Foto (e legenda): © Carlos Alberto Fraga (2011). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís
Graça & Camaradas da Guiné]
I. Mensagem de Carlos Alberto Fraga que foi alf mil na 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4612/72, em Mansoa, na segunda metade do ano de 1973 [foi adjunto, num curto período de 4 meses, até finais de 1973, do cap José Manuel Salgado Martins, indo depois ele próprio comandar, como capitão, uma companhia em Moçambique, a seguir ao 25 de abril de 1974].
Data: 17 de outubro de 2016 às 10:42
Assunto: inquérito
O inquérito sobre os familiares no mato parece-me que pode conduzir a erros, da maneira que está formulado.
Por exemplo, eu estive em Mansoa e quando lá estive não havia familiares de militares em Mansoa, embora me dissessem que em tempos esteve lá um casal (um alferes miliciano e mulher). Mansoa era uma zona bem protegida com várias companhias, etc, etc. Mas, em Bissorã, cerca de 30 kms a Norte,
um local menos defendido do que Mansoa, aí havia familiares de um oficial superior.
Portanto, respondendo só sobre Mansoa, a resposta é não; respondendo mais genericamente, a resposta é sim por causa de Bissorã. Qualquer das respostas não será exacta.
Cidades como Bissau, Nampula, Beira, Nacala, Vila Cabral etc., creio que não podem ser consideradas «mato». Aí havia montes de familiares de militares. Eram zonas seguras. Parece-me que o objectivo do inquérito - ou terei percebido mal -, se referia a zonas não totalmente seguras.
O «mato» por definição não é uma zona segura.
Abraço
Fraga
Guiné > Zona leste > Região do Gabu > Recepção do povo de Nova Lamego ao Ministro do Ultramar, 14 de Março de 1970 (**)
Foto (e legenda): © José Corceiro (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
III. O comentário do nosso colaborador permanente José Martins [ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70] levanta a questão da especificidade das tropas africanas, como era o caso da CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos -, que estiveram sempre em Canjadude, região de Gabu (*):
No meu caso, por estar colocado numa unidade da Guarnição de Recrutamento Local, estas questões são um pouco atípicas.
As tropas africanas, na sua maioria, pelo menos na CCAÇ 5, eram casados e alguns com já bastante tempo de tropa. Em 1974, quando foi extinta, havia recrutados de 1961, tendo, nesse caso, feito o pleno da guerra.
As mulheres e os filhos, que viviam na parte civil agregada ao quartel, só não os acompanhavam nas operações no mato. Nas colunas à sede do batalhão, marcavam sempre presença.
No caso de europeus, apenas, e estou a tentar reportar desde 1961 a 1964, apenas houve uma
residente efetiva. A esposa de um capitão que foi destacado do comando da CCS do Batalhão de Nova Lamego, para a CCAÇ 5. Em tempo recorde foi construído, dentro do perímetro militar, um abrigo para alojar o casal. A senhora ficou em Nova Lamego apenas o tempo da construção do abrigo. Assim que ficou "habitável" o abrigo, transferiu-se para Canjadude, frequentando o refeitório dos graduados, nas refeições, à excepção do pequeno almoço, que o serviço de "catering" lhes levava.
Um outro caso, posterior à minha presença: houve um Furriel QP que esteve doente, vindo a falecer, que não foi evacuado, mas foi "patrocinada" a presença da esposa no aquartelamento.
Portanto, a minha resposta é Sim, estiveram no aquartelamento mulheres e filhos, de militares, quer africanos quer europeus.
Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Nova Lamego > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > Saída de Nova Lamego para Canquelifá com "armas, bagagens, mulheres e filhos dos nossos soldados"
Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Recorde-se que o nosso questionário tem a seguinte configuração:
"NO MATO, NO(S) SÍTIO(S) ONDE EU ESTIVE, NA GUINÉ, HAVIA FAMILIARES NOSSOS"...
1. Sim, esposas (não guineenses)
2. Sim, esposas e filhos (não guineenses)
3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias)
4. Não, não havia
5. Não aplicável: não estive no mato
6. Não sei / não me lembro
A questão que o Carlos Fraga nos coloca amavelmente é pertinente, mas tem de ser resolvida com bom senso, objetividade e honestidade: o Carlos esteve em Mansoa, na região do Oio, na segunda metade de 1973, e nessa altura não havia familiares de militares, metropolitanos, a viver no quartel (e vila) de Mansoa. (Não importa se, por exemplo, no tempo do César Dias, em 1969/71, a situação fosse outra, e ele tivesse convivido com familiares de militares nossos.)
Mas ele tem conhecimento de que em Bissorã. mais a nordeste, também na região do Óio, há um oficial superior que tem lá familiares... Mansoa e Bissorã ficam no "mato", disso ninguém tem dúvidas. A resposta do nosso camarada Carlos Fraga só pode ser, honestamente, a resposta 3 (Não, não havia)... E a do César Dias será 1. Sim, esposas (não guineenses).
Em caso de dois ou mais aquartelamentos por onde passou, no TO da Guiné, o respondente ao inquérito deve tomar como referência aquele onde esteve a maior parte da comissão: por exemplo, se se esteve 15 meses no Xime, e os restantes 6 meses em Quinhamel, deve-se tomar como referência o Xime e não Quinhamel, e sempre o período em que lá se esteve (por exemplo, 1969/71 ou 1972/74).
O formato do questionário só nos permite trabalhar com mais de uma pergunta. Além disso, a pergunta tem de ser curta... Admite, no entanto, mais do que uma resposta: neste caso, por exemplo, até 3 respostas:
1. Sim, esposas (não guineenses); 2. Sim, esposas e filhos (não guineenses); 3. Sim, familiares guineenses (sem ser das milícias).
O Zé Martins tem razão no que diz respeito às tropas do recrutamento local (excluindo milícias...) como era o caso da CCAÇ 5 (a que ele pertenceu, em 1968/70) ou a CCAÇ 12 (a que eu pertenci, em 1969/71) ou a CART 11 (a que pertenceu o Valdemar Queiroz, 1969/70).
No caso de Canjadude, se calhar não havia uma clara distinção entre a tabanca e o aquartelamento. Pode-se considerar que os nossos camaradas guineenses da CCAÇ 5 viviam com as famílias no perímetro militar... Já no caso da CCAÇ 12, não, os nossos soldados africanos viviam com as famílias nas tabancas (Bambadinca e Bambadincazinho), fora do "arame farpado", e sempre armados de G3... Não havia casernas para eles, no quartel de Bambadinca. No meu caso, a única resposta que eu deu foi 1. Sim, as esposas (não guineenses)...
Também passei quase dois meses em Contuboel (junho/julho de 1969), mas não me lembro de lá "ter visto" sequer esposas de militares metropolitanos...
Os respondentes podem sempre, até ao encerramento do inquérito (ou ao "fechar da urna", corrigir a sua opinião /mudar de voto (*).
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)
(**) Vd. poste de 18 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece
(*) Último poste da série > 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16609: Inquérito 'on line' (75): as primeiras 66 respostas, a três dias do fim do prazo (5ª feira, dia 20): só em 28 casos havia famílias de militares, não guineenseses, no mato... "Lembremos que o maior número de militares do quadro não estavam longe de belas cidades como Luanda, Benguela, Uíge, Malange, Lourenço Marques, Beira, Nova Lisboa e Bissau, por exemplo, onde não faltava nada (comentário de Antº Rosinha)
(**) Vd. poste de 18 de julho de 2010 > Guiné 63/74 - P6756: José Corceiro na CCAÇ 5 (15): Canjadude, CCAÇ 5, onde a surpresa acontece
11 comentários:
Missirá era um Quartel ou uma Tabanca? E estar no Mato, o que era ? Tudo fora de Bissau? Bafatá era Mato? ABRAÇO J.Cabral
Eu mesmo (com os Furriéis)morava na tabanca,bem como os soldados e cabos de recrutamento local.
Forte abraço.
VP
Alfero Cabral:
Duas boas questões.... Missirá era a última tabanca do Cuor...Para a malta da CCS do batalhão de Bambadinca, Missirá era um castigo... No teu caso, sei que passaste lá as melhores férias da tua vida... Não difícil convencer o Zé Turra, de Madina / Belel, que "Cabral só há um, o de Missirá e mais nenhum"... Os gajos nunca tinham visto o outro...
Eu sei que que não havia "muro de Berlim" a dividir a tabanca e o quaretl... Como outros destacamentos em tabancas, podemos dizer que era uma tabanca aquartelada ou um quartel atabancado... Quartel para mim é antes de mais um quadrado, ou retângulo, desmatado, com arame farpado á volta (duas fiadas), podendo ter ou não um zona de segurança minada ou armadilhada, com abrigos e espaldões (para as armas pesadas)... Importante: tem tropa regular (um pelotão ou mais)... Podem ter ou não ter população e milícias...
Bafatá só era mato por estar no coração da Guiné... Não havia estrada direta de Bissau a Bafatá, ou melhor, havia-a antes da guerra... Para lá se chegar, no nosso tempo, a partir de Bissau, só de avião ou de heli, de barco "turra" (uma viagem de um dia, de Bissau até lá, com o Geba Estreito feito cobra), ou de barco de Bissau ao Xime ou até Bambadinca (LDG, LMD ou "barco turra") e depois de coluna Xime-Bambadinca-Bafatá ou Bambadinca-Bafatá (aqui já em troço alcatroado)...
No nosso tempo, o troço de 12 km, dp Xime em Bambadinca, em terra batida, tinha de ser picado e ter segurança... Os destacamentos de Amedalai (1 pelotão de milícia) e do Rio Udunduma (1 Gr Comb das NT) davam tranquilidade, em passando a Ponta Coli...
Este material dá para fazer "estória cabraliana"... Umas duas ou três... Abraço grande. Luís
Em relação ao post do meu camarada Fraga,há um pequeno equivoco da parte dele,pois em Mansoa,além de esposa do cmdt do bat,esteve lá também a esposa e filho do Cap. Patrocínio então da C.CAç 15, a esposa e filha de um camarada nosso mas da CCS, assim como a esposa de um furriel (Roma) da CCS. Penso que também a esposa do major de operações da CCS estava lá. Inclusivé numa festa africana em Mansoa,um individuo atirou uma granada para o meio da festa .tendo provocado bastantes feridos, estava lá o camarada Jesus (o tal da CCS) com a esposa e a filhota, que felizmente não foram feridos.
Abraços
Jorge Canhão ex furr. mil. 3ªCª do 4612/72
Em 1964 e 65 a Cart.643-AGUIAS NEGRAS, esta sediada em Bissorã. O seu 1º Sarg. de nome Rogério Meireles , estava acompanhado da mulher e de uma filha de pouca idade, residia numa pequena casa fora do aquartelamento. Acabou ao fim de 1 ano deixar de pertençer á Comp. por ter problemas de estomago , e deste modo foi embora com a familia. Digo de passagem que foi o melhor que fez, pois quando de alguns ataques noturnos, aquelas pobres sofriam bastante. Também o Fur.Vague-mestre mandou ir a mulher, que chegou a Bissau no dia seguinte a ele ter sido ferido, mas sem gravidade. Ele ao fim de uns meses também mandou a mulher de regresso, pelas mesmas razões do anterior caso.
Rogerio Cardoso
Boa noite, camarada,
O camarada Fraga refere que não existiam familiares de militares em Mansoa. Como o Jorge Canhão referiu no seu comentário, tal não corresponde à realidade.
Além dos militares identificados pelo Canhão também o Major António Rebelo Simões, 2º. Comandante do Regimento 4612/72, vivia com a sua esposa. Se assim não fosse como poderia um 1º. cabo Sapador ter sido castigado por estar a "espreitar" a esposa do 2º Comandante do Regimento a tomar banho?
Pauleta,
Carlos Pauleta, essa história do 1º cabo sapador ter apanhado uma porrada por "espreitar" a esposa do 2º comandante do batalhão (e não regimento...) a tomar banho, é de "cabo de esquadra"...
Não sei se o RDM previa essas "coisas"... Será que era um crime de lesa-honra ver a senhora a tomar um banho à fula ?... Quem levava as esposas para sítios como Mansoa ou Bambadinca, cujos quartéis estavam longe de ser hotéis de 5 estrelas, sujeitava-se a estes "desaforos"... Claro que não estou a sancionar o comportamento "voyeurista" do nosso cabo, estou só a ver a "cena"... "Coisas" destas terão acontecido em muitos outros "resorts" turísticos do mato...
O nosso "alfero Cabral" que o diga, também teve os seus dissabores por causa das "esposas"... Recorde-se uma das fabulosas "estórias cabralianas" já aqui publicada há 9 nove (!) anos...
Para os "piras" da Tabanca Grande, convém dizer que se trata de uma série, de fino recorte literário e do melhor humor de caserna que eu já alguma vez li. Infelizmente, por modéstia, ele tarda (ou recusa-se, muito simplesmente) em pôr em livro esta centena de "estórias cabralianas" que eu considero uma verdadeira obra-prima... Confesso, mais uma vez em público, de que sou fã da série, eu e muitos outros leitores do nosso blogue... Um dia destes vou fazer um "crowd-funding" para podermos publicar o livro... O prefácio está prometido há muito... LG
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20 de Abril de 2007 > Guiné 63/7 4- P1682: Estórias cabralianas (1): A mulher do Major e o castigo do Alferes (Jorge Cabral)
(...) Quando de Missirá me deslocava a Bambadinca, seguia sempre a mesma rotina. Primeiro visitava o Bar do Soldado, até porque aí tinha que liquidar as despesas alcoólicas efectuadas pelo meu Soldado Ocamari Nanque, que se encontrava preso. (...)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2007/04/guin-6374-p1682-estrias-cabralianas-1.html
Vem a propósito, mais esta outra "estória cabraliana"... pura e simplesmente deliciosa!
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Numa mão a espingarda, na outra…
por Jorge Cabral
Penso que, já em 1971, apareceu no Batalhão [de Bambadinca], um Alferes de secretariado, corrido de Bissau, por via de uns dinheiros. Chegou acompanhado de uma dama, sobre a qual corriam os mais variados boatos. Dizia-se, calculem, que ela tinha sido uma prenda de aniversário ao Alferes, enviada pelo pai, milionário do Porto.
Nunca a vi, até porque, estando em vigor a cínica moral fascista, à rapariga, não sendo esposa legítima, foi logo vedada a frequência da messe [de oficiais], e até do próprio quartel, tendo sido relegada para a Tabanca, na qual ocupava uma apresentável morança, de larga vidraça sempre aberta, mesmo em frente a um dos postos de sentinela.
Tal posto transformou-se no preferido de toda a soldadesca que, quando em serviço, observava, acompanhando in solo, a actividade sexual do casal, cujas práticas inusitadas passaram a inspirar os eróticos sonhos, mesmo dos mais púdicos.
E tudo continuaria assim, com o óbvio benefício das repetidas descargas de tensão acumulada, não fosse em duas noites seguidas um soldado, quando de sentinela no referido posto, ter disparado, alertando toda a tropa para eminente ataque.
Que havia sucedido? Substituíra o militar a velha divisa camoniana “numa mão a espada, na outra a pena” por outra, mais prosaica, mas que ocupava também ambas as mãos, e quando acabava a função com a direita, não é que com a esquerda accionava o gatilho da G-3...
Jorge Cabral
Em Bissau
Estou bêbado estou sensato estou feliz
Vem dos sovacos um cheiro de Africana
Nas furnas da cerveja desfalece o Sargento
Apalpa o Alferes a puta berdiana
E o cabo vomita mãozinhas de vitela
Será que naufragou esta Caravela?
Que Pátria ainda mora aqui?
Bissau, Janeiro 70
Jorge Cabral
23 DE JANEIRO DE 2006
Guiné 63/74 - P454: Estórias cabralianas (5): Numa mão a espingarda, na outra... (Jorge Cabral)
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2006/01/guine-6374-cdlxxv-estorias-cabralianas.html
Quando estavamos em intervenção no Leste ( Pirada,Canquelifá etc.), estavam sempre 3 pelotões no mato, e um de descanso em Nova Lamego, que não era descanso, pois eramos, pau para toda a obra, desde segurança proxima a Gabu, como segurança a colunas ao Xime, etc. a unica coisa boa, é que não dormiamos em valas nem em abrigos. Mas, vem este comentário pela recordação que a v/foto da n/ Cart.11, a sair de Nova Lamego, Quartel de Baixo, que eram a nossas instalações, vocês não queram saber a confusão, que era levar aquela gente toda, com mulheres filhos, sacos , malas, de Gabú, até aos confins do Leste. Imaginem agora passados tantos anos.
Um abraço, vale a pena recordar.
Eduardo Francisco
18/10/2016
Amigo Companheiro e Camarada,
Acabo de ler a tua mensagem. Lembro-me bem que em 1970 estavam em Farim, a esposa dum Fur Mil. e a esposa e filha dum 1º Sarg.. Não me recordo a que unidades militares pertenciam, mas ambos estavam integrados na guarnição do Batalhão 2879, do qual a minha CCaç 14 fazia parte como unidade de reforço.
Um grande e fraterno abraço
Eduardo Estrela
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