quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Guiné 61/74 - P21250: Memórias cruzadas da Região do Cacheu: Plano (macabro) de assalto ao quartel de Varela, proposto por dois desertores das NT a Amílcar Cabral - Janeiro de 1963 (Jorge Araújo)


Foto 1> Guiné > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, em Maio de 1968.  O quartel situava-se à direita.[Poste P18183 > Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil, CCS/BVAÇ 1933 (1967/69)], com a devida vénia. 

 


Foto 2  > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela, Acesso à praia de Varela, em Maio de 1968 [P18183 > Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-Alf Mil, CCS/BVAÇ 1933 (1967/69)], com a devida vénia.

 

Foto 3 > Guiné > Região de Cacheu > Varela > Praia de Varela > Junho de 2011 > Vestígios do quartel de Varela (imagem retirada do Youtube [https://www.youtube.com/watch?v=ODFTcpeGwHQ] com o título: "Varela, Dégradation d'un site paradisiaque - Juin 2011 (Après la fête du 1º mai)" ["Varela, Degradação de um local paradisíaco - Junho de 2011 (após a festa do 1º de maio"), tradução do francês], com a devida vénia.





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior; vive em, Almada, está atualmente nos Emiratos Árabes Unidos; tem mais  de 260 registos no nosso blogue.
 


MEMÓRIAS CRUZADAS

DA REGIÃO DO CACHEU ANTES DO INÍCIO DA GUERRA

O (CRUEL) PLANO DE ASSALTO AO QUARTEL DE VARELA, PROPOSTO POR DOIS DESERTORES DO EXÉRCITO PORTUGUÊS

A AMÍLCAR CABRAL, EM JANEIRO DE 1963,

E QUE FELIZMENTE NÃO PASSOU DE UMA INTENÇÃO

 

 

1.   - INTRODUÇÃO


Sabemos todos que não existem sociedades sem história, o mesmo acontecendo com todas as «Guerras», onde a ciência militar produz as suas… "Histórias". Porém, convém referir que nos casos da nossa (continuada) investigação historiográfica, nem sempre é possível misturar "relato" e "explicação", mas tão só investir no aprofundamento do primeiro conceito, como condição de saber histórico do passado, tornando-o, assim, objecto da história através da sua reconstrução, na agregação «História e Memória».


Quanto ao "puzzle da memória da guerra colonial da Guiné", acredito que a sua História global continuará a escrever-se no plural, pela importância do papel que a memória colectiva desempenha. NÓS ("EU" e "TU"), todos observadores e actores nos diferentes "palcos da missão", constituímo-nos como um valioso espólio da história de década e meia, no mínimo, unindo e reforçando as fontes de informação privilegiada, num processo dinâmico "entre contrários", porque, como diz o povo, "na guerra não se combate sozinho".   


Por outro lado, o que não sei (nem ninguém poderá saber!) é "SE" os propósitos da "História" que está na origem desta narrativa, que hoje partilho no Fórum, tivessem sido concretizados com sucesso, "SE" o início da guerra colonial no CTIG, simbolicamente aceite com o ataque ao Aquartelamento de Tite, em 23 de Janeiro de 1963, 4.ª feira, onde efectivos do Batalhão de Caçadores 237 [BCAÇ 237] – [25Jul61-19Out63, do TCor Inf Carlos Barroso Hipólito] – se encontravam estacionados, teria sido o/a mesmo/a? Provavelmente não teria sido!


O que também sei (sabemos) é que na ciência historiográfica ou histórica o "SE" não existe.

No presente caso, o que faz parte da História são os registos documentais encontrados, uma vez mais nos arquivos de Amílcar Cabral existentes na CasaComum, Fundação Mário Soares, onde estão plasmadas crenças, atitudes, comportamentos, valores, mudanças e modos de vida…, como se prova no documento abaixo reproduzido.


Sabemos que antes do ataque ao Aquartelamento de Tite [23Jan63] haviam já ocorrido diversas actividades subversivas, as primeiras dois anos antes, por iniciativa de grupos armados sediados no Senegal, de que são exemplos as acções em S. Domingos, Susana e Varela.

 


Foto 4 > Guiné > Região de Cacheu > Varela >  Um dos edifícios existentes em Varela, propriedade do Banco Nacional Ultramarino, complexo vandalizado em 1961, por grupos de indivíduos oriundos do Senegal, e onde ficaram alojadas as primeiras forças militares portuguesas (um Gr Comb da CART 240). Foto do acervo documental do BNU (P18534), com a devida vénia.

 

Sobre estas actividades subversivas de Julho de 1961, sugiro a leitura do P18534 «Historiografia da presença portuguesa em África: imagens e relatórios dos actos de vandalismo praticados pelo MLG, na Praia de Varela, encontrados no acervo documental do Banco Nacional Ultramarino», trabalho elaborado pelo camarada Mário Beja Santos.


Na mesma perspectiva histórica segue o artigo de José Matos - O início da Guerra na Guiné (1961-1964) - publicado na «Revista Militar» n.º 2566, de Novembro de 2015.

 

 

Capa da Revista Militar – 2566 – Novembro de 2015

 


Mapa da região norte da Guiné (fronteira com o Senegal), assinalando-se as linhas de infiltração da guerrilha nos anos de 1961/1963 (fonte: op. cit), com a devida vénia.

 

Como fonte oficial, que naquele período era considerada confidencial, recupera-se parte do documento publicado no P15962 - "O que dizem os Perintreps: Violações da fronteira e assaltos no chão felupe, em Julho de 1961: S. Domingos (a 18, 21 e 24), Ingoré (a 21), Susana (a 24) e Varela (a 25)", da autoria de Nuno Rubim (Cmdt da CCAÇ 726 (Out64-Jul66) e CCAÇ 1424 (Jan66-Dez66) e, em segunda comissão, no Quartel-General (QG).






2.   - PLANO DE ASSALTO AO QUARTEL DE VARELA, ELABORADO EM DAKAR POR DOIS DESERTORES DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, E DIRIGIDO A AMÍLCAR CABRAL, EM 04 DE JANEIRO DE 1963


Os autores do "plano de assalto ao Quartel de Varela", elaborado em Dakar, em 04 de Janeiro de 1963, 6.ª feira, e dirigido a Amílcar Cabral (1924-1973) por intermédio de José Araújo (1933-1992), responsável do PAIGC do Bureau de Dakar, que felizmente não se concretizou, pertenciam às CART 240 e CART 250, respectivamente, António de Jesus Marques (1.º cabo enfermeiro) e António Augusto de Brito Lança (furriel mil de artilharia).


Uma vez que nos Arquivos do Exército nada consta, no que à "História" das duas Unidades diz respeito, pois essa prática não abrangeu o período inicial das "Campanhas", procedemos à elaboração de uma resenha histórica "a nível operacional" durante a sua presença no CTIG.


2.1 - A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG DA CART 240


Mobilizada pelo Grupo de Artilharia Contra Aeronaves 2 (GACA 2), de Torres Novas, para servir na província ultramarina da Guiné, embarcou em Lisboa, provavelmente por via aérea, em 30 de Julho de 1961, domingo, sob o comando do Capitão Art Manuel Fernando Ribeiro da Silva, tendo chegado a Bissau na mesma data.   


2.1.1 - SÍNTESE DA MOBILIDADE OPERACIONAL DA CART 240


A CART 240 foi colocada em Bissau, onde manteve a sua sede durante toda a comissão (30Jul61-19Out63), sendo integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 236 [21Jul61-19Out63, do TCor Inf José Alves Moreira], a fim de colaborar na segurança e defesa das instalações e das populações da área. 


Em princípios de Fev72, destacou um Gr Comb para guarnecer a povoação de Varela, em substituição da CCAÇ 74 [18Mar61-12Fev63, do Cap Inf Alcides José Sacramento Marques], o qual ficou integrado no dispositivo do BCAÇ 239 [06Jul61-24Jul63, do Maj Inf António Maria Filipe (1.º) e TCor Inf Hélio Augusto Esteves Felgas (2.º)]. Ao fim de um ano de permanência em Varela (finais de Fev63), este Gr Comb foi transferido para Susana, recolhendo a Bissau no mês seguinte.


A CART 240 destacou ainda Grs Comb para Quinhamel, de princípios de Ago62 a meados de Set62 e novamente a partir de Abr63, e para Nhacra, a partir de meados de Jul63. De 01 a 27Jun63, foi atribuída em reforço do BCAÇ 356 [23Jan62-17Jan64; do TCor Inf João Maria da Silva Delgado], com vista à realização da «Operação Seta», na região do Quinara-Fulacunda, nas áreas de Iusse, Bissássema, Nova Sintra e Jabadá.


Em 18Out63, foi rendida pela CART 564 [14Out63-27Out65; do Cap Mil Art Rodrigo Claro de Albuquerque Menezes de Vasconcelos (1.º) e Cap Art António Manuel Fevereiro Chambel (2.º)], a fim de efectuar o embarque de regresso (Ceca; p 433).


2.2 - A MOBILIZAÇÃO PARA O CTIG DA CART 250


Mobilizada pelo Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP 2), em Vila Nova de Gaia, para servir na província ultramarina da Guiné, embarcou em Lisboa, no Cais da Rocha, em 10 de Agosto de 1961, 5.ª feira, sob o comando do Capitão Art José Maria Eusébio Alves, tendo desembarcado em Bissau na 4.ª feira seguinte, dia 16 de Agosto.

  

2.2.1 - SÍNTESE DA MOBILIDADE OPERACIONAL DA CART 250



A CART 250 foi colocada em Bissau, onde manteve a sua sede durante toda a comissão (16Ago61-06Nov63), sendo integrada no dispositivo e manobra do BCAÇ 236 [o mesmo da CART 240], em substituição da CCAÇ 52 [18Ago59-17Ago61; do Cap Inf Frederico Alfredo de Carvalho Ressano Garcia], a fim de assegurar a segurança e defesa das instalações e das populações da área.


Por períodos variáveis, a CART 250 cedeu pelotões para reforço de outros batalhões e intervenção em acções de nomadização e batida nas regiões de Mansodé/Mansabá, em Jul63, sob dependência do BCAÇ 507 [20Jul63-29Abr65; do TCor Inf Hélio Augusto Esteves Felgas] e Xime, em Ago63, sob a dependência do BCAÇ 506 [20Jul63-29Abr65; do TCor Inf Luís do Nascimento Matos].


Em 04Nov63, já na dependência do BCAÇ 600 [18Out63-20Ago65; do TCor Inf Manuel Maria Castel Branco Vieira], foi substituída no sector de Bissau pela CCAÇ 555 [03Nov63-28Out65; do Cap Inf António José Brites Leitão Rito], a fim de efectuar o embarque de regresso (Ceca; p 434).


2.3 - O PLANO DE ATAQUE AO QUARTEL DE VARELA – JAN1963


A ideia perversa e macabra que levou à elaboração do projecto (plano) de "ataque ao quartel de Varela" é atribuída a dois desertores do Exército Português, conforme referido anteriormente: o António de Jesus Marques, da CART 240, e o António de Brito Lança, da CART 250.

Essa prova pode ser conferida no documento que abaixo se reproduz.


Chegados ao CTIG no início do 2.º semestre de 1961, um Gr Comb da CART 240, onde estaria incluído o António de Jesus Marques [?], seguiu para Varela, com o objectivo de guarnecer essa povoação situada na região do Cacheu (Norte), enquanto o António de Brito Lança, da CART 250, permaneceu em Bissau, provavelmente em instalações situadas nos arredores do Aeroporto, em Bissalanca.


Em função de outras informações de que dispomos, mas que não se enquadram na presente narrativa, é de acreditar que destes dois militares, o primeiro a desertar para o Senegal tenha sido o António Lança, durante o Outono de 1962, e o António Marques, algumas semanas depois, mas ainda no decurso do mesmo ano. Portanto, antes do início do conflito armado.


Considerando que o António Marques estivera destacado em Varela, é de admitir (!?) que tenha sido ele o autor do croqui do "quartel a atacar" (o seu, em Varela). 


   

Esboço da planta do quartel de Varela em 1962/1963, atribuível ao desertor António de Jesus Marques, da CART 240

 


 

Fotos 5 e 6 (Varela, Junho de 2011) – Vestígios do quartel de Varela (imagem retirada do Youtube [https://www.youtube.com/watch?v=ODFTcpeGwHQ] com o título: "Varela, Dégradation d'un site paradisiaque - Juin 2011 (Après la fête du 1º mai)" [Varela, Degradação de um local paradisíaco - Junho de 2011 (após a festa do 1.º de maio), tradução do francês], com a devida vénia.

 


Quanto à descrição apresentada na proposta, não nos é possível identificar o seu autor (moral), na medida em que a carta foi dactilografada (em máquina portátil), acto realizado em Dakar, com data de 4/1/963, 6.ª feira, mas assinada por ambos.


 

Citação: (1963), "Plano de assalto ao quartel de Varela", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível http: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40296 (com a devida vénia)

Aqui vai um excerto do plano (!) dos desertores que conheciam os hábitos dos seus camaradas da guarnição de Varela: 

(...) "Como eles costumam fazer o café de véspera e guardá-lo dentro de um armário na cozinha, nós íamos lá uma noite e envenenávamos o café e a água que se encontram onde a figura indica.

"Depois de o fazermos. deixávamos um sentinela onde ele pudesse ver as sentinelas do quartel. Logo que o nosso sentinela visse cair o sentinela da porta principal, procurava prestar-lhe socorro e ir comunicar lá dentro para ver o ambiente. Logo que ele visse que poderíamos entrar, dar-nos-ia um sinal. Traríamos um soldado connosco e enterravamo-lo para eles virem a pensar que o que faltava teria sido o autor do sucedido. 

"O material la existente é:  cerca de trinta armas automáticas de marca  G-3; oito  pistolas metralhadoras de marca UZI: três  bazucas ou lança granadas-foguete;  três metralhadoras de marca Drise. Têm ainda munições suficientes para fazerem fogo durante vinte e quatro horas seguidas" (...) .


► Em suma:

1.    - Não estando explícitos, na carta/plano, os objectivos do "ataque ao Quartel de Varela", creio que da sua leitura se pode inferir que o alvo principal seria o "roubo de armas": 30 G-3; 8 pistolas UZI: 3 bazucas; 3 metralhadoras Drise e uma determinada quantidade de munições que "dariam para vinte e quatro horas de fogo".

 

2.    - Na prática, para que os autores deste plano pudessem ser bem-sucedidos, alguns dos seus antigos camaradas com quem fizeram a viagem até à Guiné, em Agosto de 1961, e com quem viveram e conviveram durante alguns meses, seriam envenenados... e um deles seria enterrado.

 

3.    - Felizmente que tal não aconteceu.

 

4.    - Caso contrário teria sido uma "cena" Brutal… Cruel… e… e… e…

► Fontes consultadas:

Ø  Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 07061.032.004 Título: Plano de assalto ao quartel de Varela. Assunto: Plano de assalto ao quartel de Varela apresentado a Amílcar Cabral por dois elementos do Bureau de Dakar, António Brito Lança e António de Jesus Marques. Contém ainda uma apresentação destinada a acompanhar uma brochura com a declaração de Amílcar Cabral perante a IV Comissão da ONU. Data: Sexta, 4 de Janeiro de 1963. Observações: Doc incluído no dossier intitulado Manuscritos de Amílcar Cabral. Fundo: DAC – Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.

 

Ø  Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 7.º Volume; Fichas das Unidades; Tomo II; Guiné; 1.ª edição, Lisboa (2002); pp 433-434.

 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço

Jorge Araújo.

23JUL2020

12 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Oh. Jorge, as histórias que tu vais desencantar...

Boa continuação das férias forçadas nos EAU... E pelo que sei a Tabanca dos Emiratos continua a ser, como a da Lapónia, a tabanca de um homem só... Está difíl fazer visitas nesta altura do campeonato...

Um abração. Beijinhos para a tua bajuda. Luís

PS - O pôr do sol na Praia da Areia Branca está perfeito... Vou-te mandar uma foto... se conseguir aguentar mais uma horinha.

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Creio que a consulta aos P- Ind de ambos os desertores poderá dar alguma muz sobre o assunto.
Conviria determinar o que lhes aconteceu após a deserção.´
Os arquivos militares (histórico e geral) devem ter algo, mesmo que pouco sobre estes homens.
Até podem ter sido recapturados e, nesse caso deverão ter sido condenados em tribunal (qual?).
E a documentação das Unidades mesmo sem que seja a respectiva história poderá dar pelo menos o momento da deserção. Um vez que a sabotagem não se materializou as unidade não terão registo deste planeamento.
Parece-me que a procura do "dois homens" será a via a seguir.

Um Ab.
António J. P. Costa

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Os "Brito Lança" eram uma família do Baixo Alentejo. O António Augusto de Brito Lança já terá falecido... e com ele a possibilidade de ouvir outra versão da história.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Sabemos a identidade dos dois desertores portugueses... O Brito Lança era de Castro Verde, estudante, com frequência do 7º ano do liceu... O Jesus Marques era da Covilhã, operarário metalúrgico, com a 4ª classe.

O Jorge Araújo devia ser tão tonto como os desertores portugueses. O plano é tão infantil que o Amílcar Cabral, que era um homem inteligente, se limitou a mandar arquivar... Pela lera o "croquis" só podia ser do António Augusto Brito Lança, que já morreu.

Os dois devem ter desertado em 1962.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Este tipo de desertores deviam ser um estorvo para o PAIGC. Depois era preciso pô-los no estrangeiro. No Arquivo Amílcar Cabral, há uma carta do Jorge Araújo com diligências os colocarem, a estes dois e mais um terceiro, de Évora, no Brasil...

O Brito Lanaç e o Jesus Marques devem ter querido pagar a "estadia no hotel" com este plano, que era absolutamente inexequível, e produto de duas pessoas perturbadas...Na guerra da Indochina, no tempo dos franceses, tabém se chegou a usar este truque de envenenar o café (por parte de agentes do Viet-MInh, infiltrados nas tropas francesas)... O Brito Lança deve.se ter inspirado numa história dessas...

Jorge Araújo disse...

Caro Luís.
Bom dia.
Estou em trânsito para casa.
Quando chegar, dou notícias.
Referes o meu nome nos comentários... Não queririas dizer "José Araújo"?
Até logo.
Ab. Jorge Araújo.

Valdemar Silva disse...

Jorge Araújo
Nestes documentos apresentados arranjo sempre umas 'teorias', mas de facto faz-me confusão, além da 'preocupação' de os dactilografar em 1963, as assinaturas dos desertores serem feitas pela mesmo punho, talvez pelo Brito, com a mesma caneta e com a mesma pressão sobre o papel, até o 'A' da assinatura da direita ia saindo igual ao da esquerda.
Calhando, é impressão minha depois de ler a ideia do envenenamento do café.
Ab. e saúde da boa por essas bandas.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Ó Jorge. desculpa chamar-te "tonto" que é coisa que tu não és...É uma "lapsus liguae"... Tonto era o homem do Bureau Político do PAIGC em Dacar, o JOSE Araújo, que não é da tua famíia... (E era já morreu, há pouco tempo, em Cabo Verde...). screvi a correr, ia para a fisioetrapia... Espero que me perdoes... E bom regresso a casa...

Manuel Luís Lomba disse...

Salvo erro ou melhor opinião.
Os eventos em Susana, Varela e S. Domingos ocorreram em 6 de Junho de 1962, por iniciativa do MLG, a solo, que, ao contrário do PAIGC, beneficiava do apoio do PR Leopold Senghor .
A segunda vaga foi desencadeada ao longo da fronteira do Senegal, com lógica militar, entre 6 de Janeiro e 5 de Maio de 1963, participada pelo PAIGC (Inocêncio Kani), e, numa emboscada em 14 de Março, tombaram o Capitão de Cavaria Machado do Carmo e um soldado.
É plausível Amílcar Cabral ter recebido a carta-plano de envenenamento dos camaradas dos dois traidores (desertor é respeitável, traidor não!) em pleno desenvolvimento dessa vaga.
Feliz regresso, Jorge!
Abr
Manuel Luís Lomba

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Peço desculpa, jjá morreu já quase há 30 anos o José Araújo (1933-1992), cabo-verdiano, casado com a Amélia Araújo, a nossa "Maria Turra" ( que, ao parece, há está viva: as mulheres, de um lado e do outro, é que nos enterram a todos...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Todos os exércitos do mundo, de todo o espetro geopolítico, lidam mal com a deserção e, pior ainda, com a traição. Para se ser desertor e traidor é preciso muita... categoria, inteligência e coragem... Não é para todos.

Talvez alguém saiba a história destes dois "tugas"...

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Desertor é o que não se identifica com as forças armadas e foge delas, em tempo de paz ou de guerra. Há quem considere que o desertor, em tempo de guerra, por se recusar a combater já traiu. Se nos reportarmos às I e II GM há casos de homens que, por motivos ideológicos, filosóficos não fugiram dos seus países e aceitaram ser encarcerados (Exemp. Bertrand Russel). Durante a guerra colonial houve deserções que não foram além disso. Não se esqueçam que só desertor quem deserta e só deserta quem é incorporado. Dantes chamava-se um crime essencialmente militar.
Porém, os desertores podem inscrever-se nas listas do In. Foi o caso de alguns combatentes do PAIGC que mudaram de campo. O colaborante com o campo contrário só pode ser idiota (é um seu direito) ou opositor ao campo donde vem. Lembro o caso de Rudolph Hess que saltou de para-quedas sobre a Inglaterra para negociar um cessar fogo ou mesmo a paz, em 1941...
Se era estratagema ou não nunca saberemos, mas uma coisa é certa a II GM estava para lavar e durar e foi condenado a prisão perpétua ao contrário de outro amigos dele que a fizeram até ao fim...
O desertor que passa para o campo oposto pode ser considerado traidor, mas terá de ter coragem e convicção para o fazer. Talvez não fosse o caso.
Recentemente comecei a estudar a Legião Portuguesa (1808-12) cujo número desertores foi astronómico desde o primeiro dia. Apesar de tudo alguns combateram na Rússia e, pelo menos que conheça, na Batalha de Wagram. isto da deserção e conivência ou auxílio ao In não é um processo linear e definido por uma linha vermelha.
Volto ao meu post de ontem. Seria interessante sabermos como voltaram e Portugal.

Um Ab.
António J. P. Costa