domingo, 3 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20306: Blogpoesia (643): "Cissiparidade poética", "Asas partidas" e "Quando tudo entorpece", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Cissiparidade poética

A natureza viva rege-se por uma lei fatal e benéfica.
É a lei da dependência.
Nenhum ser perfeito é autónomo.
Sua origem o prende à união de princípios.
O masculino e o feminino.
O resultado não é uma soma.
É um alter “ego”.
Com sua identidade.
Única e independente.
Cada um o seu percurso.

Assim as ideias e a realidade da poesia.
Gravitam no ar as ideias de cada pessoa.
Se transmitem pela linguagem.
A junção dos sons geram palavras.
Os seus signos.

O diálogo é fértil.
Suscita ideias que não existiam.
Combiná-las é uma arte.
Seu motor é o fogo da inspiração.

Berlim, 28 de Outubro de 2019
12h40m
Jlmg

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Asas partidas

Sonhos imperfeitos.
Sombrias desgraças.
Páginas negras.
Estilhaços de vidas.
Falsas quimeras.
Grinaldas rasgadas.
Compassos de espera.
Ramadas sem uvas.
Amores de praia.
Tardes perdidas.
Searas sem grão.
Até os pássaros choraram.
Aldeias desertas
Porque os campos secaram.
Matas queimadas pela fogaça do crime.
Ribeiro afoito de inverno que morreu no Verão.
Romagens sonhadas que a crise matou.
Almas vibrantes que secaram de amor.
Tanta riqueza na mina que a voragem sem freio,
Impiedosamente, extinguiu.
Quermesses ao rubro que a tempestade,
Num repente, destroçou.

Ouvindo Mozart, Piano Concert Nr 24 c Moll KV 491 Rudolf Buchbinder Piano & Conducter, Wiener Phi
Berlim, 30 de Outubro de 2019
10h47m
Jlmg

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Quando tudo entorpece…

É o fim da combustão.
Quando tudo entorpece.
Desmaiam as forças.
Dão estalos as articulações.
Se encurtam as passadas.

Dá jeito a bengala.
Mais não seja para conforto.

O que parecia longínquo há pouco tempo, depressa se aproximou.
Me davam pena os velhinhos.
Pelos bancos de jardim.

Já penso como eles quando traço meu passeio.
Não me sinto tão alquebrado.
Nem aceito os anos que já conto.
É real a maior longevidade.

Não me vejo como os eu via.
Há saúde. Isso é o que importa…

Berlim, 31 de Outubro de 2019
13h2m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20294: Blogpoesia (642): "Porque tardaste?" - Poema de Juvenal Amado dedicado ao seu neto que hoje completa o seu primeiro ano de vida

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Haja saúde, Joaquim, mesmo "remendada"... A saúde, agora, diz a OMS, é saber gerir com inteligência e resiliência, as inevitáveis doenças crónicas que nos acompanham pelo resto da picada fora... Que não te falta a vontade de cantar a vida|... Luís

Valdemar Silva disse...

Dizem os especialistas que já não se morre no Japão, por consequências dos rastreios obrigatórios, como se de vacinas se tratasse, que todos os japoneses têm de fazer anualmente e serem detectadas e tratadas doenças precocemente.
Como os japoneses, agora, perderam a vontade de procriar, há um défice extraordinário de casamentos e falta de crianças, dentro de pouco tempo o Japão será o país de idosos centenários.

Por cá haja saúde, poetas e crianças.
Ab.
Valdemar Queiroz

Joaquim Luís Mendes Gomes disse...



É isso mesmo. Um grande abraço. Por ora, estou bem...
Joaquim Mendes Gomes