domingo, 9 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21238: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (73): Canábis - Parte I: Modo de usar




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1. Já tanto aquu falámos, nos últimos dias, da "cannabis" , e afinal de contas parece que vamos morrer virgens sem ter consumido a "dita cuja" (nem hoje nem ontem, no TO da Guiné), que é bom saber algo mais sobre esta "substância psicoativa"... 

A Guiné era uma terra atrasada onde chegavam tarde, e a más horas,  as "novidades" da civilização... Em Angola e Moçambique, ou pelo menos em Luanda e Lourenço Marques, parece que alguma rapaziada nossa (?)  terá tido contacto com a liamba ou a maconha (em Angola) ou a soruma (Moçambique)... Na Guiné mascava-se cola, mas a coisa mão pegou...entre o "Zé Tuga".

Não se vá dar o caso de alguém, inadvertidamente,   a querer experimentar,  para "não morrer estúpido", deixamos aqui uma informação sobre a canábis, considerada a mais popular de todas as "drogas ilegais": sim, porque há muitas drogas legais: álcool, tabaco, xantias (cacau, café, chá), psicofármacos... 

É importante saber que, para além da infração à lei (e eu conheço gente que está atrás das grades por cultivar no quintal e consumir canábis....), a "sustância" tem efeitos "psicoativos", a curto, médio e longo prazo.  Dizer que a "liamba" é(era) inofensiva pode ser perigoso, para quem nos lê,,, E o nosso blogue tem um forte sentido de responsabilidade social.

Lí há dias nos jornais, e é importante partilhar esta imformação com os nossos leitores: 

"Cannabis provocou mais de 3200 internamentos hospitalares em 16 anos... Os números de internamentos por episódios psicóticos associados ao abuso ou dependência de cannabis aumentam a cada ano, num período em que a toxicidade da substância quintuplicou. Se uso recreativo da cannabis for aprovado, alerta investigador, há que activar os mecanismos de detecção precoce dos problemas."  (Pùblico, 1 de julho de 2020).

Hoje fala-se muito dos "benefícios" desta planta, Cannabis Sativa,  para a saúde, e inclusive há um crescente interesse médico, farmacológico, social  e, seguramente,  económico por esta  "droga" (, de resto, todos os medicamentos são "drogas". com benefícios e malefícios para a saúde humana). A sua cultura, para efeitos medicinais, já foi inclusive autorizada no nosso país...

Os "cotas" e "virgens", como nós, ex-combatentes da Guiné, desconhecem em geral as formas do consumo (ou administração) da canábis. Basicamentem, há duas  formas de consumo: "erva" (flor e folha) e "haxixe" (resina e óleo). Coisa que, eu, confesso, desconhecia: para mim, era só "erva"...

È bom saber isto, e mais alguma coisa sobre esta "substância", bem como os seus efeitos, até para podermos saber  falar com os nossos netos,  e ajudá-los a evitar que, por ignorância, se deixem facilmente "enrolar" na escola, no círculo de amigos, no Erasmus...Mas há outras "merdas", aparentemente inocentes, que os nossos miúdos, fora de casa, em grupo, querem experimentar, como os "cogumelos mágicos": ora, há dezenas deles, com   efeitos alucinogénios ou psicadélicos.. E infelizmente há quem apanhe um surto psicótico e vá parar dois meses ao hospital psiquiátrico, no melhor dos cenários... Porque há também suicídos e tentativas de suicídio...

2. Ainda anteontem estive com um ex-camarada da FAP, o T..., hoje com 67 anos, que foi 1º cabo especialista mecânico em Angola, chegou lá em março de 1974 e voltou a casa na véspera da independência, em novembro de 1975

E já agora: esteve com o Savimbi, duas ou três vezes, em deslocações pelo território, fazia parte de um protocolo das NT o "transporte aéreo" dos líderes dos três movimentos nacionalistas, MPLA, UNITA e FNLA...Ainda chegou a ter um convite para lá ficar na Força Aérea angolana, mas apercebeu-se, felizmente a tempo,  da incerteza gerada pelo espetro da guerra civil...

E, a propósito do tema da liamba ou maconha, que eu introduzi, à mesa onde estávamos, eu, ele e mais outro camarada da Guiné, disse-me que participara, certo dia, numa sessão de chá de maconha no aeródromo de Santa Eulália... Foi convidado para beber, ao fim da tarde, um chazinho, com bolachas, com outros camaradas da FAP... Tudo na boa, não desgostou do efeito da susbtância mas percebeu que não devia repetir, com as resonsabilidades que tinha... Aos 20 anos, está-se aberto a "experiências novas", nomeadamente em contexto grupal e de guerra.

Neste caso não era "charro", mas "chá", com base nas folhas da canábis (em Angola, liamba ou maconha). Estamos a falar já depois do 25 de Abril. Era então já um certo "hábito social", mas ele não pôde garantir que o "chá de maconha" estivesse generalizado entre os militares da FAP (e muito menos do exército e da marinha, com quem pouco ou nada convivia).

3. Este folheto, acima reprozido,  é já antigo, foi elaborado pelo IDT - Instituto da Droga e da Toxicodependência, que mais tarde (em 2012) deu origem ao SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência

Mas o SICAD tem, na sua págian oficial, mais  informação, actializada e bastante didática, sobre as substâncias psicoativas (leia-se: "drogas), de que reproduzimos, com a devida vénia, e algums adaptações livres, os seguintes excertos

SICAD > Cidadão > Substâncias psicoativas > Derivados da Cannabis:

A história das drogas é a nossa história, enquanto seres humanos, do nascer ao morrer... Os especialistas tendem a classificá-las da seguinte maneira: (i) estimulantes; (ii) perturbadoras; e (ii) sedativas. Os derivados da canábis são sobretudo estimulantes. São o grupo de substâncias de maior popularidade e que têm suscitado maior debate social, havendo crescente pressão para a sua "legalização".

Falemos então dos "derivados da Cannbis", ou seja , a tal planta denominada Cannabis Sativa, que praticamente pode ser ser cultivada em quase todo o mundo, tanto em climas quentes como temperadas, e até secos, desde que haja um bocado bom de água.

A Europa, e em particular a Espanha, foram grandes produtoras na primeira metade do passado século. Hoje, os principais produtores mundiais são os Estados Unidos. Pela ação do homem, espalhou-se por todo o planeta mas sempre dentro de um determinado contexto cultural. Por exemplo, em África, espalhou.se ao longo de todo o séc. XIX, e e em especial , na época do colonialismo, em função da aceitação ou rejeição por parte dos diferentes povos ou grupos etnicos. Por exemplo, tem mais aceitção em Angola ("liamba", maconha"), do que na Guiné (onde não se cultivava no nosso tempo).

Ao que se sabe, foram as campanhas napoelónicas no Egito, nos finais do séc. XVIII,  que reintroduziram a canábis nos círculos intelectuais da Europa.

Passando por cima da Geografia e da História, diremos que há três formas de consumo da Cannabis Sativa:

(i) "Marijuana" ou "Erva” (preparada a partir das folhas secas, flores e pequenos troncos da planta);

(ii) "Haxixe"  (repara-se prensando a resina da planta fêmea e se transforma numa barra de cor castanha, com o nome coloquial de "Chamom". O seu conteúdo em THC (a  susbtância psicoativa) (até 20%) é superior ao da Marijuana (de 5% a 10%), pelo que a sua toxicidade é potencialmente maior.

(iii) "Óleo de Cannabis" ou "Óleo de Haxixe" (líquido concentrado que se obtém misturando a resina com um dissolvente, como a acetona, o álcool ou a gasolina; este evapora-se em grande medida e dá lugar a uma mistura viscosa, cujas quantidades em THC são muito elevadas, podendo ir até aos 85%).

O THC (Delta 9 tetrahidrocannabinol, o  alcaloide responsável por quase todos os efeitos característicos desta substância) não se dissolve na água, pelo que as únicas formas de consumo para os seres humanos são a ingestão e a inalação. Normalmente fuma-se misturada com tabaco em forma de cigarros feitos à mão. O fumo da Cannabis alcança altas temperaturas, pelo que os seus utilizadores colocam no cigarro grandes filtros. 

Outra forma de fumar a canábis é em cachimbos feitos especialmente para esse fim. Todavia, em certas culturas de África ou do Caribe, persiste a velha prática de beber tisanas feitas com esta planta e água. Embora de sabor amargo, é utilizada como ingrediente em doçaria e rebuçados.

(Continua)
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Nota do editor:

3 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Só me faltava esta!
Um manual do utilizador de drogas!
Uma coisa que, aos ex-combatentes (da Guiné ou de outro TO) faz imensa falta. nunca é tarde para começar a ser "entoxicodependente". E a promoção social quisso amanda...
50 anos depois? Deve vir com"efeitos retroactivos"!
E continua. Estou cá para ler os próximos capítulos. Compreende-se. Estamos na silly season e há pouco para dizer.
Mas assim, só para preencher caderno...

Um bom domingo para todos
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pois é, Tó Zé, hoje há manuais para tudo... Deformação profissional: Afinal, ainda tenho a mania de que o saber não ocupa lugar... Mas tem sei do sofrimento de que já experimentou estas "coisas", são histórias de vida tramadas...

De qualquer modo, o aviso é claro: é melhor não experimentar, com ou sem capacete... Imagina a rapaziada do obus, lá no Xime, com uns charros valentes em cima... Eram capazes de fazer o pino!...

Bom domingo também para ti. Luís

Valdemar Silva disse...

Cada vez que aparece o Xime, lembro-me dia em que lá cheguei pela primeira vez.
Já contei, mas agora com esta discussão na baila, pareceu-me que a rapaziada que estava à nossa espera tinha algumas semelhanças com a que é vista nalgumas cenas do "Apocalipse Now".
Talvez por sermos todos periquitos, estranhamos a rapaziada que nos foi receber cada um vestido à sua maneira, em calções e tronco nu, chinelos meter o dedo, cabelos e patilhas compridos, umas camisas do camuflado às tirinhas bufalo bil, cerveja na mão e com cara com aspecto amarelo-castanho claro. Foi um grande choque para nós e depois na tabanca com marcas visíveis de ataques foi um 'é pá chegamos à guerra!'. Inesquecível.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz