Angola > Ao centro, o capitão miliciano de infantaria João Manuel de Morais Lamas de Mendonça e Silva, que comandou a CCaç 3535 até à primeira quinzena de janeiro de 1973.
Foto (e legenda) : © Fernando de Sousa Ribeiro (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Fernando de Sousa Ribeiro [ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 (Zemba e Ponte de Rádi, 1972/74), do BCAÇ 3880; é licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto; vive no Porto; está reformado; é membro da nossa Tabanca Grande desde 11/11/2018, sentando à nossa sombra do nosso poilão no lugar n.º 780; tem 2 dezenas de referências no blogue.]
Date: terça, 1/06/2021 à(s) 18:22
Subject: Mais um texto meu (o último) (*)
Caro Luís,
Tenho mais um texto a partilhar contigo, e que poderás publicar no teu blogue se quiseres, relativo a um aspirante que conheci em Angola e que era doente mental. O texto não faz parte do meu livro, porque eu não tenho qualquer intervenção na história. O meu estatuto foi unicamente de observador. Posso, contudo, assegurar-te que os casos narrados no texto se passaram tal como os descrevo, nomeadamente o incidente com a granada de mão. A versão do incidente que o próprio agressor pessoalmente me contou é coincidente, quase palavra por palavra, com a versão que a vítima me tinha contado antes. Garanto, por isso, que o incidente se passou tal como o descrevo.
Eu não tenho em minha posse qualquer fotografia do aspirante, nem sei onde poderei encontrar uma. Nesta situação, só posso descrever-to, dizendo que ele era um indivíduo relativamente baixo e entroncado e que usava óculos, uns óculos bastante redondos, que apropriadamente lhe davam um aspeto um tanto ou quanto alucinado.
Um abraço
Tenho mais um texto a partilhar contigo, e que poderás publicar no teu blogue se quiseres, relativo a um aspirante que conheci em Angola e que era doente mental. O texto não faz parte do meu livro, porque eu não tenho qualquer intervenção na história. O meu estatuto foi unicamente de observador. Posso, contudo, assegurar-te que os casos narrados no texto se passaram tal como os descrevo, nomeadamente o incidente com a granada de mão. A versão do incidente que o próprio agressor pessoalmente me contou é coincidente, quase palavra por palavra, com a versão que a vítima me tinha contado antes. Garanto, por isso, que o incidente se passou tal como o descrevo.
Eu não tenho em minha posse qualquer fotografia do aspirante, nem sei onde poderei encontrar uma. Nesta situação, só posso descrever-to, dizendo que ele era um indivíduo relativamente baixo e entroncado e que usava óculos, uns óculos bastante redondos, que apropriadamente lhe davam um aspeto um tanto ou quanto alucinado.
Um abraço
Fernando de Sousa Ribeiro,
ex-alferes miliciano,
CCaç. 3535 / BCaç 3880, Angola 1972-74
2. Estórias avulsas > O Aspirane
No meu tempo de tropa, os muitos capitães milicianos que tiveram a responsabilidade de comandar
companhias operacionais na guerra colonial eram habitualmente selecionados para esse posto em
função da idade. Seguia para capitão, e não apenas para alferes, quem estivesse indicado para vir a
ser oficial miliciano com uma especialidade operacional e tivesse uma idade superior a um
determinado limite. Não me lembro ao certo de qual era esse limite, mas julgo que devia ser à volta
de 23 ou 24 anos. Olhe-se para os jovens que agora têm 23 ou 24 anos, repare-se nas criançolas que
quase todos eles ainda são e compare-se com as brutais responsabilidades que foram exigidas aos
capitães milicianos na guerra.
Depois de frequentarem o COM (Curso de Oficiais Milicianos) em Mafra, tal e qual como
acontecia com os militares que iriam ser alferes milicianos de Infantaria, os futuros capitães
milicianos frequentavam o chamado CCC (Curso de Comandantes de Companhia).
Eu não estou em condições de descrever em que é que consistia o CCC mas calculo que os
futuros capitães teriam que aprender a lidar com as diversas questões relacionadas com o comando
de uma companhia, nas quais se incluiam as questões operacionais, administrativas, contabilísticas,
logísticas, disciplinares, etc.
No âmbito do CCC e em jeito de estágio, já com o posto de alferes, os futuros capitães milicianos
eram enviados para África por cerca de quatro meses, para que, integrados numa companhia real,
pudessem aprender como é que as coisas se faziam na prática. Na minha própria companhia, a
Companhia de Caçadores 3535, em Zemba, esteve durante algum tempo um destes alferes, que
tinha ido para lá estagiar junto do capitão Lamas da Silva, que era então o comandante da mesma. O
próprio Lamas da Silva já tinha tido um estágio deste tipo, antes de se tornar capitão miliciano. O
estágio do Lamas deve ter acontecido no ano de 1971 e ocorreu na cidade do Luso (agora chamada
Luena), no leste de Angola.
Quando o Lamas da Silva (Foto n.º 1, acima) chegou ao Luso para o seu estágio, estava lá colocado um aspirante a
oficial miliciano que sofria de sérias perturbações mentais. Era o aspirante Carvalho. Nalgumas
unidades chamavam-lhe Meireles, mas Carvalho é que era o seu último apelido. Este aspirante,
porém, nunca assinava Carvalho com todas as letras; sempre e sistematicamente assinava Carvalho
sem V! Até no bilhete de identidade ele tinha assinado Carvalho sem V…
Enquanto esteve no Luso, este aspirante fez diversas tropelias, algumas inocentes, mas outras
perigosas. Por exemplo, uma noite ele foi visto a correr completamente nu pelas ruas da cidade,
com a malta atrás dele para o agarrar!
Este indivíduo mantinha-se no posto de aspirante sem ser promovido a alferes, por causa das
asneiras que ia fazendo e das sucessivas punições que estas lhe iam valendo. Ele não tinha um
comportamento que lhe permitisse ser promovido. Na verdade, ele nem aspirante deveria ser. A sua
doença mental era tal, que ele deveria ter sido isentado de todo o serviço militar e submetido a um
tratamento psiquiátrico em condições. Mas não foi isso o que lhe fizeram. Limitaram-se a passá-lo
aos auxiliares.
De vez em quando, ele era enviado para o Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar de Luanda,
onde ficava internado. O Serviço de Psiquiatria era uma coisa verdadeiramente tenebrosa. Nem os
campos de concentração nazis conseguiam ser piores do que aquilo. O Serviço ficava numas
instalações situadas na zona da Samba, longe do centro da cidade. Estas instalações eram
constituidas por alguns pavilhões muito próximos uns dos outros e estavam rodeadas por muros altíssimos e coroados de arame farpado. Lá dentro, era impossível estabelecer todo e qualquer
contacto com o mundo exterior, a não ser que alguém abrisse o portão, a única ocasião em que os
doentes lá internados poderiam ver uma nesga do largo fronteiro às instalações. De resto, o
isolamento do mundo para quem estava internado era total. Lá dentro, não se via outra coisa que
não fossem muros e paredes, nas quais se roçavam os doentes de olhar perdido, encharcados em
drogas. Estar internado em tais condições implicava ficar doido varrido para o resto da vida.
No entanto, o aspirante Carvalho não se deixava amarfanhar por aquilo e, por mais sedativos que
lhe dessem e por mais tratamentos que lhe fizessem, ele conseguia sempre fugir dali para fora.
Como fugia só com a roupa que trazia no corpo e sem dinheiro, acabava depois por ser encontrado a
dormir na rua...
O incidente mais grave que o aspirante protagonizou no Luso envolveu o então alferes Lamas da
Silva. Por razões que desconheço ou sem razão alguma, o aspirante ganhou um ódio de morte a um
certo sargento que estava lá no Luso. Uma noite, depois de jantar, enquanto o resto do pessoal que
estava na messe de oficiais ia conversando e bebendo as suas cervejas e os seus whiskies, o
aspirante levantou-se de repente e afirmou:
— Vou matar o filho da puta do sargento Fulano.
Foi ao seu quarto, saiu de lá com uma G3 nas mãos e dirigiu-se à messe de sargentos. Logo se gerou
uma enorme confusão, com o pessoal a procurar demovê-lo dos seus intentos, mas a medo, porque
aquele maluco estava armado. No meio da confusão, o Lamas da Silva conseguiu arrancar a arma
das mãos dele.
O incidente parecia ter terminado desta forma, mas não terminou. Quando foi para a cama, o Lamas
levou consigo a espingarda do aspirante, colocou-a debaixo do travesseiro e deitou-se.
A dado
momento, o aspirante apareceu à porta do quarto do Lamas com uma granada na mão, dizendo:
— Dá-me a espingarda ou atiro-te a granada.
— Não dou — respondeu o Lamas da Silva.
— Dá-me a espingarda ou atiro-te a granada — repetiu o aspirante.
— Não dou.
— Dá-me a espingarda ou atiro-te a granada.
— Já disse que não dou!...
O aspirante lançou a granada para dentro do quarto do Lamas da Silva. Este só teve tempo de saltar
para debaixo da cama e proteger-se o melhor possível, antes de a granada explodir.
Se a granada fosse defensiva, daquelas que espalham estilhaços de ferro quando rebentam, o Lamas
não teria saído dali com vida.
Mas a granada era ofensiva. Não espalhava estilhaços de ferro, mas
tinha um grande poder explosivo. Ao rebentar, a granada destruiu o recheio do quarto e o Lamas da
Silva ficou ferido por estilhaços. Foi evacuado e ficou internado no hospital. Mesmo quando, mais
tarde, comandou a companhia 3535, o Lamas ainda tinha no corpo alguns estilhaços, que os médicos não tinham podido tirar-lhe. Ele valeu-se disso para conseguir sair definitivamente de
Zemba e abandonar o comando da companhia.
Um dia, quando o capitão Lamas da Silva ainda estava em Zemba, quem foi que desembarcou lá,
chegado numa coluna vinda de Santa Eulália, a fim de cumprir uma pena de prisão de um mês? O
aspirante Carvalho!
Quando o viu, o Lamas da Silva ficou branco como a cal da parede.
— Tu aqui?... — balbuciou o Lamas, espantado.
— É a vida! — respondeu o aspirante, encolhendo os ombros.
E nunca mais se falaram. Mais do que isso, até. Não só não se falaram, como nem sequer se
cruzaram mais. Se o Lamas da Silva ia para um lado, o aspirante ia para outro e vice-versa.
O aspirante tinha ido para Zemba cumprir uma pena de um mês de prisão por causa de um incidente
que ele tinha provocado em Santa Eulália, onde estivera colocado ultimamente.
Uma noite,
encontrando-se ele de serviço como oficial de dia ao Comando de Agrupamento 3952, a que então
pertencia, o aspirante abandonou o seu posto e foi para a sanzala, onde andou aos tiros com a pistola
de serviço. Felizmente não acertou em ninguém.
O coronel de Infantaria Carlos Lacerda, que com o posto de major foi segundo-comandante do Batalhão de Caçadores
3880. Como não podia deixar de ser, quando chegou a Zemba, o aspirante foi apresentar-se ao
comandante da unidade, que naquele momento era o major Carlos Lacerda, porque o tenente-coronel estava de férias. O major, ao observar os papéis que o aspirante tinha trazido, comentou:
— Você tem aqui um currículo impressionante! São porradas e mais porradas... E agora vem aqui
cumprir mais um mês de prisão... Pois olhe, a única prisão que temos aqui em Zemba é uma coisa
que há ali num torreão. Mas aquilo não tem condições nenhumas, não é prisão nem é nada. Este
quartel aqui em Zemba é que é todo ele uma prisão, isso sim! Isto é um autêntico campo de
concentração. Até eu, que não cometi crime nenhum, estou aqui preso. Se eu quiser sair daqui, só
posso ir com uma escolta. Portanto, considere-se preso e ande por aí... Mas veja lá como é que se
comporta! Ao mais pequeno incidente, eu abato-o, ouviu? Abato-o!
— O meu major abate-me?! — admirou-se o aspirante.
— Abato-o, já disse!
— Ó meu major, se isto aqui em Zemba é assim à Texas, então o melhor é irmos os dois ali para o
meio da parada, para ver quem é que dispara primeiro...
— O quê? Você não se assustou com o que eu lhe disse? — perguntou o major, surpreendido com a
reação do aspirante.
— Eu não — respondeu este.
— Não teve medo? A sério?
— A sério.
— Eh, pá! — exclamou o major. — Você é dos meus! É de gajos assim que eu gosto! Gajos de
tomates, sem medo... Acho que nos vamos dar bem. Venha daí beber um whisky.
E assim nasceu uma grande amizade entre o major Lacerda e o aspirante Carvalho.
Como poderão confirmar todos quantos estiveram em Zemba nessa altura, o aspirante nunca causou
qualquer problema, fosse de que ordem fosse, enquanto lá esteve. Quem o visse em Zemba, diria
que ele era um indivíduo perfeitamente normal, alegre e bem disposto e que se dava bem com toda
a gente (menos com o Lamas, claro). Fartou-se de jogar matraquilhos com a malta.
— Aqui em Zemba é que me sinto bem — confessou ele uma vez. — Sinto-me tão bem, que até já
deixei de tomar os medicamentos para a cachimónia. Não sinto falta nenhuma deles.
Quando terminou a pena de prisão, o aspirante, em vez de voltar para Santa Eulália, foi transferido
para o Batalhão de Artilharia 3860, sediado na Damba, a cerca de 100 km a sul de Maquela do
Zombo. Foi a sorte dele, e já vamos ver porquê.
Na Damba, as condições mentais do aspirante voltaram a deteriorar-se. Os incidentes que ele
provocava eram cada mais frequentes e cada vez mais graves. O comandante do batalhão da Damba
já estava pelos cabelos, já não podia aturá-lo mais. O aspirante arriscava-se a apanhar mais uma
punição de um momento para o outro.
Um dia, chegou à Damba a notícia de que tinha mudado para Maquela do Zombo um tal Batalhão
de Caçadores 3880... Logo o aspirante pediu licença ao comandante para integrar a próxima coluna
que se deslocasse a Maquela, para fazer uma visita ao seu amigalhaço Lacerda. Talvez para se ver
livre dele por umas horas, o comandante deu-lhe autorização e o aspirante lá foi.
Quando voltou à Damba, o aspirante vinha mais bem disposto e passou a comportar-se melhor. A
visita ao major Lacerda tinha-lhe feito bem.
Então o comandante da Damba passou a ter o seguinte procedimento para com o aspirante: sempre
que este começasse a fazer muitas asneiras, era metido numa viatura e levado para Maquela. Mais tarde, quando ficasse mais calmo, voltava para a Damba.
E assim se passaram alguns meses, sem
que o aspirante voltasse a sofrer qualquer punição.
Por volta de janeiro de 1974, o batalhão da Damba chegou ao fim da sua comissão militar e o
aspirante Carvalho (ou Meireles, como era chamado na Damba) regressou finalmente à Metrópole,
juntamente com o batalhão.
Ao todo, o aspirante fez cerca de quatro anos de comissão. E nunca foi
promovido a alferes; ficou aspirante até ao fim. (**)
[Tíitulo do poste, da resposnsabilidade do editor: LG ]
____________Notas do editor:
(*) Último poste da série > 27 de abril de 2021 > Guiné 63/74 – P22145: Estórias avulsas (105): Pequemo almoço às 2 horas da manhã (Joaquim Ascenção, ex-Fur Mil Arm Pes Inf, CCAÇ 3460, Cacheu, 1971/73)
20 comentários:
Não acredito nesta história alucinada...
Santiago
A história é verdadeira. Alucinada foi a guerra.
apanhado
apanhado | adj. | n. m.
masc. sing. part. pass. de apanhar
a·pa·nha·do
(particípio de apanhar)
adjectivo
1. Que se apanhou.
2. Tacanho, mesquinho, estreito.
3. [Portugal, Informal] Que não é bom da cabeça ou age de modo insensato (ex.: é um casal simpático mas um bocado apanhado). = PIRADO
4. [Portugal, Informal] Que está dominado por sentimento de grande paixão (ex.: ficou logo apanhada pelo amigo do irmão; o tipo é completamente apanhado por futebol). = APAIXONADO
nome masculino
5. Resumo.
6. Refego, prega.
7. [Cinema, Televisão] Filmagem, geralmente feita com câmara escondida, onde os participantes são surpreendidos com situações cómicas, constrangedoras, provocatórias ou insólitas.
"apanhado", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/apanhado [consultado em 04-06-2021].
'Anda tudo apanhado do clima
Gostaria de saber de onde provém a expressão "anda tudo apanhado do clima".
Obrigado ... e parabéns pelo vosso trabalho.'
Teresa Pinto | Portugal
Estamos em presença duma frase feita que anda por aí. É muito difícil saber a origem de frases e de diversas expressões desta natureza. Às vezes têm origem na representação de tal ou tal obra de teatro, fita cinematográfica, etc., como é o caso desta, que já pouco se ouve: Não tens planta nenhuma. Dos dicionários que tratam especificamente destas coisas, nenhum regista a frase apresentada pela nossa consulente. E mesmo que registasse, como saber a origem?
Orlando Neves publicou um «Dicionário das Origens das Frases Feitas». Elas são tantas, tantas!... São milhares. Pois o autor só conseguiu dar a origem dumas trezentas e tal. É muito difícil. Não conheço quem informe do que deseja saber.
José Neves Henriques 20 fev. 1998'
in Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/anda-tudo-apanhado-do-clima/1878 [consultado em 04-06-2021]
______________
Pois é, em 1998, ainda não existia o nosso blogue. Temos 20 referências a exta frase feita, "apanhados do clima"...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/apanhados%20do%20clima
cacimbo
cacimbo | n. m.
1ª pess. sing. pres. ind. de cacimbar
ca·cim·bo
(talvez do quimbundo kixibu, zimbro, orvalho, Inverno, relento)
nome masculino
1. [Angola, Moçambique] Orvalho e relento em certos pontos costeiros de África. = CACIMBA
2. [Angola, Moçambique] Período em que ocorre esse fenómeno. = CACIMBA
3. [Angola] Estação com elevado índice de humidade, mas sem grandes chuvas, que se estende de Maio a Agosto e que se caracteriza pela descida gradual da temperatura e pelo aumento da nebulosidade (ex.: a humidade do cacimbo faz transpirar).
Palavras relacionadas: cacimbar, cacimba, , , cacimbado, relento, cazucuta.
ca·cim·bar 1 - Conjugar
(cacimba, orvalho + -ar)
verbo intransitivo
Formar-se ou cair cacimba. = ORVALHAR
Palavras relacionadas: cacimbado, cacimba, , zimbro, cacimbão, cacimbo, relento.
ca·cim·bar 2 - Conjugar
(cacimba, poço + -ar)
verbo intransitivo
[Brasil] Encher-se de água (um terreno) formando poças aqui e além.
Palavras relacionadas: cacimbado, cacimba, , cacimbão, cacimbo, zimbro, relento.
"cacimbo", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/cacimbo [consultado em 04-06-2021].
Uma tentativa de explicar a expressão ou frase feita "Apanhados do clima":
Luís Alves de Fraga, blog Fio de Prumo > 29.07.19 > A guerra em África: “Apanhados do clima”
https://luisalvesdefraga.blogs.sapo.pt/a-guerra-em-africa-apanhados-do-clima-189285
(...) O stress pós-traumático em vítimas da guerra colonial está, segundo julgo, bastante bem definido. Vou dedicar-lhe um breve apontamento, um dia destes. Contudo, houve um “fenómeno” ‒ se é que assim lhe posso chamar ‒ com contornos muito diferentes, mas também de natureza psíquica, conhecido entre os militares por uma expressão que, admito, nasceu em África: “apanhado do clima”. O que era isto, como e quando surgia? (...)
Caros amigos,
Eu acredito nesta história do Aspirante Carvalho, pois tivemos no quartel de Fajonquito o caso do "Comando" Almeida que já foi aqui relatado. Um soldado que tinha sido transferido para cumprir um castigo e que foi ficando de companhia em companhia e acabou por ser o carrasco de 3 militares da CART 2742, no dia 2 de Abril de 1972, incluindo o Capitão e um Alferes.
Entre os colegas, era tido como um maluco com quem evitavam qualquer contacto, era corajoso como ninguém e alinhava em todas. Uma vez houve um ataque a um dos destacamentos e o Almeida, pegando na sua G3 seguiu sózinho até ao local para socorrer o Pelotão de milicias que lá se encontravam. E passava a maior parte do tempo na tabanca ou caçando na orla da bolanha com um bando de meninos e, no regresso mandava servir a comida aos putos no refeitório diante dos olhares estupefactos dos soldados. O Almeida era pouco falador e tinha uma pontaria de elite, pois nunca desperdiçava uma bala.
Se tinha pertencido a uma companhia de comandos ou não nunca ficamos a saber, a verdade é que, pelo nivel de preparação que apresentava, não era um soldado qualquer, mas que parte do seu temperamento o terá traido para impedir a sua integração normal entre os seus, no contexto daquela guerra.
O Almeida existiu, não foi inventado, pelo que acho de todo verossímil a história aqui contada por Fernando Ribeiro.
Abraços,
Cherno Baldé
O cor Luis Alves de Fraga aplica a expressão "Apanhados do clima", para caracterizazr situações em que havia alteração do "comportamento normal" dos militares.
(...) "Não se tratava de depressões, nem de algo desse tipo, mas antes de comportamentos descontrolados, entre a alegria excessiva e a zanga repentina, entre um discurso coerente seguido de incoerências, às vezes, impropérios usados diante de superiores hierárquicos, pequenas revoltas disciplinares e más disposições ou explosões de mau humor com amigos, camaradas e, até, com familiares.
Tudo isto começava a manifestar-se ao fim de uns meses de permanência em África, não com todos os militares, mas com alguns. Tive oportunidade de viver, eu mesmo, situações destas e de acompanhá-las entre militares meus companheiros.
A “malta” rapidamente encontrou uma expressão pouco clínica para designar estes comportamentos com contornos de anormalidade: “apanhados do clima”,
Na verdade, nada disto tinha a ver com o estado atmosférico! Se tivesse, muitos colonos seriam “apanhados do clima” e, todavia, não estavam nem mostravam tais sintomas. Até porque, nem todos os militares, como já disse, independentemente do posto, reagiam da mesma forma.
Na nossa juventude, descuidados com o nosso estado físico ou psíquico, nada disto nos dava cuidado. Os graduados desculpavam aos subordinados algumas “irresponsabilidades” comportamentais, com um encolher de ombros acompanhado da tal expressão: «Está apanhado do clima»! Gerou-se, assim, uma cadeia de conformidade e desculpa com uma certa forma de estar, aliás passageira, quase sempre.
Mas, hoje, passados tantos anos, interrogo-me sobre esta alteração de comportamentos. O que justificava o “apanhado do clima”?
Estando o combate longe da zona logística sobre alguns serviços nesta integrados fazia-se sentir a pressão do trabalho, a velocidade, a exigência, a responsabilidade e a consciência de que uma falha aqui poderia ter graves repercussões lá à frente. Havia um clima de tensão, de nervosismo, de que faltava sempre qualquer coisa. Era por causa desse “clima” que se ficava “apanhado”!
Acumulava-se ao “clima” de tensão anteriormente descrito a contagem decrescente do tempo para regressar a Portugal, a qual se tornava mais penosa quanto menos meses faltavam para o fim da comissão. E estava sempre pendente a possibilidade de, colocado num serviço de “retaguarda”, ter de saltar, por qualquer motivo, para uma zona de maior envolvimento nas operações. Isto, junto ao que deixei dito, gerava uma maior tendência para ficar “apanhado do clima”.
Este efeito colateral da guerra acabava passadas algumas semanas ou, nos casos mais relutantes, um ou dois meses, após o regresso a Portugal. Depois, depois já cá, ríamo-nos dos sentimentos vividos, das preocupações, sem qualquer consciência de que uma coisa tão “simples” era, também, um efeito da guerra.
https://luisalvesdefraga.blogs.sapo.pt/a-guerra-em-africa-apanhados-do-clima-189285
"Apanhado do clima" ... Expressão idiomática, usada no contexto da guerra da Guiné (1961/74), que pode ter como equivalentes estas outras frases feitas:
(i) ser ou parecer ser maluco;
(ii) não bater bem da bola;
(iii) ter uma parafuso a menos;
(iv) ter uma pancada;
(v) andar com a rosca moída;
(vi) estar cacimbado;
etc.
Vejamos...
1-o Alf Lamas colocou a G3 debaixo do travesseiro e deitou-se...
2-o Asp.lançou a granada "ofensiva" para dentro do quarto,e o Lamas atirou-se para debaixo da cama e apanhou alguns estilhaços.
Muito estranho,colocar uma G3 debaixo do travesseiro.
O rebentamento de uma granada dentro do espaço de um quarto certamente que provocaria danos nos ouvidos
Qual a origem dos estilhaços? Bastantes,visto que no hospital não os retiraram na totalidade.
Uma história mal contada
Santiago
Dizia-se....
Que na Guiné um aspirante não foi promovido devido a uma "porrada".
Ao visitar o aquartelamento onde o dito estava colocado o "caco baldé" disse-lhe se não se envergonhava de ser o único aspirante na Guiné.
Resposta do dito e V.exa não se envergonha de ser o único general na Guiné-
.
Dizia-se que S.exa engoliu em seco.
PERGUNTA :não seriamos todos um pouco loucos ?
Eu acho que ainda sou.
AB
C.Martins
Caminhando numa operação no mato.
Estamos parados porquê? Foi nosso Capitão que mandou parar. Mas aconteceu alguma coisa? Não sei, passa palavra.
Estamos parados porquê? Foi o Capitão que mandou e parece que lhe aconteceu alguma coisa, passa palavra.
Estamos parados porquê? Foi o nosso Capitão que teve de parar por lhe ter acontecido qualquer coisa, passa palavra.
Estamos parados porquê? Foi o nosso Capitão que parou com problemas. Mas nalguma perna? Não sei, passa palavra.
Estamos parados porquê? O nosso Capitão está ferido nas pernas, passa palavra.
Estamos parados porquê? O nosso Capitão está sem pernas à espera do heli de evacuação, passa palavra.
Estamos parados porquê? O nosso Capitão morreu sem pernas e com um ataque de coração.
Está a andar, disse o Almada, e nunca se soube ao certo porque raio o Capitão mandou parar.
Fernando Ribeiro deu um exemplo do que pode ter acontecido com alucinação da guerra, e não duvidamos ter havido muita rapaziada apanhada do clima.
Abraços
Valdemar Queiroz
Tenho algumas fotos que provam estar apanhado 'pelo clima', pena que não esteja aqui representado, são o meu álbum de loucuras.
Pode ser aplicado a mim todos os estados atrás referidos.
Não deixo de ter uma certa vergonha das cenas ridículas, por isso nunca as publiquei.
Oh tempo volta pra trás,....
Estou a caminho de Lamego vou-me inscrever para para o curso de. Operações especiais.
Depois mando fotos.
Boa continuação pra todos.
Virgílio Teixeira
Tenho algumas fotos que provam estar apanhado 'pelo clima', pena que não esteja aqui representado, são o meu álbum de loucuras.
Pode ser aplicado a mim todos os estados atrás referidos.
Não deixo de ter uma certa vergonha das cenas ridículas, por isso nunca as publiquei.
Oh tempo volta pra trás,....
Estou a caminho de Lamego vou-me inscrever para para o curso de. Operações especiais.
Depois mando fotos.
Boa continuação pra todos.
Virgílio Teixeira
Diz o Ribeiro e muito bem:
" (...) Este indivíduo (o Carvalho) mantinha-se no posto de aspirante sem ser promovido a alferes, por causa das asneiras que ia fazendo e das sucessivas punições que estas lhe iam valendo. Ele não tinha um comportamento que lhe permitisse ser promovido. Na verdade, ele nem aspirante deveria ser. A sua doença mental era tal, que ele deveria ter sido isentado de todo o serviço militar e submetido a um tratamento psiquiátrico em condições. Mas não foi isso o que lhe fizeram. Limitaram-se a passá-lo aos auxiliares." (...) ´
Naquela época o exército lidava mal com a "doença mental". E eu nem sei se havia MESMOS
especialistas em psiquiatria no HM 241, em Bissau. A "doença metal" era ainda estigmatizada na "metrópole", quanto mais num "teatro de guerra" como a Guiné...
Também nas instuições psiquiátricas havia (e ainda há) alas com altos muros e arame fapado para os "inimputáveis" (doentes que cometem "crimes de sangue" mas não podem ser jukgados nem muito menos condenados.
A figura jurídica do "inimputável" quer dizer isso mesmo: "Que ou quem não pode ser responsabilizado por um facto punível, por se considerar não ter as faculdades mentais e a liberdade necessárias para avaliar o acto quando o praticou".
[Fonte]: "inimputáveis", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/inimput%C3%A1veis [consultado em 05-06-2021].
Lá no Luso, o que é que os superiores hierárquicos do Carvalho estavam à espera ? Que ele matasse alguém para o piderem evacuarem para a Metrópole, para o Hospital Principal e depois para um presídio militar ou para o Júlio de Matos ?
Eu não associo a expressão "apanhado do clima" à "perturbação mental", e muito menos à loucura pura e simples...De facto, não é uma entidade clínica, não deve ser confundida com "stress pós-traumático de guerra"... Estar "apanhado de clima" significava passar por (ou ter) uma "perturbação emocional aguda" que tendia a tornar-se "crónica", na segunda metade da comissão... "Ser velhinho" (ter mais de um ano) dava direito a ser "apanhado do clima" e, nessa medida, poder cometer algumas infrações (menores) a RDM, o sacrossanto Regulamento de Disciplina Militar (que eu, confesso, nunca li, mas que achava que era bom para limpar o cu...).
Sim, meus caros amigos e camaradas, uns mais outros menos, todos fomos um pouco "apanhados do clima", na guerra da Guiné (, só falo do que vivi e vi...). E acho que, ao fim destes anos todos (e já lá vão mais de 50) todos ainda somos um pouco "apanhados do climna"... A prova é este blogue, a prova são os nossos encontros, a prova são as nossas conversas quando nos encontramos, a prova é o facto de não conseguirmos pronunciar a palavra "Guiné" sem um pontinha de emoção...
Porra, a guerra da Guiné (mas seguramente também a Índia, Angola, Moçambique, Timor...) foi, para a grande maioria de nós, combatentes (sem distinção entre "back office" e "front office", nem muito menos de armas: exército, marinha, força aérea...) foi "sangue, suor e lágrimas"...
Virgílio, todos, por certo, poderão dzier como tu: "ão deixo de ter uma certa vergonha das cenas ridículas, por isso nunca as publiquei, essas fotos"... Podemos não ter fotos para documentar as tais "cenas ridículas", mas todos tivemos "cenas ridículas", tal como todos escrevemos, parafraseando Fernando Pessoa, "cartas de amor ridículas"...
Eu sei que já não temos "cura"...Mas só espero, ao menos, que os nosso contemporâneos, os nossos concidadãos, e sobretudo os nossos filhos, netos e bisnetos, sejam capazes de nos "comnpreender" e, se possível, continuar a estimar e a amar...
Fomos vítimas, com o 25 de Abril de 1974, do manto de silêncio, vergonha e ignomínia que sobre nós foi lançado... Estaríamos hoje melhor, em termos de "saúde mental", se tivessemos começado logo a fazer o processo de reconciliação e de luto... Se calhar estou a ser "utópico"... Acontece este processo de recalcamento no dia seguinte ao fim de todas as guerras... Só que há povos mais pragmáticos do que outros...
Luís Graça (que um pouco "apanhado do clima" ainda hoje se confessa...)
O velhinho poste do João Tunes merece ser lido ou relido...Também havia pelo menos um aspirante, no CTIG, em 1969/71... Ele conta aqui a história do pobre aspirante Barros que ele conheceu em Catió, em 1970...
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2006/07/guin-6374-p1003-eu-cacimbado-me.html
Afirmo e reafirmo a veracidade do que está relatado no texto. Se alguém tiver dúvidas, pergunte aos intervenientes. Eu limitei-me a reproduzir o que eles me contaram. Já agora, aproveito para acrescentar que a descrição que faço do Serviço de Psiquiatria do Hospital Militar de Luanda é, esse sim, da minha responsabilidade, pois tive consultas externas no referido serviço. Aquilo era mesmo, mesmo muito mau. Era o inferno na Terra.
O régulo da Tabanca Grande Luis Graça gosta muito de citar o Dicionário Online Priberam da Língua Portuguesa. Não o critico por isso, nem por sombras, mas o Dicionário Priberam não é infalível. A propósito do que no mesmo dicionário se diz a respeito da palavra "cacimbo", tenho a comentar o que se segue.
A palavra cacimbo vem do quimbundo kixibu, normalmente com acentuação na penúltima sílaba (xi), como é corrente nas línguas bantus.
As duas primeiras definições dadas pelo dicionário Priberam para a palavra "cacimbo" são muito genéricas e por isso podem ser aceites sem grande contestação. A terceira definição, relativa só a Angola, está, desde logo, errada no que à chuva diz respeito. A estação do cacimbo é a estação seca, uma das duas estações do ano que caracterizam os climas tropicais. Na Guiné esta estação também existe, com toda a certeza, mesmo que não se chame cacimbo. Como estação seca que é, é raríssimo chover durante o cacimbo. Não sei porquê, o Dicionário Priberam diz que ela em Angola é «sem grandes chuvas». Na verdade, é sem chuvas nenhumas. Nem grandes, nem pequenas. Na estação seca não chove.
O resto da definição dada pelo dicionário («... que se caracteriza pela descida gradual da temperatura e pelo aumento da nebulosidade (ex.: a humidade do cacimbo faz transpirar)...») praticamente só se aplica à zona costeira angolana, onde se encontram as cidades de Luanda, Lobito, Benguela, Moçâmedes, etc. No interior não é assim.
Talvez por causa da passagem perto da costa angolana de uma corrente marítima fria, a chamada Corrente Fria de Benguela, que é muito rica em peixe, produz-se sobre essa corrente uma condensação da humidade do ar sob a forma de neblina ou nevoeiro. Na estação seca, esta neblina entra muitas vezes pela terra dentro. É frequente acontecer que ao longo de dias e dias, inclusive ao longo de várias semanas seguidas, o sol fique tapado pela neblina, a que também se dá o nome de cacimbo. À medida que os dias passam sem que consigam ver o sol, as pessoas vão ficando cada vez mais angustiadas e ansiosas, isto é, ficam "cacimbadas".
Nas regiões do interior de Angola a estação seca toma outro aspeto. Nestas regiões há nevoeiros e neblinas, também, mas são causados pelo arrefecimento noturno e dissipam-se após o nascer do sol. O céu fica então limpo de nuvens e o sol brilha durante todo o dia. Um vento constante, seco e muitas vezes desagradável de Leste varre a savana (ou a floresta tropical de altitude, se houver) e as pessoas muitas vezes sentem frio ou, pelo menos, sentem-se desconfortáveis. Nas zonas de mais elevada altitude chega mesmo a fazer um frio de rachar. Nomeadamente nas cidades mais altas do Sul, como Lubango (antiga Sá da Bandeira) ou Menongue (antiga Serpa Pinto), as temperaturas chegam a descer até aos zero graus durante a noite e a água deixada ao ar livre chega a congelar! No norte de Angola, porém, as temperaturas são mais amenas na estação seca, raramente descendo abaixo dos quinze graus.
A duração da estação do cacimbo em Angola varia de norte para sul e aumenta à medida que nos afastamos do equador. O Dicionário Priberam afirma que o cacimbo dura de maio a agosto. Isto é verdade para o Norte do território. No Centro e no Sul ela vai de maio até setembro, até outubro ou mesmo até mais tarde. No deserto do Namibe (antigamente chamado deserto de Moçâmedes), então, a estação do cacimbo dura quase todo o ano.
Caro Fernando Ribeiro,
A descrição que fazes do Cacimbo em Angola é o mesmo da Guiné, sendo ambos os territórios situados nos trópicos (o primeiro ao Norte e o último abaixo do Equador. Na Guiné o cacimbo (a tal neblina ou nevoeiro) ocorre na estação seca entre os meses de Dezembro à Fevereiro) acompanhado dos chamados ventos alízios, que sopram de Leste p/Oeste. Não sendo uma terra de montanhas, a temperatura não desce abaixo dos 15 graus a noite, mas o suficiente para criar a sensação de muito frio. Tanto a neblina como a sensação de frio são matinais e vão desaparecendo conforme o sol vai subindo. Antigamente esse periodo coincidia com a época das colheitas desde arroz, milho até a mancarra para cuja limpeza os ventos davam alguma ajuda para separar os frutos dos restos da planta devidamente secos ao sol.
Cordiais saudações,
Cherno Baldé
Caro Cherno Baldé,
É dos livros de geografia que a Terra é simétrica relativamente à linha do equador. A desigual distribuição dos continentes e dos oceanos entre os hemisférios norte e sul pode perturbar esta simetria, mas não a destrói. Ao deserto do Sahara no hemisfério norte correspondem os desertos do Namibe e do Kalahari no hemisfério sul, por exemplo. A distribuição dos ventos alíseos entre os dois hemisférios é outro exemplo desta simetria. Tenho que te agradecer a tua chamada de atenção para este facto, porque nunca me ocorreu a ideia de que o vento que eu sentia no planalto angolano eram esses mesmos ventos alíseos. Pois claro que eram os alíseos. O que eu sentia era o próprio movimento de rotação da Terra a soprar-me na cara.
Um abraço
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