Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1970 > Furriéis milicianos Tony Levezinho e [Luís Graça] Henriques, à civil... Dois amigos para a vida...
Foto: © António Levezinho (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Já aqui recordámos, neste blogue de antigos combatentes, a importância que tinha, no TO da Guiné, durante a guerra colonial, a presença do "fiel amigo" (*)...
Para suprir as falhas da Intendência, eram as nossas próprias famílias que nos faziam chegar, aos aquartelamentos no mato, remessas do tão desejado bacalhau... sobretudo nas datas mais festivas e simbólicas, como o Natal ou o nosso dia de anos.
O "fiel amigo" vinha às postas, devidamente embalado, seco, salgado, e de preferência era do "especial", com a altura de 4 dedos... E ainda o João Alves, que é de Torrres Vedras, não tinha inventado o "bacalhau demolhado, ultracongelado, pronto a cozinhar",,, (A Riberalves aparecereá só em 1985, muito depois de ele vir da Guiné, onde estava quando aconteceu o 25 de abril) (*).
Estou-me a lembrar, isso sim, de um dos amigos que fiz, para a vida, o Tony Levezinho, meu camarada da CCAÇ 12, e um dos membros seniores da nossa Tabanca Grande, tal como o Humberto Reis (**).
É um gentleman, o Tony Levezinho, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970, depois do regresso do inferno... Pai e filho trabalharam na Sacor (mais tarde Petrogal, hoje Galp)... Quando o pai Levezinho se reformou era simplesmente o empregado nº 1 (!).
O Tony chegou mesmo a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros). Reformado, vive hoje com a sua querida Isabel na Tabanca,,, da Ponta de Sagres - Martinhal...
Apesar da sua modéstia, o Tony foi (e continou a ser, mesmo depois de reformado da Galp) um perito na arte do import-export do petróleo e seus derivados... Mas, se eu evoquei aqui o seu nome, foi para contar o seguinte, a título de (in)confidência: graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o "fiel amigo" à mesa, em Bambadinca...
O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, a Bisssau e depois a Bafatá e a Bambadinca, regularmente, transportado no navio-tanque da Sacor até Bissau e depois, "à boa maneira portuguesa", encaminhado até ao seu destino final... A verdade é que o pai Levezinho nunca se esquecia do filho Levezinho e dos seus amigos e camaradas de Bambadinca...
Eu tenho que ter aqui um pensamento de grande ternura e gratidão para com esse homem, o pai Levezinho, que foi um dos nossos bons irãs poisados nos poilões de Bambadinca: o bacalhau que chegava ao Tony Levezinho, periodicamente, através do navio-tanque da Sacor ( ... e da Casa Fialho, no percurso final, de Bissau a Bafatá), não era comido às escondidas, sozinho, mas sim generosa e festivamente partilhado pelos amigos e camaradas mais próximos...
E devo acrescentar que, se não nos matava a malvada (que era muita, aos 22 anos, e para quem palmilhava léguas e léguas pelos matos e bolanhas da Guiné), foi um suplemento de alma, e seguramente ajudou-nos a sobreviver e a regressar a casa, ainda com mais ganas de continuar a viver e a amar as coisas boas da vida, de que o "fiel amigo" fazia (e continua a fazer) parte,,,
2. Ao escrever o poste P17440 (**) sobre uma efeméride ligada à história da pesca do bacalhau, de repente lembrei-me desta história do Tony Levezinho e do seu pai, e as remessas do "fiel amigo" que nos chegavam a Bambadinca através do navio-tanque da Sacor e, depois, da Casa Fialho...
O "fiel amigo" vinha às postas, devidamente embalado, seco, salgado, e de preferência era do "especial", com a altura de 4 dedos... E ainda o João Alves, que é de Torrres Vedras, não tinha inventado o "bacalhau demolhado, ultracongelado, pronto a cozinhar",,, (A Riberalves aparecereá só em 1985, muito depois de ele vir da Guiné, onde estava quando aconteceu o 25 de abril) (*).
Estou-me a lembrar, isso sim, de um dos amigos que fiz, para a vida, o Tony Levezinho, meu camarada da CCAÇ 12, e um dos membros seniores da nossa Tabanca Grande, tal como o Humberto Reis (**).
É um gentleman, o Tony Levezinho, tal como o pai, que eu ainda tive o privilégio de conhecer pessoalmente na sua casa da Amadora, nos primeiros anos da década de 1970, depois do regresso do inferno... Pai e filho trabalharam na Sacor (mais tarde Petrogal, hoje Galp)... Quando o pai Levezinho se reformou era simplesmente o empregado nº 1 (!).
O Tony chegou mesmo a chefe de divisão (o que não era fácil a um self-made man como ele, numa empresa de engenheiros). Reformado, vive hoje com a sua querida Isabel na Tabanca,,, da Ponta de Sagres - Martinhal...
Apesar da sua modéstia, o Tony foi (e continou a ser, mesmo depois de reformado da Galp) um perito na arte do import-export do petróleo e seus derivados... Mas, se eu evoquei aqui o seu nome, foi para contar o seguinte, a título de (in)confidência: graças às suas ligações à Sacor, nunca nos faltava o "fiel amigo" à mesa, em Bambadinca...
O bacalhau e outras iguarias chegavam-nos à Guiné, a Bisssau e depois a Bafatá e a Bambadinca, regularmente, transportado no navio-tanque da Sacor até Bissau e depois, "à boa maneira portuguesa", encaminhado até ao seu destino final... A verdade é que o pai Levezinho nunca se esquecia do filho Levezinho e dos seus amigos e camaradas de Bambadinca...
Eu tenho que ter aqui um pensamento de grande ternura e gratidão para com esse homem, o pai Levezinho, que foi um dos nossos bons irãs poisados nos poilões de Bambadinca: o bacalhau que chegava ao Tony Levezinho, periodicamente, através do navio-tanque da Sacor ( ... e da Casa Fialho, no percurso final, de Bissau a Bafatá), não era comido às escondidas, sozinho, mas sim generosa e festivamente partilhado pelos amigos e camaradas mais próximos...
E devo acrescentar que, se não nos matava a malvada (que era muita, aos 22 anos, e para quem palmilhava léguas e léguas pelos matos e bolanhas da Guiné), foi um suplemento de alma, e seguramente ajudou-nos a sobreviver e a regressar a casa, ainda com mais ganas de continuar a viver e a amar as coisas boas da vida, de que o "fiel amigo" fazia (e continua a fazer) parte,,,
Mas faltavan-me detalhes importantes, pelo que desafiei-o, no passado dia 7, nestes termos: "Tony, tens que me contar, agora por escrito, como é que se processava esse 'contrabando'... de ternura!"...
É esse texto que vai ser publicado na II Parte, em poste a seguir. (***)
(*) Vd. Riberalves > Quem somos
Vd, também Riberalves > Vídeos > Vídeo institucional 30 anos
_________________
Notas de leitura;
(...) "A Riberalves produz 30 mil toneladas de bacalhau por ano, o equivalente a cerca de 8% a 10% de todo o bacalhau pescado no mundo. A capacidade produtiva da empresa conheceu um forte impulso a partir do ano 2000, após o investimento na unidade industrial da Moita, transformada naquela que é hoje a maior unidade mundial a operar exclusivamente no sector do bacalhau. Nesta unidade a Riberalves tem implementada tecnologia própria, desenvolvida para assegurar a produção do Bacalhau Demolhado Ultracongelado – Pronto a Cozinhar, uma categoria de produto que pela sua qualidade e carácter prático, tem vindo a permitir reinventar o consumo do “fiel amigo” e apontar a novos mercados".(,,,)
(**) Vd. poste de 7 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17440: Efemérides (256): Faz agora 75 anos que foi afundado a oeste da Gronelândia o lugre bacalhoeiro ilhavense "Maria da Glória" por um submarino alemão... Dada o forte simbolismo da data, foi já proposta a Assembleia da República a instituição do dia 5 de junho como "O Dia Nacional do Bacalhau"...
(***) Último poste da série > 8 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17447: (De) Caras (75): Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas (Fá Mandinga, Banjara...) a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e respeitável em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960..."Quem foi, afinal, o meu avô?", pergunta o neto Fausto Luís Teixeira (nascido em Ponte Nova, Bafatá, onde viveu até aos três anos)...
(***) Último poste da série > 8 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17447: (De) Caras (75): Fausto Teixeira ou Fausto da Silva Teixeira, um dos primeiros militantes comunistas a ser deportado para a Guiné, em 1925, dono de modernas serrações mecânicas (Fá Mandinga, Banjara...) a partir de 1928, exportador de madeiras tropicais, colono próspero e respeitável em 1947, um dos primeiros a ter telefone em Bafatá, amigo de Amílcar Cabral, tendo inclusive ajudado o Luís Cabral a fugir para o Senegal, em 1960..."Quem foi, afinal, o meu avô?", pergunta o neto Fausto Luís Teixeira (nascido em Ponte Nova, Bafatá, onde viveu até aos três anos)...
5 comentários:
Antes de mais um abraço aos dois.
O Luis Graça, vimo-nos á pouco tempo, ao Levezinho desde a Guiné, que não nos encontramos, apesar de termos sido vizinhos na Amadora, e termos estudado no Externato.
Não querendo ser desagradável, esta vossa foto é de Contuboel, não me parece Bambadinca.
Estarei certo? São dois locais na Guiné, muito resilientes no meu cérebro.
Boa tarde, Luís Graça e Tony Levezinho.
Não me lembro, perfeitamente, mas julgo que em Contuboel falei com o Levezinho.
O tio do Levezinho, irmão do seu pai, foi meu colega de Empresa e pessoa muito
considerada e estima.
Mas, sem a certeza absoluta, julgo, também, de falarmos do rugby da Académica da Amadora.
Eu, uma fraca figura, também joguei rugby. Jogava a defesa 'arrière`(nº. 15) por ser rápido e jogar bem com os pés. Joguei várias vezes contra a Académica, que também por lá jogava o ????(não me lembra o nome) bem conhecido e meu colega na Escola Comercial Veiga Beirão.
Quanto ao bacalhau era, sobejamente, conhecido o Restaurante em Bafatá, para comer
bacalhau da metrópole. O bacalhau desidratado, castanho, que era consumido na tropa desde que bem cozinhado, também, marchava que nem recruta no juramento de bandeira.
Abraços
Valdemar Queiroz
O tal jogador de rugby da Académica da Amadora que não me lembrava do nome era
o Lagarto Alves.
Valdemar Queiroz
Caro Abílio.
Também tenho a convicção de não nos termos voltado a encontrar, embora vá recorrentemente à Amadora onde familiares ainda por lá vão estando.
A " minha praia" agora é mais o Martinhal, em Sagres, para onde decidi ir viver, cumprindo, assim, um desejo que me acompanhava desde sempre.
A foto que te baralha, foi tirada em Bambadinca num qualquer domingo de calmaria, onde eu e o Luis resolvemos honrar o dia santo com o traje à civil.
Onde é que vives, presentemente?
Um forte abraço.
Tony Levezinho
Meu caro Valdemar.
Confesso que tive que ir percorrer os diversos posts, no blog, para tentar ligar o nome à pessoa. As tuas fotos da altura, rapidamente acenderam-me a luz.
Agora sim estou a "ver-te", perfeitamente.
Já não tinha a ideia de que foste colega de um Levezinho, o Florindo,entretanto já falecido. Terás então trabalhado na Soc. Comercial Guérin, importadora da VW para Portugal, no passado.
Quanto ao rugby é que não tenho também ideia de nos termos defrontado.
Já agora em que clube alinhavas?
Confirmo-te que um dos jogadores e mais tarde treinador era efetivamente o Zé Largarto, este também um amigo para a vida com quem ainda hoje almoço, quando vou a Lisboa. Curiosamente, há cerca de dois meses um grupo de veteranos do Rugby da Amadora deslocou-se ao Sul um fizemos uma confraternização que serviu também para homenagear o Zé , como podes ver na foto que te mando (através do correio do nosso editor).
Um grande abraço para ti.
Tony Levezinho
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