quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Guiné 63/74 - P13597: Dossiê Os Libaneses, de ontem (e de hoje), na Guiné-Bissau (4): os comerciantes de Nova Lamego... Era gente de confiança ? (Joaquim Cardoso, ex-sold trms, Pel Mort 4574, 1972/74)



Guné > Região de Gabu > Nova Lamgo > Pel Mort 4574 (1972/74) > Eram tapetes, de estilo oriental, com motivos exóticos (como a fauna e a flora africanas), que os militares  compravam aos comerciantes libaneses. Eles também aproveitaram a "economia de guerra" (LG).

Fotos: © Joaquim Cardoso  (2014). Todos os direitos reservados.



1. Mensagem de Joaquim Cardoso [, ex-sold trms,   Pel Mort 4574, Nova Lamego, 1972/74],, com data de 17 de agosto passado:


Olá, caro amigo Vinhal

Este simples Olá, é o cumprimento sugerido, em e-mail do nosso " Comandante "Luís Graça, em gozo de férias (?), que, apesar de simples, encerra nele toda a minha consideração, esperando, estou certo, que te encontrarás muito bem por essas praias Matosinhenses, tomando banhos de água e sol.

No dito e-mail, o Luis refere-se também ao estado da sua nova anca e, pelo que diz, está em evolução muito positiva. Ainda bem, pois certamente toda a tertúlia espera que em breve fique em condições de fazer parte de uma qualquer corrida de atletismo ou até de tríplo salto!

Comento de seguida o tema que o Luís colocou, relativo aos Libaneses na Guiné (*):

Tendo estado em Nova Lamego em 1972/74,  direi, sem ter a certeza, que nessa altura na localidade, não chegariam a meia dúzia os estabelecimentos pertencentes a Libaneses, onde se vendiam entre outras coisas, tapetes de estilo oriental, idênticos aos das fotos que junto, adquiridos esencialmente por militares para suas recordações, e tecidos para a feitura de panos com que as nativas tapavam algumas das suas "vergonhas".

Partindo do pressuposto, que essas pessoas eram refugiadas de guerra no seu País, o seu refúgio na Guiné, também em guerra, era por isso muito polémico.

Era voz corrente que, sendo os militares os maiores compradores, esses comerciantes estariam interessados na continuação do conflito por forma a manter os seus negócios, colaborando por isso com o IN. Dizia-se também que, sempre que houvesse encerramento temporário dos seus estabelecimentos, estava à vista ataque iminente!


A ser verdade, é evidente que teriam informação antecipada, por parte do nosso adversário, permitindo-lhes, assim, a possibilidade de se ausentarem do local ou tempo suficiente para uma melhor proteção.

Nessa altura, nos dois principais ataques com foguetões a Nova Lamego, em que felizmente nada de grave aconteceu, não vi, nem obtive informações que dessem firmeza à versão desses procedimentos.

Termino, deixando estes simples apontamentos à consideração, com um fortíssimo abraço a todo o pessoal.

J. Cardoso
Ex-Sold. Transmissões em Nova Lamego - Guiné , 
1972/74 

[. Foto acima, com o António Santos, também do Pel Mort  4574, à sua direita, no posto de rádio]
_____________

Nota do editor:

4 comentários:

Luís Graça disse...

Obrigado, Joaquim, pelo teu contributo para este dossiê...Sai publicado com atraso, mas sabes como é, O mês de agosto é tramado...

Estive na tua terra com o Joauqim Peixoto da na Agrival... Estou muito melhor, sim senhor. Obrigado pelos teus cuidados... Ab. Luis

Luís Graça disse...

Joaquim, quanto à questão que levantas...saber se os comerciantes, libaneses, eram "gente de confiança"...

Em Bambadinca, Bafatá e noutros sítios pensava-se o mesmo... Mas se calhar injustamente. A suspeição de colabaração (mais passiva do que ativa) com o IN era extensiva aos comnerciantes portugueses e caboverdianos... O mesmo se pensava em Angola e Moçambique, em relação aos brancos "que se estava nas tintas paraa guerra" que era feita pelos metropolitanos...

Temos de ter cuidado nasta matéria... Houve libaneses que combateram do nosso lado...e foram fuzilados pelo PAIGC, depois da independência como o Zacarias Saiegh, capitão comando graduado, do Batalhão de Comandos Africanos... Outros estivera nos páras como O Danif, de Bafatá... (Vive hoje em Portugal, segundo creio, e é amigo de amigos nossos).

O desconhecimento, a ignorância, o medo, são, muitas veze, fontes de atitudes e comportamentos de xenofobia e de racismo... É preciso ter isso em atenção...

Antº Rosinha disse...

Libaneses não havia em Angola, fossem cristãos ou muçulmanos.

Mas os milicianos metropolitanos chegavam a Angola com essa ideia sobre os comerciantes minhotos e transmontanos.

E às vezes terminavam aquele castigo de arame farpado e regressavam com as mesmas ideias.

Outros milicianos foram e regressaram com a ideias contrárias a essa do conluio com os turras.

Era a ideia que esses comerciantes (e outros brancos) tratavam mal os pretos por isso eles se revoltaram e e«nós aqui» a guardar-lhe as costas.

Havia outros milicianos que se apaixonaram de tal maneira por «aquilo» tanto em Angola como Moçambique e Guiné, que ficaram por lá civilmente e achavam aquela guerra justíssima da nossa parte.

E havia outros que que ficaram com a ideia que os brancos tratavam mal os pretos, «mas os meu primos» que lá estavam eram bons, davam-se bem com eles.

E havia outros milicianos que se admiravam como havia «brancos» que se dessem bem naqueles «cús de judas».

Era interessante que fosse possível coligir as ideias virgens que passavam pela cabeça de todos nós daquele tempo com 20 anos sobre «aquilo».

Mas não se julgue que só os milicianos tinham ideias, os oficiais e sargentos do quadro também tinham ideias muito diversas.

Como estive os 13 anos da guerra, em guerra, era novo, não pensava muito, agora velho dá-me para ler o que diz o Joaquim Cardoso, e ponho-me a pensar!

O Joaquim Cardoso não fala com certezas, mas muitos milicianosfalam com certezas absoçutas.

Unknown disse...

Caro Amigo, luís:
-Fico muito contente por saber que te encontras melhor.
Quanto à Agrival, apesar de ter um convite, não deu para ir, por motivo de saúde da minha esposa que está internada no Hosp. De S.João no Porto.
Relativamente aos Libaneses, tinha a noção que esse assunto era polémico e, apesar de nessa altura ser uma realidade essa questão andar de boca em boca, hoje ao escrever sobre tal assunto, reforço a minha incerteza ao afirmar que nos dois principais ataques a Nova Lamego, não vi nem ouvi dizer que tais encerramentos se concretizassem.
Para mim, eles eram gente boa e, como diz o A.Santos, elas ainda melhores!