domingo, 8 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14333: Manuscrito(s) (Luís Graça) (49): Primavera, em Dia Internacional da Mulher


Lisboa > Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian > 8 de março de 2015 > A primavera chegou...

Foto: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados

primavera

gaivota deusa alada
cortas fundo o branco
da manhã
e até ao cabo mais ocidental
do meu corpo
quero-te e espero-te
a viajar
no último comboio da madrugada

até ao fim até ao sul
paro escuto e olho
os semáforos do nevoeiro no país verde-rubro
mas já a maré enche de azul
as praças da cidade
e tu amor sem arribar

porto seguro e encantatório
ilha secreta gruta radar
com uma palmeira à janela
e uma bandeira branca em cada promontório
dizem que és filha da liberdade
do rio e da foz
do vulcão e da lava
e em dias de neblina também és oásis
aldeia palafita e ponto final
entre as arribas e a praia-mar

não olhei para o calendário
nas paredes da falésia
nem fixei o dia o mês o ano ou a era
mas hoje o teu voo é preclaro sinal
de primavera

ponho um cêdê do fado novo
paro escuto perscruto
o telefone os búzios a guitarra
mas tu amante sibila cartomante
sem aportar

frias são as estrias do poema
e hirto o sax-sex-grito
do último navio na noite
mas a letra do fado me diz
que tu gaivota deusa alada
estás p’ra chegar.

quanto é bom voltar a ver-te
voar.

lisboa, 1985
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 5 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14323: Manuscrito(s) (Luís Graça) (48): Foi você que pediu uma Kalash ?

2 comentários:

Anónimo disse...



Quero caminhar pelo mar
Uivar bem alto e bem fundo
Como um lobo que se está a afundar
Quero subir às estrelas
Sem perder a fragrância das flores
Silvestres, das estevas, das silvas
das giestas, da hortelã, do funcho
Nada disto é poetico ou alegórico
Importante é perder o equilibrio
nessa subida e estatelar-me no
do meu chão para ser alimento dos
lobos, dos javalis e dos abutres
Ter um fim rápido
Para não ser consumido lentamente
por milhares de vermes
Entre o Ser e o Nada, no final que
o Nada seja breve e digno.

Luís gostei do teu poema. Em troca mando-te estes versos toscos, como quem troca com um amigo uma colheita de vinho selecionada por uma garrafa de vinho carrascão. É a minha primeira tentativa de escrever um poema, prometo que não a irei repetir.
Um grande abraço

Francisco Baptista

Luís Graça disse...

Pelo contrário, Francisco, deves continuar a praticar... Lê-o em voz alta e vai-o trabalhando, corrigindo, depurando...

A poesia é, como muitas outras coisas, resultado de 10% de inspiração e de 90% de transpiração.

Fico muito sensibilizado pela tua oferta deste teu primeiro poema! Espero pelo próximo...