quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...


Oeiras > Algés  > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 >  "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a Zita. O casal é lourinhanense... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano,  da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá, antes de a gente fechar as portas da guerra, entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita esteve com ele em Bissau... Já o convidei meia dúzia de vezes para se sentar à sombra do nosso poilão... Mas ele diz que prefere o sol... Lugares ao sol..., não temos na Tabanca Grande, só à sombra... Espero que ele ainda entre ao 7.º convite... Ficou a ponderar: parece que o problema é a foto... fardada. Enfim, temos que compreender e respeitar quem tem alergias às fardas" (*)...

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Encontrei, este domingo passado, o meu amigo e camarada Carlos Silvério (**). Tinha vindo à missa da tarde, aqui na igreja da Lourinhã. Perguntei-lhe pela saúde da sua esposa Zita,  bem como  pelo padre Batalha, prior da freguesia de Ribamar onde ele mora (, e que é um grande amigo da Guiné-Bissau)... Um vai passando melhor, a outra, lá vai lidando (mal) com os seus problemas de coluna... Bem diz o povo: "Até aos quarenta bem eu passo, depois dos quarenta, ai a minha perna, ai o meu braço!"...

Como não podia deixar de ser, sempre que o reencontro, voltei a perguntar-lhe, pela enésima vez, quando é que ele tem pronta (leia-se: digitalizada...) a tal foto do tempo da tropa ou da guerra... Garantiu-me que sim, que a foto já está digitalizada pela sua filha e só ainda não a mandou porque está à espera do nº... 783 para formalmente pedir a inscrição no blogue...

Porquê este "fétiche", esta obsessão com o n.º 783?... Nós só vamos no n.º 776 (***). Faltam, portanto, 7 números para chegarmos ao 783, altura em que ele se quer inscrever... Em boa verdade, e ao ritmo de entrada de novos membros da Tabanca Grande, só daqui a dois ou três meses é que ele nos dará a honra da sua presença, sentando-se então à sombra do nosso poilão...

Ele já tinha feito essa confidência ao nosso coeditor Carlos Vinhal. E, respeitando a sua vontade, vamos ter mesmo que honrar seu pedido. Que é uma ordem, tratando-se de uma camarada da Guiné, e para mais filha da Lourinhã... Vamos então reservar esse número, o 783, para ele.

Vamos lá explicar melhor, para que não se pense que é um capricho dele... O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frenre,  virou em sentido contrário  para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o  resto do pessoal (cerca de 400)  foi gozar unsmerecidos  dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira,  para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar...

Está, pois,  explicado o "mistério" do n.º 783... e o desejo de só entrar para a Tabanca Grande depois do n.º 782...

2. Também me disse que gostou muito de ler a minha "short story" sobre o "Chez Toi" (****). Ele morava em Bissau, depois de vir do Olossato, com a Zita, já casado, justamente na rua do "Chez Toi"... Já não se lembra do nome da rua, só sabe que ia dar à  messe dos sargentos da Força Aérea (*****).

De resto, era complicado sair e entrar, numa rua "mal afamada" como aquela, sobretudo de noite, para uma jovem branca, casada, como era o caso da Zita.

Ficamos a saber, pelo depoimento do Carlos Silvério, que o "Chez Toi" existia (ou ainda existia) em 1973/74... Ele e a Zita costumavam ir ao Pelicano jantar e também comer ostras numa casa ali perto.. Eram 25 pesos uma travessa... Também costumavam comprar camarão, acabado de apanhar no Rio Geba, às vendedeiras locais que por ali passavam...

Boa noite, Carlos, fica registado o teu pedido e é hoje divulgado o teu desejo de seres o nosso grã-tabanqueiro n.º 783... Esperemos que, rapidamente, apareçam seis camaradas ou amigos da Guiné para perfazermos o teu número. Fica aqui a nossa promessa: o 783 fica reservado para ti!...

Um beijinho para a Zita, com votos de rápidas melhoras.
Um alfabravo para ti.

(LG)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de janeiro de  2018  > Guiné 61/74 - P18241: Convívios (839): 35º almoço-convívio da Tabanca da Linha, Algés, 18/1/2018 - As fotos do Manuel Resende - Parte II: Tudo gente magnífica... "Caras novas", com destaque para o pessoal da CART 1689, camaradas dos escritores Alberto Branquinho e José Ferreira da Silva

(**)  Último poste da série > 15 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17474: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca ... é Grande (108): Na Lourinhã, fui encontrar o ex-1º cabo at inf Alfredo Ferreira, natural da Murteira, Cadaval, que foi o padeiro da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)... e que depois da peluda se tornou um industrial de panificação de sucesso, com a sua empresa na Vermelha (Luís Graça)

(***) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 >  Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

(****) Vd. poste de  4 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18895: Estórias de Bissau (18): Uma noite no Chez Toi: o furriel Car…rasco, meu anjo da guarda... (Luís Graça)

(*****) Segundo o nosso amigo Nelson Herbert,  jornalista guineense  que para a América, era aí que ele e os putos seus amigos brincavam com o seu "primeiro carro de rolamentos", utiliziando para o efeito o "declive que ia dos serviços metereológicos/Boite Cabaret Chez Toi... no cimo da então nossa rua, Engenheiro Sá Carneiro [, subsecretário de Estado das Colónias, que visitou a Guiné em 1947, ao tempo do Sarmento Rodrigue]"...  Essa rua era "a mesma da Praça Honório Barreto, do Hotel Portugal, do Café Universal, do Restaurante ou Pensão Ronda... já agora que ia dar ao cemitério, passando lateralmente pelo hospital" e indo dar "à messe dos Sargentos [da Força Aérea]"...

4 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia, aqui vai o primeiro comentário do dia.
Caro Carlos Silvério, esse 'major' não era um militar, era um 'merdas' e são estes maus militares que nos deixaram marcas, que são difíceis de esquecer, daí, um 'asco' às fardas vai pouco tempo. Eu esquecia até o nº 783, e passava a liga-lo a coisas mais positivas, sorte, amor, sei lá!
Gostei da apresentação do Luís, eu gostava de ter 20% da sua capacidade de explicar as coisas, com poucas palavras, mas acertadas, eu sou o contrário, muitas palavras e pouco acertadas, paciência.
Só me falta paciência porque ainda não vi ninguém a dizer em que data terá aberto o Chez Toi, só depois de 4 de Agosto 69...
Os locais indicados neste reporte, e outros que já li, vão todos dar ao mesmo sitio, andam pelo comércio local, Pintozinho, Taufik Saad, e outros. Pela inclinação da rua, que não havia muitas, ela vem do cais, a zona mais baixa, até chegar perto da Av do Império. Lembro-me duma rua com inclinação, acho que era a maior de todas, onde fiz o meu exame de condução de pesados, e ao fazer o ponto de embraiagem, o raio do camião era novo e afinado, e deixei ir abaixo 3 vezes, logo chumbei.
Eu frequentei o Pelicano várias vezes, bem como essas esplanadas de ostras e camarão cosido, não me lembrava nem fazia ideia que aquilo custava tão somente 25 Pesos, uma grande travessa, e por baixo da mesa uma caixa de cartão onde a malta depositava as cascas para irem depois para o lixo. A messe de sargentos da força aérea francamente não me lembro, mas a rua do chez toi, se era assim tão mal afamada, eu teria de ter passado por lá, e não me lembro. Mas já localizei o Hotel Portugal e demais pensões, nunca entrei nem num nem noutro local. Ainda vou ao Google procurar, pois estive lá numa casa particular, da Rua Eduardo Mondelane, em 1984-85, e ficava perto da praça de Honorio Barreto, que já não estava lá, não tinha cabeça. Mal educados e mal agradecidos, agora não têm dinheiro para lá colocar outra e dezenas delas que retiraram dos seus pedestais.

Continuo a aguardar a data em que abriu o 'Chez Toi'!

Obrigado

Virgilio Teixeira


Valdemar Silva disse...

Cá está, '....utilizava o declive.,... da rua do serv. meteorologia….', era essa a tal rua que eu já referi quando fiquei na tal Pensão 'Tropa', em Bissau.

Eu na recruta CSM, em Santarém, era o nº. 1155, 2º. turno 1967, e na altura havia lá
um Major 'Bera', julgo que era o Major de Cav. Duarte Silva.

Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Carlos, espero não ter metido nenhuma "argolada"...A final, a nossa conversa deveria ser "off record"... Mas achei piada à tua "justificação"... E espero que cheguemos rapidamente à tua vez de entrar na nossa Tabanca Grande...

Quanto ao senhor major que participou de ti... Infelizmente havia militarista em todas as armas...Haverá muitas histórias parecidas como a tua... Gentinha que usava e abusava dos galões, para mais em tempo de guerra...

Anónimo disse...


Bom desfrutar de novo, a sombra deste :"Polon Garandi"... Mantenhas aos muitos velhos amigos. Curiosamente o blog tem uma foto, que nao estou conseguindo (re)postar...mas que enviarei aos editores...em que o Chez Toi...a tal Cabaret la no cimo da minha entao Rua ...a Engenheiro Sa Carneiro...hoje Eduardo Mondlane...a mesma rua da Messe dos Sargentos da Forca Aerea,do Cafe Universal, do Hotel Portugal..da Estatua/Praca Honorio Barreto... da loja Pais & Quaresma ( numa dss vertices da Praca HOnorio Barreto, mesmo ao lado do hoje Centro Cultural Frances) ...do Cafe/Restaurante Ronda- a tal das explosoes das "bombas de relogio" das celulas clandestinas do PAIGC em Bissau ( 72/73 ?!)...rua essa que vindo da "Metereologia" cruzava a Avenida da Republica ( Hoje Amilcar Cabral, a tal avenida principal que vai dar ao Porto Fluvial de Pindjiguiti/ Oficina Naval)... para "desembocar" no cemiterio ...

No predio/vivenda da Boite/Cabaret Chez Toi, nos primeiros anos da independencia funcionou a Chancelaria e a Residencia do embaixador da Franca na Guine Bissau... pela foto que envio... ve-se a casa ( branca) de duas moradias do outro lado do murro do quintal dos servicos de metereologia...

Falar pois do Chez Toi e evocar em certa medida...um emaranhado de fantasias sexuais que as dancarinas do cabaret ... de provocantes mini-saias suscitavam entre e tambem a meninada quando soltas no caminhar, desciam pela nossa rua rumo a "baixa" de Bissau...Pora se a tropa nao era de ferro...Ahahahaha...que fara a meninada ?! Mantenhas!

Nelson Herbert
Washingtpn DC, USA