sábado, 25 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21198: Blogoterapia (296): Achado misterioso (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR)

1. Mensagem do nosso camarada António Eduardo Ferreira (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CART 3493/BART 3873, Mansambo, Fá Mandinga e Bissau, 1972/74) com data de hoje, 25 de Julho de 2020:

Amigo, Carlos Vinhal
Faço votos para que te encontres de boa saúde junto dos que são queridos.
Carlos, de quando em vez publico na minha página no facebook uns pequenos textos a que dou o nome de pensamentos à deriva, o próximo vai ser este.
Se entenderes que merece a pena, pública no blogue.
Algumas vezes coisas com pouco jeito também tem o seu interesse, se mais não for ajudam-nos a valorizar aqueles que são bons no que fazem, neste caso aquilo que escrevem. Se entenderes que não merece a pena, como já te tenho dito, o caixote do lixo está sempre à mão.

Recebe um abraço.
António Eduardo Ferreira


Achado Misterioso

Acordei exaltado e confuso. Sonhei com alguém que há muito andava perdido e me pediu ajuda. 
Levantei-me, ansioso, e logo fui à sua procura, era ainda cedo quando de casa saí, caminhando sem rumo esperando que a sorte, ou o acaso, me ajudassem a encontrar esse alguém que em sonhos me pediu ajuda, subi montes, desci encostas, atravessei vales e rios até que cheguei ao mar, caminhei pela areia, com o andar incerto e preocupado as gaivotas se assustavam, mas quem eu procurava não encontrei. 

Voltei de novo à montanha, subi ao ponto mais alto de onde olhei em várias direções, mas ninguém perdido eu consegui ver, entrei no deserto e fui mais além onde tive por companhia sombras vagabundas, até que a noite chegou, e eu, já cansado, à ânsia começava a juntar a desilusão de não encontrar quem procurava. 

Teimosamente decidi seguir em frente, entretanto uma forte trovoada se abateu sobre o deserto e um enorme relâmpago durante algum tempo tudo iluminou e a minha mente se transformou em dia, foi então, que graças à trovoada, que se abateu sobre mim, eu entendi que esse alguém que eu procurava e até então não tinha encontrado, afinal era eu próprio…

António Eduardo Ferreira
____________

Nota do editor

Último poste da série de 17 DE JUNHO DE 2020 > Guiné 61/74 - P21085: Blogoterapia (295): O Covid-19 e os mísseis Strela (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR)

2 comentários:

Hélder Valério disse...

Caro Eduardo

Manifestaste preocupação pela eventualidade deste teu "ensaio" eventualmente "não ter cabimento"....

Essa divagação sobre a "procura do eu" não é para desprezar.
Acho mesmo que muita falta faz, a muita gente, não se terem dedicado a isso.
Encontrar o "seu eu".
E quantas vezes não é "esse eu" o maior inimigo de cada um?

Hélder Sousa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eduardo, parabéns pelo teu pequeno texto...Tem todo o "cabimento" num blogue de ex-combatentes que, em comum, têm essa procura do "eu", mais ou menos incessante, e por vezes angustiante... Muitas vezes, perseguimos a nossa própria sombra, e temos pesadelos em que entra um nosso "sósia", alguém muito parecido connosco mas que nos é estranho...

A escrita ajuda-nos a "exorcizar esses fantasmas", e esse excercício mal não nos faz, bem pelo contrário... Temos de morrer em paz connosco... e com os outros. Cinquenta anos depois da guerra na Guiné.olhamos muitas vezes para as nossas fotos desse tempo, e interrogamo-nos: Mas esse sou eu ? Ou fui eu ?... Na realidade, nenhum de nós já é "o mesmo"... Aquele abraço, saúde e longa vida. Luís