sábado, 17 de outubro de 2020

Guiné 61/74 - P21457: (Ex)citações (377): As visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné (Abel Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742)


Nhala, 10 de Março de 1974 - D. Cecília Supico Pinto

© Foto: António Murta - Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 15 de Outubro de 2020 a propósito das visitas da D. Cecília Supico Pinto ao leste da Guiné:

Camaradas e amigos da maior tabanca do País,

Queiram receber um grande abraço de amizade castrense, e não só, neste meu retorno ao vosso convívio.

Li com atenção o Poste 21442 (*) em que se fala das visitas da D. Cecília de Supico Pinto à Guiné, o qual me suscita algumas achegas, reportando-me ao tempo da minha comissão de serviço militar na Guiné Portuguesa, entre 30 de Julho de 1967 e 06 de Junho de 1969, período em que a minha CART 1742 esteve colocada no sector de Nova Lamego, calcorreando toda a zona Leste.

Diz-se no texto que a senhora foi várias vezes (4) a Madina do Boé,  Buruntuma e Nova Lamego, palavras dela, mas no período de 1967 a Maio de 1968 a senhora não passou por Madina, até porque para lá chegar era só por picadas e fazendo a travessia do rio Corubal no Cheche na célebre jangada de má recordação. 

A aviação (DO) não voava para lá, só voavam para Madina ou Béli os T-6 e os Fiat G-9 para segurança das colunas auto, aquando dos reabastecimentos às companhias lá colocadas, ou quando era pedido apoio para bombardear as zonas circundantes ao aquartelamento.

Em relação a Nova Lamego, no período em que lá estive até 13 de Abril de 1968, nunca vi a senhora por lá, já em Buruntuma esteve presente, e eu constatei isso mesmo, foi a 04 de Maio de 1969, dia de má memória para a CART 1742 pelo falecimento do camarada Caridade. Nesse dia, quando regressava ao quartel com um carregamento de 13 bidões de água para abastecimento da companhia, caiu abaixo da viatura que transportava os bidões, ficando muito maltratado.

De referir que o Caridade foi evacuado para o HM 241, onde infelizmente chegou já cadáver, no DO-27 que levou para Bissau a D. Cecília Supico Pinto.

Um abraço para todos, e até nova oportunidade. (**)
Abel Santos.
____________

Notas do editor

(*) Vd. poste de 11 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21442: Fotos à procura de... uma legenda (128): Em maio de 1969, ao tempo do BCAÇ 2852, a Cilinha terá pernoitado em Bambadinca?

(**) Último poste da série de 16 de outubro de 2020 > Guiné 61/74 - P21454: (Ex)citações (376): As nossas comuns raízes telúricas, do Nordeste Transmontano à Estremadura e ao Alentejo (Francisco Baptista / Fernando Gouveia / José Belo / José Colaço / Luís Graça)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Olá, Abel, grande amigo e camarada!... És sempre bem vindo, e fazes sempre cá falta!... Poucos podem falar de cátedra sobre Madina do Boé como tu...

Tens razão, a Cilinha, embora corajosa e voluntarista, não poderia nem ter ido a todo o lado... Ela ia onde a autorizavam... E nem todos os comandantes apreciavam ou toleravam as suas visitas à Guinezinha"...

Há contradições nas suas declarações ou nas várias fontes que a citam... Também me parece que nunca ele tenha posto o pezinho em Madina do Boé... Vou apurar isso com mais cuidado... Um abracelo (abraço com cotovelo). Cuidemo-nos. Até para o ano, quando vencermos o raio da Covid-19. Luís

Valdemar Silva disse...

Bem-vindo Abel Santos.
Afinal estivemos no mesmo "Quartel de Baixo", em Nova Lamego, quando a minha CART.11 lá chegou ainda lá estava os vasos pintados com as armas da vossa CART.1742, e que nós mantivemos.
Julgo que a Cilinha esteve em Nova Lamego, pese embora não me recordar perfeitamente, lembro-me daquela 'quem é do Belenenses?' e depois ela oferecer uma bola de futebol. Quanto à sua ida a Madina do Boé só podia ser de helicóptero.

Abracelos e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Caro Abel Santos:

Sobre a Cecilia Supico Pinto.

Fomos (tu e eu) conterrâneos em NL, desde Set67 a Fev68, ao tempo do meu BCAÇ1933, que nessa altura era responsável pelo Sector L3, de cujo Comando dependiam 17 Unidades independentes, quer mais tarde posso referir, Era 1/5 do território da Guiné Portuguesa.
Fazem parte do nosso comando a CART 1742, que ficava um pouco distanciada da sede do Batalhão.
Os 5 meses de Nova Lamego, foram os mais marcantes na minha estadia na Guiné. Cheguei a 21Set67 a Bissalanca, e no dia 22, 24 horas depois, estava no Gabu, um piriquito sozinho acabado de chegar, e logo nessa noite sou 'mobilizado' para 'comandar' um grupo de militares, num velório na Capela de NL, estava lá um caixão com um militar morto. Não sou muito impressionável, mas aquilo foi uma partida que me fizeram, por parte dos homens do BCAV1915, o batalhão que fui render, eu fui à frente para passagem de testemunho. Depois a 4OUT67 tomamos o poder do sector, enorme, para aquela pequenez de território.
Por isso nós cruzamo-nos aqui ou ali, mas não tenho grandes recordações da malta da vossa companhia, famosa já então.
Nestes 5 meses, ficou gravada além da primeira entrada no velório, depois a morte do Gamboa, a morte do Major Ferro na estrada para o Cheche, numa coluna, ele tinha acabado de chegar de Bissau do Batalhão de Engenharia, e era o responsável pela manutenção da tristemente célebre jangada do Corubal, onde perderam a vida 47 militares, sendo metade do meu batalhão. Lembro-me com uma imagem que não me sai da cabeça, a chegada da CCaç1589 em 17fev68, de Madina do Boe, tinham lá estado cerca de um ano e foram contabilizadas cerca de 400 flagelações, aquela operação com tantos militares ficou marcada para sempre, eles vinham de um pesadelo enorme.

... continua....

Virgilio Teixeira
ex-Alf Mil do SAM do BCAÇ1933


Anónimo disse...

... continuação ....

Vamos ao assunto, a Cilinha, como lhe chamavam. Nunca a vi, nos 5 meses de Nova Lamego, e os 18 meses de S. Domingos. Era um nome que se falava por lá, mas não tenho nada em concreto sobre a Senhora, e qual o seu mérito para a guerra da Guiné. Lembro-me de uma 'banda' que foi lá dar um espetáculo, mas não eram coisas do meu interesse, tirei uma foto e nada mais.
Por isso posso quase afirmar que, a Madina não foi nem 4 vezes nem uma sequer, foi tantas como eu, zero. Em S. Domingos nunca apareceu ninguém de estranho, era um sitio de ninguém.
Para lá chegar, (a Madina ou Beli), além das colunas de reabastecimentos, passar o Cheche, o Corubal, a Jangada, e depois para o interior, percurso esse sempre feito com o apoio permanente da nossa aviação, T6, Fiat, Heli. Também nada posso dizer pois nunca fiz esse trajecto, mas conheço os relatos e tenho as fotos da saída das colunas do Gabu, pareciam uma miragem ainda o Sol não tinha nascido e lá iam tantos camiões. Depois os relatos dos tristes acontecimentos que se passavam, foi uma zona que me marcou intensamente. Nunca tivemos qualquer flagelação, e nunca senti o perigo de nada, talvez pela ingenuidade...

Vou contrariar o Abel Santos, pois além da via terrestre, para Madina e Beli também havia a via aérea. Os T6 e muito menos os Fiats, não 'poisavam' em Madina! Apenas a DO lá ia levar o correio ou mantimentos urgentes, e quanto me diziam, os motores nem paravam, logo que descarregada a DO levantavam voo de imediato, o perigo era eminente vindo das famosas colinas do Boé. Para Beli apenas tinha uma pista para DO. Havia claro
Muita gente foi lá, o comandante segundo reza a HU foi lá algumas vezes, outros militares lá foram, e de lá vinha sempre mensalmente o Sargento Parracho (da CC1589) numa DO de regresso, apresentar as suas contas ao Conselho Administrativo, liderado pela minha pessoa.
Tive bons momentos com o Parracho, o seu bigode, mais velho do que eu naturalmente, e muitas petiscadas fizemos por aqueles 'restaurantes'.
Ele vinha carregado sempre com os seus montes de 'autos de destruição' para serem aprovados e sempre foram, apesar de eu verificar que em cada flagelação era tudo 'destruído'. Depois comecei a perceber melhor, era a lei das compensações, e para mim que me interessava isso?

... continua

vt.