sábado, 29 de setembro de 2012

Guiné 63/74 - P10456: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 (Guileje e Cufar, 1969/70) (4): Guileje: abastecimento de água...








Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Em 1972/73, a fonte que abastecia o aquartelamento e a tabanca de Guileje, distava  cerca de 4 km.  Ficava no Rio Afiá. No tempo da CART 2140 (1969/70 e do Pel Caç Nat 51, o abastecimento era manual e  fazia-se com recurso a bidões, jericãs e garrafões. No tempo da CCAV 8350, a companhia que retirou de Guileje em 22/5/1973, havia já um bomba de água de água, a motor. Fotos  (nºs 1,2 3, 4) do álbum do Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 51.

Fotos: © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Fotos editadas por L.G.]


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) >  Em primeiro plano, junto à bomba de água, o Fur Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho. A aparente descontração dos militares, em tronco nu, sem armas, a avaliar pela foto, sugere que ir à água era um ato de rotina... Desconhecemos se tanto em 1970 como em 1973, o grupo de serviço à água levava escolta armarda, como mandavam as mais elementare regras de segurança. Parte-se do princípio que sim, não aparecendo a escolta nas fotografia. A população civil abastecia-se também na mesma fonte, no rio Afiá (em 1972/73).

Recorde-se aqui que, antes da retirada de Guileje, em 22 de Maio de 1973, o último abastecimento de água ao aquartelamento e tabanca tinha sido feito em 19 de Maio de 1973. Os guerrilheiros do PAIGC, a avaliar pelas declarações de alguns dos protagonistas dos acontecimentos, prestados no filme-documentário As Duas Faces da Guerra (Diana Andringa e Flora Gomes, 2007), tinham o controlo da fonte a partir dessa data (ou até mesmo antes)...

É estranho que,  desde 1964, altura em que se instalou a primeira subunidade em Guileje, nunca se tenha equacionado (e sobretudo tentado resolver) o problema do abastecimento da água, requisito vital... Coutinho e Lima, nas onze razões que evoca para decidir retirar Guileje, apresenta em 5º lugar "a falta de água no aquartelamento" (Alexandre Coutinho e Lima, Cor Art Ref - A retirada de Guileje: a verdade dos factos. Linda-A-Velha: DG Edições. 2008. p. 78):

(...) "O abastecimento de água era feito a cerca de 4 kms na direcção de Mejo; o último fora realizado na manhã de 19 de maio de 1972 e não mais foi feita nenhuma tentativa, devido à presença muito provável do IN na área e igualmente ao facto da não evacuação das previsíveis baixas, se as houvesse, o que poderia acontecer, com alto grau de probabilidade."É do conhecimento geral que se pode viver durante algum tempo sem comida (esta estava assegurada pelas rações de combate), mas sem água, o tempo de sobrevivência é reduzido" (...).


Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Detalhe: localização provável da fonte de Guileje, a 4 km a noroeste do aquartelamento e tabanca de Guileje, na estrada Guileje-Mejo. Era aqui que em 1972/73 se fazia o abastecimento de água necessário para a vida de 800 pessoas (200 militares e 600 civis).


1. Em 26 do corrente, escrevi ao Armindo Batata o seguinte mail:

Armindo: Não tenho tido notícias tuas... Fui "ressuscitar" e "refrescar" as tuas belas fotos, em arquivo,,, Infelizmente, chegaram-nos, em 2007, via Pepito, sem legendas...Também não tenho nenhuma foto tua, atual... Sei que és um homem discreto, mas gostava que aparecesses mais vezes... Este é também o teu contributo, valioso, para o enriquecimento deste espaço de partilha de "memórias e afetos" dos camaradas da Guiné...Um abraço. Luís Graça


2. O Armindo teve a gentileza de me responder de imediato. Desse mail, pessoal, que muito agradeço e que muito me alegrou, reproduzo apenas o seguinte excerto:

Caro Luís Graça: Grato pelo teu email. De facto não sou frequentador assíduo do blog. (...)

Notei a exagerada adjectivação das fotografias. Agradeço. Irei então um dia destes vasculhar o baú e tentar organizar uma mão cheia delas. Mas a memória das coisas da Guiné perdeu-se quase toda nos 15 ou 20 anos de enterramento. A exumação foi parcial, muito por lá ficou, naqueles 15 ou 20 anos. Um abraço, Armindo Batata. (...).


3. Explicação dada pelo próprio Armindo Batata sobre as fotos em questão, já depois da publicação do poste:



(...) Creio serem oportunos alguns aditamentos no que concerne às minhas fotografias. O abastecimento de água documentado teve lugar no primeiro pontão na estrada Guileje/Gadamael. Era aí que em 1969 nos abastecíamos. A segurança era mantida por um pelotão (que também procedia ao abastecimento propriamento dito) e uma viatura do pelotão de cavalaria (enquanto guarneceu Guiledje). 

No entanto, observando melhor as fotografias, julgo reconhecer um dos alferes da companhia em cima da GMC e alguns dos militares metropolitanos não são do Pel Caç Nat 51. Seriam dois pelotões? É provável, até porque o local está no lado "mau" do quartel (o lado do cruzamento). Na ultimas destas fotografias, o militar metropolitano em pé no solo, é um dos cabos (Pires?) do Pel Caç Nat 51. 

Com o advento da época seca, a água rareava nesse local, sendo então o abastecimento (muito mal) garantido num poço que a população também utilizava e que ficava junto a uns terrenos de cultivo a SW do quartel, do lado "bom" portanto. 

Quando tal acontecia, a água era recolhida mais do que uma vez por dia, já que se esgotava no fundo do poço, e a distribuição da água no quartel era supervisionada por um alferes que, em cima da viatura, e depois de satisfeitas as prioridades (cozinha/padaria), a ía distribuindo em muito parcas quantidades, pelos muitos que dela necessitavam. E não era fácil. (...)
 
 
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Nota do editor:

Último poste da série > 28 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10452: Álbum fotográfico de Armindo Batata, ex- comandante do Pel Caç Nat 51 Guileje e Cufar, 1969/70) (3): As refeições, em Guileje

3 comentários:

Luís Graça disse...

Camaradas de Guileje:

Não temos aqui descrições detalhadas da ida á "fonte de Guileje"... É uma questão que me intriga...

Como é que era no vosso tempo ? Quantas vezes por semana ou por dia é que se ia buscar água ? Ia sempre um grupo de combate a fazer segurança ? E no caso da população ? As mulheres e crianças eram escoltadas pela mílícia ? Qual era a distância exata do de Guileje até à fonte (no Rio Afiá) ? 4 km ? A pé, era mais do que uma hora... Houve emboscadas, minas, percalços, etc., no vosso tempo ? Quando é que a bomba a motor ? Por que razão é que em tantos anos (19634/73) nunca se abriu um poço dentro do perímetro da tabanca e do aquartelamento de Guileje ?...

Provavelmente nunca ninguém pensou que um dia poderiam "morrer à sede"... (Desculpem a ironia, mas os nossos comandantes eram pagos para pensar, decidir, comandar, prevenir, prever, liderar)...

Obrigado pelas possíveis respostas...

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
José Botelho Colaço disse...

Há coisas que parecem ser estórias da carochinha e foram vários os comandantes da guerra que passaram por Guiléje sem esquecer o staf do comandante chefe."Cabecinhas pensadoras"

Em 23/01/1964 quando na tomada do Cachil no dia seguinte 24/01/1964 a primeira coisa a fazer foi um poço para encontrar agua e ela apareceu logo que o poço atingiu a profundidade de metro e meio a dois metros mas o terreno não filtrava a agua parecia petróleo agarrava-se á garganta impossível de beber tentá-mos outros locais dentro do futuro arame farpado mas o resultado foi o mesmo, daí o aquartelamento do Cachil ser sempre abastecido de agua através de uma lancha que a trazia de Catió, também aqui havia o perigo de ataque do inimigo pois o cais ficava cerca + ou - de 1500 metros do quartel mas talvês por ser zona de bolanha e dificiel no bate e foge nunca o inimigo atacou aquele percurso desde 1964 até 1968 altura em que o aquartelamento do Cachil foi desactivado, abandonado e dinamitado pelas nossas tropas. Já aqui comentei no blogue após cerca de 12 horas sem beber como consegui beber um copo do cantil dessa malvada agua fiz vários montes de cinza onde o capim tinha ardido e através do pano da tenda tentei filtrá-la quando me pareceu que já não apresentava aqueles lávios de gordura filtreia através do filtro de campanha a seguir misturei uma certa quatidade de tóni lata um leite em pó que fazia parte da ração de combate e lá marchou o 1/4 litro de agua mas o resultado não foi nada agradável embora me tenha reanimado um pouco mas não tentei mais a aventura.