sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15105: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte V - A Guiné a ferro e fogo

1. Parte V do trabalho "Como Tudo Aconteceu", da autoria do nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67), enviado ao nosso Blogue em 29 de Agosto de 2015:


COMO TUDO ACONTECEU

PARTE V

A GUINÉ A FERRO E FOGO


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Nota do editor

Poste anterior da série de 27 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15045: Como Tudo Aconteceu (Manuel Vaz, ex-Alf Mil da CCAÇ 798): Parte IV - A Guiné: O Parente pobre da Colonização Portuguesa

4 comentários:

Luís Gonçalves Vaz disse...

Caro Manuel Vaz:

"A Ferro e Fogo", é sem dúvida um Título sugestivo para "este registo histórico"!

Sem dúvida que a História da Guiné Bissau é muito rica em conflitos inter-étnicos, mas também um local muito rico culturalmente, já que numa área relativamente pequena, coexistem muitas etnias com origem tão diversa. No entanto a partir do século XIX os conflitos registados neste mesmo território, continuaram a envolver povos autóctones, mas existiram bastantes conflitos entre diversas etnias da Guiné e os Portugueses, sobrando também para os Franceses e Ingleses. Por exemplo, no ano em que foi criado o cargo de Governador da Guiné, com sede em Bissau (1853), os "Papeis" sublevaram-se e atacaram Bissau com tal "intensidade" que a nossa sorte, quem nos valeu ....... foram Forças Francesas, pois o Brigue Françês "Palimure" desembarcou um destacamento em socorro desta Praça de Bissau. Neste conflito que "salvou na altura a nossa face", morreu mesmo um oficial francês, o tenente La Gillardaie, entre outras baixas. Pouco depois, em 1856, Honório Pereira Barreto , distinto militar e administrador colonial português com ascendência Guineense (pela mãe) e Cabo-verdiana (pelo pai), consegue forçar a submissão dos "Nagos". Este oficial Manteve o controlo Português da área e ainda estendeu a sua influência, tendo exercido os mais altos cargos, desde Provedor de Cacheu a Governador da então Colónia Portuguesa da Guiné. Enfim gostei de ler o seu "Post", deve continuar a presentear-nos com estes artigos históricos.

NOTA: Honório Barreto morreu na Fortaleza de São José da Amura, em Abril de 1859, sendo Tenente-Coronel de Artilharia de Segunda Linha.Nascido em Cacheu no dia 24 de Abril de 1813, filho de mãe guineense e pai cabo-verdiano, ascendeu três vezes em períodos diferentes e por mérito próprio ao posto de Administrador, ao tempo a hierarquia máxima daquela então Província.Foi também galardoado com o grau de Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada. Só muito mais tarde, aquele cargo passou a denominar-se de Governador, honra que lhe foi atribuída no ano da sua morte, ocorrida em 26.4.1859.

Abraço

Luís Gonçalves Vaz

Anónimo disse...

Amigo Luís Vaz:
Agradeço as "achegas" ao Capítulo V, agora publicado, sem pretenções a historiador, pois não tenho formação especial nesse domínio.No meu Post 14884 apresento os objetivos do trabalho. O "regresso" à Guiné, depois da reforma, através do Blogue, revelou-me que afinal nada sabia sobre aquele território e as suas gentes. Decidi por isso atualizar-me e daí a pensar que poderia ser útil apresentar um trabalho sobre o percurso da pesquisa que ia fazendo, foi um ápice. É o que estou fazendo com muito gosto: partilhar a minha pesquisa, somente isso.
Um abraço. Manuel Vaz

Cherno Baldé disse...

Caro amigo Antonio,

Sem duvida, uma resenha historica bem conseguida, mas, na minha opiniao, demasiado comprimida, passando por cima de acontecimentos e de nomes de citacao quase obrigatorias para a época e sua importancia histórica.

A titulo de exemplo, quando escreves, em nota de rodapé, que “por volta de 1801 os Fulas do pais Haussa revoltaram-se contra os reis locais…” aqui seria importante, quase obrigatorio, citar o nome de Othman Dan-Fodio (Osman Danfódjô) que liderou a revolta em nome da ‘Djihad’ com sucesso, fundando o primeiro estado teocratico da Africa Ocidental (Sokoto) que, por arrasto, outros “Djihadistas” iriam seguir o exemplo nessa mesma regiao, criando uma situacao de permanente instabilidade. A sua importancia capital reside no facto de que, eh preciso compreender e fazer a ligacao daquela época com a época actual a fim de melhor compreender as origens de fenómenos como o “Boko Haram” dos dias de hoje, na mesma região, com os mesmos contornos e ingredients, apresentando os mesmos perigos dos verificados em principios do sec. XIX.

Mais a frente, e ainda em rodapé, que “em 1810, um Marabu (Sekou Hamadou?) apodera-se de Djenne e Tombuctu e funda a capital do seu imperio (Macina) em Hamdallaye (Louvado seja Allah). Este estado ira manter-se ate 1862, altura em que sera atacado por (outro djihadista) El-hadji Omar…”. Aqui importava referir que tratava-se da agressao de um “novo Djihadista” contra um “antigo Djihadista” com o pretexto de que a sua pratica ou via religiosa nao era suficientemente pura e autentica pelo que era preciso extirpar e renovar atraves da imposicao de um novo ritual e pratica religiosa quando, na verdade, o que estava em jogo era a vontade de dominar e subjugar as populacoes em nome de Allah.

Eh importante compreender e desmistificar este fenomeno que se assemelha a uma coisa que se poderia chamar de “a maldição do Islamismo” ou seja a ambicao permanente e generalizada de dominar os outros utilizando o pretexto de uma pseudo-autenticidade religiosa que, de facto, nao existe e nunca existiu em lado algum.
Falando mais concretamente dos acontecimentos ligados ao territorio da Guine-portuguesa e das investidas de Mussa Molo (Filho de Alfa Molo)1, importa realcar que, no periodo em referencia, os regulados dirigidos por Fulas (em grande maioria-Fulas-Forros), como eram os casos de Ganadu (com o Nbuku), Korla ou Sankorla aspiravam a libertar-se do dominio de Mussa Molo (um Fula-Preto) com ambicoes de mudar ou substituir a ordem social vigente na epoca, o verdadeiro detentor do poder conquistado aos Soninques num territorio (imperio?) demasiado grande para as suas reais capacidades de dominio e de controlo efectivo (da bacia do rio Casamansa a bacia do rio Corubal).

Nota: Mussa Molo nao esperou pela morte do pai, Alfa Molo, Fula-Preto que liderou a revolta contra os Mandingas para assumir o poder real e aproveitar também para “libertar” os Fulas-Pretos da sua condicao de captivos (escravos domesticos) e ampliar o territorio sob a sua dominacao, ambicao que iria chocar-se com os interesses das potencias Europeias na região.

Com um abraco amigo,

Cherno Baldé


Anónimo disse...

Amigo Cherno Baldé:
Como te agradeço, mais uma vez, os teus comentários verdadeiramente esclarecedores! Nota que escrevi estes 6 Capítulos de "Como Tudo Aconteceu" para a "malta", para toda a "malta", como frisei no prefácio do primeiro Post e referi no comentário anterior. Não pretendi escrever a História destes acontecimentos e provavelmente nem seria capaz de o fazer. Mas ainda bem que completaste, o que agradeço.
Para terminar, sublinho que, por coincidência, aparecem novamente envolvidos em comentários dois "Vazes" e o Cherno. Eu sou o Manuel. Mas não há problema, é apenas um lapso.
Um abraço do Manuel Vaz