sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Guiné 63/74 - P2074: Cusa di nos terra (6): Susana, Chão Felupe - Parte II: Religião (Luiz Fonseca, ex-Fur Mil TRMS)

1. Mensagem do dia 26 de Agosto, do nosso camarada Luiz Fonseca, ex-Fur Mil Trms (CCAV 3366/BCAV 3846, Susana e Varela, 1971/73):

Caríssimos Editores:

Depois de alguns dias de pausa, para recarregar baterias, para as bandas de Viana do Castelo, aproveitando as festas da Senhora da Agonia, retomo as minhas notas de viagem pelo noroeste da Guiné.

Reconheço ser um defeito meu perder-me na escrita e, quando acordo, já ela vai longa e fastidiosa.

Vou tentar ser o mais conciso possível, solicitando no entanto à edição que, se achar necessário, proceda aos respectivos arranjos.

Li com redobrada atenção a mensagem do Marques Lopes e a seu tempo creio poder dar algumas dicas sobre o assunto em questão (petróleo).

Por hoje não acrescento mais nada.
Kassumai

Luiz Fonseca
ex-Fur Mil Tms
CCAV 3366

Guiné > Região do Cacheu > Susana > Vista aérea do Aquartelamento

Foto: © Major J.Mateus (BCAV 3846) (2007). Direitos reservados


Chão Felupe Parte II - Falemos de religião (1)

Os Felupes são (eram) na sua enorme maioria animistas, tal como outras etnias não convertidas (nem ao islamismo nem ao cristianismo), devendo referir-se que a população felupe representa apenas cerca de 2% do total da população da Guiné Bissau.

Animismo, segundo os livros, designa práticas mágico-religiosas essencialmente domésticas, em que cada família venera e/ou é protegida pelos seus antepassados, acreditando também que todos os elementos da natureza possuem um espírito. Espíritos esses que podem inspirar medos, podem possuir poderes (para o bem e para o mal), podem exigir adoração com sacrifícios rituais.

Os Felupes acreditam na existência de um Ser criador ( Emitai) que mora algures no céu, distante da vida diária das pessoas e dos seus problemas.

Em tempos de crise ou qualquer desastre natural, por exemplo, a seca, os Felupes dizem que a sua origem está no Emitai e por isso essas situações são aceites sem reservas pela população.

Embora não tenha assistido e creio que muito dificilmente qualquer um, que não Felupe, o tenha feito, foi-me feita referência à prática de feitiçaria negra, advinhação, consulta de antepassados e, essa verificada, curandeirismo.

Fomos, por exemplo, avisados para que, nas nossas andanças de tiros aos pássaros, ter o cuidado de não abater o anadaboró (penso ser essa a designação felupe), ave creio que da família das garças, desinteressante, de cor acinzentada, porque quem o matasse, libertava o espirito do mal e teria que morrer para que esse espírito recolhesse. Tanto quanto me recordo não houve diminuição da espécie em causa.

Se algo de mau acontece, tal facto é culpa dos feiticeiros, que deveriam ter usado os seus poderes e poções mágicas para evitar a revolta dos seres da natureza. Para apaziguar os bakinabu (espíritos) irados, usam sacrifícios de animais, ofertas de vinho de palma ou outras cerimónias, normalmente restritas.

Outras práticas são o uso de amuletos, talismãs, encantos, maldições.

Em quase todas as tabancas, moranças e matas se podem encontrar altares erguidos aos espíritos, que representam locais onde se pode pedir protecção, proibição, benção, busca de resolução, quebra de maldição ou mesmo feitiçaria negra contra alguém, conforme a causa e o pedido.

As mulheres, de enorme importância na organização social Felupe, têm os seus próprios espíritos e talismãs.

Acrescente-se, para terminar, que os que moram a norte do Casamance se dizem muçulmanos embora tenham práticas animistas.

Luiz Fonseca

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Nota do co-editor CV

(1) Vd. post de 15 de Agosto de 2007 sobre os Felupes e seus costumes> Guiné 63/74 - P2052: Cusa di nos terra (5): Susana, Chão Felupe - Parte I (Luiz Fonseca)

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