Pois é Luis, como dizia o meu avô, do alto da sua "sabedoria Bairradina": pela boca, morre o peixe, e tu "implacável" editor, te encarregaste da cobrança.
Vamos lá tentar então, mesmo sabendo que estou entrando "numa rua escura" ou ao menos mal iluminada.
Nós, da nossa geração, nascemos numa "ilha ".
Ao passo que no resto da Europa, tudo tinha sido destruído pela Segunda Guerra, - infra-estruturas, estruturas e superestruturas - neste nosso "Jardim à beira mar plantado" tudo continuava de pé.
Éramos também filhos da "Guerra fria", bombardeados pela propaganda dos dois lados.
Sabemos hoje que o nosso "Último Imperador ", tinha a "certeza" que Portugal não sobreviveria sem o "Império", a máquina de propaganda, alardeava que éramos um País multirracial e pluricontinental.
E lá fomos nós para outro Continente "dilatar a fé e o Império", erámos jovens inocentes na maioria, alguns de nós, nunca tínha visto o mar nem um comboio.
Alguns outros se achavam bem informados, porque ouviam a BBC ou a Rádio Moscovo.
Sei, havia também os "filhos" da República Velha, o meu avô era um deles, culpando os "Jesuítas" de todos os males da Nação.
Também não éramos (somos) Europeus, nem antropológica nem culturalmente, mais tarde nos convenceram do contrário, e vimos no que deu!
Enquanto todos os países coloniais negociavam a transição, nós fomos à guerra, guerra politicamente perdida "ab initio".
Pergunto eu então, o que eu tenho a ver com esse soldado largado nas "bolanhas" Africanas?
Ah, sim, entre eu hoje, e o jovem Soldado de Artilharia, há as memórias.
O Senhor M. Proust escreveu milhares de páginas "À la recherche du temps perdu", será que nós estamos escrevendo milhares de postes, à procura da juventude "perdida" na guerra?
E as memórias, serão reprodução de vivências, ou construções mentais? Memória involuntária ou memória voluntária?
Nesta hora lembro a frase afixada na fachada da República Praquistão, na Coimbra de então: "Não sou eu nem o outro, sou algo de intermédio..." Mário de Sá-Carneiro.
Há sim muitas perguntas, mas (felizmente) temos o Blog à procura das respostas!
Forte abraço
VP
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Nota do editor:
Último poste da série > 11 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14241: Blogoterapia (265): Ainda a tragédia do Quirafo, apesar do muito que já se disse e escreveu (Juvenal Amado / João Maximiano)
Último poste da série > 11 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14241: Blogoterapia (265): Ainda a tragédia do Quirafo, apesar do muito que já se disse e escreveu (Juvenal Amado / João Maximiano)
5 comentários:
Olá Camaradas
Subscrevo inteiramente a opinião do Vasco Pires. Claro que a questão das "memórias" feitas ou reais levar-nos-ia longe, mas não nos esqueçamos de que apenas vivemos 24 meses em quase 70 anos (ou mais) nas bolanhas da Guiné, porém numa fase crucial e marcante da nossa vida e hoje é recordar e transmitir, se possível.
Somos irmanados pela nostalgia, quer queiramos, quer não.
Um Ab.
António J. P. Costa
Meu caro Vasco, bairradino dos quatro costados, português das sete partidas: estou inteiramente de acordo contigo...
Todos perdemos a nossa "juventude"... Não são "apenas" 22, 23, 24 meses de Guiné (, de guerra, no meu caso e no caso da maior parte de nós; de resto, na Guiné, a guerra e o clima de guerra estavam por todo o lado, mesmo em Bissau)...
É muito mais do que isso: é uma juventude, é uma década, é um parte (decisiva) da nossa vida...
Falo, pelo menos, por mim... Nunca mais fui o mesmo, depois de regressar da Guiné... Aliás, começávamos a viver a guerra, aos 14 anos... Em 1961, eu tinha 14 anos, e tive a "premonição" da guerra (e da guerra na Guiné)...
Sobrou para mim, sobrou para todos nós... Vivi esse drama até ser mobilizado... Sobrevivi... 22 meses, duros, duríssimos... Mas levei mais cinco anos a fazer a transição... para uma vida "normal"...
Voltei em 1971, e só em 1975 arranjei forças para retomar os meus estudos...Não sei se sou um "caso atípico"... Recusei-me a falar de (e a escrever sobre) a Guiné até ao início dos anos 80... Foi preciso fazer a licenciatura em sociologia para começar a revi9ver e a repensar esta experiência de juventude...
Em resumo, estamos, tal como o Proust, "à procura do tempo perdido"... Os meus filhos fizeram o Erasmus, uma na Bélgica, outro em Itália... Eu, na idade deles, fiz a guerra colonial na Guiné, numa companhia africana, de intervenção... E de guerra, tenho a minha conta!
Amigo Vasco Pires:
Gostei muito do que escreveste. Tu estás lá longe o que talvez te ajude a ter uma opinião mais objectiva.
O ideal de manter o império português no século XX, já depois da independência do Brasil, nos começos do século XIX, depois do fim de todos os impérios coloniais europeus, transformava Portugal naquela figura trágica e cómica que Miguel Cervantes celebrizou, D. Quixote de la Mancha.
Nada me move contra os meus camaradas que acreditaram que isso era possível, mas penso que não eram realistas.
Um grande abraço
Francisco Baptista
Oh Francisco Baptista
Se alguns chegaram a acreditar, ao princípio, ainda hoje me pergunta se alguém acreditava de que a vitória "era certa".
E esse é que é o meu problema. Se víamos, nem que fosse no regresso, que "aquilo" não tinha hipóteses porque continuávamos?
É só dores no espírito!...
Um Ab.
António J. P. Costa
Aqueles que estamos nos 70, o facto de termos passado aqueles 13 anos, será que não representam uma experiência humana e histórica de qualquer outra geração de 100 anos ou mais?
Qual teria sido a geração de portugueses deste país de 900 anos, que tenha vivido em tão curto espaço de tempo, uma agitação tão intensa quer a nível nacional, como a nivel internacional?
Penso que a história está por fazer, e este blog vai ajudar a que a história fique mais compreensível no futuro.
É uma pena que pelo menos Angola não ter havido um Luisgraca, para complementar aquela fase angolana, porque foi aquilo ali que motivava os interesses nacionais e internacionais.
Nós não temos 70 anos, temos muitto mais.
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