Olá Camarada e Amigo Carlos Vinhal
Antes de mais, espero que tudo esteja bem contigo e família.
Esta coisa de todos os dias fazermos pelo menos uma visita ao blogue, dá nisto. Uma lembrança de um camarada sobre determinado acontecimento, leva-nos sempre a recordar algo semelhante que igualmente nos aconteceu. É este o caso, e cai vai mais uma estória relacionada com a minha passagem pela Guiné, mais propriamente por Jolmete.
Junto também mais algumas fotos do meu álbum. Quando entenderes haver espaço e oportunidade, agradeço a sua publicação. Como sempre, estás à vontade para fazer as alterações que considerares oportunas.
Um Grande e Forte Abraço
Augusto Silva Santos
ESTÓRIAS DOS FIDALGOS DE JOL (12)
A minha primeira noite no Jol
Foi em meados de Janeiro de 1971 que cheguei à sede do BCAÇ 3833 no Pelundo, com uma breve passagem por Có, sendo o meu destino final a CCAÇ 3306 em Jolmete. Estando o meu irmão colocado na CCAÇ 3307 no Pelundo, não foi difícil encontrar uma óptima recepção por parte de todo o pessoal, sentindo-me nesse aspecto praticamente em “casa”, como se costuma dizer.
Tirando esta parte boa, não foi porém fácil o primeiro dia, pois nunca consegui perceber até hoje o porquê de alguém chegar de “fresco” a uma unidade, e porem-no de imediato de serviço à mesma, sem estar minimamente identificado com ela e muito menos preparado para os possíveis perigos a enfrentar. Naquela altura eu era um “pira” sem qualquer preparação, pois tinha ali chegado em rendição individual, e à noite já estava escalado para fazer serviço. Numa situação de ataque, desconhecia por completo os meios de defesa e mecanismos a accionar e os seus posicionamentos. Eram assim que as coisas estupidamente funcionavam (o tal facilitismo), não sendo de admirar que, por vezes, se dessem acidentes, que depois se lamentavam. Era o velho esquema a funcionar do “periquito” chegou, amochou.
A minha chegada a Jolmete não foi infelizmente muito diferente do atrás referido, pois mal ali cheguei puseram-me também logo a alinhar, embora me tivessem dado pelo menos um dia (uma noite) de folga, e foi a propósito da estória do nosso camarada Juvenal Amado sobre o seu amigo Silva e do seu “periquito” (P10305), que me lembrei dessa minha primeira noite de chegada ao quartel de Jol(mete).
Lembro-me perfeitamente que, mal cheguei à unidade, toda a gente parecia que já me conhecia há muito tempo, e todos já sabiam (inclusive alguns elementos nativos, o que me surpreendeu bastante), que eu era irmão do “Chefe”, como era conhecido o meu irmão Arménio Silva Santos, Furriel Mec. Auto colocado no Pelundo, conforme referi anteriormente.
Só me interrogava como é que, com a diferença de apenas um dia e uma distância de cerca de 18 kms, toda aquela gente já sabia quem eu era? No que respeita ao pessoal militar, não era de admirar mas, em relação ao pessoal da tabanca, era de ficar preocupado (pensava eu na altura).
Mas felizmente era apenas e só a minha preocupação de “pira” a funcionar, pois nada de anormal se passou, só que, ao contrário do que aconteceu com o “pira” do Juvenal, no meu caso era ver quem mais “álcool” me conseguia fazer beber e, obviamente, pagar.
Tanto quanto foi possível lá me fui aguentando, normalmente tentando disfarçar as grandes quantidades de whisky com coca-cola à mistura. Como sabia e “escorregava” bem, consegui manter-me durante um bom par de horas a ouvir alguns dos acontecimentos mais significativos dos últimos 12 meses (a eterna tentativa de “acagaçar” os recém chegados), e sinceramente não dei conta que já me encontrava muito perto dos limites.
Enquanto estive sentado, a coisa correu bem, o pior foi mesmo quando fiz mais do que uma tentativa para me levantar, e as pernas não me obedeciam. A minha intenção de evitar apanhar uma primeira bebedeira em terras da Guiné, definitivamente não tinha resultado. Estava mesmo embriagado e, só com alguma ajuda, lá me consegui pôr a caminho do meu abrigo. Pelo meio fui “apanhado” pelo Cabo da ronda que, “simpaticamente” me perguntou se precisava de ajuda, depois de me ver de joelhos e a vomitar. Bonito exemplo logo no primeiro dia, pensei eu…
Mas a “praxe” tinha sido cumprida e, no outro dia, era como se nada se tivesse passado. Nunca mais ninguém falou nisso, eu é que durante largos meses, nunca mais pude ver à minha frente aquela “maldita combinação” de whisky com coca-cola. Foi mesmo de arrasar…
Jolmete, Maio de 1972 > Traseiras do meu abrigo
Jolmete, Junho de 1972 > Trilhos do Pioce
Pelundo, Julho de 1972 > Junto ao Memorial do BCAÇ 2884
Jolmete, Agosto de 1972 > Emboscada em Gel
Jolmete, Agosto de 1972 > Trilhos de Gel - Caláque
Jolmete, Outubro de 1972 > O final estava próximo...
Cumeré, Dezembro de 1972 > A despedida ao BCAÇ 3833
Cumeré, Dezembro de 1972 > Primeira foto à civil
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10385: Estórias dos Fidalgos de Jol (Augusto S. Santos) (11): Futebol, coraminas, e não só...
4 comentários:
Caro Augusto S Silva,
Tenho lido todos os teus "postes", e confesso que nem sempre há tempo ou disposição para escrever. Não tenho feito comentários, mas hoje vou fazer, porque com a minha Companhia, a 2585, aconteceu algo parecido, quando chegámos a Jolmete. Em rendição individual ou Companhia de rendição, havia sempre o "Salta Pira". Eu sinceramente não me lembro, mas, segundo o nosso amigo Manuel Carvalho, que esteve antes de mim na 2366, diz que no dia que chegámos a Jolmete, 17-6-69 confrontaram-nos com um jogo de lerpa a 20 paus. Creio que poucos alinharam, pois o patacão não era assim tanto... Segundo o Manuel Carvalho tudo isso era "Bluf", só para ver a nossa reacção.
Um abraço
Manuel Resende
Caros amigos Augusto e Manel
È sempre bom ler coisas de camaradas que passaram pelos sítios onde estivemos.Fasemos de emediato uma viagem até à Guiné.
Do jogo de lerpa lembro-me muito bem aquilo foi feito para vos impressionar. Nós normalmente jogava-mos a 2.50 a casadela e mesmo assim aquilo ás vezes atinjia numeros altos para as nossas posses, imagina a 20.00 alguns de voces estavam a volta a ver mas apesar dos nossos desafios ninguem jogou, e nós mudamos de assunto.Tinhamos um pequeno grupo musical com instrumentos oferecidos pelo M N F e alguns de nós e da vossa comp. fomos até à messe dançar com fina flor da juventude feminina de Jolmete. E para provar o que estou a dizer podem ver uma foto minha no poste 10191 em que estão a dançar eu o Cristo e outro fur. da vossa comp. que não sei o nome.
Caro amigo Manel gostei mesmo muito das fotos que me envias-te.
Para ambos um abraço do tamanho da mata do Jol.
Manuel Carvalho
Caros Camaradas e Amigos Manuel Resende e Manuel Carvalho, muito obrigado pelo vosso contacto e comentários. É bom saber que alguém, como vós, que passou pelo Jol, se interessa em ler algo sobre a nossa passagem pela aquele lugar na Guiné. Recordar é viver e é sempre saudável voltarmos uns anos atrás para lembrar estes saudáveis acontecimentos.
Dentro em breve vou enviar uma última estória relacionada com o Jol e o Dandy que, de certo modo, vos vai por certo surpreender, mas foi assim que realmente as coisas se passaram. Espero sinceramente que tudo esteja bem convosco sobre todos os aspectos. Muita saúde.
Para ambos, um grande e forte abraço do tamanho do Cacheu.
Augusto Silva Santos
Alo camaradas. eu sou o Cruz, ex 1º cabo TRMS que fez a comissão na Guiné, mais propriamente em Jolmete. Hoje vou só fazer a apresentação, mais tarde, começarei a contar as histórias da "minha" guerra, passada praticamente com o Augusto Balanta. Ah! a minha comissão, fi-la entre 1970/1972 e fiz parte da c.caç 3306.
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