sábado, 15 de dezembro de 2012

Guiné 63/74 - P10804: Blogpoesia (309): Vem aí retoma... (Luís Graça)


Foto de ©  Luís Graça: Pôr do sol no Atlântico, visto do estuário do Tejo. 5/11/2011

Vem aí a retoma

No verão,
entre cigarras e grilos,
éramos arquitectos esquilos,
desenhávamos à mão,
dedo a dedo,
frágeis barreiras de areia
contra a maré cheia
do medo.
Contra o medo do medo.

Em agosto,
ainda não se adivinhava setembro,
às portas do Império,
as pousadas estavam repletas
e éramos inconscientemente felizes.

Em Beirute caíam bombas
e nas Canárias davam à costa
cadáveres subsarianos.
O verão já era outono,
vindima, mosto,
passeávamos agora
com as nossas bicicletas,
à volta do círculo polar ártico,
furando o buraco do ozono.
Definitivamente cancelámos
o nosso cruzeiro pelo adriático.

Na rentrée,
os novos príncipes deste mundo
anunciavam a boa nova
pela têvê:
vem aí a retoma!

Praia da Areia Branca,
agosto de 2006 /
revisto em 14 de dezembro de 2012

Luís Graça

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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de dezembro de 2012 >  Guiné 63/74 - P10803: Blogpoesia (308): Hoje há mais neve branca lá fora... (J. L. Mendes Gomes)

5 comentários:

admor disse...

A retoma,
que tanto tarda a chegar,
pois já passaram seis anos
e ao fim de uma década
será que torna,
p´ra ficar.

Não quero ser agoirento, mas com os governos que temos tido desde então acho que a meta até nem é tão má comos os ditos.

Um grande abraço.

Adriano Moreira

Luís Graça disse...

Porra, o poema pode não ser lá grande coisa mas a foto merece... uma "gabadela": não é todos os dias que um fotógrafo apanha um portacontentor em contraluz, ao pôr do sol... Não, isto não é fotomontagem!... Boa continuação das festas, que é a única boa que tem o mês de dezembro das nossas lamúrias... LG

Tony Borie disse...

Olá Luís.
Falas–te do contra luz ao pôr do sol, onde está lá quase tudo, com um barco a levar mercadoria, pessoas e notícias, para outros rumos, um pássaro a voar, também com toda a certeza para novos rumos, e as ondas a aumentarem o seu volume, até chegarem à maré cheia do medo, e depois contra o medo do medo!.
Está lá muita coisa escondida nas enterlinhas, que eu não entendo pois há muito tempo que não vivo aí, mas li e gostei, e creio que estas frases se podem adaptar a qualquer país ou a qualquer situação.
Um abraço do amigo, Tony Borie.

Anónimo disse...

Luís

Faço minhas as palavras do Tony Borie para dz que gostei muito do poema.

Cheio...de conhecimento.


Beijinho

Felismina

Henrique Cerqueira disse...

Ó Luizão.
Tens carradas de razão.A foto está mesmo de cair e de tão perfeita que está até me esqueci da tua merecida "Gabadela".
Desculpa camarada eu poemas goste ou não goste não sei comentar os mesmos,mas a foto está mesmo do maior.Ainda mais que eu adoro fotos do Pôr do sol visto que moro mesmo junto ao mar num 11ºandar e virado a poente.Tenho tirado algumas fotos a vários momentos de Pôr do sol mas sempre com fotos de fraca qualidade.Mas mantenho na retina esses momentos maravilhosos da Natureza.
Mais uma vês parabéns pelas fotos que tens publicado e esta em especial.
Henrique Cerqueira