Eminente e inesgotável...
Como uma garça elegante e leve,
avança para o piano,
de cauda longa e aberta,
sob uma chuva de palmas quentes
da assembleia sôfrega de a ouvir.
Faz-lhe uma vénia reverente.
Ajeita a si o banco.
Se concentra.
E seus dedos poisam suaves
sobre as teclas ainda dormentes.
Faz-se silêncio.
Surgem sons trinados.
Se evolam pelo ar em labareda.
Dum piano e uma orquestra.
E nossas almas, de tão sedentas,
de paz e harmonia,
se inebriam
e voam com eles,
num bailado de cores e luzes,
como quando se apaga a dor,
dum eterno sofrimento.
Tudo ali é o nosso mundo.
Não há mais nada,
senão nós e elas.
Em graciosa cavalgada.
Encosta acima.
Cabelos ao vento.
Sem descanso, até ao cimo.
Ó magnífico deslumbramento
da vitória
que é só nosso
e do firmamento azul,
em fulgurosa majestade!...
Abençoadas horas.
Estas em que não há tempo.
Arde o nosso peito.
Já não somos nós.
Só temos alma
e não o corpo.
Bendito Brahms que concebeu para a gente
este concerto belo!...
E aquelas mãos de artistas sábios
que o interpretam assim bem
como mais ninguém...
Ouvindo concerto n.º1 de Brahms para piano e orquestra
Berlim, 29 de Novembro de 2015
5h47m
ainda reina a madrugada fria
Jlmg
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15399: Blogpoesia (425): Primeira neve... (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf)
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