terça-feira, 8 de setembro de 2015

Guiné 63/74 - P15090: (Ex)citações (290): Que ele havia, no meu tempo, coisas estranhas no céu, havia... Se eram aeronaves inimigas ou ovnis, não sei... (Henrique Cerqueira, Bissorã, 1972/74; Alcídio Marinho, Xitole e Bafatá, 1963/65)



A metralhadora ligeira Dreyse 7,9 mm m/938, de fabrico alemão...

1. Dois comentários ao poste P15086 (*):

1.1. Henrique Cerqueira [, ex-fur mil,  3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, e CCAÇ 13, Biambe e Bissorã, 1972/74; vive no Porto]:

Já em determinada altura eu comentei aqui neste blogue a situação dos MiG na Guiné. Pois que em 1973,  perto do final do ano ( já não consigo precisar...), nós,  as tropas sediadas em Bissorã e na altura estando eu na CCAÇ 13, recebemos uma espécie de panfleto com imagens dos MiG 19 e 21 e junto dessas imagens umas instruções de como reagir ao avistar essas aeronaves...

Claro que o(s)mentor(es) desse papelinho achavam que talvez fossemos super-homens com os poderes de ouvirmos e vermos os aviões antes de passarem, visto que os ditos são supersónicos.

Mas o mais ridículo da informação contida no famigerado panfleto era que devíamos adaptar a mira antiaérea na metralhadora Dreyse [, metralhadora ligeira Dreyse 7.9mm m/938, ] e disparar para os ditos aviões.

Bom, a malta partiu a moca a rir e,  infelizmente,  rasgámos os ditos panfletos e assim hoje não tenho essa prova documental de tanta burrice que havia nas mentes de alguns dos nossos comandos superiores da altura. Poderá ainda haver alguém se lembre desta façanha, alguém que tenha passado por Bissorã nessa altura até 1974.

Já agora acrescento que em 1973/74 tivemos informações que os pilotos eram estrangeiros (cubanos, russos,  checos e afins...) e que pelos vistos os candidatos a pilotos naturais da Guiné em instrução de voo deram cabo de uma data de aeronaves e tiveram que adiar por uns tempos a utilização por pilotos guineenses (o que nunca veio a acontecer,  como se sabe não é?...).

Fui aqui contando do que me lembro da altura em relação a esse tema dos Aviões MiG. Alguma coisa pode ser só histórias de "caserna",  mas o dito panfleto é mesmo real.

Henrique Cerqueira
1.2. Alcídio Marinho [ ex-fur mil inf, CCAÇ 412 
(Bafatá, 1963/65); vive no Porto:

Amigos:

Nessa altura,  julho de 1963,  estava eu destacado no Xitole em reforço do Pelotão Independente, não me recordo o dia, fomos fazer uma incursão na região de Mina, quando ouvimos o troar dum F-16 (Sabre) e o alferes Cardoso Pires ordenou que precisavámos de nos deslocar rapidamente para uma clareira pois podíamos ser confundidos com turras. 

De facto, o piloto viu qualquer coisa em baixo e voltou a passar rente às árvores para verificar e fez a manobra de balouçar as asas, confirmando que nos tinha reconhecido. Passado pouco tempo ouvimos um troar doutro jacto,  vindo de sudeste, da direcção da Aldeia Formosa. Fizemos a manobra anterior, mas qual é o nosso espanto que o aparelho era totalmente diferente, dirigia-se na direcção do Fiofioli, mas de repente fez uma curva rápida e desapareceu para Sul.

Quando chegamos ao Xitole mandamos um rádio informando o sucedido.

Também no fim de maio desse ano,  num patrulhamento, com actividade diurna e nocturna, na região da Ponta do Inglês, eram cerca da 11 da noite e ouvimos o barulho dum heli, que pairava com uma potente luz apontada para baixo... De repente vimos que baixava, comunicámos rápido para Bafatá, informando o facto. Passada cerca de meia hora levantou e seguiu para Sul.

Mais tarde,  já em setembro ou outubro de 1964, estávmos em Catacunda-Norte, perto de Fajonquito, também perto das 11 da noite,  ouvimos um hélio,  vindo de norte (Senegal), vinha em nossa direção, de repente virou em direção oeste para a região de Cambaju Grande e Banjara. Dizíamos Cambaju Grande para distinguir da tabanca Cambaju que ficava na estrada entre Fajonquito e Colina do Norte, junto à fronteira do Senegal.

Claro que estes aparelhos não podiam ser nossos, pois a nossa Força Aérea não circulava de noite. A única vez que vi atividade aérea, foram um Dakota e uma Auster ou Dornier que vieram buscar uns feridos a Bafatá, já perto das 10 da noite, pois tivemos que fazer a segurança à pista e colocar garrafas de cerveja com mechas acesas.

Normal era actuarmos em sintonia com os T-6 em muitas operações.

Alcidio Marinho
ex-fur mil
CCAÇ 412 - 3º Pelotão
9 abr 1963 / 29 abr 1965
________________

Notas do editor:

(**) Último poste da série > 4 de setembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15072: (Ex)citações (289): A propósito de Casamansa: a Guiné-Bissau não devia alimentar orgulhos caducos e tem a obrigação de respeitar as fronteiras coloniais existentes, se quiser continuar a existir como país.

6 comentários:

Luís Graça disse...

Hnerique, metralhadora ligeira Dreyse m/938 ou HK 21 ? Na CCAÇ 12 (1969/71), já não tínhamos a Dreyse... Em Tavira, aprendi a utilizá-la...


Diz a Wikipedia:

(...) "No final da década de 1930 a maioria das metralhadoras MG13 em serviço na Alemanha foram vendidas a Portugal, que se tornou no seu principal utilizador. Neste país a arma foi denominada Metralhadora Dreyse m/938. A arma tornou-se a metralhadora ligeira padrão dos Pelotões de Infantaria do Exército Português, sendo utilizada até ao início da Guerra do Ultramar na década de 1960. A partir daí foi sendo substituída pela MG42 e, posteriormente, pela HK-21." (...)

Abraço grande... Luis

Luís Graça disse...

A entrada na Wikipedia é MG 13...

https://pt.wikipedia.org/wiki/MG13

(...)" A MG13 foi uma metralhadora ligeira de origem alemã projectada a partir da transformação da Dreyse MG10, um protótipo de metralhadora arrefecida a água da Primeira Guerra Mundial, num modelo de arrefecimento a ar. A MG13 foi introduzida ao serviço das forças armadas alemãs em 1930 onde serviu como metralhadora ligeira padrão. Em 1934 começou a ser substituída pela MG34 um modelo de produção mais barata e com maior cadência de tiro. A maioria das armas foram então vendidas a Portugal. Algumas das MG34 que ficaram nos depósitos alemães forma recolocadas ao serviço durante a Segunda Guerra Mundial.
A MG13 foi projectada para ser municiada através de um carregador de 25 munições ou através de um característico carregador duplo redondo de 75 munições (carregador de sela). Estava também equipada com uma coronha rebatível e com uma alça de transporte." (...)

Antº Rosinha disse...

Os pilotos de aviões, avionetas e helicópteros portugueses, provocaram um debate no Brasil, muito semelhante àquela guerra dos dentistas brasileiros por cá.

(E das meninas de Bragança, voilá)

A seguir ao fim da guerra do ultramar, muita malta dos aviões e helicópteros, fez como eu, "refugiámo-nos" no Brasil e outros lugares.

E a fama da capacidade desse pessoal portuga era tal que foram roubar os empregos aos profissionais brasileiros.

Com passar dos anos, e com estes debates que aqui uns tantos nos entretemos, hoje podemos dizer abertamente que os Russos e Conakry também acreditavam, como os brasileiros, que a FAP tinha pessoal com uma capacidade muito especial.

E quem tem cu tem medo (sem aspas).

Aliás, hoje ninguém tenha dúvida que se escrevessemos em inglês, já havia imensos filmes em que os heróis eramos nós e os africanos que lutaram connosco, lado a lado.

Heróis que perdemos a guerra, mas não perdemos a razão, essa esteve sempre do nosso lado, mas falta-nos o inglês.

Mas claro que o não avançarem com aviões e carros de combate sobre Bissau também meteu muita política internacional.

Porque os mabecos (mabeco=cães selvagens que em matilha atacam o leão para lhe roubar a presa), votavam a expulsão à força de armas com um exército mandatado pela ONU.

Vetava ou a França ou a Inglaterra.

Mas os inúmeros votantes contra nós eram principalmente aqueles novos países chamados de afro-asiáticos e uns não alinhados com qualquer porra, e apoiados pelos que estavam do outro lado da cortina férrea, e apoiados por todos os partidos europeus chamados da esquerda socialista (PCI; PCF; PCE;SPD e PCP e uns PEÉSSES lá do norte).

Mas já passou, e agora até se estão todos a fundir.







Henrique Cerqueira disse...

Luís
É para se ver que o dito folheto era disparate sobre disparate. Pois que eram poucas ou nenhumas as metralhadoras Dreyse (agora sim está bem escrito)que existiam na Guiné.Embora eu pense que no Biambe estava uma operacional. Mas tal como tu eu aprendi em Tavira a disparar a dita que era muito famosa pelo seu cano de refrigeração ser perfurado e de fácil desmontagem para se mijar nele quando aquecia.Nunca experimentarei,até porque nas instruções de tiro as armas nem chegavam a aquecer tal era a poupança nos gastos. Bom mas isso são "contas de outro rosário"
Um abraço e voltemos aos MIG.
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Manuel Passos
9 set 2015 23:40

Não ouvi falar.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Não vi, nem li o tal "folheto".
Suponho que a minha companhia não o recebeu.
Era, de facto um disparate com pernas, mas o Exército tinha destes ataques de humor, algum negro, como foi o caso de uma circular que obrigava os artilheiros das peças 11,4 cm a usar capacete. A questão tinha surgido devido a rebentamentos a 150 metros da boca, no momento em que a espoleta armava. Era material da II Guerra, com muito tempo de depósito e que usava a mesma espoleta do obus 14 cm, com menor velocidade inicial, logo mais seguro.
Hoje faria sentido já os militares usam coletes à prova de bala e caneleiras que os protegem, mas naquele tempo...
O problema estava, tal como nas metralhadoras AA 20 mm e 12,7 mm, cujas miras já não tinham anéis de velocidade compatíveis com as velocidades dos aviões do tempo.
Mas valeu pelo esforço, uma vez que a Dreyse, que ainda se ensinava, em 1969, na IB, era a única Met Lig que tinha alça para tiro AA.

Um Ab.
António J. P. Costa
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