quarta-feira, 19 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17600: Os nossos seres, saberes e lazeres (222): De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta: À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 12 de Abril de 2017:

Queridos amigos,
Tratava-se de um sonho antigo, visitar Malta, mesmo no coração do Mediterrânio, a 90 quilómetros da Sicília, o mais pequeno dos Estados da União Europeia, com uma história fabulosa, uma cultura marcada pela presença de diferentes dominadores, caso dos árabes, que ali permaneceram mais de três séculos, de Aragão, do Reino das Duas Sicílias, foi ameaçada pelo Império Otomano, Ordem de Malta, os cavaleiros hospitalários ali fundaram fortalezas nas ilhas de Malta e Gozo que têm uma imponência esmagadora.
Por ali passou o Napoleão Bonaparte que extinguiu a Ordem de Malta, seguiram-se os britânicos até que na década de 1960 veio a independência.
Os portugueses são recordados, logo o Grão-Mestre da Ordem António Manoel de Vilhena, uma lenda maltesa e também o Marquês de Niza que se comportou heroicamente com os seus marinheiros no cerco de Napoleão, em 1798.
Vale a pena recordar.

Um abraço do
Mário


De Lisboa para Lovaina, daqui para Valeta:
À procura do Grão-Mestre António Manoel de Vilhena (1)

Beja Santos

Depois de muito procurar um bom low-cost para Valeta, a capital da República de Malta, o viandante descobre que há um bom, bonito e barato, por aproximadamente 140 euros, taxas incluídas, sai-se da Portela até Zaventem, seis horas depois prossegue-se para Valeta e no regresso pode-se fazer uma escala demorada em Bruxelas. Era o que convinha, e conveio. Começava assim uma digressão primaveril, cedo se chegou a Zaventem, optou-se por uma nova viagem até Lovaina, a conceituada cidade universitária dentro da Flandres, chega-se rapidamente de comboio, estadia para revisitar os belos campos iluminados pelo sol primaveril. E assim se chegou a uma cidade que tem a particularidade de ter um monumento dedicado aos seus mortos na guerra, um memorial, logo à porta da gare ferroviária. Atenda-se ao belo espigão que sobe dentro de um céu azul puríssimo, e veja-se um pormenor escultórico, como é sabido a câmara do viandante não dá para arrojadas imagens. Não admira o respeito pela memória que os belgas têm pelas duas invasões alemãs, mortíferas e altamente destruidoras, como se exemplificará com a Biblioteca de Lovaina.



A caminho da biblioteca da Universidade de Lovaina depara-se este monumento dedicado a Justus Lipsius ou à portuguesa Justo Lipsio, um dos mais conceituados humanistas flamengos, o seu nome aparece hoje num dos edifícios monumentais da União Europeia.


Em Agosto de 1914, a Biblioteca de Lovaina, conhecida no mundo inteiro, foi incendiada pelo exército alemão, perderam-se 300 mil livros. Houve doadores norte-americanos e outros que contribuíram para a construção do novo edifício. O que estamos a ver é um empréstimo do estilo arquitetural do Renascimento dos Países Baixos. Em Maio de 1940, os alemães voltaram a destruir a biblioteca, perderam-se 900 mil volumes. Em 1951, a biblioteca abriu novamente aos leitores. Em 1968, novo drama, com a cisão entre a Flandres e a Valónia, criou-se a universidade francófona de Lovaina-a-Nova, repartiu-se o património.




A Igreja de S. Pedro é um belíssimo espécime do gótico brabanção, elegante na disposição do espaço, belas colunas, um teto sóbrio numa boa equação de cumprimento e altura, o templo estava em obras, sobretudo no altar e na zona da abside, o viandante centrou-se numa escultura fabulosa, num pormenor do teto e noutro do luxuriante púlpito, trata-se de um conjunto escultórico de incalculável valor.
É preciso regressar ao aeroporto.
Chega-se a Valeta ao fim do dia, encontrou-se acolhimento no bairro de Paula, seguramente alusivo a S. Paulo, que por aqui andou, segundo o Ato dos Apóstolos, três meses, fruto de um naufrágio, daqui seguiu para Roma, onde foi martirizado. Na manhã seguinte, começou a descoberta de Valeta, património mundial da humanidade. Onde a aviação alemã destruiu uma casa de cultura está hoje o edifício do Parlamento de Malta, obra do arquiteto Renzo Piano. É um deslumbramento.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17570: Os nossos seres, saberes e lazeres (221): Poço Corga, Mosteiro e o meu jardim perfumado (Mário Beja Santos)

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