Croquis da Op Tridente (1964), Vd imagem com melhor resolução, na página dedicada à Ilha do Como).
Infografia: © Mário Dias / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2005)
1. Texto da autoria do Mário Dias, sargento comando, reformado (Brá, 1963/66):
OPERAÇÃO TRIDENTE
Ilha do Como – Guiné
De 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964
I Parte
A designada Ilha do Como é, na realidade, constituída por 3 ilhas: Caiar, Como e Catunco mas que formam na prática um todo, já que a separação entre elas é feita por canais relativamente estreitos e apenas na maré-cheia essa separação é notória.
Na ilha não existia qualquer autoridade administrativa nem força militar pelo que o PAIGC a ocupou (não conquistou) sem qualquer dificuldade em 1963.
As tabancas existentes são relativamente pequenas e muito dispersas. Possui numerosos arrozais, o que convinha aos guerrilheiros pois aí tinham uma bela fonte de abastecimento, acrescido do factor estratégico da proximidade com a fronteira marítima Sul e o estabelecimento de uma base num local que facilitava a penetração na península de Tombali e daí poderia ir progredindo para Norte.
Não tinha estradas. Apenas existia uma picada que ligava as instalações do comerciante de arroz, Manuel Pinho Brandão (na prática, o dono da ilha) a Cachil. A partir desta localidade o acesso ao continente (Catió) era feito de canoa ou por outra qualquer embarcação. A casa deste comerciante era, se não estou em erro, a única construída de cimento e coberta a telha.
Portugal não exercia, de facto, qualquer espécie de soberania sobre a ilha. Tornava-se imperioso a recuperação do Como.
Guiné > Ilha do Como > Op Tridente (1964) > LDM: Desembarcando tropas
Foto (e legebda) © Mário Dias (2005). Todos os direitos reservados
Foi então planeada pelo Com-Chefe a Operação Tridente na qual foram envolvidos numerosos efectivos, divididos em 4 Agrupamentos.
AGRUPAMENTO A: (Cmdt Major Cav Romeiras)
CCAV 487 (Cap Cidrais)
7º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten R. Pacheco)
AGRUPAMENTO B: (Cmdt Cap Cav Ferreira)
CCVA 488 (Cap Arrabaça)
8º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten Alpoim Calvão)
AGRUPAMENTO C: (Cmdt Cap Cav Cabral)
CCAV 489 (Cap Pato Anselmo)
AGRUPAMNETO D: (Cmdt 1º ten fuz Faria de Carvalho)
2º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten Faria de Carvalho)
AGRUPAMENTO E: (Cmdt Cap Aires)
CCAÇ 557
(Nota: salvo erro, este agrupamento fazia a segurança imediata da Base Logística)
OUTRAS FORÇAS:
1 Grupo de Combate / BCAÇ 600
Grupo de Comandos (20 homens) (Cmdt Alf Saraiva)
1 Pelotão de Paraquedistas
1 Pelotão de Caçadores Fulas
Pelotão de morteiros / BCAÇ 600
2 Bocas de fogo de obus 8,8 do BAC (Cmdt Alf Carvalhinho)
Equipas de Sapadores (distribuídas pelos vários agrupamentos)
Elementos do Serviço de Intendência
73 carregadores indígenas.
Tudo somado eram aproximadamente 1000/1200 pessoas.
Estima-se que o PAIGC tivesse 300 combatentes, incluindo alguns militares da Guiné-Conacri.
Comandante das Forças Terrestres: Ten Cor Cav Fernando Cavaleiro. (Cmdt do BCAV 490)
DA MARINHA:
Fragata Nuno Tristão.
4 lanchas de fiscalização
4 LDP
2 LDM
Havia ainda várias embarcações civis pertencentes aos Serviços de Marinha da província que transportavam víveres, água e demais material necessário.
DA FORÇA AÉREA:
CCAV 487 (Cap Cidrais)
7º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten R. Pacheco)
AGRUPAMENTO B: (Cmdt Cap Cav Ferreira)
CCVA 488 (Cap Arrabaça)
8º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten Alpoim Calvão)
AGRUPAMENTO C: (Cmdt Cap Cav Cabral)
CCAV 489 (Cap Pato Anselmo)
AGRUPAMNETO D: (Cmdt 1º ten fuz Faria de Carvalho)
2º Dest de Fuzileiros Especiais (1º ten Faria de Carvalho)
AGRUPAMENTO E: (Cmdt Cap Aires)
CCAÇ 557
(Nota: salvo erro, este agrupamento fazia a segurança imediata da Base Logística)
OUTRAS FORÇAS:
1 Grupo de Combate / BCAÇ 600
Grupo de Comandos (20 homens) (Cmdt Alf Saraiva)
1 Pelotão de Paraquedistas
1 Pelotão de Caçadores Fulas
Pelotão de morteiros / BCAÇ 600
2 Bocas de fogo de obus 8,8 do BAC (Cmdt Alf Carvalhinho)
Equipas de Sapadores (distribuídas pelos vários agrupamentos)
Elementos do Serviço de Intendência
73 carregadores indígenas.
Tudo somado eram aproximadamente 1000/1200 pessoas.
Estima-se que o PAIGC tivesse 300 combatentes, incluindo alguns militares da Guiné-Conacri.
Comandante das Forças Terrestres: Ten Cor Cav Fernando Cavaleiro. (Cmdt do BCAV 490)
DA MARINHA:
Fragata Nuno Tristão.
4 lanchas de fiscalização
4 LDP
2 LDM
Havia ainda várias embarcações civis pertencentes aos Serviços de Marinha da província que transportavam víveres, água e demais material necessário.
DA FORÇA AÉREA:
Aviões T6 – Aviões F86 – PV2 e PV2-5 (Apoio de combate)
Helicópteros Alouette (transporte e evacuações)
Aviões Auster e Dornier (transporte e reconhecimento)
DESENROLAR DA ACÇÃO
As linhas que se seguem, não pretendem ser uma exaustiva e maçadora narrativa estilo "Relatório de Operações". Tão pouco pretendo ter a veleidade de tudo conseguir descrever porque não vi o que se passou em todos os locais da ilha. Limito-me a narrar os combates em que participei e de que forma vivi aqueles 68 dias.
Assim, mesmo sem abordar o que aconteceu noutros locais (como, por exemplo, em Cantunco e Curcô onde esteve o Joaquim Ganhão cujo testemunho já foi narrado neste blogue na “Crónica do Soldado 328”) (1), a noção que me ficou da Op Tridente é suficiente para esclarecer as dúvidas e autênticas mentiras que sobre ela têm sido propaladas por diversos autores, alguns deles com acrescidas responsabilidades.
Conto em breve fazer uma intervenção no Fora-nada desmascarando as falsidades que sobre este assunto têm sido escritas.
CRÓNICA DOS BONS E DOS MAUS MOMENTOS DO COMO
1. A caminho
Ao princípio da noite de 14 de Janeiro de 1964, a fragata Nuno Tristão deixava para trás o Ilhéu dos Pássaros e, dirigindo-se para a Ponta Oeste da Ilha de Bolama, rumou a Sul.
A bordo, instalados como era possível, os elementos que formavam o Grupo de Comandos (20 homens) escutavam atentamente as indicações (poucas) que o alferes Saraiva, comandante do grupo, ia debitando. Ninguém sabia o que nos poderia esperar no Como mas a boa disposição reinava e a confiança nas nossas capacidades era grande.
A avaliar pelo aparato que tinha reinado na ponte-cais de Bissau durante o embarque de tantas unidades militares, equipamentos, caixas, caixotes, cunhetes de munições e demais tralha afanosamente encafuada, sem contar com as lanchas de desembarque e alguns navios requisitados para o efeito cheios de pessoal e de material que já haviam zarpado, pessoalmente eu antevia que não seria pêra doce.
Não foi fácil conciliar o sono. A expectativa era grande e grande era também uma certa "raiva" por não nos ser dito exactamente qual a nossa verdadeira missão nem os objectivos definidos o que, para quem não gosta de trabalhar às cegas, constituía sério embaraço.
Sabíamos apenas que íamos desembarcar na Ilha do Como para a sua reocupação. Nem ao menos nos foi dito por quanto tempo se estenderia esta missão pelo que não levávamos connosco o indispensável para uma longa permanência, como acabou por acontecer.
As manobras do "lançar ferro" da fragata acordaram-me. Devido à pouca profundidade do mar, a Nuno Tristão ancorou um pouco longe de terra. Começaram os preparativos da transferência das unidades que fariam parte da 1ª vaga de assalto para as LDM.
Ao nascer do dia 15, surgiram os aviões de ataque ao solo ao mesmo tempo que as peças de bordo e artilharia de Catió bombardeavam os locais de desembarque cobrindo o avanço das tropas que iam ao assalto das praias para instalarem testas de ponte que permitissem a chegada do grosso dos efectivos e instalação da logística.
O Grupo de Comandos não fez parte desta 1ª vaga. Como disse o alferes Saraiva, estávamos guardados para outras missões. Nem fazíamos uma pequena ideia de como elas se viriam a revelar tão difíceis.
Estando, pois, a bordo da Nuno Tristão, encostado à amurada, fui acompanhando as lanchas rumo à ilha, cuja vegetação em que dominavam as palmeiras, se recortava no horizonte não muito distante. Os aviões largavam a sua carga mortífera, os obuses de Catió flagelavam a parte da ilha junto ao canal que a separa do continente. Na linha da costa mandavam as peças da Nuno Tristão e os “picanços” dos aviões metralhando. Julguei-me num cenário do dia D na Normandia. Era idêntico, salvas as devidas proporções.
Quando acabaram os fogos de apoio, começou a ouvir-se o crepitar de rajadas num tiroteio impressionante. Muito ao longe, é certo, mas ouviam-se. De imediato pensei: pronto, já chegaram. Vão conseguir? Haverá muitas baixas? A incerteza do que se passava deixou-me muito mais nervoso do que se lá estivesse a combater. Preferia ter ido com eles.
Suspiro de alívio quando soubemos que tinham conseguido e que o inimigo não tinha oferecido muito resistência retirando-se para o interior da ilha. Era de esperar. O PAIGC, certamente sabedor do que se iria passar, deve ter deixado apenas alguns guerrilheiros junto à praia, só “para chatear”, instalando o grosso do efectivo na densa mata do centro da ilha. As lanchas de desembarque continuaram em sucessivas levas a transportar o pessoal embarcado na fragata para terra, nesse dia e no seguinte.
2 – Fervet opus [locução latina que significa "ferve o trabalho", LG]
Não fora a azáfama da tropa e dos carregadores a amontoar caixas de ração de combate, cunhetes de munições e de granadas, jericãs de plástico com água, barris de vinho, grades de cerveja – que tanto jeito deu para compensar a tremenda falta de água potável naquela ilha - não fora essa azáfama, e julgaria estar numa paradisíaca ilha do Pacífico. Linda praia… local de sonho.
Rajadas, não muito longe, acordaram o meu devaneio. Era em Cauane, disserem, onde se encontrava a CCAV 488 e o 8º DFE na tabanca que era o posto mais avançado e próximo do IN e que viria a ser o local de maior resistência à nossa penetração na mata. Era para lá que iríamos.
Enquanto na base logística, junto ao mar, se montavam as tendas de campanha que serviriam de posto de primeiros socorros, sala de operações, instalações para o comando e outras, se cavavam abrigos à volta do perímetro defensivo, se instalavam postos de vigia, se abriam as indispensáveis latrinas, iniciámos a marcha para Cauane.
Atravessado o palmar que bordejava a linha de costa, encontrámo-nos num terreno bastante arenoso e com pouca vegetação, onde os pés se enterravam exigindo redobrado esforço muscular.
Um pouco mais à frente surgiu um braço de ria, na altura com pouca água por ser baixa-mar, com o indispensável e habitual lodo e tarrafe. Para atravessar, bem no fundo daquela vala, um tronco de árvore já muito gasto pelo uso e que só permitia passagem na maré vazia. Devido a esse inconveniente, mais tarde, juntamente com os fuzileiros, cortámos alguns troncos de palmeira – abundantes nas margens desse e de outros cursos de água – e com eles foi improvisada uma ponte que permitia a passagem a qualquer hora. Mais tarde ainda, essa ponte foi substituída por outra construída por pessoal da Engenharia com tubos de andaime e madeira.
Atravessado sem percalços este obstáculo natural, eis – nos na extensa bolanha que se estende até Cauane e à mata de Cachil mais a Norte. Aí, só era possível andar sobre os estreitos ouriques pelo que lá vamos nós em coluna um por um (a célebre "bicha de pirilau", na gíria militar) nada aconselhável em terrenos descobertos.
(Continua)
__________
Nota de L.G.
(1)Vd. post de 17 de Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como
Rajadas, não muito longe, acordaram o meu devaneio. Era em Cauane, disserem, onde se encontrava a CCAV 488 e o 8º DFE na tabanca que era o posto mais avançado e próximo do IN e que viria a ser o local de maior resistência à nossa penetração na mata. Era para lá que iríamos.
Enquanto na base logística, junto ao mar, se montavam as tendas de campanha que serviriam de posto de primeiros socorros, sala de operações, instalações para o comando e outras, se cavavam abrigos à volta do perímetro defensivo, se instalavam postos de vigia, se abriam as indispensáveis latrinas, iniciámos a marcha para Cauane.
Atravessado o palmar que bordejava a linha de costa, encontrámo-nos num terreno bastante arenoso e com pouca vegetação, onde os pés se enterravam exigindo redobrado esforço muscular.
Um pouco mais à frente surgiu um braço de ria, na altura com pouca água por ser baixa-mar, com o indispensável e habitual lodo e tarrafe. Para atravessar, bem no fundo daquela vala, um tronco de árvore já muito gasto pelo uso e que só permitia passagem na maré vazia. Devido a esse inconveniente, mais tarde, juntamente com os fuzileiros, cortámos alguns troncos de palmeira – abundantes nas margens desse e de outros cursos de água – e com eles foi improvisada uma ponte que permitia a passagem a qualquer hora. Mais tarde ainda, essa ponte foi substituída por outra construída por pessoal da Engenharia com tubos de andaime e madeira.
Atravessado sem percalços este obstáculo natural, eis – nos na extensa bolanha que se estende até Cauane e à mata de Cachil mais a Norte. Aí, só era possível andar sobre os estreitos ouriques pelo que lá vamos nós em coluna um por um (a célebre "bicha de pirilau", na gíria militar) nada aconselhável em terrenos descobertos.
(Continua)
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Nota de L.G.
(1)Vd. post de 17 de Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como
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