domingo, 3 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19547: Blogpoesia (610): "De tristezas e alegrias", "De bico no chão" e "Não sou marinheiro", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Póvoa de Varzim - PasseioAlegre
Com a devida vénia a "O Poveiro"


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


De tristezas e alegrias

Fazem parte de sua história, tristezas e alegrias.
Lisboa nasceu dum feliz encontro e ousadia.
Seduzido pela beleza, assentou arraiais aqui Ulisses, há muitos séculos.

Misto de saudade, audácia e de sonho.
Deixou o Mediterrâneo tacanho e lançou-se ao mundo.
Com vontade de regressar. Prometera.

Chegado ao oceano imenso, virou para o norte.
Sempre rente à costa.
Logrou um rio largo de que não sabia o nome.
Avançou nele.
Duas margens sumptuosas. Verdes.

Quando o viu alargar demais, receou ir dar ao mar.
Atracou e subiu a colina.
Que haveria de se chamar a Mouraria.

E, desarmado, ali se instalou com a comitiva.
Tão afáveis as gentes que vieram saudá-los que nunca mais tiveram coragem de se ir embora.
Excepto, Ulisses.
Para cumprir o juramento de amor à sua esposa. Penélope.
Assim nasceu Lisboa que deu ao rio o lido nome que ainda mantém.

Ouvindo Carlos Paredes

Bar Castelão em Mafra, 26 de Fevereiro de 2019
8h40m
Jlmg

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De bico no chão

Pareço um pião, rombudo,
às voltas, de bico no chão.
Ando e cirando.
Velas ao vento.
Moinho parado no alto do monte.

Não adianta clamar.
A chuva ou vem ou não vem.
Por mais que se reze.
A terra está seca.
Uma sede maluca.
Arde e não seca.

Se não fosse o passado
A dizer como é,
Morria de susto.

Às duas por três,
Rebentam os céus,
Se desfazem em água,
O chão floresce
E a vida retorna.

dia cinzento

Bar "Caracol", arredores de Mafra,
27 de Fevereiro de 2019
9h20m
Jlmg

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Não sou marinheiro

Não sou marinheiro mas vivo do mar.
Me cura seu sal.
Me adormece acordado.
Faz-me feliz.
Me põe a sonhar.

Não sou nada sem ele.
Me reviro de dor quando não o oiço bramir.
Companheiro de sempre.
Desde menino a chorar.
Minha Mãe me levava,
ao romper da manhã.

Dois mergulhos gelados
pelas mãos do banheiro.
Garantiam-me rijo
por um ano a viver.

Póvoa de Varzim, que saudades eu tenho.
Do Agosto-Verão, à beira do mar.

Aqueles rochedos medonhos,
revestidos de conchas,
Me guardam segredos,
nas vazias marés.
Mexilhões com fartura.
Nunca mais acabar.
Jantaradas de graça.
Como sabiam a sal.

Nunca fui marinheiro.
Como eu gosto do mar!...

Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de fevereiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19524: Blogpoesia (609): "Parecemos diferentes", "Tardes de Lisboa" e "Renovar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

5 comentários:

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Povoa:
Bonita terra, onde também se come muito bem...
Bonitos versos.
Um abraço Mendes Gomes,
JS

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...

Obrigado, Sacôto. Grande abraço.

Anónimo disse...

Bonitos versos sem duvida, como todos da autoria do Mendes Gomes.
A Povoa de Varzim, esta a 4 km da minha terra de adopção, Vila do Conde.
Conheço bem a Povoa como as minhas mãos, já desde os meus 7-8 anos íamos para lá em família. Esta foto está captada do prédio mais alto da praça. Agora no piso todo de cima, abriu um novo restaurante, cervejaria, Kebab.
Antes de ir viver para Vila do Conde, ainda andei a ver um apartamento ali, com estas belas vistas, depois fiquei pela Vila, hoje Cidade.

Há os naturais da Vila que odeiam a Povoa, e vice versa, para mim não faz diferença, a minha terra será sempre o Porto.
Um abraço,

Virgilio Teixeira



J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Virgilio, também gosto muito da tua terra, quando lá vou, não perco um almoço no Ramon.
Um abraço,
JS

Anónimo disse...

Obrigado Sacôto:

Dois comentários:

- Vila do Conde é a terra onde vivo há 50 anos, a minha terra mesmo é o Porto. Não minimizo esta terra, especialmente agora na 'reforma' passo aqui mais tempo, antes só vinha dormir a casa, a minha vida sempre foi fora deste concelho.
- O Ramon é um restaurante de referência, embora no passado, ainda o Ramon era vivo, aqui se passava muita coisa, do futebol da politica, da tertúlia.
Almocei e jantei muitas vezes, no passado, hoje nem por isso, mas continua a ser um bom restaurante, especialmente para os adeptos de lampreia, sável, etc.
Um abraço
Virgilio Teixeira