Bartolomeu,
Em França, em 1572,
Poupem-me o outono,
Dispensem-me do inverno,
Não me falem do natal
Nem me desejem bom ano novo.
E a primavera, por favor,
Outra vez, não!
Quem disse que a vida renasce
Todos os anos pela primavera,
Só pode ter interesse no negócio...
Sou tolerante, ecuménico e laico,
Sobretudo heterodoxo,
Sou capaz de ouvir e saber ouvir,
Com paciência e compaixão,
As lendas e narrativas contadas pelos mais velhos.
Haverá um dia em que matarão
Todos os mais velhos,
Como em Esparta.
Será o dia da amnésia final,
Tal como o massacre da noite de São Bartolomeu,
Em França, em 1572,
Que foi celebrada com gáudio pela corte portuguesa
De el-rei dom Sebastião.
In nomine Dei.
Em nome de Deus.
A velhice é uma heresia.
Todos os velhos são huguenotes.
Todos os velhos custam um pipa de massa
Ao serviço nacional de saúde
E à segurança social
E ao banco alimentar contra a fome
E ao miserável estado a que chegámos.
Por mim, não peço muito:
Uma mesa, com toalha de linha,
Num estreito promontório, sobre o mar,
Um prato de sardinhas douradas
Com pimentos vermelhos,
Um copo de tinto,
Um café e um Lourinhac.
Ah!, e o último cigarro do condenado à morte!
Seria o dia perfeito, (e)terno.
Sem o ruído dos comboios,
Nos seus carris metálicos,
Enquanto os soldados partem para a guerra,
E os navios embarcam
Velhos obuses encapuçados.
A maior noite de ternura
É quando o soldado se despede da mulher amada
E parte para ir morrer na frente da batalha.
Sou sensível aos detalhes,
Como qualquer miseur-en-scène.
Não havia mulheres nas trincheiras do meu tempo
E tinham fechado as últimas casas de passe.
Nunca saberei se o sexo é
Uma pulsão da vida ou da morte.
Quem disse Make love, not war,
In nomine Dei.
Em nome de Deus.
A velhice é uma heresia.
Todos os velhos são huguenotes.
Todos os velhos custam um pipa de massa
Ao serviço nacional de saúde
E à segurança social
E ao banco alimentar contra a fome
E ao miserável estado a que chegámos.
Por mim, não peço muito:
Uma mesa, com toalha de linha,
Num estreito promontório, sobre o mar,
Um prato de sardinhas douradas
Com pimentos vermelhos,
Um copo de tinto,
Um café e um Lourinhac.
Ah!, e o último cigarro do condenado à morte!
Seria o dia perfeito, (e)terno.
Sem o ruído dos comboios,
Nos seus carris metálicos,
Enquanto os soldados partem para a guerra,
E os navios embarcam
Velhos obuses encapuçados.
A maior noite de ternura
É quando o soldado se despede da mulher amada
E parte para ir morrer na frente da batalha.
Sou sensível aos detalhes,
Como qualquer miseur-en-scène.
Não havia mulheres nas trincheiras do meu tempo
E tinham fechado as últimas casas de passe.
Nunca saberei se o sexo é
Uma pulsão da vida ou da morte.
Quem disse Make love, not war,
É porque nunca fez (nem poderia fazer)
Amor e guerra ao mesmo tempo.
As duas artes são disjuntivas.
Candoz, 23/24 de agosto, noite de São Bartolomeu
As duas artes são disjuntivas.
Candoz, 23/24 de agosto, noite de São Bartolomeu
Nota do editor:
Úlltimo poste da série > 23 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10424: Blogpoesia (300): Deram-me uma arma... (Ricardo Almeida, o poeta da CCAÇ 2548, Farim, Saliquinhedim, Cuntima e Jumbembem, 1969/71)
9 comentários:
Lourihnac... aguardente da região demarcada da Lourinhã...
Só há três regiões demarcadas de aguardente, no mundo: Cognac, Armagnac e... Lourinhac!... Sabiam ?
http://www.publico.pt/Sociedade/cognac-armagnac-e-lourinhac-prova-cega-de-tres-aguardentes_1431211
Deixem-me reproduzir aqui um excerto do artigo do Público:
(...) Estamos no coração de um dos produtos portugueses mais exclusivos, uma bebida espirituosa que, mesmo pelos padrões internacionais, ostenta um pedigree difícil de igualar. A Região Demarcada da Lourinhã foi criada exclusivamente para a aguardente vínica, caso único no país e que só encontra paralelo nas regiões francesas de Cognac e Armagnac. "Há muitas - e boas - aguardente velhas em Portugal", avalia João Pedro Catela, presidente da Adega Cooperativa da Lourinhã (ACL), "mas a nossa é a única que tem uma região demarcada dedicada."
Cognac, Armagnac e... Lourinhac. O trocadilho é quase irresistível, mas em breve deixará de ser um trocadilho. Porque a ACL tem planos para lançar em breve a marca Lourinhac, numa tentativa de captar a atenção dos mercados internacionais. Um trabalho "gradual, sem pressas", assume João Pedro Catela, 56 anos, um gestor comercial que trabalha na Adega Cooperativa com o mesmo estatuto de "carolice" que move tantos outros - só há quatro trabalhadores a tempo inteiro. "Não temos uma produção que sustente os grandes circuitos internacionais e, além disso, o que aqui está guardado não se estraga, só melhora com o tempo!" (...)
http://www.publico.pt/Sociedade/cognac-armagnac-e-lourinhac-prova-cega-de-tres-aguardentes_1431211
Olá Camarada e amigo Luís Graça!
Só posso dizer, Bravo!!! Viva!!! Muito obrigado.
Um grande e forte abraço.
Augusto Silva Santos
P.S. Muito obrigado também pelos teus esclarecimentos sobre a Lourinhac. Fiquei curioso em provar.
A denominação oficial do precioso néctar não é "Lourinhac", mas sim "Lourinhã"...
A Região Demarcada de Aguardente Vínica de Qualidade com Denominação de Origem Controlada “Lourinhã” foi criada,por decreto lei, em 1992...
Vd. aqui o sítio da Aguardente DOC da Lourinhã...
http://www.aguardentedoclourinha.com/
E a propósito da referência, no meu poema, ao Lourinhac (um neologismo, discutível), um amigo (e camarada nosso, que não quer ver publicitado o seu nome) escreveu-me, a título particular, o seguinte, e com o qual eu concordo:
(...) "Uma menção de revolta por não fazermos valer o que temos e vale.
De onde vem a estupidez seguidista que é designar por 'Lourinhac' uma aguardente que não teria que se pendurar na fama das francesas e menos ainda na terminação
estranha do seu nome que é o da região onde são produzidas?
"Além de que, como bem sabes, muitos dos nossos vinhos e espíritos dão 10 d'avanço às aguínhas do Loire
'Lourinhã ou Lourinha, no mínimo...!', diria eu de caras ao sr chic'esperto da Câmara ou do AICEP ou assim que se lembrou de atropelar a língua e o copo de uma vez só." (...)
Vou fazer chegar aos produtores da aguardente DOC da Lourinhã, entre os quais a Adega Cooperativa da Lourinhã... e aos meus amigos da Colegiada de Nossa Senhora da Anunciação da Lourinhã que promovem este produto único do nosso oeste estremenho e da nossa terra... Portugal!
Atenção:
A REGIÃO DEMARCADA DA LOURINHÃ não se limita ao concelho da Lourinhã, "capital dos dinossauros"... Abrange:
LOURINHÃ
Freguesias: Lourinhã, Atalaia, Ribamar, Santa Bárbara, Vimeiro, Marteleira, Miragaia, Moita dos Ferreiros, Reguengo Grande, Moledo e São Bartolomeu.
PENICHE
Freguesias: Atouguia da Baleia e Serra d`El Rei
ÓBIDOS
Freguesia: Olho Marinho
BOMBARRAL
Freguesia: Vale Covo
TORRES VEDRAS
Freguesia:Campelos
E já agora um pouco de história...
SÉCULO XVIII - Produção de aguardente vínica para beneficiar o Vinho do Porto, no seu trajecto do Douro até ao Porto.
1972 - Primeiro protocolo com Estação Vitivinícola Nacional de Dois Portos e Adega Cooperativa da Lourinhã, para os primeiros estudos.
1992 - Diário da República nº 34/92 de 7 Março.
CRIADA A REGIÃO DEMARCADA DE AGUARDENTE VÍNICA DE QUALIDADE COM DENOMINAÇÃO DE ORIGEM CONTROLADA “ LOURINHÃ “
1994 - Publicados os estatutos da Região Demarcada.
1995 - 7 de Julho – Criação da Comissão Vitivinícola Regional da Lourinhã.
1996 - 30 Outubro – Aprovação do Regulamento Interno em Conselho Geral.
(...)
Já agora aqui fica o endereço da página no Facebook... É evidente que a aguardente DOC da Lourinhã não tem nem a história nem o marketing nem a produção nem a força de vendas das marcas francesas Cognac e Armagnac... O mesmo se passa com o nossos espumantes da Denominação de Origem Controlada "Távora - Varosa"... em relação ao Champagne!
Daí que esta divulgação não me repugna nas páginas do nosso blogue... Temos que valorizar o que é nosso e que é bom e que é único!
A minha terra tem duas coisas únicas, esta aguardente e os !"dinossauros", que são produtos "únicos", que merecem ser melhor conhecidos cá dentro e lá fora... Até agora estão longe de serem devidamente valorizados pelos próprios lourinhanenses, á boa maneira (algo miserabilista) da nossa terra... Portugal!
https://www.facebook.com/pages/ACL-Adega-CoopLourinh%C3%A3/150243675029108
... Mas falemos de... "parassuicídios" no teatro de operações...
Para os suicidologistas, "o parassuicídio é um acto de consequências não fatais, no qual o indivíduo inicia deliberadamente um comportamento que lhe causará dano ou lesão, ou ingere uma substância em excesso face à dose prescrita ou geralmente reconhecida como farmacologicamente activa e que visa a obtenção de mudanças através das consequências físicas reais ou esperadas"...
http://carlosbrazsaraiva.com/?p=179
Se ainda houver um pequeno espaço para comentar o POEMA quero dizer que...Gostei! Entrando agora no espaço enorme do "Lourinhac" espero que,quando existir.... avisem,para poder divulgá-lo por estes locais onde se percebe algo sobre bebidas fortes,d'aquelas que nem nos 40 negativos congelam. Um grande abraco.
Zé Belo:
Pois haveremos de o ver, apalpar, cheirar, degustar, provar, beber, sentir e chorar por mais... Um, dois, três cálices de balão pois claro!...
À lareira ou numa esplanada à beira mar, ou até num banco de jardim... em Estocolmo, em Kiruna, na Praia da Areia Branca, em Lisboa, em Monte Real, na Lourinhã, em Candoz, na esquina mais próxima... da próxima vez que a gente se encontrar...
Em Candoz também temos da boa, feita com as nossas castas do vinho verde... Mas a da Lourinhã é vínica, e tem pelo menos 7 anos de envelhecimento em barris de carvalho!...
Tens aqui o sítio da Adega Cooperativa da Lourinhã que só produz e comercializa, exclusivamente, a aguardente vínica DOC de "Lourinhã"...
Não queres abrir uma representação na Suécia ? Tenho/temos que ajudar a minha/nossa terra...
http://adegacooplourinha.no.comunidades.net/index.php?pagina=1370505289
Prezado Sr. Luis Graça:
Não tenho o gosto de o conhecer pessoalmente.
Antes de mais, permita-me saudá-lo e agradecer o vídeo sonorizado do poema "Viva Portugal", de autoria da nossa amiga F. M.,cujo texto gravei em Mp3.
Foi a nossa amiga (FM)que me indicou o seu Blog. Irei ver com muito prazer. Mas, para já, felicito-o pelo poema inicial que li com apreço.
Um abraço.
Fernando Reis Costa
Enviar um comentário