terça-feira, 28 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11640: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (12): Tese de doutoramento em estudos africanos, em curso, sob a orientação do professor e nosso tabanqueiro Eduardo Costa Dias (ISCTE): Lúcia Bayan quer entrevistar camaradas que estiveram no chão felupe e em especial em Suzana



Guiné > Região do Cacheu > Susana > Junho de 1972 > Dia de ronco... dia da morte do comandante do PAIGC, Malan Djata, cuja cabeça foi cortada por elementos da população, felupe, após a sua captura na sequência de um ataque falhado ao aquartelamento de Susana. Segundo esclarecimento, dado pelo Luís Fonseca  "naqueles momentos foi de todo impossível determinar o 'autor' da decapitação". Foi tudo num ápice: um graduado da CCAV 3366 que assistiu à cena não pode fazer para evitar a mutilação (ritual) do cadáver de um inimigo.
Foto (e legenda): © Luiz Fonseca (2007). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Lúcia Bayan, com data de 21 do corrente:

De: Lúcia Bayan
Data: terça-feira, 21 de Maio de 2013,  19:28
Assunto: Pedido de ajuda

Caro Senhor,

Encontro-me a fazer o doutoramento em Estudos Africanos, do ISCTE, sendo orientada pelo prof. Costa Dias. O meu trabalho incide sobre a sociedade felupe. Estou a dar continuidade a um projecto iniciado com o meu mestrado, também em Estudos Africanos no ISCTE e também orientado pelo prof. Costa Dias. Regressei há cerca de um mês da minha terceira ida ao terreno e pretendo regressar no início do próximo ano.

Considero que neste momento já tenho conhecimentos razoáveis desta sociedade, para o que muito contribuiu algumas informações retiradas do seu blogue. No entanto, tenho ainda muitas dúvidas sobre o passado recente deste povo, pelo que gostaria muito de conversar com colegas seus que tenham estado no quartel de Suzana.

Apelo pois para a sua boa vontade para me proporcionar contacto(s) com alguns seus colegas que tenham estado colocados neste quartel e que estejam dispostos em partilhar comigo os seus conhecimentos.

Grata pela atenção, fico à espera ansiosamente da sua resposta.

Os melhores cumprimentos,

Lúcia Bayan
Tel.: 96 135 31 30

2. Comentário de L.G.:

O Prof Eduardo Costa Dias é um velho amigo e companheiro de lides académicas. É, além disso, um grande amigo do povo da Guiné-Bissau e um conhecer profundo dos seus usos e costumes, da sua grande riqueza e diversidade culturais. Honra-nos com a sua presença na Tabanca Grande. Por outro lado, o nosso blogue é (e quer continuar a ser) uma fonte de informação e conhecimento (*) não só para os portugueses como para os guineenses e demais comunidades lusófonas. O pedido de Lúcia Bayan vai ter, por certo, resposta por parte dos nossos generosos e solidários tabanqueiros que passaram pelo chão felupe. Entre eles cito, por ordem
alfabética, e correndo o risco de omitir mais alguém:

(i) Delfim Rodrigues [,ex-1.º cabo aux enf, CCAV 3366 / BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73]: reside em Coimbra; trabalha (ou trabalhava, não sei se está reformado) em estudos de mercado, na recolha de dados / trabalho de campo;

(ii) Luiz Fonseca [, ex-fur mil trms, CCAV 3366 / BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73]; reside em Vila Nova de Gaia; é um estudioso da sociedade felupe tendo publicado diversos postes na série Cusa di nos terra, sob o subtítulo Suzana, chão felupe, que listamos abaixo (**)

(iii) [Manuel] Domingos Santos [, ex-fur mil, CCAÇ 1684/BCAÇ 1912, Susana e Varela, 1967/69]; está reformado; não temos informação sobre o local de residência;

(iv) Raul [Manuel Bivar de ] Azevedo [, ex.cap mil, 2ª CART / BART 6522, Susana, 1972/74]

(...) Nasceu em 1943, em Faro, é engenheiro electrotécnico (IST), reformado da EDP desde 2008. Ainda há dias nos escreveu dizendo: (...) Prometo enviar memórias de Susana com muito gosto, aliás já tinha feito essa promessa,mas não tive oportunidade.Teria muito interesse em contactar com a doutoranda [Lúcia Bayana] pois poder-lhe -ia ser útil e para mim era um reviver de memórias inesquecíveis. (...)

Vou pôr a nossa doutorando em contacto com estes camaradas que, por certo, irão responder amavelmente às suas perguntas sobre os felupes. Boa sorte à Lúcia Bayan. Um Alfa Bravo (ABraço) para o Costa Dias. Kasumai, para todos/as. LG

PS - Lúcia: Aqui tem 4 contactos. Faça bom uso deles. Transmita as nossas saudações ao seu orientador. E dê-nos notícias de Susana e dos nossos amigos felupes!... Por outro lado, a nossa Tabanca Grande está aberta para si, se a quiser integrar como "amiga da Guiné". Custo de ingresso: 1 foto + 1 história. Kasumai. Luis Graça
_______________

(**) Alguns dos postes do Luiz Fonseca sobre a sociedade felupe:

6 comentários:

Luís Graça disse...

Amigos e camaradas: A foto do Luís Fonseca pode "ferir suscetibilidades", mas tem interesse documental, e este blogue não é propriamente de meninos de coro...Em todo o caso, é bom sempre lembrar um das nossas 10 regras de conduta: o respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro...

Leia-se entretanto o que Luís Fonseca aqui escreveu, quando publicámos pela 1ª vez a foto com a cabeça do Malan Djata, chefe de bigrupo do PAIGC...

(...) "Diga-se que esse foi o encontro com o destino do Cmdt Bigrupo Malan Djata quando, em Junho de 1972, foi capturado, após ataque falhado a Susana. Mesmo com a oposição do graduado da CCAV 3366 ("tu ou ele") cumpriu-se o ritual...

"Essa tradição ancestral marcava ainda a vida daqueles que sentiram o primeiro impacto de uma guerra que jamais foi sua, pelo menos no sentido de libertação, porque isso os Felupes foram-no sempre, desde o tempo da luta contra a dominação mandinga: Livres!

"Acrescente-se que a imagem que envio, deixando a sua edição ao vosso critério, foi já aproveitada por João Melo (Os anos da guerra - II volume, Cap. III - Operação Nó Górdio - Moçambique - pg. 51 - Circulo de Leitores e Publicações D. Quixote) tendo eu alertado o autor da imprecisão. Nunca soube se recebeu a missiva." (...)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2008/01/guin-6374-p2397-cusa-di-nos-terra-12.html

Anónimo disse...

uma ricquissima galeria histórica de testemunhos vivos...
jlmmg

Henrique Cerqueira disse...

Não é uma questão de susceptibilidade, mas sim o "Respeito pelos mortos"
Já aqui manifestei o meu parecer contra a publicação de fotos do género.Respeito a vontade dos outros,mas uma vês mais teria segundo os meus princípios de me voltar a manifestar. Também sei que não faço parte de um blogue de "meninos do coro"
Só comentei novamente porque o Luís "tocou na ferida"
Um abraço
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Nem mesmo em nome do "relativismo cultural" se pode aceitar práticas "inumanas" como esta, a da decapitação de um cadáver de um inimigo (para não falar da decapitação como pena capital!)...

E no entanto ela é tão velha como o mundo... Cortar a cabeça a um inimigo, mesmo depois de morto, tem um profundo significado, não era um ato gratuito, para os felupes... Quer a vítima fosse um português (no tempo da "guerra de pacificação"), fosse um senegalês, ou fosse um mandinga do PAIGC (no tempo da guerra colonial...).

Digo não era, porque espero que os felupes estejam hoje em paz consigo e com os seus vizinhos, e repudiem esta prática dos seus antepassados... Talvez a nossa doutoranda Lúcia Bayan possa dar-nos dar-nos uma lição de antropologia sobre este e outros "estranhos comportamentos" dos temíveis felupes...

Mas também pode tornar-se um comportamento de bravata...

Ninguém aqui está caucionar estas "práticas culturais", muito menos nós, amigos e camaradas da Guiné... E no entanto, da Internet aos nossos museus, há inúmeros videos, documentários, fotografias, pinturas, etc., que documentam ou ilustram esta prática cruel, uma das mais cruéis de que os seres humanos são capazes...


Henrique Cerqueira disse...

Mas também pode tornar-se um comportamento de bravata...
Luís pego precisamente nesta tua frase para explicar que foi exactamente isso que presenciei tanto no Biambe como mais tarde cá em Portugal.Ou seja no Biambe fui encontrar no meu abrigo e deixado pelo meu antecessor umas orelhas de supostos inimigos capturados.Em Portugal tinha um amigo que esteve em Gadamael que o prazer dele era andar a exibir fotos de camaradas nossos com o corpo crivado de balas.Mesmo quando são exibidos corpos mutilados das novas guerras pelas nossas TVs , eu vejo sempre o aproveitamento noticioso e muito raramente como exibição de imagens com fins morais,educativos de alerta , eu sei lá... tudo menos isso.
É claro que aqui no nosso blogue eu me sinto muito mais à vontade para expressar o meu desacordo na publicação dessas imagens.
Não sei se fui suficiente claro nos meus comentários mas reafirmo que esta é sou a minha opinião e em nada belisca o meu apoio incondicional ao meu muito "querido blogue"
Um abraço
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Sou frontalmente contra:

A CENSURA
A BARBÁRIE
O DESRESPEITO PELO IN
A DESCULPA DE QUE SE TRATA DE "CULTURA" OU "USOS E COSTUMES".

Se fosse a fotografia de um dos nossos..gostavam ?
Admiro os felupes mas não alguns dos seus "costumes".
Pretendo dizer o quê..que apesar de ser uma fotografia que faz parte do acervo histórico devia apenas ser só isso.
Não fomos "meninos de coro" e o IN provavelmente muito menos.
Sem pretender julgar ninguém e muito menos o editor e co-editores do blog,se fosse eu a ter que tomar a decisão,não publicava esta foto,apesar de ser contra qualquer tipo de censura..que me estou a contradizer..provavelmente.

C.Martins