quinta-feira, 15 de abril de 2021

Guiné 61/74 - P22106: Um olhar crítico sobre o Boé: O local 'misterioso' da proclamação solene do Estado da Guiné-Bissau, em 24 de setembro de 1973, em plena época das chuvas - Parte I: A variável "clima" (Jorge Araújo)


Foto 1 > Frente Leste (?) > Citação: (1973), "II Congresso do PAIGC, na Frente Leste", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44167, com a devida vénia.


Foto 2 > Frente Leste (?) > Citação: (1973), "II Congresso do PAIGC, na Frente Leste", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_44248, com a devida vénia.


Foto 3 > Madina do Boé (?) > Citação: (1973), "Lucette Cabral, Aristides Pereira, Victor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43272, com a devida vénia.



O nosso coeditor Jorge [Alves] Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494
(Xime e Mansambo, 1972/1974), professor do ensino superior, ainda no ativo. Tem cerca de 290 referências no nosso blogue.


GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE

UM OUTRO OLHAR SOBRE O 'BOÉ': LOCAL "MISTERIOSO" DA PROCLAMAÇÃO SOLENE DO ESTADO DA GUINÉ-BISSAU, EM 24 DE SETEMBRO DE 1973, EM PLENA ÉPOCA DAS CHUVAS


PARTE I

- A VARIÁVEL "CLIMA" COMO "QUESTÃO DE PARTIDA" - 


1.   – INTRODUÇÃO


Estão prestes a completar quarenta e oito anos os dois acontecimentos planeados pelo PAIGC que, do ponto de vista histórico e da dinâmica política da época, acabaram por influenciar as duas dimensões do conflito: a militar e a diplomática, ambas dependentes de diferentes apoios internacionais [OUA e ONU, enquanto decisores supremos], com o propósito de pôr um ponto final no "Império Colonial" de Portugal, através do reconhecimento da independência, neste caso, da dita Província Ultramarina da Guiné.   


O sucesso da estratégia supra, concebida pelo ideólogo Amílcar Cabral (1924-1973) antes do seu assassinato em Conacri, ocorrido em 20 de Janeiro de 1973, sábado, passava pela organização de um «Congresso (II)», evento que serviria para legitimar a realização da «I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau», durante a qual seria, de modo unilateral, proclamado o nascimento de uma nova Nação / Estado: a República da Guiné-Bissau.


Os dois exemplos identificados acima ficaram registados na Cronologia da História do conflito como tendo sido organizados, o primeiro, entre 18 e 23 de Julho de 1973; o segundo, em 23 e 24 de Setembro do mesmo ano. 


Quanto aos locais da sua realização, a literatura refere que o «II Congresso» teve lugar algures na "Frente Leste" [fotos 1 e 2], enquanto o da «I Assembleia Nacional Popular» é mais preciso, indicando "Madina do Boé" [foto 3], complementado com o conceito "região libertada".


Decorridas quase cinco décadas, os dois eventos continuam envoltos em "grande mistério", nomeadamente o último, pela ausência de factos, credíveis e seguros, que possam certificar cada uma das narrativas… e são muitas! (vd. P21956 e P15790).


Para clarificação desses "factos" da História, uma vez que se aceita 'a versão' de estarem mal contados (por fazerem parte duma estratégia de/da propaganda), seria interessante, e importante, ter respostas a questões tão básicas como, por exemplo, as referentes a: 


(i) - Logística: a) alimentação; b) dormidas; c) higiene; d) transportes; e) energia eléctrica; f) comunicação; g) segurança; 


(ii) - nome dos observadores; 


(iii) - instituições representadas; 


(iv) - convidados; 


(v) - repórteres de imagens; 


e outras, e, em particular, a relacionada com o (vi) - "clima", pois os dois encontros aconteceram em "plena época das chuvas".


Para contextualização desta última questão, objecto de análise da "Parte I" (questão de partida), socorremo-nos de depoimentos escritos na primeira pessoa, por elementos de ambos os «lados do combate», insuspeitos, como são os casos do Cap Mil Inf Jorge Monteiro, Cmdt da CCAÇ 1416, e Umaro Djaló, Cmdt militar do PAIGC na região do Boé.


2.   – O CLIMA E A GEOGRAFIA NA REGIÃO DO BOÉ EM 1966

    - A NARRATIVA DO CAP MIL INF JORGE MONTEIRO - CCAÇ 1416


No livro «Uma Campanha na Guiné, 1965/1967», da autoria de Manuel Domingues, encontramos um depoimento do Cap Mil Inf Jorge Monteiro, Cmdt da CCAÇ 1416 (Nova Lamego; Madina do Boé; Béli e Ché-Che - 1965/1967), unidade que esteve aquartelada em Madina do Boé, entre 4 de Maio de 1966 e 10 de Abril de 1967 (onze meses), sobre a pergunta: "AFINAL O QUE É MADINA DO BOÉ?". A resposta encontramo-la no poste abaixo, da qual retirámos alguns excertos.

 


(i) - O BOÉ, a zona mais pobre de toda a Província, sofre a inclemência impiedosa do tempo que vai de Maio a Setembro, com chuvas torrenciais continuas que alagam por completo a região vedando portanto qualquer tipo de plantio para a agricultura mesmo arcaica. Só lá havia a minha companhia [CCAÇ 1416], completamente isolada nessas alturas do mundo circundante, a tal ponto que só podíamos ser abastecidos de paraquedas." (…)


(ii) - "Eu, que vivi em MADINA [do Boé] durante onze meses [de 4 de Maio de 1966 a 10 de Abril de 1967], que constatei a inutilidade daquele chão, o clima inóspito, a desolação desértica, sei que Madina não vale sequer a chuva que lá cai. E eu que me apercebi duma certa coerência por parte de quem norteava a táctica das guerrilhas do PAIGC, não posso sequer admitir que até eles apregoem Madina, uma autêntica fossa, como capital do seu orgulhoso desiderato. Se isso for verdade, se de facto eles dizem isso, então nem sequer é um grito de liberdade, mas apenas um facto ridículo, caricato até, mesmo para os olhos de quem confere as guias de despacho do armamento que eles utilizam." (…)

(iii) - "O Boé tem solo muito pouco permeável, sem elevações consideráveis e consequentes declives escoatórios causando portanto a estagnação da água… São dezenas e dezenas de quilómetros de área inundada charco imenso de que apenas as rãs parece acharem uma justificativa. Quando tínhamos uma operação, fosse de que tipo fosse, andávamos com água pela cintura. Há por lá muitos riachos e rios pequenos, mas quando a chuva cai, tanto faz caminhar pela estrada, pelo capim ou pelo leito dos rios: o "boal" imenso é raso, e a água nem sequer é mais alta aqui ou acolá. O nível é sempre igual, como se a Natureza caprichasse em transferir para ali toda a inutilidade que a chuva possa querer significar na Guiné." (…)


(iv) - "Acontece, contudo, que tínhamos uma vantagem: a exemplo do sol, a chuva quando vem também é para todos e assim os elementos do PAIGC tinham precisamente os mesmos problemas. " (…)


(v) - "Concluiu-se, portanto, que o bombardeamento sobre Madina era contínuo e eles próprios lá iam esburacando as casas, já por si a cair de podres. Pouco ficou, e se implantaram lá a Independência, então meteram água pela certa, pois não há qualquer tecto que os proteja da chuva… Madina do Boé, cinco casas esventradas, pântano perpéctuo, chão inútil. A capital do PAIGC."



3.   – O CLIMA E A GEOGRAFIA NA REGIÃO DO BOÉ EM 1965

    - A NARRATIVA DE UMARO DJALÓ - CMDT DO PAIGC NA REGIÃO



Em segundo lugar, foi seleccionado o depoimento de Umaro Djaló, cmdt militar da guerrilha na região do Boé, recuperado do comunicado remetido, por si, à Direcção do Partido em Agosto de 1965, onde refere as difíceis condições da sua missão, em razão do clima observado na "época das chuvas", cujo teor passo a citar:

▬ Madina do Boé, 14-8-1965 (sábado)

Secretariado-Geral do PAGC

Comunico à Direcção Geral do nosso Partido que na noite do dia 09 de Agosto, 2.ª feira, foi sabotado o quartel de Madina [do Boé] com três morteiros e bazucas.

Depois de estudadas concretamente todas as condições favoráveis e desfavoráveis do terreno que encontrámos, decido tomar todas as medidas preventivas para explicar à Direcção do nosso Partido que a condição para fazer qualquer trabalho de sabotagem ou ataques é completamente impossível.

● 1 – Todo o rio [Corubal] está completamente cheio de água e corre a uma velocidade que não permite passar nem um objecto que não seja levado pela água.

● 2 – Não temos uma base onde podemos passar pelo menos a chuva a não ser na fronteira da República da Guiné (-Conacri); torna-se impossível passarmos somente dois dias no interior do país para preparar ao menos uma sabotagem de três dias, devido a ordem dada pelo Secretário-Geral de não construir bases nenhuma para o exército.

● 3 – Não temos onde preparar a comida debaixo da chuva.

● 4 – Não há um meio que pode garantir o socorro urgente dos feridos; as estradas são impraticáveis nesta altura.

● 5 – O arroz que temos aqui não será suficiente para o período de um mês; o mesmo problema se põe em relação às munições.

Para mais concretizar estas informações, pode perguntar ao camarada chofer do camião.

Feito em Madina do Boé; o comandante; Umaro Djaló.

  





Citação:
(1965), Sem Título, Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_39170, com a devida vénia.

 

4.   – O MAU TEMPO NO XIME EM 16 SETEMBRO DE 1972

    - A NARRATIVA DE JORGE ARAÚJO - CART 3494


Ainda sobre a "época das chuvas", aproveito para referir uma experiência pessoal (16Set72) que faz parte das minhas "memórias" da Guiné, já narrada no poste abaixo.




(…) O sábado, 16 de Setembro de 1972, estava a ser um dia normal, em que cada um de nós fez o que tinha a fazer, cumprindo as diferentes tarefas no quadro da organização militar – internas e externas – com destaque para a segurança à Ponta Coli, às embarcações civis que sulcavam o rio Geba e à vigilância do aquartelamento feita a partir dos postos colocados em locais estratégicos.

Por outro lado, a Guiné tem um clima tropical o que significa que tem duas estações distintas – a "estação das chuvas" e a "estação seca". A primeira inicia-se em meados de Maio e a segunda em meados de Novembro, pelo que cada estação completa um ciclo de seis meses. Daí que Setembro é um mês que faz parte da primeira estação – a das chuvas – em que as precipitações são geralmente abundantes. (…)

A noite tinha chegado e os ventos fortes transportavam cada vez mais nuvens, dando origem à queda de
água com grande abundância. Estava uma noite verdadeiramente tropical. O contacto directo com este fenómeno da natureza metia respeito a qualquer um de nós, e como diz o povo: "era de meter medo ao susto". Os trovões eram cada vez mais fortes, fazendo abanar os telhados de chapa dos edifícios ali à volta, enquanto os raios rasgavam, à nossa frente, o céu do Xime, iluminando todo o espaço físico do Aquartelamento. Ainda assim a experiência estava a ser pedagogicamente interessante e daí a termos gravado na memória de longo prazo, e agora passada a escrito. (…)


5.   – O MAU TEMPO NA GUINÉ-BISSAU EM SETEMBRO DE 2020

    - A NARRATIVA DA COMUNICAÇÃO SOCIAL - RISPITO


Depois de três relatos datados de 1966, 1965 e 1972, respectivamente, os valores de precipitação pluvial na Guiné-Bissau, em Setembro, continuam a ser elevados, como provam as notícias divulgadas na Comunicação Social, estas alusivas ao ano de 2020. 

 




(continuação da notícia acima).


Cherno Mendes, dos serviços da meteorologia e responsável pela divisão da previsão disse à Lusa que "o pior ainda pode estar para vir", salientando que as autoridades esperam um "ano húmido" em que 

deve chover na Guiné-Bissau como só se viu há 30 anos. Normalmente, na Guiné-Bissau a chuva começa a perder a intensidade a partir do mês de Agosto, mas este ano, a meteorologia avisou que Setembro e Outubro poderão ter muita precipitação.

A Lusa percorreu várias zonas do centro de Bissau e dos subúrbios onde constatou a população desesperada, a repetir gritos de socorro pelos campos de cultivo do arroz completamente inundados, casas caídas ou quase a cair, dada à intensidade de chuvas.

Nos bairros de Cuntum Madina, Plubá e Djogoró, subúrbios de Bissau, onde a população vive da agricultura, as 'bolanhas' (campos de cultivo do arroz) têm mais água que o cereal plantado em Maio, logo com a chegada da época das chuvas, na esperança de colher agora em Setembro.

Em Djogoró, além das 'bolanhas' inundadas, a água cobriu por completo as minas de sal, outra fonte do sustento das mulheres.

As duas faixas das "bolanhas" de Djogoró, que têm uma estrada asfaltada pelo meio e que ainda resiste à força das chuvas, agora só servem para as crianças tomarem banho ou pesca à linha, dada a quantidade de água cor de barro que aí se encontra parada. As crianças divertem-se naquelas águas, sem se preocuparem que ali ao lado, a escassos 100 metros, esteja um cemitério municipal.


A população do novo bairro de Cabo Verde, construído sobretudo por pessoas recém-chegadas a Bissau vindas do interior ou de países vizinhos, é que não têm mesmo motivos para se divertirem com a quantidade de chuva que cai naquela zona sudeste de Bissau.

No centro de Bissau, os automobilistas disputam cada palmo de estrada que ainda não está coberto de poças de água. O cenário só é aproveitado por grupos de jovens para arrecadar moedas que pedem, quase exigem, a cada condutor que passe por uma estrada que foi alvo de um remendo com pedregulhos.

O responsável de previsão dos serviços da meteorologia disse que a população "há muito que é avisada" sobre os perigos de construção de casas em zonas húmidas e que as próprias autoridades já têm em mãos os avisos de que este ano vai cair muita chuva.

Cherno Mendes também afirmou que sem um ordenamento hidroagrícola do país e sem que a população deixe de atirar lixo doméstico nos canais de drenagem de águas das chuvas, a destruição não vai parar na Guiné-Bissau.


A ministra da Solidariedade tem um fundo de 100 milhões de francos CFA (6,5 milhões de euros), instituído pelo Governo para socorrer as vítimas do mau tempo, para já identificados em Bissau, Boé (leste) Cacine (sul) e toda a região de Cacheu (norte).

De momento, Conceição Évora tenta dar material de construção e víveres aos sinistrados, mas, dados os pedidos, tenciona lançar uma campanha de solidariedade para pedir apoios de empresários e pessoas singulares. (…)


Fonte: http://www.rispito.com/2020/09/chuvas-provocam-estragos-um-pouco-por.html, com a devida vénia.

 


Foto 4 > Bissau > (Set'2020), https://visao.sapo.pt/atualidade/politica/2020-09-08-chuvas-provocam-estragos-um-pouco-por-toda-a-guine-bissau-governo-pensa-lancar-campanha/

 

6.   – A PRECIPITAÇÃO PLUVIAL NA GUINÉ-BISSAU

    - ESTUDO CIENTÍFICO DE 2009/2010



Para concluir a estrutura deste trabalho de pesquisa, aproveito para dar conta, no Fórum, de um estudo académico publicado na Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, titulado «Distribuição espacial de valores prováveis de precipitação pluvial para períodos quinzenais, em Guiné-Bissau», disponível na Biblioteca Electrónica Scielo, 

link: www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-43662011000100010.

Em face dos resultados abaixo divulgados e das competentes explicações, que certamente não deixam margens para dúvidas, uma nova questão se coloca: "como foram organizadas as diferentes sessões dos trabalhos de cada um dos encontros (o 1.º de cinco dias e o 2.º de dois dias), perante a forte probabilidade de terem ocorrido várias intempéries climáticas (chuva e vento)?" É que naqueles dias, muito provavelmente, o "mau tempo" não deixou de passar pelo Boé… e a necessidade de corrigir esta parte da história… continua a ser um imperativo da própria HISTÓRIA.





Figura 1 – Distribuição da probabilidade diária e mensal de precipitação pluvial durante um ano na Guiné-Bissau, assinalando-se a vermelho os meses em que foram organizados os dois eventos identificados na introdução.


Figura 2 – Distribuição do resumo meteorológico durante um ano na Guiné-Bissau, assinalando-se a vermelho os meses em que foram organizados os dois eventos identificados na introdução.

(Continua… com análises de outras variáveis)

► Fontes consultadas:


Ø  (1) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05222.000.211. Título: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste (?). Assunto: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste: Aristides Pereira, Luís Cabral, José Araújo, Carmen Pereira, João Bernardo Vieira [Nino], Tiago Aleluia Lopes, Vasco Cabral e Silvino da Luz. Data: Quarta, 18 de Julho de 1973 – Domingo, 22 de Julho de 1973. Observações: Durante o II Congresso do PAIGC Aristides Pereira é eleito por unanimidade Secretário-Geral, sucedendo assim a Amílcar Cabral, assassinado em 20 de Maio de 1973 [erro; é Janeiro]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (2) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05222.000.050. Título: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste (?). Assunto: II Congresso do PAIGC, na Frente Leste: Francisco Mendes [Chico Té], João Bernardo Vieira [Nino], Aristides Pereira, Luís Cabral, Pedro Pires e Vasco Cabral. Data: Quarta, 18 de Julho de 1973 – Domingo, 22 de Julho de 1973. Observações: Durante o II Congresso do PAIGC Aristides Pereira é eleito por unanimidade Secretário-Geral, sucedendo assim a Amílcar Cabral, assassinado em 20 de Maio de 1973 [erro; é Janeiro]. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

(3) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 05247.000.137. Título: Lucette Cabral, Aristides Pereira, Víctor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau. Assunto: Lucette Cabral, Aristides Pereira, Víctor Saúde Maria, Otto Schacht e Luís Cabral durante a I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau na região libertada de Madina de Boé (?). Data: Domingo, 23 de Setembro de 1973 - Segunda, 24 de Setembro de 1973. Observações: A I Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau, presidida por Luís Cabral, aprova a Constituição da República e elege o Conselho de Estado. Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Documentos.


 

Ø  (4) Instituição: Fundação Mário Soares Pasta: 04613.065.144. Assunto: Operação do PAIGC no quartel de Madina do Boé. Expõe à direcção do partido as dificuldades encontradas no terreno que não permitem a continuação dos ataques naquela zona. Remetente. [Umaro] Djaló, Madina do Boé. Destinatário: Amílcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC. Data: Sábado, 14 de Agosto de 1965. Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Correspondência 1963-1964 (dos Responsáveis da Zona Sul e Leste). Fundo DAC - Documentos Amílcar Cabral. Tipo Documental: Correspondência.


 

Ø  Outras: as referidas em cada caso.

 

 

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

01ABR2021

14 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge: ainda só vais na análise de uma variável crítica, o clima... Mas estpu a ver onde queres chegar...o 24 de setembro de 1973 em Madina do Boé só pdoe ser um embuste da História... Vou acompanhar com muito interesse o resto do dossiê...LG

Valdemar Silva disse...

Jorge Araújo, esse pormenor da época das chuvas é muito interessante.
Agora esperamos testemunhos de camaradas de Cheche, Madina e Beli, e até do Cherno Baldé, para ficarmos sem dúvidas quanto às datas versus clima.
Uma coisa me parece certa, consultando as fotografias, na Casa Comum, verifico que o II Congresso e a I Assembleia foram feitas no mesmo local: as casas, árvores, espaço ocupado, com a diferença duns panos com inscrições e umas bandeirinhas, é tudo igual aos dois eventos.

Abraço
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, é verdade que estamos já no fim da época das chuvas.Mas há 50 anos chovia muito mais na Guiné. Fiz em Setembro de 1969 pavorosas colunas, com atascamentos sucessivos,além das traiçoeiras minas... Isto na zona leste,entre Bambadinca e Saltinho...

Cherno Baldé disse...

Caros amigos,

Penso que o cerco esta a fechar-se a volta desta tematica e, cada vez mais, parece que Madina de Boé foi o nome genérico, politicamente correcto, que foi dado a muitas das acçoes politicas de relevo dos nacionalistas que, controlando 2/3 do territorio, como se dizia, nao podiam mostrar ao mundo que estas acçoes eram realizadas fora do territorio nacional.

E o nome de Madina de Boé tornou-se, no imaginario politico e maquiavélico do PAIGC, tao atraente e enigmatico que, quando entraram em Bissau ainda continuavam a afirmar que os "colonialistas" podiam levar tudo, pois eles haveriam de substituir tudo com o que viria de Boé. O A. Rosinha sabe do que estou a falar. Ainda o pais esta a espera, mas de Boé nao chegou nada e agora todos sabemos que nao ha-de chegar nada, porque nao tinham la nada, tudo nao passou de embuste para assaltar o poder e dividir o espolio que os "colonialistas" nao podiam levar, ou seja as casas que os seus dirigentes transformaram em residencias privadas, enquanto o povo que "libertaram" continua a enxotar as moscas no cais abandonado de Pindjiguiti onde os barcos ja nem chegam.

Com um abraço amigo,

Cherno Baldé

Anónimo disse...

Pois é Cherno Baldé, em poucas linhas traças a triste e desassombrada realidade.Imagino que em criança com todos os sonhos inerentes às crianças e mesmo já adulto, não era este o futuro que sonharias para o teu País.
Abraço
Carlos Gaspar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Jorge, o meu último comentário tem informação inexacta: não é verdade que em setembro "estamos já no fim da época das chuvas"... Bem pelo contrário,elas prolongam-se até princípios ou meados de novembro.

A segunda parte está correta: "Mas há 50 anos chovia muito mais na Guiné. Fiz em Setembro de 1969 pavorosas colunas, com atascamentos sucessivos,além das traiçoeiras minas... Isto na zona leste,entre Bambadinca e Saltinho"...

Vou publicar fotos das nossas "picadas" intransitáveis... E no sudeste (Boé) e no sul (Tombali) ainda era pior...

O irónico comentário do Cherno Baldé não podia ser mais certeira... Aos herdeiros de Amílcar Cabral não faltava lata... Eu penso que é um fenómeno típico do "pensamento de grupo"... Mas vamos deixaro Jorge Araújo explanar o seu raciocínio...

Valdemar Silva disse...

Bom, 'parece que Madina do Boé foi um nome genérico', como diz Cherno Baldé.
E até posso comparar no que aconteceu por cá, passados quase 900 anos ainda andamos com dúvidas do local, e até da realização, da célebre Batalha de Ourique (1139) que deu azo a D. Afonso Henriques autoproclama-se Rei de Portugal, mas não sabemos, eu não sei, se passados quase 50 anos desse acontecimento os mouros, entretanto corridos à espadeirada, estariam a discutir 'aquilo da Batalha de Ourique foi tudo uma treta para o Papa dar aquelas terras aos cristãos'.
Quero dizer que genericamente Ourique seriam as terras de ocupação muçulmana.
E, depois, também por cá tivemos guerras civis e outros problemas com os bisnetos do Conquistador.
Entretanto, o que é que dizem testemunhas vivas sobre este assunto?
De certeza nem o Papa nem a ONU vão retroceder na "certificação" destes acontecimentos.

Valdemar Queiroz

Antº Rosinha disse...

O azar do PAIGC em contraste com a sorte dos "irmãos" da luta, o MPLA e a FRELIMO, (todos abençoados por sua santidade Paulo VI), é que na Guiné não aparece nem petroleo nem diamantes nem gaz natural aos montes.

São mais felizes por isso mesmo, os povos fulas, balantas, e outros seus compatriotas, do que muitos quiocos, cabindas e macuas e outros povos vizinhos destes. afogados em riquezas naturais.

Até os bauxites do Boé continuam "incognitos" para bem de todos.

Anónimo disse...

António Rosinha e o que é mais revoltante, são as crianças de cabinda não beneficiarem das riquezas do seu território.Na saúde a mortalidade infantil é muito grave entre outras.Logo as riquezas não beneficiam o comum dos mortais, a começar nas crianças.E assim vai o mundo africano.
Carlos Gaspar

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Valdemar, não está em causa o direito dos guineenses à autodeterminação e à independência... A verdade é que os nossos fulas (e outros) não foram ouvidos nem achados... com o argumento de que escolheram "o lado errado da História"...

Infelizmente, Portugal não soube gerir a sua saída de cena como "potência colonizadora"...

As "falsificações da História", qualquer que seja o falsificador, devem ser conhecidas... e discutidas... Daqui a 100 anos, Madina do Boé é apenas um topónimo, como Ourique ou Guimarães... Mais: um "acidente geográfico e histórico"... Dizem que todos os povos "precisam" de lendas e narrativas... Rudo bem, mas por favor não confundamos "lendas e narrativas" (literatura) com a ciência da História...

Valdemar Silva disse...

Luís, essa abrangência de 'não foram ouvidos nem achados' é complicada e dá para aquilo que quisermos: Spínola queria ouvir e achar referendando a autodeterminação.
Com certeza que o PAIGC não aceitaria a questão colocada ser de querer ou não a autodeterminação.
Agora o assunto é outro, e com o andar dos anos vão aparecendo as chatices de toda a espécie que aconteceram com a descolonização de toda a África e logicamente dos vários intervenientes dos conflitos.
Evidentemente que fico com muita raiva pelo o que aconteceu aos fulas que estiveram na guerra ao nosso lado e, provavelmente, ainda por aquelas paragens se deve ouvir vozes 'no tempo dos portugueses' ou 'no tempo colonial' mas serão vozes sexagenárias de quem ainda se lembra de nós.
Como curiosidade, constatamos por cá que os empregados das várias empresas de segurança serem de origem africana, o segurança do "Pingo Doce" que eu frequento é um desses e por tal sinal um Jaló ou Djaló familiar de gente da Guiné. Costumamos conversar, como nasceu cá conhece só de nome as localidades de que eu falo e quando abordamos temas da situação politica da Guiné actual, na conversa dele aparece sempre um 'no tempo colonial'.

Abraço
Valdemar Queiroz

Anónimo disse...

Não sei até que ponto o que se segue poderá servir para ajudar esta história. Uma coisa é evidente, os nossos serviços militares estavam cientes que era intenção do PAIGC declarar a indeependência.
Assim, na História da Unidade da CCaç 3327/BII17 pode ler-se no CAP II - FASC.IX - PAG 15, no período de 01 a 31 de Dezembro de 1971, pode ler-se o seguinte:
-"Notícia C-2 refere que no próximo ano o PAIGC vai constituir governo no exílio com sede em Conáckry e que vai emitir moeda prória."
Abraço transatlântico.
José Câmara

Anónimo disse...

Caros amigos Luis e Valdemar,

Amilcar Cabral, nos seus discursos, sempre disse a quem quisesse ouvir, que Portugal nao sendo um pais imperialista, no verdadeiro sentido da palavra, nao se podia dar ao luxo de fazer um "neocolonialismo" como as outras potencias coloniais tinham feito nos seus antigos territorios.

Assim, em Africa houve os paises a quem deram a "independencia" e outros que tiveram que conquistar essa independencia. A Guiné-Bissau encontra-se no segundo grupo, pelo que em 1974 ja Portugal nao podia fazer absolutamente nada para negociar o que quer que fosse e o PAIGC impos-se claramente naquelas quiméricas negociaçoes e conseguiram tudo o que queriam e mais alguma coisa, inclusive as listas nominais de todos os guineenses de recrutamento local. O plano de exterminaçao que se seguiu havia muito que tinha sido delineado.

Mas isto nao aconteceu so em relaçao a Portugal, porque mesmo a França nao conseguiu impor sua vontade na Algéria e o Reino Unido teve sérios problemas com os Mau-Mau no Quénia.

Cordiais saudaçoes,

Cherno Baldé

Valdemar Silva disse...

Caro amigo Cherno Baldé
Sempre foi, e ainda é, terrível o ajuste de contas após as guerras, revoluções ou outros conflitos bélicos, principalmente quando se trata de guerras civis ou semelhantes e que envolva grupos étnicos ou familiares.
No caso do ajuste de contas do PAIGC tratou-se de um ajuste de contas com os "lacaios do colonialismo", e foi terrível o plano de exterminação que bem poderia ser tratado no Tribunal Internacional por crimes de guerra.
Nós por cá tivemos a nossa revolução protagonizada por militares, mas nem um 'vai um tirinho ó freguês', a não ser umas rajadas prá assustar e por isso até dizem que os revoltosos nem sequer traziam munições e puseram cravos nos canos das G3 só para disfarçar. De resto, o ajuste de contas foi mais ajustar as contas com a liberdade e a democracia.
Mas, volto a repetir, ainda deve haver gente viva que fez parte daqueles acontecimentos no Boé, e, então, nunca ninguém questionou com dúvidas 'conta lá, afinal, qual a data e o local certo?'.
Ou para não ser excepção, cada país tem sempre a uma mentirazinha na sua História.

Abraço e boa saúde
Valdemar Queiroz