sábado, 9 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19565: Os nossos seres, saberes e lazeres (311): Viagem à Holanda acima das águas (15) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
No rescaldo de qualquer viagem, seguramente que nos confrontamos com livros, brochuras, postais, mapas, fotografias, são momentos de um certo embaraço, justifica-se mostrar dentro do nosso anfiteatro de comunicação tudo aquilo que nos maravilhou, não haverá para aí uma postura excessiva de cromos? Cada viandante cala fundo as suas impressões, há olhares que não desaparecem, filtram-se imagens e numa nova visita ao remanescente deplora-se não ofertar tudo aquilo que se viu e que tanto se apreciou: as flores, as pinturas, os canais, os edifícios religiosos e os outros, a gente anónima com quem nos cruzámos no caminho.
Em dado momento, no corredor principal do Rijksmuseum de Amesterdão, senti necessidade de me pôr a um canto a bisbilhotar comentários, a ouvir conversas. Só tinha aquele dia para Amesterdão, escolhi o Rijks, a Sinagoga Portuguesa e passear-me pelas ruas, e havia tanto mais para ver, a casa de Anne Frank, o museu Cobre, o museu dos Diamantes, o Teylers, o Van Loon e o Van Gogh, entre tantos outros, paciência, a viagem nunca acaba se o viajante não se torna esquecido ou perde a curiosidade de ali voltar.

Um abraço do
Mário


Viagem à Holanda acima das águas (15)

Beja Santos

Sobre os povos e as suas culturas é certo e sabido que procuramos conotações com a música, certas produções, lugares míticos, posturas de civilização: a Espanha tem flamenco, os escoceses são avarentos, a Holanda tem tulipas, Portugal é fado. São abreviaturas e siglas que camuflam a dimensão da floresta, a diversidade de manifestações de qualquer cultura, obrigatoriamente poliédrica. A Holanda tem mais que tulipas, graças ao clima e a um Verão habitualmente curto, aos céus nublados, a produção de flores é muito mais do que uma exportação que define a economia holandesa, há flores por toda a parte, são cores que enchem as casas, os jardins, as ruas, um colorido que ameniza os tons pardacentos, que os alivia dos dias cinzentos, das brumas e neblinas persistentes, são os avisos de que vem aí o bom tempo, de que a primavera está sorridente e a seguir vem o verão pletórico, a encher de calor a nossa pele, a trazer mais bonomia às nossas vidas. Mal sabia o viandante que a Holanda sofria a estiagem, em qualquer conversa vinha à tona os problemas agrícolas, a alimentação do gado, conversa um tanto embaraçante com tanto fio de água à volta…





O viandante revê a sua colheita de imagens, é um dó de alma deitar para o lixo aquilo que hoje, na nossa sociedade digital e de redes sociais dá pelo nome de partilha, que pode ser um equívoco, uma nova manifestação estatutária, toma lá mais imagens das boas viagens que faço, é para tu veres por onde ando, por onde me movo,… No caso vertente, seria doloroso ao viandante não repartir com quem o lê e vê estas imagens subtraídas a museus já visitados, o Rijksmuseum de Amesterdão e o Kröller-Müller, perto de Arnhem, onde houve uma batalha entre os Aliados e os Alemães, correu mal para os primeiros, queriam tomar uma ponte, levaram uma coça.


O Rijksmuseum, voltemos às siglas e abreviaturas, não é só um expoente do século de ouro da pintura holandesa, pode ser um prato forte mas as suas coleções de pintura, de artes decorativas, de doações fabulosas de ourivesaria, por exemplo, são de tal valor que se sugere ao viandante a preocupação de percorrer certas salas onde o esperam obras excecionais, aqui ficam alguns exemplos.






Também a alma se lava com a introdução de beneficiações museológicas e museográficas que asseguram ao visitante conforto e o mais agradável confronto com as obras de arte, maior aprazimento com o meio envolvente. Veja-se este troço do museu como se transformou um magnificente edifício do século XIX, desadequado às necessidades de hoje, num museu remodelado onde se respira a modernidade.


Também o Kröller-Müller é muito mais que um museu que tem a maior coleção privada de obras de Van Gogh. A multimilionária que inspirou esta fabulosa coleção tinha ideias próprias sobre os movimentos artísticos, dividia as grandes correntes entre o realismo e o idealismo, era uma colecionadora dotada de grande ecletismo, daí ter adquirido um conjunto de obras desde o fim da Idade Média até aos tempos modernos, e deixou a obrigação da fundação que tem o seu nome continuar a adquirir peças preciosas da contemporaneidade. E o resultado salta à vista, vejam-se estas três telas, nem sempre os nomes que lhes estão associados têm a retumbância de Van Gogh ou Picasso, mas a grandessíssima beleza ninguém lha tira.




E já que o viandante está em maré de recapitulações, neste seu afã de repartir o que ele dá como significativo da viagem inesquecível pelos Países Baixos, salta-se para o Museu Municipal de Haia. E que magnificência!

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19544: Os nossos seres, saberes e lazeres (310): Viagem à Holanda acima das águas (14) (Mário Beja Santos)

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