Caríssimo Carlos,
Há dias, lendo sobre Marinha na Guiné e "raspando o fundo do baú", lembrei de uma viagem que fiz de Gadamael para Bisau.
Como muitos sabem, Gadamael (Porto) fica num braço de rio, também dito rio Sapo.
A nossa locomoção para fora de Gadamel era preferencialmente, pegar boleia com o Dornier do correio, ou eventualmente com algum "tubarão" em visita aos "perdidos" na fronteira Sul.
Ora, quando tínhamos alguma bagagem mais robusta, a saída era mesmo por mar.
Numa dessas idas, peguei uma embarcação, que não recordo se seria LDG, ou outro barco de guerra. A saída foi ao fim da tarde, e me acomodei no convés da melhor maneira possível. Ao raiar do dia apareceu um Sargento da Marinha, que com a formalidade que lhes é peculiar, me informou que o Comandante estava me convocando para que me apresentasse nos aposentos do Comando.
Guiné - LDG (Lancha de Desembarque Grande) 105
Foto: © Humberto Reis (2005)
O Comandante era um oficial com patente equivalente a Tenente, talvez Capitão; pediu desculpas de não me ter chamado antes, mas só naquele momento tinha tomado conhecimento da minha presença a bordo. Convidou-me a tomar uma refeição com ele, e lá fomos conversando até Bissau.
Dada altura, perguntei da formação para tal função, e outros detalhes da "arte de marear".
Fiquei surpreso, quando perguntei o que ele fazia a bordo, e me respondeu:
- Sou só o Comandante.
Até hoje lembro a humildade desse Oficial de Marinha!!!
Forte abraço
Vasco Pires
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de Setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12047: Fantasmas ...e realidades do fundo do baú (Vasco Pires) (13): A minha singela homenagem aos pais de todos nós
2 comentários:
Caro camarada Vasco Pires
A única embarcação da marinha que podia "aportar" a Gadamael era a LDP e evidentemente com a maré alta.
Provavelmente foste a partir de Cacine em LDG.
Era costume em Cacine o comandante do "patrulha" ou LDG aí aportados convidar os oficiais da "tropa macaca" para um almoço ou jantar a bordo..enfim.. privilégio de oficial e simpatia de marinheiro..julgo que também seria uma forma de aproveitar algum convívio entre "pares"..já que durante o tempo que estavam a bordo sofreriam de bastante "solidão".
Um alfa bravo "artilheiro"
C.Martins
Caríssimo C. Martins,
Cordiais saudações.
Obrigado pelo informe.
Realmente, "entre as brumas da memória", não consigo distinguir o tipo de embarcação, nem o lugar de embarque.
Ficou gravado, que mesmo na guerra, há lugar para gestos civilizados.
forte abraço,e siga a artilharia
VP
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