Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 (1964/66) > S/l > s/d > Progressão em coluna apeada, ou em fila indiana (no mato, no CTIG, dizia-se: "bicha de pirilau")
Foto (e legenda): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. No Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, que é o que está mais à mão, não consta a expressão, "bicha de pirilau"... Só vêm os vocábulos "bicha" e "pirilau". No Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, onde há tudo como na farmácia, desta vez não encontrei o que pretendia...
No Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas, de José João Almeida (Projeto Natura, Universidade do Minho), idem, aspas... Também no Ciberdúvidas da Língua Portuguesa ninguém teve, até agora, a curiosidade em saber o seu significado e a sua origem... Há, no entanto, uma entrada sobre "bicha" e "fila"...
Resta o nosso blogue... A locução ou expressão "bicha de pirilau" aparece amiudadas vezes nos nossos postes... Cite-se, por exemplo, o nosso saudoso Luís Faria (1948-2103), ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2791 (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72):
(...) "O amanhecer não tardaria muito quando deixámos a estrada e entrámos no desmatado, avançando em longa bicha de prilau para a mata e continuando numa progressão atenta, ziguezagueante e tanto quanto possível silenciosa, atendendo ao número de elementos, com o objectivo de detectar e interceptar um grupo IN presumivelmente numeroso, que por lá se movimentaria". (...) (*)
O vocábulo feminino "bicha de pirilau" já fazia parte do léxico militar, em 1964, aquando da Op Tridente, a avaliar pela descrição das peripécias na ilha do Como, aqui feita pelo nosso querido camarada Mário Dias, 2º sargento comando (Brá, 1963/66):
(...) "Atravessado sem percalços este obstáculo natural, eis – nos na extensa bolanha que se estende até Cauane e à mata de Cachil mais a Norte. Aí, só era possível andar sobre os estreitos ouriques pelo que lá vamos nós em coluna por um (a célebre "bicha de pirilau", na gíria militar)" nada aconselhável em terrenos descobertos. (...) (**)
"Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar de segurança (gíria); o mesmo que fila indiana."
Carlos Silvério, grã-tabanqueiro nº 783 |
2. Tudo isto vem a (des)propósito de um comentado inserido no poste P20655 (****), em o nosso cap inf ref José Belo anuncia, à Tabanca Grande, a reabertura da sua Tabanca da Lapónia:
Comentário de Luís Graça, com data de 16 do corrente:
Meu caro José:
Ando há tempos com um pedido do meu/nosso camarada Carlos Silvério, de Ribamar da Lourinhã, terra de lobos do mar... Para mais é meu primo, porque casou com a Zita, que pertence ao clã Maçarico, tal como eu... Além disso, o Carlos é também primo do tenente general Luís Silvério, filho ilustre da terra... Enfim, somos um país em que somos todos (ou quase todos) primos uns dos outros...
Mas adiante... O Carlos Silvério, nosso grã-tabanqueiro nº 783, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73) (...) tem uma pequena questão a pôr-te:
Comentário de Luís Graça, com data de 16 do corrente:
Meu caro José:
Ando há tempos com um pedido do meu/nosso camarada Carlos Silvério, de Ribamar da Lourinhã, terra de lobos do mar... Para mais é meu primo, porque casou com a Zita, que pertence ao clã Maçarico, tal como eu... Além disso, o Carlos é também primo do tenente general Luís Silvério, filho ilustre da terra... Enfim, somos um país em que somos todos (ou quase todos) primos uns dos outros...
Mas adiante... O Carlos Silvério, nosso grã-tabanqueiro nº 783, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73) (...) tem uma pequena questão a pôr-te:
Quando ele passou pelo RI 5, Caldas da Rainha, como monitor de recruta do CSM (Curso de Sargentos Milicianos), entre setembro e dezembro 1970, ele ficou com a ideia de que tu estavas lá, como instrutor, eras alferes miliciano, acabado de regressar da Guiné...
Bate certo ? Um belo dia apareceu lá um senhor general que quis certificar-se da excelência da formação dada aos futuros sargentos milicianos... E terá supervisionado uma das tuas aulas práticas... Às tantas, falavas tu da tua experiência operacional no TO da Guiné, em 1968/70, quando usaste a expressão "bicha de pirilau"...
Parece que o general ficou "piurso", saltou-lhe a mola e deu-te uma valente reprimenda ("piçada"):
- Senhor alferes, no exército português não há bichas de pirilau!... Os nossos militares, no mato, na Guiné, em Angola, em Moçambique, andam em fila!... Ponha isso no seu léxico!...
O Carlos não sabe porque é que o senhor general afinou com a expressão "bicha de pirilau"... Seria uma reacção... homofóbica"?...
Bem, para o caso não interessa, o Carlos só me pediu para confirmar se o instrutor eras... tu. Se sim, a história é divertida... Se foi com outro instrutor, a história continua a ser divertida na mesma. (...)
José (ou Joseph ou Joe) Belo, um capitão de infantaria que a Pátria / Mátria / Fátria tramou... |
Caro Luís
Näo recordo a história referida. "Correcöes" por parte de Senhores Oficiais Generais... tive a honra de receber algumas durante a minha vida militar, principalmente no período indicado do... pós regresso da Guiné.Daí ser muito possível que fosse eu.
Era um termo muito usado pelos instrutores "Infantes", mesmo na casa mãe em Mafra. O feliz termo "pirilau" não tinha neste contexto quaisquer associações com homossexuais. Creio ser um termo que era vulgarmente usado pelos vindimeiros no Norte, obrigados pelo terreno a caminhar em fila (!) por sinuosos carreiros.
A única correção que poderei fazer é o facto de que na data indicada já näo era Alferes Miliciano.
Parabéns ao camarada Carlos Silvério pela sua memória, muito melhor que a minha,felizmente cada vez mais "gasta" quanto a tudo (o muito!) que foi militar na minha vida. (...)
4. Comentário do nosso editor Luís Graça:
Desculpa, José, ou Joseph, ou Joe, conforme onde tu estejas (, e nunca ninguém sabes onde estás "just in time"...), mas o senhor general tinha razão... No Exército Português não há (ou não havia...) "bichas", mas "filas"... Muito menos "bichas de pirilau"...
Esta última expressão vê-se mesmo que era de gente "apanhada do clima"... "Fila" é que era linguisticamente correto: os mancebos, nuinhos, de pilau murcho ao frio, quando iam às "sortes, esperavam em "fila", não em "bicha", a vez de serem chamados, observados, apalpados, pela junta médica que depois os considerava aptos ou inaptos para a "função", que era... "morrer em fila, organizados"... na frente da batalha!...
Se calhar o senhor general nunca esteve na Guiné e não sabia o que era a "guerra de guerrilha", ou "guerra subversiva". Estudou, pois, por outros canhenhos... Mas tu estiveste lá, no coração do mato, em Empada, em Bula, em Mampatá, na região do Forré, sabias do que falavas aos instruendos do CSM, nas Caldas da Rainha...
E portanto eu reconheço-te autoridade para "grafar" a expressão... Só não entendo a reação (, algo destemperada, a crer na versão do Carlos Silvério...) do general que te deu a "piçada"... Mas, enfim, devia ser um daqueles generais da brigada do reumático que nunca foi à guerra e, como tal, era incapaz de imaginar uma fila de trânsito no mato, de gente apeada, 250 homens / 8 grupos de combate, de G3 em punho, a progredir em direção ao Poindom ou à Ponta do Inglês, e ao banho de sangue que os esperava... (Vd. o que eu aqui já escrevi sobre a Op Abencerragem Candente, subsetor do Xime, Setor L1, Bambadinca, 25-26 de novembro de 1970, estavas tu a dar instrução aos instruendos do CSM, nas Caldas da Rainha...).
Era, vista de cima, do PCV, da DO 27, uma "bicha" de todo o tamanho, entre mil a mil e quinhentos metros... partindo-se do princípio que entre cada combatente havia um espaço de 4/5 metros... ou às vezes mais...
5. O mais surpreendente é que os lexicógrafos desconhece-se a expressão "bicha de pirilau" !...E mesmo na Net, e à exceção do nosso blogue, é difícil apanhá-la... Ele há bicha-de-rabear, ele há bicha-de-sete-cabeças... mas "bicha de pirilau",... cá tem.
Em todo o caso, encontrei este "delicioso apontamento" sobre a expressão "bicha de pirilau", num blogue com um título deveras original (e muito "feminista"), de Maria Brojo: "Sem Pénis Nem Inveja":
Domingo, 5 de novembro de 2006 > Bicha-pirilau
(...) Fomos assaltados. Roubados. Espoliados do significado de termos que eram nossos até o português exportado do Brasil os ter censurado cá, por serem pejorativos lá. Bicha foi um deles. Fila passámos a dizer, não fossem os «bichas» - homossexuais, paneleiros, abafadores da palhinha na gíria portuguesa - ficarem numa espera confundidos.
Bichas eles ou as gentes em carreira esperando a vez? As novelas brasileiras tiveram o (des)mérito de obrigar ao volteio do português escorreito. Banais acrescentos como lingerie, hobby, gays ou stress? Talvez, mas por pertencerem a língua comum falada em continentes diferentes, formiga dos termos a adopção.
Bichas há muitas: gatas e cadelas, fila indiana, ficar como uma bicha (fulo, danado), ver se as bichas pegam (tentar obter o desejado), bicha-pirilau.
Esta é, de longe, a mais impressiva. Usada no mundo militar, é gritada por sargentos aos recrutas temerosos se alinhar é preciso. Um "bicha-pirilau" trovejado, com voz de comando por arregimentado façanhudo, a uma mulher, daria vontade de rir; aos mancebos magricelas e fardados soará como clamor dos Infernos.
Mas faz sentido: homens formando linha direita, pirilaus erectos acompanhando o desenho. Duvido, porém, do estado hirto e firme dos atributos masculinos embrulhados nas fardas e alinhados em parada. Estivessem com bravura todos erguidos em carreira, e constituiriam, sem que prante a menor das dúvidas, espectáculo digno de ser visto. (...)
Fonte: Do blogue Sem pénis nem inveja, editado por Maria Broja > Domingo, 5 de novembro de 2006.
6. E voltando ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, portal que eu muito admiro... Encontrei, em todo o caso, esta deliciosa resposta do João Carreira Bom, cofundador com José Mário Costa, do Ciberdúvidas, e infelizmente já falecido... A resposta é a uma questão sobre a diferença entre "bicha" e fila"... Aqui vai, para o nosso comum enriquecimento linguístico (*****). Porque a falar é que a gente se entende, e de preferência em bom português. Vou pôr esta questão, algo melindrosa para os nossos generais, ao meu amigo José Mário Costa, o Senhor Ciberdúvidas, coordenador editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:
(...) No «Novo Dicionário da Língua Portuguesa», de Cândido de Figueiredo, editado em 1939 (Bertrand), bicha é associada a «qualquer objecto que, pelo seu feitio ou movimento sinuoso, dá ideia de um réptil». Entre outros sentidos, Cândido de Figueiredo atribui-lhe o de «fileira de pessoas, umas atrás das outras». Fila, na mesma obra e no significado que aqui nos interessa, é uma «série de coisas (animais ou pessoas) dispostas em linha recta. Enfiada; fileira: uma fila de cadeiras.» Nos dicionários mais recentes que consultei, seguem-se, no essencial, estas indicações.
Não pude confirmar, assim, a especialização de sentido que, quanto ao movimento, o prezado consulente fez o favor de nos referir. Mas concordo consigo no aspecto mais importante: querem matar uma palavra necessária. Bicha está a ser comida à má fila nas cabecinhas, tão piedosas quão perversas, de alguma classe média.
Contrariando opiniões que recolhi e atribuem o fenómeno às telenovelas brasileiras, não cometerei grande erro se disser que já existia em certas camadas da sociedade portuguesa um preconceito sexista em relação a esta palavra. Um preconceito muito mais ténue do que no Brasil, mas lembro-me de uma «tia» me corrigir, na minha adolescência, por haver utilizado a sonora expressão «bicha do eléctrico». As telenovelas brasileiras não criaram, pois, o preconceito. Tê-lo-ão difundido um pouco mais.
Até demonstração do contrário, continuarei a dizer «fila de automóveis», «fila de soldados», «fila de cadeiras», «bicha do IRS». E, se calhar, até digo «bicha de carros», «bicha de espera». Na bicha para a compra do passe, nunca ouvi exclamar: «Olha a espertinha, está a passar à frente da fila!» Os elementos mais pretensiosos da classe média, pelo seu número e posição, podem ser muito influentes. Mas não vão para as bichas dos transportes públicos. Afigura-se-me não terem influência directa para provocar a morte de uma palavra inocente que, afinal, os perturba. Eles lá sabem porquê.
João Carreira Bom 1 de janeiro de 1997.
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/bichas-ou-filas/219 [consultado em 18-02-2020]
6. E voltando ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, portal que eu muito admiro... Encontrei, em todo o caso, esta deliciosa resposta do João Carreira Bom, cofundador com José Mário Costa, do Ciberdúvidas, e infelizmente já falecido... A resposta é a uma questão sobre a diferença entre "bicha" e fila"... Aqui vai, para o nosso comum enriquecimento linguístico (*****). Porque a falar é que a gente se entende, e de preferência em bom português. Vou pôr esta questão, algo melindrosa para os nossos generais, ao meu amigo José Mário Costa, o Senhor Ciberdúvidas, coordenador editorial do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa:
(...) No «Novo Dicionário da Língua Portuguesa», de Cândido de Figueiredo, editado em 1939 (Bertrand), bicha é associada a «qualquer objecto que, pelo seu feitio ou movimento sinuoso, dá ideia de um réptil». Entre outros sentidos, Cândido de Figueiredo atribui-lhe o de «fileira de pessoas, umas atrás das outras». Fila, na mesma obra e no significado que aqui nos interessa, é uma «série de coisas (animais ou pessoas) dispostas em linha recta. Enfiada; fileira: uma fila de cadeiras.» Nos dicionários mais recentes que consultei, seguem-se, no essencial, estas indicações.
Não pude confirmar, assim, a especialização de sentido que, quanto ao movimento, o prezado consulente fez o favor de nos referir. Mas concordo consigo no aspecto mais importante: querem matar uma palavra necessária. Bicha está a ser comida à má fila nas cabecinhas, tão piedosas quão perversas, de alguma classe média.
Contrariando opiniões que recolhi e atribuem o fenómeno às telenovelas brasileiras, não cometerei grande erro se disser que já existia em certas camadas da sociedade portuguesa um preconceito sexista em relação a esta palavra. Um preconceito muito mais ténue do que no Brasil, mas lembro-me de uma «tia» me corrigir, na minha adolescência, por haver utilizado a sonora expressão «bicha do eléctrico». As telenovelas brasileiras não criaram, pois, o preconceito. Tê-lo-ão difundido um pouco mais.
Até demonstração do contrário, continuarei a dizer «fila de automóveis», «fila de soldados», «fila de cadeiras», «bicha do IRS». E, se calhar, até digo «bicha de carros», «bicha de espera». Na bicha para a compra do passe, nunca ouvi exclamar: «Olha a espertinha, está a passar à frente da fila!» Os elementos mais pretensiosos da classe média, pelo seu número e posição, podem ser muito influentes. Mas não vão para as bichas dos transportes públicos. Afigura-se-me não terem influência directa para provocar a morte de uma palavra inocente que, afinal, os perturba. Eles lá sabem porquê.
João Carreira Bom 1 de janeiro de 1997.
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/bichas-ou-filas/219 [consultado em 18-02-2020]
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 16 de maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4361: Viagem à volta das minhas memórias (Luís Faria) (14): Um mês complicado (3): O osso
(**) 15 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P353: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)
(***( 13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B
(****) Vd. poste de 16 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20655: Da Suécia com saudade (63): reabrindo a Tabanca da Lapónia, agora ao povo... (José Belo)
(*****) Último poste da série > 21 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20476: Em bom português nos entendemos (24): o crescimento do ensino da língua portuguesa em Macau, 20 anos depois da transferência da administração do território para a China
37 comentários:
Os nossos grã-tabanqueiros, sobretudo os "periquitos", chegados há pouco tempo, não sabem que o José Belo foi capitão de infantaria do exército português até finais de 1980. Depois pediu a passagem à reserva, e hoje está reformado... como capitão. Mas podia ter feito uma bela carreira militar...Será que perdemos um belo general ?
Na história, grande e pequena, coletiva e individual, não hão "ses"... Não foi a general, nem a coronel, mas foi a régulo... da Tabanca da Lapónia!.. E a pastor de renas!... Ah!, na Lapónia não há bichas de pirilau... Se houver, só de cães e renas e ursos... Estamos a falar da Lapónia, ex-colónia da Suécia... (Só que os suecos foram mais espertos, souberam "descolonizar", no bom tempo...).
Nos tempos das chamadas "operações de pacificação" da Guiné dizia-se marcha "a um de fundo".
Armando Tavares da Silva
Olá Camaradas
Esta coisa das línguas tem regras bem definidas. Por isso é o latim popular (o dos soldados) deu o português. É conhecido que os idiomas evoluem através da fala diária e popular.
Neste caso estamos, perante uma de tantas expressões populares (militares, neste caso) que talvez não venha a inserir-se no português corrente. Ou poderá vir a inserir-se...
Como exemplo cito a palavra JIPE que começou por ser GP (general purposes) usos múltiplos ou gerais e passou JEEP. O expressão Light chega a aparecer nos painéis dos rádios militares como LITE, talvez por ser mais intuitiva e ocupar menos espaço.
"Bicha do Pirilau" é uma expressão de calão militar que calão militar, rica e imaginativa como outras de outros meios e profissões.
É provável que venha a "desaparecer" porque a geração que a inventou vai desaparecer sem a ter passado à seguinte.
Um Ab.
António J. P. Costa
Tive um colega de profissão e de empresa, que era bastante mais velho do que eu e que se recusava terminantemente a empregar a palavra fila, em vez de bicha. Dizia ele: «Nas bilheteiras dos cinemas, as pessoas fazem bicha, para comprarem um bilhete para o lugar número tal da fila tal. Numa fila, as pessoas estão ao lado umas das outras; numa bicha, estão atrás umas das outras. Quem não gostar da palavra bicha, diga então fila indiana».
A despropósito, lembrei-me da palavra preservativo, que é uma palavra que não tem graça nenhuma. Então não era muito mais poético dizer camisa de Vénus?
Olá Camaradas
Não sei se se lembram da expressão "fila indiana" para designar uma forma de marcha utilizada pelos índios americanos de modo a deixarem a menor pista possível e iludir os perseguidores.
Creio que tudo, mais uma vez se deve às influências dos brasileiros e à nossa tendência para assimilarmos os idiomas estrangeiros, em vez de mantermos o nosso e tentarmos que os estrangeiros os reconheçam como tal, Só a título de exemplo, lembrarei as "evidências" em vez de provas e as perícias em vez de peritagens. Dantes a perícia era conduzir o carro a 200 K/h e a peritagem era ficarmos a saber porque é que o concutor ficou com o volante pendurado ao pescoço. Hoje... tudo mudou.
E a culpa é nossa. Mais ninguém tem este modo de agir. E até há os que se recusam a falar línguas estrangeiras, quanto mais a adquirir novos vocábulos.
Um Ab.
António J. P. Costa
Já meti uma "cunha" ao Senhor Ciberdúvidas, o José Mário Costa...para que ele tenha em boa conta e apreço esta nossa discussão linguística...
Vou pôr todo o meu empenho em ajudar a grafar esta expressão tão castiça do tempo dos nossos verdes anos na Guiné... Qual "fila indiana"!... Qual foi o idiota que chamou "índios" aos habitantes do Novo Mundo?... Um tal Cristóvão Colombo... que legendava filmes de cobóis e não percebia nada de inglês...
Na Guiné, isso, sim, andávamos era todos em bicha de pirilau, com o cu apertado, por aquelas bolanhas e matos fora... Ala, moço, que se faz tarde!... E desta já escapei, que amanhã há mais !... E hoje, o que é que será o rancho, depois do regresso ao quartel ?... Dois dias a ração de combate e água de mijo dá cabo da tusa a um gajo!...
Os mais novos, os que não fizeram nem a tropa nem a guerra (,felizmente para eles,) não entendem patavina do que estamos para aqui a falar... Os nossos filhos, os nossos sobrinhos, os nossos netos... "Bicha de pirilau, avô ?"... Se fosse "son of a bitch" eles ainda entendiam, porque que é do calão da primeira língua estrangeira que eles falam (ou pagagueiam), eles que são filhos do googlês...
Tens razão, Tó Zé!... Temos muitas qualidades, como povo, mas temos o terrível defeito de
de nos "desbarretarmo-nos" e pormo-nos de cócoras na presença dos estrangeiros e dos estrangeirados... Ainda hoje...
Por que é ainda não houve nenhum senhor dicionarista ou lexicógrafo ou linguista que tenha achado piada a uma expressão castiça, original, bem humorada, genial mesmo, como "bicha de pirilau" ?!...
Muito simplesmente, nunca beberam a água do Geba, nem molharam os tomates no tarrafe dos rios da Guiné...
Peço desculpa pelo tom... algo veemente do meu comentário... Mas não grafar uma expressão como esta, "bicha de pirilau",é como amputar um dedo do pé a um combatente da guerra colonial, ou da guerra do ultramar, ou da guerra de África, como lhe quiserem chamar...
Porra, com a sua licença, meu general, os meus soldados eram guineenses, fulas, muçulmanos, não falavam português mas sabiam o que era andar em "bicha de pirilau" nos matos medonhos da Guiné!...
Ciberdúvidas: Os meus agradecimentos à tertúlia pela informação sobre as apalavras fila e bicha. Como eu estava enganado a concepção que eu fazia da palavra bicha e fila era a seguinte fila era quando seguia-mos em fila indiana a andar normal todos a seguir o da frente ou sentados, deitados de pé etc, desde que estivessem ao lado sempre a seguir seria fila.
Porque uma bicha só é bicha quando está toda ligada logo que há uma quebra ela deixa de funcionar por esse motivo continuo a pensar que a bicha e a fila são palavras diferentes.
A bicha só era quando nós durante a noite caminhavas no Breu das matas da Guiné e a nossa mão esquerda ou direita não podia perder o contacto com o camarada que seguia à nossa frente e assim nunca havia hipótese da secção, pelotão ou companhia ficar desmembrada sem saberem se alguém se tinha perdido. Quanto ao pirilau ou pilau acho que veio por acréscimo.
E porque é que eu fiz este racíocinio eu que em jóvem ainda fui mecânico de bicicletas o cabo dos travões passava por um género de tubo feito em arame de aço, protegido por um plástico a que se se dava e dá o nomem de bicha, até a bicicleta que tinha esse tipo de travões se chamava biciclete de travões de bicha a outra que não tinha esse tipo de travões era a bicicleta de travões de alavanca.
Se o jose Belo for o capitao do QEO de Infantaria jose Aurelio Gouveia Costa Belo,passou a reforma em 1991.Sera o mesmo?
Fernandes Martins
Peco desculpa
Jose Aurelio Gouveia Costa Belo foi capitao dos militares do QEO,foi promovido a Capitao em 1974 e passou a reforma em o1/Jan/1991
Fernandes Martins
Joel, Joseph, José...És um homem sem complexos que assume o seu passado
Sem (res)sentimentos...E isso é que bonito em ti. E tens um saudável sentido de humor, coisa que falta a muitos de nós quando olhamos para o passado e nós vitimizamos...Mas a verdade redes sociais tem os riscos...mas também se quines ses manter te na clandestinidade não abriam ao povo a Tabanca da Laponta... Ah!, e aprecio o sentido de gratidão.Em geral, somos ingratos como povo: por exemplo,aos colonialistas dos romanos, judeus,visigodos, e mouros... que nos deram o ser... Um alfabravo do Luis
Não é Joel. É Joe. Em Keys Weste. I'm sorry. Luis.
Não sei escrever com o telemóvel. É Kem West, Florida. Luis
Luis,gabo-lhe a paciencia.
Fernandes Martins
Em que rua escura tem andado escondido meu caro Fernandes Martins?
Manuel Teixeira
Manuel Teixeira.Nao vivo em Portugal mas por ter passado pela Guine gosto, quando tenho tempo,de passar uma vista de olhos pelo Luis Graca e Camaradas da Guine.Sempre com muito prazer.
Cumprimentos
Fernandes Martins
Mas também haverá ruas escuras fora de Portugal.
Manuel Teixeira.
Na primeira aula de táctica-estratégica que recebi no CISMI, Tavira, o monitor disse-nos que em caso de nova guerra na Europa, a fronteira a defender pelo Exército Português ia do rio Minho ao rio Alba, seguiu-se a pergunta onde era e eu pedi logo autorização para responder - passava em Arganil e desaguava no Mondego, perto de Penacova (havia-me banhado nele, quando estudei em V. N. de Poiares). - Não, esse era o rio Alva, da serra da Estrela; o rio Alba ficava em Berlim, a fronteira a fronteira da NATO com o Pacto de Varsóvia. Mas as minhas ignorância em assuntos militares não ficarão ali.
O termo "bicha de pirilau" significa o oposto a todas bichas flexíveis, incluindo as que serviam de "preservativo" às doenças dos cabos de aço dos travões das bicicletas, que o José Botelho trabalhou.
"Bicha de pirilau" era uma "erudita" expressão sexista e machista do português de caserna e de parada, da instituição exclusiva ao sexo masculino, com significada idêntico ao de bicha para "partir catota", no idioma fula, ou de "bicha para o pi-pipi", em castelhano, "bicha para a buceta", no português brasileiro ou de bicha para parreca, pito e outras expressões em português gilvicentino, que omito, por eventualmente mais chocantes.
Abr.
Manuel Luís Lomba
Manuel Teixeira:Esta a insinuar alguma coisa?
Fernandes Martins
Camaradas, não entrem em picardias por favor...Somos todos gente de bom, velhos e bravos camaradas. O Manuel Teixeira e o Fernandes Martins não precisam de convite para integrar a nossa Tabanca Grande... Podem sentar-se nos lugares nºs 805 e 806, à sombra do nosso poilão.
O editor Luís Graça.
À terceira é de vez, agora que cheguei a casa e escrevo no meu portátil: O Joe também vive em Key West, Florida, USA.
Luís Graça
Caro Amigo e Camarada Manuel Luís Lomba
Sem dúvida que havia, e certamente continuará a haver,uma muito forte conotação entre os instrutores militares portugueses,principalmente os que tinham tirado cursos complementares nos Estados Unidos,com as amplas visões estratégicas da NATO.
No meu tempo era a defesa do norte de Portugal na fronteira de Berlin.
Hoje ,a fronteira de Portugal certamente será algures no Afeganistão,ou ...
ainda pior.
Por muito patriotas e geniais estrategas que certamente serão,no fundo é a fronteiro no Rio Minho que merece ser defendida com sangue de
Portugal.
Espero sinceramente que os Alentejanos não levem a mal este...simbolismo)
Um abraço do J.Belo
Caro Luís
A propósito da palavra "Picardia".
Num dos seus comentários ao poste sobre a Tabanca da Lapónia (que se encontra agora em fim de página) o nosso Amigo e Camarada Francisco Baptista escreveu:
"As palavras säo como espadas de dois gumes,quando näo as sabemos utilizar,magoam-nos".
Nos dialetos usados na Laponia (säo 4 os maiores) é interessante verificar que as palavras säo divididas de modo a terem significados por vezes distintos,outras vezes complementares ou explicativos.
Acompanhar este tipo de diálogos torna-se complicado para quem näo está habituado ao sistema.
Mas se nos dermos ao trabalho de o fazer com inúmeras palavras portuguesas os resultados também säo interessantes e inesperados nas suas associacöes.
Usando como exemplo *Palavra* : *Lavra* antecedido de *Pa*.
Da *Lavra* resulta trigo.
Da *Lavra* mal feita resulta urze.
Inesperadamente descobre-se que o sistema usado por esta gente nas suas comunicacöes também se pode aplicar a outros "dialetos" distantes.
E,enquanto se vai tendo interesse para analisar estas coisas originais,näo há paciëncia para as Picardias".
*Pica*+*Ardias*
Um abraco Lapäo
J.Belo
Luis Lomba
'Partir catota' no idioma fula? ou não será, antes, um fula a falar crioulo?
Valdemar Queiroz
Caro Belo.
Parabéns por uma frontalidade hoje pouco vulgar.
Ab.Manuel Teixeira
Ah!, a Grande América... tão liberal q.b.!!!
Joe, gostei do teu comentário, sem papas na língua... Mas é a terra dos teus netos, segundo sei... Não há países perfeitos, na terra, e muito menos no céu. É aqui que temos de viver e morrer, nos States, na China, na Suécia, en Angola, na Guiné, em Portugal... Ah|, se pudessemos fazer um "melting pot", juntar o melhor de cada um... Mas nada é estático: hoje as bajudas na Guiné-Bissau já não andam de mama firme ao léu, e na Suécia das louras de olhos azuis já chegou há muito o McDonalds...
Em Portugal, estamos a envelhecer, embora, para minha satisfação, eu hoje tenha assistido, na minha terra (com a qual tenho uma velha relação de amor-ódio), a um desfile carnavalesco com centenas de crianças do ensino pré-primário... Que bonito, ver "chinoquinhas" que já cá nasceram, perfeitamente integrados no meio dos outros miúdos, com as mães, excitadíssimas, a tirar-lhes fotos para mandar par os avós que vivem na China, hoje a braços com um grande drama, como o do surto do novo coronavírus, o COVI 19, que começou há 3 meses na cidade de Wuhan...
E Angola, meu Deus!, onde falta tudo, a começar por homens, razão porque as mulheres aceita a poligamia informal... Mas nada do que se passa com os nossos "vizinhos", nos pode ser indiferente, já que vivemos na aldeia global, no mesmo planeta, e não temos alternativa B...
Mando-te um cheirinho do "mare nostrum", Praia da Areia Branca, Lourinhã, banhada pelo oceano Atlântico, de onde, há 150 milhões de anos atrás, no Jurássico Superiro, se ia a Nova Iorque a pé... (Iam os dinossauros...). Xi-corações, Luís... (Podem ir em bicha de pirilau, os corações...).
E a propósito do mundo global em que vivemos...alguém tem notícias do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu ? E, já agora, do Constantino Ferreira ? Sei que ambos iam fazer um cruzeiro de volta ao mundo, de 3 meses, a começar no princípio de janeiro... Não tenho notícias de um nem de outro...Com esta história do surto do Covid 19, espero que não lhes tenha acontecido... Tem havido notícias de navios de cruzeiros retidos, em quarentena (em Hong KOng, no Japão...). Não é, de facto, a melhor para dar a volta ao mundo por mar... Um grande abraço para os dois, se eles nos conseguirem ler. A bordo, o acesso à Net custa os olhos da cara... Luís Graça
Na página do Facebook, do António Graça de Abreu, a última mensagem publicada é de 31 d dezembro de 2019...
https://www.facebook.com/antonio.g.deabreu.1
O Constantino Ferreira não me parece que tenha viajado do tal cruzeiro de volta ao mundo... Ainda há dias deixou uma mensagem na sua página do Facebook...
https://www.facebook.com/constantino.ferreira.908
Noutras condições escreveria que o nosso Amigo e Camarada Graça de Abreu estaria certamente em Pequim a explicar ao Presidente Xi Jinping que a guerra na Guiné não estava militarmente perdida .
Hoje,com a seriedade da epidemia ,as inesperadas consequências, e a ignorância quanto ao seu evoluir, devemos seriamente nos preocupar se tudo lhe estará a corre bem.
J.Belo
Caro Belo
Em comentário anterior dei-lhe os parabéns pelo modo frontal como escreveu a propósito de racismo e nomes próprios.
Por pedagógico, lamento que o tenha retirado.
Ab.Manuel Teixeira
Meu Caro Manuel Teixeira.
Quando se escreve à distäncia de Continentes é fácil pensar-se na nossa Lusitänia como uma pequena família.
Mas,em verdade,näo é pequena nem só família.
Terei usado as tais "frontalidades" que refere (talvez naturais para militares) mas näo se deve esquecer o facto de,em português,as palavras "Camarada" e "Amigo" näo säo sinónimos.
E,infelizmente,a primeira näo arrasta automaticamente a outra!
Em todos os nossos blogues existiräo Amigos,Camaradas e...os outros.
E,como genialmente escrevem os brasileiros,estes "outros" acabam sempre por nos...APATIFAR!
Um abraco do J.Belo
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