quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Guiné 63/74 - P14009: A minha máquina fotográfica (7): Comprei a um gila em Teixeira Pinto, em 2/11/1973, uma Minolta SRT 101, por 5850$00 (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74)



Minolta SRT 101, c. 1968. (Imagem reproduzida com a devida vénia do portal Camerapedia Wikia)


1. Um excerto do livro de memórias do nosso camarada António Graça de Abreu, enviado por ele no passado dia 8:


[Foto à direita: O alf mil António Graça de Abreu CAOP 1 (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), de G3 e máquina fotográfica, Minolta,  na estrada Mansoa-Porto Gole, 1973. Foto de António Graça de Abreu, ]



Teixeira Pinto, 2 de Novembro de 1972


Comprei uma máquina fotográfica. Ontem ao fim da tarde vinha eu a entrar no quartel de jipe – tinha ido levar um piloto à pista – e os soldados que estavam de guarda mandaram-me parar. À porta encontrava-se um tipo preto à espera do alferes Abreu, com uma máquina fotográfica para vender. A notícia de que eu queria comprar uma máquina já havia chegado lá fora. O rapaz mostrou-me o aparelho, era uma Minolta SRT 101, uma das câmaras mais completas da Minolta. 

Indaguei a sua proveniência. Fora trazida da Gâmbia por um “jila”. Os “jilas” são uns indivíduos de tez mais clara, rosto triangular e túnicas brancas que fazem comércio, uma espécie de contrabando legal entre a Gâmbia – um pequeno país encravado no Senegal, – e a Guiné. A máquina fotográfica parecia impecável, ainda metida nos estojos abertos por mim. 

O homem pediu-me 6. 500$00. Disse que ia já resolver o assunto, peguei na máquina e vim aqui ao quartel falar com um furriel e com o Tomé, mais entendidos em aparelhos fotográficos do que eu. Miraram, remiraram e disseram-me “compra, vale a pena, isso é novíssimo e em Lisboa custa mais de dez contos.” 

Voltei ao africano, ofereci-lhe 5.750$00, ele começou a descer, 6.300$00, 6.200$00, 6.000$00. Disse-lhe que lhe dava 5.850$00, era pegar ou largar. Acabei por comprar a máquina fotográfica por este preço, agora estou equipado com um autêntico canhão para tirar as fotografias que quiser. Não só palavras para o retrato do quotidiano, vou ter mesmo os outros retratos, a imagem, o testemunho impresso do olhar.


Em Diário da Guiné, Lisboa, Guerra e Paz Editores,, 2007, pag. 62 e 63 [, imagem da capa, à esquerda]. [Fixação de texto: LG]



Guiné > Região de Tombali > Cufar > CAOP1 > 1973  > O António Graça de Abreu, no aeroporto de Cufar, em Dezembro de 1973, posando junto a umn heli, Allouette III. No mês anterior, o aquartelamento de Cufar tinha sofrido uma flagelação com foguetões 122, e um ataque com RPG [lança-granadas foguete] e armas automáticas, nas proximidades do arame farpado... Dezete meses depois do início da sua comissão, o nosso camarada recebia finalmente o seu baptismo de fogo.  

Foto: © António Graça de Abreu (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]

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1 comentário:

antonio graça de abreu disse...

Uma pequena correção, o meu Diário da Guiné não é um livro de memórias, é um diário de guerra, escrito dia a dia, escrito sempre em cima do que acontecia.
É que há por aí uma confusão com outro Diário da Guiné, de ilustre autoria e esse sim é um livro de memórias, retocado, para parecer um Diário.
Desculpem, mas há umas tantas coisas que ainda me custam a engolir,até ao fim da vida.

Abraço,

António Graça de Abreu