Uma relíquia farmacêutica: o célebre medicamento contra o paludismo, Pirimetamina, 25 mg,, LM (iniciais de Laboratório Militar)... Havia duas tomas por semana, às quintas e domingo, segundo o nosso camarada médico, Rui Vieira Coelho... A imagem é do António Tavares (ex-fur mil, CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72),
Foto: © António Tavares (2014). Todos os direitos reservados [Edição de L.G.]
1. Lancei ontem o seguinte desafio ao Rui Vieira Coelho, médico reformado, ex-alf mil médico BCAÇ 3872 e BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74) [, foto à direita, em 1973, no mítico Rio Corubal, no Saltinho]
Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis
2. Resposta, imediata, passadas umas horas:
Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10
Assunto: Doenças no TO Da Guiné
Caro Luis
Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.
Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro, na CCS do Batalhão, e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos, Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim; e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.
E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.
Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas, respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.
A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.
Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.
Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .
Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.
Na região leste da Guiné, o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs
Rui: Vou fazer-te um desafio, descrever a farmácia militar de Galomaro (que devia ser igual à de Bambadinca e de tantas outras)... Quais eram os medicamentos essenciais de que tu dispunhas para acudir a uma doença aguda ou uma emergência médica... Por outro lado, havia a ação médica junto da população, os comprimidos LM, etc.
Um outro poste que te vou pedir é sobre as doenças do pessoal, do paludismo às afeções cutâneas... Um alfbravo. Luis
2. Resposta, imediata, passadas umas horas:
Data: 16 de Outubro de 2014 às 20:10
Assunto: Doenças no TO Da Guiné
Caro Luis
Em resposta ao teu repto, aqui vai o referente às doenças mais frequentes com que o pessoal de Saúde era confrontado na Guiné.
Como Médico Militar, estava sediado em Galomaro, na CCS do Batalhão, e era também sub-delegado de saúde da zona de Galomaro Cossé. Tinha a cargo a saúde de cerca de 360 militares metropolitanos, Companhia Comando e Serviços e Companhias Operacionais do Dulombi e de Cancolim; e de Milícias Africanos que eram cerca de 400 distribuídos por 10 pelotões a 40 homens, sediados em aldeias reconstruídas, previamente atacadas pelo PAIGC e para as quais eram destinados à sua segurança.
E a acrescentar a tudo isto uma população civil que rondava, na área que me foi distribuída, cerca de 18.000 pessoas.
Tinha também a meu cargo a Missão de Sono, onde só tínhamos um doente internado com essa doença e o restante pessoal internado eram doentes tuberculosos e doentes com lepra, a fazerem tuberculostáticos (estreptomicina) e sulfonas, respectivamente. Ambas as doenças se deviam a infestação por Mycobacterium Tuberculosis e por Mycobacterium Leprae.
A população militar metropolitana na Guiné estava vacinada com a célebre "Cavalar" que era administrada na recruta, e que era contra o tétano, tosse convulsa, difetria, febre tifóide, paratíficas A e B, cólera, sem esquecer a febre amarela. O pessoal estava bem imunizado dado o carácter obrigatório para todo o Militar.
Raramente se via uma intoxicação alimentar, ou uma gastroenterite no pessoal militar metropolitano, pois também estava a meu cargo todos os dias a inspecção de alimentos. Á mínima suspeita de alimentos deteriorados ou com suspeita de infestação, mandava logo proceder a sua rejeição e queima imediata.
Comum à população metropolitana e à local o paludismo era com toda a certeza a doença que nos dava maior preocupação .
Os Guineenses não faziam qualquer tipo de prevenção anti-malária, os militares da metrópole tinham medicamentos para a fazer, mas evitavam pelas mais diversas razões, aparecendo crises agudas de paludismo.
Na região leste da Guiné, o mais terrível era o plasmodium Falciparum, que originava uma hemólise (destruição de glóbulos vermelhos) por vezes enorme com deposição de ferro no cérebro originando o tão falado paludismo cerebral. Também os outros dois Plasmodium existiam quer o Vivax quer o Ovale. O paludismo era recidivante e condicionava o aparecimento das chamadas febres terçãs e quartãs
Enviado do meu iPad
(Continua)
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Nota do editor:
2 comentários:
No tempo do BCaç.2912, de Maio de 1970 a Março de 1972, o SALTINHO era uma das poucas companhias operacionais do CTIGuiné que tiveram médico permanente.
... As companhias operacionais do BCaç.2912 estavam localizadas em Cancolim - CCaç.2699; Dulombi - CCaç.2700 e no Saltinho a CCaç.2701.
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