quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20318: Historiografia da presença portuguesa em África (183): A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (1): Questionário Etnográfico elaborado pelo Capitão Vellez Caroço (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,
A ideia de que constituía um imperativo civilizar gente primitiva, o gentio, aproximando-a dos preceitos ocidentais, dos seus valores políticos e religiosos, tem uma longa história na cultura portuguesa. Era um gentio bárbaro ou selvático, devia ser ajudado a melhorar as práticas agrícolas, a trabalhar nas obras públicas mas também para empresas. Se aprendesse a ler e escrever, podia vir a ser assimilado.
Na hora da luta armada, foi revogada toda esta legislação e camuflada a matriz racial e ideológica de um longo processo colonial. O que neste texto se apresenta é uma breve síntese da ascensão do racismo como evidência científica para depois o podermos comparar com as práticas raciais do nosso colonialismo. O Estado Novo tudo fez para negar haver racismo, mas ele existia no Oriente, mesmo em Goa, em Angola, Moçambique, São Tomé e Guiné, com as especificidades da escravatura mascarada, do trabalho forçado, da distinção entre civilizado, assimilado e gentio.
Talvez um racismo de brandos costumes, mas inequivocamente organizado na discriminação, no preconceito, na descategorização.

Um abraço do
Mário


A eterna polémica sobre o racismo no colonialismo português (1)

Beja Santos

Em 1934, o Capitão de Infantaria Jorge Frederico Torres Vellez Caroço, então Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas na Guiné, dirige-se ao Governador Carvalho Viegas, a quem envia um questionário etnográfico que estará na base no seu trabalho, publicado muito mais tarde, no Centro de Estudos da Guiné Portuguesa sobre o régulo Monjur, do Gabú:
“Excelência
Os factos e as características observadas na vida do indígena e na sua maneira de ser, e na necessidade absoluta e urgente de procurar metódica e progressivamente aproximá-lo da nossa civilização, com a garantia indispensável dos seus direitos, é verdade, mas tendendo sempre para um melhor e mais completo aperfeiçoamento, determinaram a conveniência de criar para ele uma ordem jurídica adaptável à sua mentalidade ‘primitiva’, às suas faculdades psíquicas, aos seus sentimentos e que se harmonize, tanto quanto possível, com o respeito pelos seus usos e costumes, cuja transformação se deve efectuar lenta e gradualmente, evitando assim possíveis perturbações que tanto têm de inúteis como de prejudiciais.
De resto, são estas as directrizes gerais estabelecidas pelo Estatuto Político, Civil e Criminal dos Indígenas, são estes os princípios preconizados pelo Acto Colonial, que mandam proceder à codificação dos usos e costumes dos indígenas.
Claro está, que não é possível nesta colónia, onde a diversidade de componentes étnicos singulariza a sua população nativa, elaborar um código único regulador de quaisquer das normas referidas.
A diferenciação absoluta de usos e costumes entre muitas das raças que a povoam, obriga ao desdobramento de tantos códigos quantos forem as étnicas caracterizadamente diferentes.
Para este desidrato, porém, são necessários elementos básicos – que nos faltam – em que o conhecimento das minúcias da vida material do indígena, ande a par com a ciência da sua constituição moral. Desta falta de elementos para, sobre eles se assentarem normas que regulem a acção colonizadora e de soberania tendentes à evolução dos povos para um melhor Estado social, repito, sem ataques bruscos à sua insuficiência psíquica e arraiados costumes primitivos, surge a necessidade de elaboração de um Questionário Etnográfico”.



É conveniente recordar que desde os primórdios da República os sucessivos governadores exigiam aos administradores documentos desta natureza que possibilitassem o conhecimento, nas diferentes localidades, de quais os grupos étnicos, a sua identidade e caraterísticas e dados antropológicos, a vida familiar, os direitos de propriedade, as práticas agrícolas, a natureza do comércio e indústria, os tipos de habitação e de alimentação e algo mais. Não era pois original o que o Capitão Vellez Caroço propunha, tratava-se porventura de uma atualização, tais dados existiam em poder da administração. O que para o caso mais interessante se põe à reflexão tem a ver com algo que serviu de eixo veiculador da proposta civilizadora que tem os seus antecedentes na monarquia constitucional, que passa pela I República e que se dinamiza com o Estado Novo: a missão civilizadora face às insuficiências detetadas nos indígenas, havia que proceder à radiografia o mais detalhada quanto possível, e daí este questionário etnográfico que o Capitão Vellez Caroço viu aprovado pelo Governador Carvalho Viegas.

O que nos remete para essa tumultuosa questão do racismo e do colonialismo à maneira portuguesa. Pois vamos ao significado dos termos.
Faz-se recurso ao que em “Racismos, Das Cruzadas ao Século XX”, Temas e Debates, Círculo de Leitores, 2015, Francisco Bethencourt escreve sobre racismo:
“O racismo atribui um único conjunto de traços físicos e/ou mentais reais ou imaginários a grupos étnicos específicos, acreditando que essas caraterísticas são transmitidas de geração em geração. Os grupos étnicos são considerados inferiores ou divergentes da norma representada pelo grupo de referência, justificando assim a discriminação ou a segregação. O racismo tem como alvo não só os grupos étnicos considerados inferiores, mas também os grupos considerados concorrentes, como os judeus, os muçulmanos ou os arménios.
O racismo distingue-se do etnocentrismo no sentido em que não se refere de forma abstrata a bairros ou comunidades outras desprezadas ou temidas; regra geral aplica-se a grupos com quem a comunidade de referência lida – grupos esses considerados associados a regras de sangue ou de descendência. O etnocentrismo pode expressar desprezo por outra comunidade, mas aceita a inclusão de indivíduos dessa comunidade, ao passo que o racismo considera que o sangue afeta todos os elementos da comunidade em causa”.

Voltaremos a este importantíssimo trabalho de Francisco Bethencourt noutra ocasião, ao longo da sua investigação falará do contexto histórico do racismo na Antiguidade Clássica, invasões bárbaras e expansão muçulmana; aludirá à expansão ultramarina europeia, as sociedades coloniais desde os séculos XVI e XIX; mais adiante analisará as teorias das raças e depois as políticas raciais em vários impérios.
O pontapé de saída para esta análise, indispensável na cultura portuguesa, não é saber, como ponto de partida, se fomos colonialistas ferozes ou se praticámos uma espécie de convivência multirracial que nos distinguiu supinamente de todas as outras potências colonialistas, a despeito do trabalho forçado, da escravatura ou da exploração económica. Racismo sempre existiu e a investigação de Francisco Bethencourt é bem elucidativa: esmagamento e escravidão do vencido, também por ser inferior; a discussão, em atmosfera religiosa, se os negros e os índios tinham alma: a própria democracia grega estava confinada a um conjunto de eleitos, os demais era ralé desprezível, etc.

No século XIX, a obra de Darwin veio criar evidência científica quanto a uma evolução da espécie humana, A Origem das Espécies, por interpretações adulteradas irá situar-se como matriz das raças puras e das raças inferiores. Em “A Evolução do Racismo, Diferenças humanas e uso e abuso da Ciência”, Círculo de Leitores, 1996, Pat Shipman enfatiza como esta obra de Darwin gerou uma falange de simpatizantes e de grandes opositores, a Igreja de Inglaterra foi contundente e o nome de Darwin era ridicularizado por ligar o homem ao macaco. Na Alemanha, as ideias de Darwin foram repescadas por Ernst Haeckel, um cientista que irá ter grande peso nas doutrinas arianas. Recorde-se que em território alemão estavam a surgir exemplares do homem de Neandertal, os fósseis começavam a ser datados, os dados expostos na Bíblia contestados. Haeckel, inconscientemente, lançava as bases das doutrinas raciais. “Para ele, uma raça era não o que os biólogos sabem hoje que é: uma subdivisão regional de qualquer espécie; uma população local vagamente unida por uma tendência para compartilhar particulares variações de fenótipo ou genótipo. Uma raça era uma nacionalidade, uma tribo ou mesmo um grupo étnico culturalmente mas não geneticamente diferente dos seus vizinhos. Haeckel nunca escondeu a sua convicção de que a lei biológica devia governar a sociedade humana. Acreditava piamente que as raças eram tão diferentes umas das outras como as espécies de animais, o que parecia ser um suporte científico para o racismo descarado”. E não se escusou a dizer que a raça alemã devia estar sujeita a um poder autoritário e ser dominada pela eugenia.

Dentro das adulterações do darwinismo, falava-se na sobrevivência dos mais aptos, quem sobrevivia controlava os outros. Ideias que ganharam simpatias nos EUA. A guerra civil deixara a população perturbada, vulneravelmente consciente das diferenças entre as raças, a partir de então declaradas legalmente iguais, e das crescentes disparidades entre classes sociais e económicas. Do darwinismo enquanto processo evolucionista passou-se para o darwinismo social, ganhou popularidade estudar famílias com graves problemas de criminalidade ou alcoolismo. Depois das obras de Mendel, cresceu a simpatia pela eugenia. Foram recolhidos dados sobre a frequência e a distribuição de uma espantosa quantidade de variedades de traças dentro das famílias. Estudos sobre: hermafroditismo, hemofilia, fenda palatina, lábio leporino, dedos curtos ou mais de cinco dedos, surdo-mutismo, demências e deficiências mentais. Passo a passo caminhava-se para um abismo racial. Numa época de grande imigração, alguns cientistas da antropologia insistiam que a política de imigração devia ter como base a história hereditária do indivíduo e da sua família. Noutra dimensão do problema, ganhou também popularidade a ideia de esterilizar deficientes mentais, imbecis e a lei da esterilização começou a ser aprovada. A carga fiscal dos doentes, loucos, indigentes e criminosos pesava fortemente sobre o número cada vez menor dos empregados.

Nos EUA, a esterilização tornou-se mais popular como meio de enfrentar o problema dos criminosos, dos pobres ou dos que passavam por loucos congénitos. A esterilização obrigatória dos internados em instituições era perfeitamente legal. Na Alemanha, o quadro doutrinário era diferente, um forte sentido romântico misturava-se com uma confusa ciência ou racismo, fazia-se a apologia das glórias físicas, morais e intelectuais dos verdadeiros alemães: altos, louros, de olhos azuis, escorreitos camponeses de descendência ariana ou nórdica. Escondeu-se que a raça ariana era uma criação largamente mítica, as pessoas que falavam a língua proto-europeia na base comum de sânscrito, zende, arménio, grego, latim, lituano, eslavónio, alemão, céltico, inglês, francês, e muito mais. Atribuiu-se a origem deste arianismo à região do Ganges, eram os indo-europeus. Procurou-se encontrar um povo hostil, um inimigo mortal da futura raça pura, recaiu sobre o judeu. Atenda-se que a história do antissemitismo da Europa em geral e na Alemanha em particular vem de longa data. Desde a Idade Média que os judeus tinham imensas restrições. Antes do século XIX, era legalmente proibido a um judeu na Alemanha possuir terras ou ocupar cargos públicos. Estava constituído o caldo de cultura que Hitler aproveitou para encontrar como inimigo principal, depois de ter posto nos campos de concentração os dirigentes dos partidos de esquerda, os antissociais, o preconceito e a discriminação atingiam o auge entre europeus, com longuíssima história de fixação no continente. Era a mais gigantesca manifestação racial que se conhecera, levou à matança em massa, era um racismo com categorias distintas daquele que se praticou em África, tinha por detrás projetos políticos muito distintos dos do colonialismo.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20290: Historiografia da presença portuguesa em África (181): Dados Informativos 4, publicação da Agência Geral do Ultramar - Guiné, 1968: Os números da educação e saúde (Mário Beja Santos)

25 comentários:

Anónimo disse...

Os "brandos costumes" visto por poeta negro brasileiro do século passado.

-"Negrinha feliz.
Usada,abusada,violada.
Pariu filho de portuga feliz com seu chicote de sete nós.
Negrinha feliz.
Portuga feliz.
Felicidade! "

J.Belo

antonio graça de abreu disse...

Que confusão, Mário Beja Santos!
Valha-nos a sabedoria do historiador francês René Pélissier, de quem o Mário Beja Santos tanto gosta e que explica tudo:

Diz René Pélissier:

"Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos".

René Pélissier, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.2007.

Quanto ao Brasil, meu caro José Belo, é melhor nem falar, são independentes desde 1822 mas ainda hoje, somos nós, os colonialistas e racistas portugueses, os responsáveis pelos crimes e corrupção da sociedade brasileira, que criámos. Somos o "português que os pariu."

Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Aqui está um bom assunto, o "racismo à-la-tuga", que Beja Santos faz bem em lembrar e trazer à baila.

Agora que a Europa está a ferro e fogo com as invasões de "estranhos", (pouco desejados) que são efeitos de uma globalização que o tuga iniciou, agora que se contesta (mesmo em Portugal)o papel "feio" da misceginação e do mapeamento (descobertas) de meio mundo, sem falar da escravatura que ficou para traz, em que o próprio tuga, meia dúzia de gatos pingados, não consege arranjar explicação para tanta façanha, acho bem que BS traga o racismo para o blog.

antonio graça de abreu disse...

Meu caro António Rosinha

Racismo e sequelas de um colonialismo que existiu, de facto, e que conheces bem, António Rosinha, são hoje pagar 600 euros mensais a um imigrante africano que procura Portugal, em busca de uma vida decente, que lhe é completamente vedada em África. Racismo e colonialismo são os e 250 euros mensais pagos a um velho reformado português que trabalhou toda a vida.
Tenham vergonha no que escrevem.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Pobre ignorante me sinto por ter julgado que poetas como G.de Abreu poderiam aceitar o grito de alma de um poeta negro brasileiro...que lá terá as suas razöes no que escreveu...independentemente do que eu,ou qualquer outro, queira aceitar.
Porque, caro camarada,"deve haver melhor em mim do que eu".

Invejo Mário Beja Santos no assíduo,fiel e atento leitor que A.G.Abreu sempre tem sido de tudo o por ele publicado neste blogue.

Mas citar hoje (fins de 2019) René Pelissier como arma de arremesso em alusöes a um já täo ultrapassado tipo de colonialismo "à moda antiga" ,täo distante nas formas e efeitos pseudo-subtis usados,entre outros,pela China colonial dos nossos dias em África?
Porque, aparentemente, só um certo tipo de poetas ainda hoje cita Lenine,Trotsky,Mao,ou mesmo na Suécia (de hoje) um tal Olof Palme.
Já näo está nem "A mesma gente...nem sequer a mesma luz".

E ao escrever-se:"Que confusäo Mário Beja Santos!".....acompanhado de..."Säo hoje pagos 600 euros mensais a um imigrante africano que procura Portugal em busca de uma vida decente,que lhe é completamente vedada em África.
Racismo e colonialismo säo os 250 euros mensais pagos a um velho reformado português que trabalhou toda a vida".

Depois de viver há mais de 40 anos na Escandinávia terei de exclamar (entre dentes,entre dentes)...que grande confusäo J.Belo!

Só substituir algumas *poucas* palavras e surge o que por aqui mais se ouve quanto a gentes do Sul Europeu:
"Säo hoje pagar 600 euros mensais a um imigrante do Sul da Europa que procura a Suécia em busca de uma vida decente,que lhe é completamente negada na Europa do Sul.
Racismo e colonialismo säo os 250 euros mensais pagos a um velho reformado sueco que trabalhou toda a vida".
Obviamente que as verbas näo correspondem às diferentes realidades mas...a "grande confusäo" da mensagem será a mesma.

Um abraco. J.Belo



Cherno Baldé disse...

Caro A. Rosinha,

Ha dias aconteceu, no parlamento europeu, uma votaçao para decidir a questao de saber se se podia salvar vidas no mar mediterraneo ou nao (entre votantes contra e abstencionistas, estavam alguns deputados portugueses), o que para mim é prova mais que evidente do desprezo pela vida humana e também do racismo alimentado e aproveitado pelo ocidente durante séculos, que existiu e ainda continua a dominar as mentes dos seus pensadores (politicos e decisores) ocidentais que entretanto promovem, sempre em seu proveito, politicas de livre circulaçao (antes da invasao da Europa) e de livre comércio no mundo. Tudo isso so tem um nome: Cinismo e hipocrisia.

Abraços,

Cherno Baldé

Fernando Ribeiro disse...

Um imigrante africano chega a Portugal e passa a receber 600 euros mensais, assim sem mais nem menos?! Isso é que era bom! Os 600 euros são pagos (quando são) aos imigrantes que trabalham e descontam para a Segurança Social. O António Graça de Abreu acha que é muito.

antonio graça de abreu disse...

Há muita gente em Portugal, nada e criada nesta "ditosa pátria", que não gosta de Portugal e dos portugueses, que privilegia os nossos muitos defeitos (hoje é moda!) e esquece também as nossas qualidades de povo ao sabor da História. Nota-se muito neste blogue.
Abraço,

António Graça de Abreu

Antº Rosinha disse...

Nenhum povo devia colonizar qualquer povo.
Mas também nenhum povo se devia deixar colonizar por outro povo.
Cada um devia preocupar-se consigo próprio.
Cada Qual no seu canto, como pensava o Velho do Restelo.
Dilatar a fé e o império?
Tanta fé, tanta fé, que agora são padres angolanos e indianos que andam a batizar por essas aldeias a dentro.
Que idioma falava o nosso Viriato? Não era latim com certeza, mas não sabemos qual a lingua dele, esta desapareceu.
Mas os povos poem-se a jeito, agora não se chama colonização, chamam-lhe cooperação.

Anónimo disse...

Como se procura comentar um texto sobre racismos vários e näo de patriotismos de ocasiäo,quase diria (mas näo digo!)...de cristäos novos em recuperacäo de passados,vamos referir Legislacäo existente e consultável.

Em época em que a maioria de nós já tinham nascido, regulamento das F.Armadas e de algum Funcionalismo Público estipulava que um Oficial dos Quadros Permanentes das F.Armadas näo poderia casar com senhora näo branca.
Ou mesmo se...portuguesa filha de brancos mas... nascida nas colónias
Será um facto desagradável mas,infelizmente,está escrita em Decretos Oficiais ainda muito recentes.

Existem neste blogue documentacäo,análise e comentários quanto a este racismo (quase deontológico) quanto aos casamentos entre portugueses de primeira e segunda classe.

***Vêr---Guiné 63/74-P6440;Da Suécia com saudade(25):O Estatuto dos Oficiais do Exército há 60 anos,que näo podiam casar com mulheres brancas nascidas nas colónias,mesmo que filhas de casais brancos.***

Os Diários do Governo "on line" na altura em que este texto foi escrito só estavam disponíveis a partir de 1960.
A Legislacäo referida no texto é o Decreto-Lei 31107 de 18 de Janeiro 1941.
Posteriormente,e sobre o mesmo assunto,é publicado o Decreto-Lei 43101 de 3 de Agosto 1960.
É Legislacäo,mesmo a de 1960,bem ilustrativa.

Quanto a subjectivismos e semânticas várias quando em comentário se escreve:..."Haverá muita gente nada e criada nesta ditosa pátria,que näo gosta de Portugal e dos portugueses"...quem serei eu,vivendo há mais de quatro décadas longe do nosso querido Portugal,para argumentar com patriotas täo bem embrulhados nas suas bandeiras de conveniências várias,( bem coloridas mesmo que já bem desbotadas).

Posso no entanto salientar,a ser-me desculpado o pessoalismo,nos inúmeros contactos, tanto de trabalho como dos tempos livres,tidos durante estes já longos anos com compatriotas vivendo na Escandinávia ou nos Estados Unidos,nunca ter encontrado um único(!)que olhasse o nosso distante e querido Portugal com desprezo,rancor(e alguns razöes teriam),ou má vontade.
Muito pelo contrário!
Mas...os factos...e as subjectividades...levaram um poeta a escrever..."O meu país é o que o mar näo quer".

Um abraco do J.Belo










Valdemar Silva disse...

Graça Abreu
'250 euros mensais pagos a um velho reformado português que trabalhou toda a vida'
Só o popularucho à là mode se lembrava dessa.
Para ter uma reforma de 250 euros, coitado do reformado português, o que é realmente verdade, trabalhou toda a vida com um salário de miséria e muito provavelmente o patrão não procedia legalmente com as contribuições para a Segurança Social. E ai do coitado se pedia mais ordenado.
A razão principal do valor das reformas ser de miséria é por ter sido praticado uma politica de baixos salários.

Ab.
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Mês de outubro, algures na ilha da Boavista,quando circulava em direcção à "Povoação Velha" dei boleia a um jovem negro que no final da viagem me dizia com orgulho "sabe o meu Avô era português".

A principal prioridade do governo cabo-verdiano é a educação.

Nos hoteis é obrigatório dar prioridade de emprego aos cidadãos cabo-verdianos que tenham qualificações para os respectivos cargos.

É o segundo País menos corrupto de África

Aprendem na escola que são descendentes de portugueses e escravos.

Os únicos chineses que vi eram comerciantes.

Qualquer comparação com a África continental é mera coincidência.

AB

C.Martins

antonio graça de abreu disse...

Exactamente, Zé Belo, os portugueses que emigram gostam, amam Portugal. Basta conhecerem a pátria dos outros e comparar.Eu já tenho nove anos de vida fora de Portugal, em três continentes diferentes, talvez saiba do que falo. O Eça de Queirós que, em O Mandarim, não deixou de chamar "uma choldra" à nossa santa terrinha, dizia que no estrangeiro colocávamos os "telescópios da alma" e víamos Portugal com outros olhos. Recorda o Jacinto, de "A Cidade e as Serras", chegado de Paris, a perder-se, e a encantar-se, por bem, em Tormes, Santa Cruz do Douro.
O problema aqui no blogue é algo diferente. É que muitos portugueses, com tropa ou sem tropa adoram dar tiros no pé, temos os mais de 40 anos de ditadura, a paixão política,ódios ainda escondidos, a guerra que vivemos, os traumas que ficaram para sempre, o gosto que temos de sofrer (o nosso fado!), e de culpar sempre os outros pelas nossas desgraças. A exaltação do tema da escravatura, do racismo, do colonialismo, que hoje são moda, começam a tomar conta do juízo de muita gente, muitas vezes de uma forma acrítica, há camaradas que dividem o mundo em bons e em maus, em exploradores e em explorados,(ai marxismo!) num simplismo sem dialética nem contraditório, esquecendo-se a complexidade dos homens em sociedade, esquecendo-se o bom que se pode tornar mau,o mau que se pode tornar bom, esquecendo-se que tudo é relativo e que o mundo pula e avança, e também estaciona e recua,(África é exemplar!) com sonho, sem sonho, sobretudo com a dura realidade.
Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

O que este blogue tem,que outros nunca o conseguiram ter, é que depois das “minas”,”rebentamentos “ e “flagelações das mais variadas acabam (quase sempre!) por surgirem palavras sensatas como estas do camarada Graça de Abreu.
A ter vergonha na cara (que pouco tenho) quase me atreveria a chamar-lhe ...um blogue Nórdico.

Mas,mais não seria que “provocação “ de velho portuga já irremediavelmente *assuecado*.
Tendo em conta as idades da maioria destes combatentes-bloguistas (os optimistas contam-nas já com os dedos de uma só mão) todas as
“Picardias-menores”,”piropos “ e “cortesias “,tudo começa a ser...*excedentes.”.
Cada vez se sente mais vontade de terminar alguns diálogos com a fantástica palavra...Pois!

Com um abraço do J.Belo e...POIS!

(Cedinho pela manhã ; hora do dia de mugir as minhas mui impacienteis....renas! )

Anónimo disse...

Olá a todos, isto vai muito excitado, vamos ter calma, e logo eu que não tenho nenhuma!

Quase todos têm a sua dose de razão, mas o que retiro no final, e sei do que falo, é que o 'colonialismo' deu lugar agora à 'cooperação', como um camarada bem disse. Uma forma escondida, com o rabo de fora, dos novos colonizadores, de todo o lado do mundo, tão ou mais racistas do que o mais 'racista' de raça 'tuga'.

Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

J. Belo, ainda bem que é assim.
Devemos ser assim e evitar que haja um censor-corrector automático 'não gosto do Beja Santos', como de um corrector ortográfico automático se tratasse.
E quanto ao resto, de que ainda há vestígios 'radioativos' no ar, lembrámo-nos de
'Nós cremos que há raças decadentes, ou atrasadas, como se queira, em relação às quais perfilhamos o dever de chamá-las à civilização. Que assim o entendemos e praticamos, comprova-se pelo facto de não existir qualquer teia de rancores ou de organizações subversivas que neguem ou pretendem substituir a soberania portuguesa'
(Salazar. 'Discursos e Notas Políticas' vols. III-V (1943 e 1957), Coimbra Editora)

Abraço, saúde da boa e ..pois
Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

O J. Belo traz à baila aquela de os oficiais do quadro não poderem casar com gente do ultramar, mesmo branca filha de pais brancos.

Ou seja não podiam casar com brancas de segunda. Eu que gosto muito das ideias de Salazar, esta era de uma contradição enorme, porque uma grande parte dos oficiais do quadro, eram eles próprios brancos de 2ª.

Posso mencionar um ou outro, mas não devo, mas sabe-se (quem por lá andou)que muitos meninos que iam para os pupilos eram filhos de militares que passavam a vida que ia de cabos a sargentos e chegavam até a tenentes e mais, em comissões no ultramar e a prole ia nascendo por lá, eram portanto brancos de 2ª, mas foram para os pupilos do exército, que era uma opção muito comum.

Muitos militares e muitos comerciantes, chegavam a enviar as esposas para a metrópole, para darem à luz brancos de 1ª.

Outras vezes, arranjavam estratagema para as crianças serem registadas em Lisboa, para não serem de 2ª.

Enfim, não creio que isto do casamento dos oficiais fosse invenção do Estado Novo, ali não havia imaginação para tanto, isto devia de vir já do tempo da "Reinação" e por inércia continuou.

Mas atenção que tudo o que faziamos em África, e até em Portugal, era apenas copianço dos ingleses, belgas e franceses.

Os belgas, quando fugiram retornados em 1960, do Congo Belga, muitos brancos e brancas cavaram por Luanda, e as mulheres e homens belgas era tudo solteiro,foi uma pouca vergonha ver aquele mulherio a invadir tudo o que era boite, cabaret e cervejarias num forrobódó danado.

Ou seja, funcionários do estado e daquelas grandes empresas mineiras, não tinham lá as esposas, era-lhe permitido ter "empregadas" brancas, porque as esposas estavam a cuidar da prole na Bélgica, que eles vinham visitar de férias com frequência.

Daí nem haver mestiçagem belga.

Apartheid não é racismo, caraças!

A mestiçagem é que é uma pouca vergonha e um abuso (mútuo).

No Brasil, os colonizadores das diversas nacionalidades mundiais, querem todos distinguir-se dos portugueses, atribuindo a eles a paternidade exclusiva daquela mestiçagem descomunal, em tom jocoso, evidentemente.

Em tom jocoso, atingindo o portuga, e o mestiço por igual.

Racismo tem porras!


Anónimo disse...

Entre outros estratagemas usados pelos Oficiais das Forças Armadas quanto aos seus casamentos com brancas de segunda classe era o de o efectuarem em Espanha sendo a cidade de Badajoz a mais usada.
Casamentos obviamente religiosos que,com a ajuda conveniente de Oficiais Capelães amigos,eram posteriormente registados com relativa facilidade na Caderneta Militar do Oficial.

Nas suas análises sempre interessantes ,António Rosinha refere algumas das ideias de Salazar a respeito dos seus “pretinhos” que (termo muito usado na época ).
Não entrando de novo nas ideias geniais deste governante que levaram à entrega de Goa (de bandeja) a somar-se a uma política colonial eivada do seu Iluminismo-saloio de resguardado gabinete....não menos no “aguentar” sem buscar soluções viáveis que em futuro,para alguns evidente,não acabasse por levar à tragédia que foi a descolonização ...”exemplar “.
E tantos exemplos tinha se tivesse olhado para as experiências francesa,inglesa,belga,holandesa,e a sen modo mesmo a espanhola.

Não conseguiu mesmo descer das alturas do seu saloismo-iluminado-racista quanto ao caso ,sem dúvida pessoal mas elucidativo, do seu leal seguidor o então Ministro dos Negocios Estrangeiros Franco Nogueira impedido de se reunir com a família mais próxima (mulher) por ser chinesa de...Macau,reunião só possível nos tempos de Marcelo Caetano.
Algo que o ditador(!) poderia ter resolvido com uma simples assinatura.
Mas,e como nos estamos a referir a Legislação racista aceite pela sociedade envolvente...nem para o ditador essa assinatura seria fácil.
Saudosismos vários....Pois.

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

A Vera Franco Nogueira era chinesa de Xangai( tal e qual como é a minha esposa, uma chinesa pura Wang HaiYuan que também é de Xangai!) e não de Macau. Quanto a racismo,(tenho dois filhos meio China , meio Portugal!...) acho que também sei do que falo e do que, com enriquecimento e prazer, vivo todos os dias, há quase quarenta anos. E até o Camões teve a sua Dinamene chinesa, provavelmente morta no naufrágio na foz do rio Mekong, quando Camões regressava de Macau a Portugal.

Abraço,

António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Tens toda a razão.
Levaste-me a procurar nas há muito lidas memórias de Franco Nogueira e lá está que a senhora não era de Macau mas da “outra “ China.
O que ,para além da Legislação,certamente terá complicado ainda mais o assunto da reunião familiar
Grato pela correção.

Um abraço do J.Belo

Anónimo disse...

Pois, realmente não entendo nada destas coisas que aqui tão bem se falam e escrevem.
Nem quero entender, o que acho é que tudo isso é passado longínquo, que o Dr. Oliveira Salazar, nosso Presidente do Conselho, (não o ditador, como lhe chamam) bem poderia resolver com a tal assinatura, mas não assinou e ponto final.

Isto não é saudosismo, pois, é apenas constatar a história, que já não tem remédio.

Virgilio Teixeira

Valdemar Silva disse...

'... (não o ditador…)...'

Afinal havia outro.

Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Será aconselhável para alguns um pequeno aprofundamento quanto ao significado em português de algumas palavras.
Porque quanto ao significado linguístico das mesmas a atitude infantilizada dos “ego “ como argumento de causa terá unicamente significados muito primários nas suas subjectividades.

Eleição livre para o cargo político governamental ,como o era o de Presidente do Conselho no regime surgido do golpe militar de 28 de Maio,
Não existiam.
Os poucos que se atreviam a discordar do ditador....terminavam mal.
Mas como o Dr.Salazar desempenhou o seu cargo durante longas décadas sem ser votado pelos portugueses para tal estaremos todos satisfeitos que a ditadura é.....”Aquilo que o povo gosta!”.
(Isto para citar alguns clássicos deste blogue).

Respeitosos cumprimentos do J.Belo

Anónimo disse...

Como este poste,como cada vez se torna mais necessário relembrar ,analisa racismos,quase me atrevia a pedir a todos que respeitem o grito de alma quanto ao “ponto final” de comentados anterior.

Como alguns gostam mais de “ponto e vírgula “ do que pontos finais aqui volto a referir o nosso Eça de Queiroz quando,em relação a conhecido político da sua época escreveu:
-Quanto menos entende mais fortes,profundas e firmes são as suas opiniões.
Outros tempos...

Um abraço do J.Belo

Valdemar Silva disse...

J. Belo
Em tempos, contou um ex-preso politico na ditadura militar do Brasil, que quando era interrogado na prisão chamava em altos gritos as piores asneiras ao carcereiro, em vez de gritar podia ficar calado ponto final. Mas não, gritava e chamava 'seu filho da ...', por lhe estarem a apertar os t.... com um alicate.
Podia dizer 'p.f. não me aperte os meus t..matinhos' e ponto final.

Ab. saúde da boa e quem me dera andar por ai a re(i)nar.
Valdemar Queiroz