terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15086: Inquérito online: "No meu tempo já se falava da existência de aviões inimigos sob os céus da Guiné"... Primeiro comentário: "Quando estive no Depósito de Adidos, em Brá, na secção de justiça, em finais de novembro de 1973, lembro-me de chegarmos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo"... (Augusto Silva Santos, ex-fur mil, CCAÇ 3306 / BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73)

A. Mensagem enviada ontem pelo correio interno da Tabanca Grande:

Camaradas:

Bom regresso ao blogue, para quem foi a "banhos" e andou por aí, pelo mundo pequeno, sem sequer mandar um bate-estradas ao pessoal da Tabanca Grande... Alguém teve que ficar a tomar conta do poilão e das moranças...

E falando em regresso, que tal falarmos sobre MiG[ues] e outras coisas esquisitas que, dizem, já no nosso tempo cruzavam o céu da Guiné ?... Quem diz  é o José Matos (*), que é o nosso grã-tabanqueiro nº 701 [, foto à direita,], e é "expert" em história da aviação militar e da nossa guerra...  Ou melhor: dizem as fontes que ele consultou nos arquivos...

De qualquer modo, ele já não é o último grã-tabanqueiro, estamos já no nº 702...

Pois, convidamo-os, a vocês todos, camaradas,  a dar uam vista de olhos ao primeiro dos seus quatro artigos sobre a "ameaça dos MiG"... E depois respondam à sondagem (no canto superior esquerdo do blogue)... Aguardamos respostas até 14 do corrente...  A respostas é sim ou não:
  
SONDAGEM: "NO MEU TEMPO,  JÁ SE FALAVA DA EXISTÊNCIA DE AVIÕES INIMIGOS NOS CÉUS DA GUINÉ"

1. Sim, já se falava

2.  Não sei / não me lembro
 
3. Não, não se falava

B. Uma primeira resposta (ou melhor, comentártio) que nos chegou, é do Augusto Silva Santos (ex-fur mil,  CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73):


Data: 7 de setembro de 2015, 23h17


Olá Luís, Boa Noite!


Espero que esteja tudo bem contigo.

Relativamente a este assunto, aproveito para recordar que, aquando da minha apresentação ao blogue em Setembro de 2010, na parte final da mesma fiz o seguinte comentário:

"Lembro-me que nos finais de 1973 era já grande a tensão entre as NT. O facto de o PAIGC já possuir os mísseis terra-ar que passaram a ser o terror da FAP  (começámos a não ter um efectivo apoio aéreo nas diversas missões) estava a ser determinante. 

"Também me recordo de Bissau começar então a ser cercada de arame farpado e da colocação de minas nalgumas zonas da sua periferia, e de nos ter sido comunicada a possibilidade de podermos vir a sofrer em qualquer altura um ataque aéreo, por constar que o IN já possuía os famosos MiG. O fim estava próximo."

Algumas pessoas na altura não concordaram com estas minhas afirmações, mas posso afiançar que, estando eu na altura colocado no Depósito de Adidos,  em Brá [, mais extamente, na Secção de Justiça,] , já na parte final da minha comissão,  em finais  de Novembro de 1973, chegámos a receber informação para estarmos preparados para a eventualidade de um ataque aéreo por estarmos relativamente perto da Base Aérea de Bissalanca. 

Não se tratou de qualquer boato. Houve até uma pequena reunião para oficiais e sargentos, onde se falou que iríamos receber instruções para o efeito. 

Até ao dia 22 de Dezembro, altura em que terminei a comissão e regressei à Metrópole, tal não se verificou. Desconheço se posteriormente essas mesmas instruções vieram ou não a acontecer. Importa ainda salientar que na altura alguns camaradas do COMBIS, que ficava ali mesmo ao lado, também confirmaram que haviam sido alertados para a hipótese de um ataque aéreo.

Não tendo sido uma comunicação oficial no sentido correcto da palavra (não nos foi passado nada escrito), pelo menos tratou-se de uma comunicação oficiosa, como se costuma dizer. Ou se quisermos, de um alerta.

Um Abraço
Augusto Silva Santos

 _____________
Nota do editor:


(...) No dia 26 de Julho de 1963, um caça português F-86F Sabre destacado na Guiné fazia um voo de teste na região do rio Corubal. A bordo do aparelho, o piloto esperava um voo calmo e sem incidentes, contudo, tem um encontro imprevisto. Enquanto testa o Sabre, avista à distância um jacto desconhecido e, quando muda de rota para tentar verificar a identidade do avião, este foge rapidamente, não permitindo a sua identificação. A única coisa que consegue perceber é que se trata, provavelmente, de um MiG ao serviço da Força Aérea Guineana (FAG) (...).

10 comentários:

Henrique Cerqueira disse...

Já em determinada altura eu comentei aqui neste blogue a situação dos Migs na Guiné. Pois que em 1973 perto do final do ano ( já não consigo precisar...)nós as tropas sediadas em Bissorã e na altura estando eu na CCAÇ13, recebemos uma espécie de panfleto com imagens dos Mig 19 e 21 e junto dessas imagens umas instruções de como reagir ao avistar essas aeronaves ( Claro que o(os)mentores desse papelinho achavam que talvez fossemos super homens com os poderes de ouvirmos e vermos os aviões antes de passarem visto que os ditos são supersónicos.
Mas o mais ridículo da informação contida no famigerado panfleto era que devíamos adaptar a Mira Anti-Aérea na metralhadora Draiz e disparar para os ditos aviões.
Bom...a malta partiu a moca a rir e infelizmente rasgamos os ditos panfletos e assim hoje não tenho essa prova documental de tanta burrice que havia nas mentes de alguns dos nossos comandos superiores da altura.Poderá ainda haver alguem que se lembre desta façanha pelo de quem passou por Bissorã nessa altura até 1974.
Já agora acrescento que em 73/74 tivemos informações que os pilotos eram estrangeiros (cubanos,russos checos e afins...)e que pelos vistos os candidatos a pilotos naturais da Guiné em instrução de voo deram cabo de uma data de aeronaves e tiveram que adiar por uns tempos a utilização por pilotos Guineenses (o que nunca veio a acontecer como se sabe não é?...)
Fui aqui contando do que me lembro da altura em relação a esse tema dos Aviôes MIG. Alguma coisa pode ser só histórias de "caserna" mas do dito Panfleto é mesmo real.
Henrique Cerqueira

Luís Graça disse...

Henrique, foi pena não teres guardado esse "pedaço de prosa", sobre defesa antiaérea, redigida por uma seguramente brilhante cabeça pensante do QG...

Que a Guiné-Conacri tinha MiG, subsónicos, já sabiamos nós, desde a Op Mar Verde. MiG 15 e MiG 17. A partir da Op Mar Verde, em 22/11/1970, receámos que eles pudessem entrar em ação, até como retaliação à invasão do país. Mas não aconteceu, ae inda bem. A Força Aérea da Guiné- Conacri muito simplesmente não deveria ter ainda pilotos à altura, nem aviões operacionais...E por outro lado, o uso dos MiG contra um membro da NATO teria que ter o OK dos russos... Sabemos que a Guiné fazia parte do tabuleiro de xadrez do jogo geoestratégico que se jogava naquele tempo, em plena guerra fria, e em que se confrontavam dois blocos político-militares... Somos todos (Portugal, PAIGC, Guiné-Conacri), meros peões nesse jogo...

Quanto ao PAIGC, tinha algumas lanchas (destruídas na Op Mar Verde) e mais tarde mísseis terra-ar Strela, mas nunca chegou a ter força aérea... E a prova disso é que quando a Guiné Bissau se tornou independente quem ficou a pilotar o avião presidencial, no tempo do Luís Cabral e depois do Nino, foi um... "tuga!", o nosso grã-tabanqueiro comandante Pombo!... Ele deve saber histórias desses aviões fanatsmas que nos tiravam o sono, a alguns de nós...


Recorde-se o que já escrevemos aqui sobre o O comandante Pombo:

(...) privou com os dois [, Luís Cabral e 'Nin'), e dos dois era amigo. Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o inclusive por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos. O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral. Este gostava muito dele, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de.. champagne.

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2015/02/guine-6374-p14218-gloriosos-malucos-das.html

... Fora de brincadeira, e agradecendo o trabalho do José Matos, confesso que no meu tempo (maio de 1969/março de 1971), já receava a escalada da guerra... Para mim«, a Op Mar Verde era a prova provada que já não estávamos numa simples guerra de guerrilha e contraguerrilha, de baixa intensidade...

Ab grande. LG

Luís Graça disse...

... Para além do comandante Pombo, era importante ouvirmos a opinião, qualificada, dos nossos camaradas da FAP, em especial dos pilotos e pilotos aviadores, com destaque para os então tenentes pilav, de 1972/74, Miguel Pessoa e António Martins de Matos que nos honram há muito com a sua presença, ativa, na Tabanca Grande...

Anónimo disse...

Amigos
Nessa altura , julho de 1963 estava destacado no Xitole em reforço do Pelotão Independente, não me recordo o dia, fomos fazer uma incursão na região de Mina, quando ouvimos o troar dum F-16(Sabre) e o Alferes Cardoso Pires ordenou que precisava-mos de deslocar rápidamente para uma clareira pois podiamos ser confundidos com turras. De facto, o piloto viu qualquer coisa em baixo e voltou a passar rente às árvores para verificar e fez a manobra de balouçar as asas, confirmando que nos tinha reconhecido. Passado pouco tempo ouvimos um troar doutro jacto vindo de sudeste, da direcção da Aldeia Formosa. Fizemos a manobra anterior, mas qual é o nosso espanto que o aparelho era totalmente diferente, dirigia-se na direcção do Fiofioli, mas de repente fez uma curva rápida e desapareceu para Sul.
Quando chegamos ao Xitole mandamos um rádio informando o sucsdido.
Também no fim de Maio,desse ano, num patrulhamento, com actividade diurna e nocturna, ma Região da Ponta do Inglês, eram cerca da 11 da noite e ouvimos o barulho dum heli, que pairava com uma potente luz para baixo, de repente vimos que baixava, comunicamos rápido para Bafatá, informando o facto.
Passada cerca de meia hora levantou e seguiu para Sul
Mais tarde já em setembro ou outubro de 1964, estavamos em Catacunda-Norte, perto de Fajonquito, também perto das 11 da noite ouvimos um hélio vindo de norte (Senegal), vinha em nossa direcção de repente virou em direcção oeste para a região de Cambaju (grande) e Banjara. Diziamos Cambaju Grande para distinguir da tabanca Cambaju que ficava na estrada entre Fajonquito e Colina do Norte, junto à fronteira do Senegal.
Claro que estes aparelhos não podia ser nossos, pois a nossa Força Aérea não circulava de noite. A única vez que vi actividade aérea, foram um Dakota e uma Auster ou Dornier que vieram buscar uns feridos a Bafatá, já perto das 10 da noite, pois tivemos que fazer a segurança à pista e colocar garrafas de cerveja com mechas acesas.
Normal era actuarmos em sintonia com os T-6 em muitas operações
Alcidio Marinho
2º Sargento Miliciano(Furriel)
C.C. 412 - 3º Pelotão
9-Abril/1963=29-Abril/1965

Chapouto disse...

No meu tempo em aviões não se falava mas sim em helicópteros.
Como já contei o episódio de fazer uma patrulha para os lados do aeroporto com umas cordas para tentar encontrar um helicóptero e amarra-lo com as cordas era guerra, nem sei de quem partiu a ideia eu ri-me.
Quando cheguei à Guiné havia los T-6 para o final da comissão apareceram os Fiat

Fernando Chapouto

Jose Matos disse...

Olá Luís e restantes amigos

Agradeço os vossos comentários, que acrescentam sempre novos dados à discussão.

Começando pelo Augusto Silva Santos tem toda a razão no comentário que faz, de facto circularam informações entre a tropa quanto à possibilidade de um ataque aéreo a Bissalanca. Falava-se mesmo na possibilidade de esse ataque acontecer em janeiro de 1974. Como se viu, esses receios eram exagerados. O que descobri é que nem os cubanos, nem os guineanos, estavam interessados em atacar Bissalanca ou qualquer outro ponto na Guiné.

O comentário do Henrique Cerqueira também é interessante, pois as autoridades portuguesas pensavam mesmo que os guineanos tinham MiG 19 e até 21, quando na verdade não tinham nada disso, apenas o MiG-17. Também há alguma razão no comentário sobre a aselhice dos guineanos no uso dos MiG, basta dizer que praticamente só voavam com os cubanos e habitualmente a asa, tendo tudo o que dizia respeito à manutenção dos aviões numa lástima. Se não fossem os cubanos, os MiG nem levantavam.

O grau de operacionalidade dos MiG sempre foi baixo e só melhorou com os cubanos.

Quanto aos pilotos do PAIGC que o Luís refere, de facto estavam a ser treinados na URSS para pilotar MiGs, mas com a independência voltaram à Guiné, sem aviões. Provavelmente a ideia, no tempo da guerra, seria usarem os MiGs guineanos enquadrados pelos pilotos cubanos, no mesmo tipo de missões que os cubanos já faziam, ou seja, patrulha e vigilância da fronteira. Não estou a ver que os guineanos os deixassem usar os MiGs para um ataque a posições na Guiné. Outra hipótese eram os russos forneceram dois ou três MiG para o PAIGC usar, mas não estou a ver isso a acontecer.

O relato do Marinho também é muito interessante, pois está de acordo com os avistamentos e mesmo detecções que a malta fazia na altura. O problema é que não sabemos se eram ou não helicópteros ao serviço do PAIGC, pelo menos não há informação nenhuma segura sobre isso. Quanto a incursão de um jacto também nada se sabe sobre a sua origem? Seria guineano? É possível, mas não me parece que tivesse intenções ofensivas.

Ab

José Matos

Anónimo disse...

Carlos Milheirão
8 set 2015 11:20


Em 1974, em Gadamael Porto, ouvíamos falar dos "MIG 21", sim senhor.
Supostamente também havia canhões supersónicos.

Abraço a todos.

Henrique Cerqueira disse...

Luís e restantes comentadores:
As recordações vão aparecendo em conformidade com o desenvolver do tema.
Recordo agora que no dito folheto era destacado como certo a imagem dos MIG 15 e 17 e como informação suplementar vinha a imagem dos MIG 19 e 21.
Por essa altura pousaram em Bissorã dois T6 (já não me recordo qual o motivo,mas penso que foi por uma avaria qualquer de um dos aviões)e foi nessa altura que em conversas no bar com os pilotos que ficamos a saber da inoperacionalidade dos MIG com os possíveis pilotos Guineenses devido á sua má formação de pilotagem.
Já agora me lembro também que no folheto avisava os militares que tivessem família junto de si que deveriam providenciar o mais rápido possível o seu regresso á Metrópole.Isto se passou entre Dezembro de 1973 e inícios do ano de 1974. Já nessa altura os nossos pilotos voavam com muitas dificuldades devido aos mísseis que os abatiam com alguma facilidade.
Por essa altura as evacuações tornaram-se muito complicadas. Ouvia-se dizer que só os pilotos mais "antigos" é que arriscavam fazer ataques a grande altitude.
Aproveito ainda para homenagear os nossos bravos pilotos e pessoal aeronáutico que na altura se debatia com problemas de logística muito graves , isto segundo o que conseguia-mos ir sabendo por informação de colegas nossos das transmissões,pois que a nível de comando e no local onde me encontrava as informações corretas e necessárias eram da pior qualidade e uso este termo para ser brandinho ,pois que já se passaram muitos anos e não há necessidade de mexer muito na "ferida" até porque muitos dos altos responsáveis já morreram e de uma forma ou outra temos de respeitar os nossos mortos.
Henrique Cerqueira

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caros Amigos:

Lembro-me muito bem que em finais do ano de 1973, eu próprio (com 13 anos) e um irmão mais velho com 15 anos construimos um "Abrigo antiaéreo" em pleno quintal da casa onde vivia na Base Militar de Santa Luzia, com abastecimentos e tudo ....... Enfim era sem dúvida um entretimento de jovens adolescentes, mas fruto também do "Clima Psicológico" da altura e dos tais "Boatos" sobre um eventual ataque aéreo a Bissau que se esperava a qualquer altura.
Em plenas férias escolares do Natal de 1973, os "Boatos de um ataque aéreo" intensificaram-se ao ponto da minha mãe que na altura era professora na Escola Comercial em Bissau, ter entrado em casa com uma colega professora, toda preocupada que se esperava o "dito ataque" a qualquer momento! Eu não altura não me preocupei muito, pois como já referi, tinha um abrigo antiaéreo (por mim construido e pelo meu mano mais velho) e nesse mesmo dia resolvi melhorá-lo. De facto nós sabíamos que se realmente houvesse "o dito ataque aéreo", as Instalações do Q.G. de Santa Luzia seriam logo dos primeiros Alvos a atingir, para conseguirem comprometer todo o tipo de logística das diversas operações militares em curso na altura ..... Lembro-me muito bem que nesse Nata de 1973, o meu falecido Pai (CEM/CTIG) saiu cedo de casa (logo a seguir à Ceia de Natal que foi realizada muito cedo) para se deslocar para o Q.G. onde passou toda a Noite a desempenhar as suas funções, já que nessa noite os Militares estiveram de Prevenção ........ Seria fruto desses "boatos" ou de "informações mais credíveis" dos Serviços de Inteligência Militar? Não sei , só me lembro destes factos!

Grande Abraço

Luís Gonçalves Vaz

Manuel Luís Lomba disse...

Reitero as minhas saudações ao "mestre" José Matos, ora valioso activo corpóreo e incorpóreo da tertúlia Tabanca Grande.
Em 1981, com o B 707 Combi (passageiros e carga) da carreira TAP a percorrer a pista de Bissalanca, eu fixar-me nas metralhadoras enferrujadas jazidas nas valas ao longo dela e acabei a contemplar 4 MIG´s negros na placa, qual palco de um Dakota, mais quatro ou cinco T 6 e Do, cobertos de pó e muito degradados, mas em que sobressaía a cruz de Cristo, tendo por pano de fundo um grande letreiro "Presas capturadas ao Inimigo". Então "os meus olhos ficaram mar"...
Ao voltar ao aeroporto, no âmbito do exercício profissional, perguntei ao meu dedicado anfitrião, alto quadro do partido e do governo, esforçado em convocar o sentido de humor.
- Foram aqueles MIG`s que caçaram aqueles aviões tugas?
- Não; eles é que deixaram. Na guerra russos não deram aviões. Vieram depois da independência. (Para a generalidade dos guineenses, a independência era contada a partir da entrega das chaves de Bissau ao PAIGC, em 10 de Setembro de 1974) e não a independência de Madina do Boé, em Setembro de 1973).
Quanto à veracidade do corpo de pilotos guineenses, o testemunho do comandante Pombo constituirá suficiente meio de prova.
Com perguntas directas, em regra obtinha-se respostas líquidas ora de ardor revolucionário ora evasivas; mas a revelação pelos nossos interlocutores do seu verdadeiro conhecimento dos factos não resistia à "bebida gelado" franqueda - o verde branco Gatão ou Aveleda.
Relativamente à ameaça dos MIG´s na guerra da Guiné, fiquei com a ideia e adquiri relativa certeza de que Sekou Touré não os aceitava "graciosamente" no seu território e a Rússia exigia parqueá-los em base nos dois terços do território libertado pelo PAIGC - Cufar ou Nova Lamego! - enquanto o ocupante Portugal não desamparasse a sua loja Bissau... Dialéctica interessante.
Como nossa inimiga, a Rússia não permitia que cooperante seu pusesse o pé por terra, mar ou ar na Guiné Portuguesa, sub-empreitava tal empresa aos seus dominados na Europa de Leste e a Cuba. Quanto aos nossos aliados, suecos, noruegueses, holandeses, filandeses, americanos - temos dito.
A "Operação Mar Verde" legou à História a coragem e valentia dos portugueses ao serviço da sua pátria e e a graduação da ousadia das suas elites investidas no mando. Se quem mandou fazer aquilo ousasse arriscar a cobertura de uma esquadrilha de F86 ou coisa parecida, poderia ter sido outra a História da catastrófica Descolonização.
Um abraço a todos os comentaristas.
Manuel Luís Lomba