Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
domingo, 8 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14333: Manuscrito(s) (Luís Graça) (49): Primavera, em Dia Internacional da Mulher
Lisboa > Jardins da Fundação Calouste Gulbenkian > 8 de março de 2015 > A primavera chegou...
Foto: © Luís Graça (2015). Todos os direitos reservados
primavera
gaivota deusa alada
cortas fundo o branco
da manhã
e até ao cabo mais ocidental
do meu corpo
quero-te e espero-te
a viajar
no último comboio da madrugada
até ao fim até ao sul
paro escuto e olho
os semáforos do nevoeiro no país verde-rubro
mas já a maré enche de azul
as praças da cidade
e tu amor sem arribar
porto seguro e encantatório
ilha secreta gruta radar
com uma palmeira à janela
e uma bandeira branca em cada promontório
dizem que és filha da liberdade
do rio e da foz
do vulcão e da lava
e em dias de neblina também és oásis
aldeia palafita e ponto final
entre as arribas e a praia-mar
não olhei para o calendário
nas paredes da falésia
nem fixei o dia o mês o ano ou a era
mas hoje o teu voo é preclaro sinal
de primavera
ponho um cêdê do fado novo
paro escuto perscruto
o telefone os búzios a guitarra
mas tu amante sibila cartomante
sem aportar
frias são as estrias do poema
e hirto o sax-sex-grito
do último navio na noite
mas a letra do fado me diz
que tu gaivota deusa alada
estás p’ra chegar.
quanto é bom voltar a ver-te
voar.
lisboa, 1985
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14323: Manuscrito(s) (Luís Graça) (48): Foi você que pediu uma Kalash ?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Quero caminhar pelo mar
Uivar bem alto e bem fundo
Como um lobo que se está a afundar
Quero subir às estrelas
Sem perder a fragrância das flores
Silvestres, das estevas, das silvas
das giestas, da hortelã, do funcho
Nada disto é poetico ou alegórico
Importante é perder o equilibrio
nessa subida e estatelar-me no
do meu chão para ser alimento dos
lobos, dos javalis e dos abutres
Ter um fim rápido
Para não ser consumido lentamente
por milhares de vermes
Entre o Ser e o Nada, no final que
o Nada seja breve e digno.
Luís gostei do teu poema. Em troca mando-te estes versos toscos, como quem troca com um amigo uma colheita de vinho selecionada por uma garrafa de vinho carrascão. É a minha primeira tentativa de escrever um poema, prometo que não a irei repetir.
Um grande abraço
Francisco Baptista
Pelo contrário, Francisco, deves continuar a praticar... Lê-o em voz alta e vai-o trabalhando, corrigindo, depurando...
A poesia é, como muitas outras coisas, resultado de 10% de inspiração e de 90% de transpiração.
Fico muito sensibilizado pela tua oferta deste teu primeiro poema! Espero pelo próximo...
Enviar um comentário