sexta-feira, 13 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23261: Documentos (38): Boletim Informativo n.º 2 do Movimento das Forças Armadas na Guiné, de 17 de Junho de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso camarada Victor Costa, ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 4541/72 (Safim, 1974), com data de 12 de Fevereiro de 2022:

O período 1974/75, a que chamo cinzento ou de má memória começou em Junho de 1974 e terminou em 25 de Novembro de 1975. Neste período estivemos perante o espectro de uma guerra civil e ao contrário do que alguns teóricos bem pensantes dizem, só somos um povo de brandos costumes até a mostarda chegar ao nariz, porque a partir daí...

Com o 25 de Abril, assistimos a uma multiplicação do número de revolucionários e cada um deles mais revolucionário que o outro. Em pouco tempo deixaram de existir militares que serviram o antigo Regime ou foram poucos os que o fizeram. Foi um autêntico milagre das rosas, da disciplina à hierarquia que durante anos nos habituámos a seguir, era-nos agora proposto mudar para um sistema de centralismo "democrático" do Leste, a ser aplicado à tropa, rapidamente e em força.

Dizia o Ex-Chanceler alemão Willy Brandt, quando questionado sobre o seu passado revolucionário que: Ser revolucionário até aos 28 anos de idade, é normal, faz parte da natureza humana, mas continuar a sê-lo depois dos 28, qualquer coisa está errada. Esta citação aplica-se que nem uma luva a muitos dos nossos militares na Metrópole e na Guiné.

Existem títulos e artigos no Boletim Informativo n. º 2 do MFA na Guiné que merecem ser lidos com atenção e em particular o da Reunião de trabalho do MFA na Guiné. Este tem duas referências ao Sr. Gen. Spínola, uma referência ao Sr. Gen. Galvão de Melo, a determinante da evolução será a relação capital-trabalho e que a revolução ora iniciada só poderá prosseguir numa base de aliança Povo-MFA e Governo e continua, assim a Comissão Coordenadora assoberbada de trabalho, não tem exercido as funções para que foi criada, fim de citação (depreende-se que fosse trabalho político), a Comissão Coordenadora (de 7 elementos) irá ter, além das funções de membros do Conselho de Estado a de se constituir em repartição de Relações Públicas e Acção Psicológica (espécie de 5.ª REP.) que funcionará ao nível do EMGFA - (cá está, 5.ª REP, já só falta atribuir o nome correcto) - , foi criada a Polícia de Informação Militar (PIM), no seio das FA começa a esboçar-se uma divisão entre esquerda e direita, falta de legislação própria para os saneamentos levanta-se novamente o problema da politização das FA etc, etc, etc.

Das referências e títulos atrás citados, há pelo menos dois que se destacam, a Polícia de Informação Militar (PIM) e a espécie de 5.ª REP. - (a Comissão Coordenadora assoberbada de trabalho), trata-se de uma referência a trabalho político intenso desenvolvido e com uma linha política clara, que poderá conduzir a uma caça às bruxas. Para mim um simples leitor do Jornal República, as cito - (sugestões para o trabalho a realizar pelas Delegações do MFA) -, e outros Títulos desenvolvidos que constavam do Boletim Informativo n.º 2 do MFA na Guiné, era areia demais para a minha camioneta, agora sim, já não restavam dúvidas, daqui para a frente seria sempre cumprir e fazer cumprir as ordens do Comando. Mesmo assim, lá guardei estes papéis como recordação, mas estava longe de imaginar o poder e a influência que a 5.ª Divisão viria a ter na Guiné e na Metrópole. Ainda bem que o fiz, hoje dá para os ler, olhar para trás e ver como era.

Espero que a publicação destes boletins sirva para mostrar como decorreu o período de negociações e transferência de soberania na Guiné e porque aconteceram algumas quebras na cadeia de Comando que afectou a hierarquia e a disciplina em algumas Unidades, com efeitos negativos na imagem das NT.

Um abraço,
Victor Costa
Ex-Fur. Mil. Inf.

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Nota do editor

Último poste da série de 22 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23187: Documentos (37): Boletim Informativo n.º 1 do Movimento das Forças Armadas na Guiné, de 1 de Junho de 1974 (Victor Costa, ex-Fur Mil Inf)

14 comentários:

armando pires disse...

Recusando qualquer tipo de polémica sobre o assunto, proponho ao ex-fur mil inf Victor Costa que leia, se é que ainda não o fez, o livro "A Descolonização da Guiné-Bissau e o Movimento dos Capitães", de autoria do coronel Jorge Sales Golias, com prefácio do coronel Carlos Matos Gomes, numa edição da "Colibri".

Valdemar Silva disse...

Victor Costa, não consigo perceber se de Junho/1974 a Novembro/1975 ainda estavas na Guiné ou já tinhas regressado à metrópole.
Mas, pelo que escreves "a que chamo cinzento" parece-me que estavas ou mal informado ou com problemas de discromatopsia para com as cores berrantes da revolução. Depois, também noto uma certa confusão na situação geográfica de Portugal, que numa pequena análise aos pontos cardiais verificamos se situar bem na parte mais ocidental da Europa.
Evidentemente, não houve nenhum milagre das rosas, o que houve foi o povo oferecer cravos aos soldados que tinham ouvido do Cap. Salgueira Maia "vamos para Lisboa acabar com o estado ao que isto chegou".
Que grande chatice e "falta de disciplina" o Movimento dos Capitães terem feito a revolução no 25 de Abril de 1974 e não perguntarem aos seus superiores "V.Sra. dá-me licença que avance".
Começamos a comemorar a data histórica da revolução do 25 de Abril de 1974, que a todos nós, que estivemos na guerra da Guiné, muito nos sensibilizou. Sabemos existir cassetes riscadas com 50 anos de uso a denegrir o Movimento dos Capitães por terem feito uma revolução sem mortos, e sabemos, agora, terem aparecido umas cassetes pirata vendidas na Feira de Carcavelos com uma versão do "estava combinado, o pcp é que estragou tudo" para a rapaziada desta geração ficar baralhada com a banhada que levaram os senhores do geriátrico regime salazarento.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Carlos Vinhal disse...

Caro Valdemar
Na vida nem tudo é só preto ou branco. Nem tudo é só esquerda ou direita. Há pluralismo e direito de opinião.
Julgo que ninguém de bom senso estará contra o Movimento dos Capitães e consequente 25 de Abril. Temos sim que admitir que nos meses que se seguiram, a balbúrdia foi muita. Lembras-te dos juramentos de bandeira com punho serrado, dos SUVs e quejandos e, dos cabelos e barbas à Che que transformavam os nossos militares em bandos de maltrapilhos.
A divisão nas forças armadas foi um facto inegável que se alastrou à política. Também aqui houve desmandos, não esquecemos porque já éramos gente bem crescida.
Embora continue a fazer azia a muita gente, o 25 de Novembro meteu o país no caminho da tolerância e da verdadeira democracia, graças aos militares do MFA e políticos moderados.
Eu vivi o 25 de Abril a mais de 300 km de Lisboa, muita coisa me terá passado ao lado, até porque nunca me senti atraído pela política, mas sendo funcionário público de 1966, assisti na minha empresa a verdadeiros saneamentos selvagens e cegos, motivados por vinganças pessoais, pois bastava uma denúncia para dar origem a um processo de inquérito, que levava inevitavelmente à demissão do denunciado. Saneava-se porque sim. Mais tarde, a esmagadora maioria dos saneados voltaram aos seus cargos porque não havia nada de concreto contra eles. Só tiveram azar de estarem a exercer cargos de chefia quando aconteceu o 25 de Abril.
Pela minha parte tentei ser útil, sendo delegado junto da Comissão de Trabalhadores da minha empresa. Assim que se formou o Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações e Juntas Portuárias, e dissolvida que foi a Comissão de Trabalhadores, tornei-me sócio do nosso sindicato desde a primeira hora, até à minha aposentação.
E tive a enorme honra de ter feito parte de uma mesa de voto nas primeiras eleições de 25 de Abril de 1975.
Aquele abraço e votos de que estejas bem.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira

Valdemar Silva disse...

Meu caro Carlos Vinhal.
Foi como dizes.
Esses saneadores da treta, vendo bem a acções praticadas, até pareciam autómatos feitos em laboratório para armar confusão e desestabilizar o Movimento dos Capitães que faziam a Revolução.
Agora, estar a arranjar uma espécie de "anulação dos acontecimentos" até 25 de Novembro é querer anular a verdadeira Revolução encetada pelo MFA. É isso que de vez em quando está a ser posto em causa.
Quer queiram ou não queiram houve uma Revolução: destituído o governo do Estado Novo, a PIDE e a Legião, acabou a Censura e, principalmente, acabou a guerra na Guiné, Angola e Moçambique. Formaram-se partidos políticos e houve eleições para ser feita uma nova Constituição. Veio a Democracia, foi uma Revolução.
E não me venham com papões ou meter medo com o mesmo susto que já nem assusta as criancinhas.
O que começa a ser comemorado são os 50 anos do 25 de Abril.(ponto)

Obrigado pelo teu cuidado, um abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

ps Ontem na RTP1 no programa "A Nossa Tarde" apareceu o conjunto musical "Os Xornas" a serem entrevistados em Afife e em estúdio, e até apareceram dois putos a acompanhar tocando triquelitraque. É só fazer RTPPlay e ver as maravilhas da minha terra.

Victor Costa disse...

Apesar de ter apenas conhecido o ambiente militar de Bissau até Bula, deu para perceber perfeitamente, como eram diferentes essas realidades. Na minha opinião parte dos artigos publicados no B.Inf. nº 2, refletem o pensamento dos gabinetes em Lisboa e em Bissau, em detrimento das Unidades no mato. No mato o pensamento dominante era regressar à Metrópole e quanto mais cedo melhor.Mas do querer ao ter vai uma grande diferença, porque não podíamos ter anarquia e o mais importante agora era evitar problemas, manter as boas relações com as populações locais, respeitar a hierarquia, mantermos a disciplina, e evitarmos fazer política, "cada macaco no seu galho". O programa do MFA refere que "o problema era político e não militar" e o que nós menos precisávamos era de divisões nas F.A. que afetasse a sua coesão. Portanto restava-nos esperar que os nossos superiores sem precipitações tivessem o bom senso de estudar todos os problemas relacionados com a transferência de soberania, a segurança das NT Nativas e procurassem a melhor solução para sairmos de cabeça erguida.                                                    
A mensagem que leram  referia-se  essencialmente ao B.Inf. do MFA nº2, nomeadamente a 4ª pág. que estava em sintonia com as decisões do MFA de criação da 5ª DIVISÃO do MFA na Metrópole que ditou o curso dos acontecimentos até ao 25 de Novembro de 1975.
 Obrigado Valdemar pelo teu comentário mas aconselho que leias o documento e se ainda tiveres dúvidas lê o meu comentário de 8/05/22. Estes documentos existem, não são os únicos mas são originais e históricos, eu tenho-os em minha posse e encontram-se em bom estado.
 Tomei as minhas decisões em função daquilo que estava escrito neles e não me arrependo disso. Tudo o resto, as conversas, entrevistas e livros publicados por particulares ou militares com funções no MFA são meras opiniões, que respeito.
Na Reunião de Trabalho do MFA na Guiné publicada no B.Inf. nº 2 em 17/06/74 foram tratadas algumas questões que chamaram a minha atenção como por exemplo cito "assim ficou claro que a determinante da evolução será a relação CAPITAL-TRABALHO e que a REVOLUÇÃO ora iniciada só poderá prosseguir numa base de Aliança Povo, MFA e Governo".
Mais, "foi criada a PIM - Policia de Informação Militar, cuja atividade tem permitido descobertas importantes". Para quê? Então mas não estávamos já fartos da PIDE e da caça às bruxas? Íamos voltar ao mesmo?
Mais "Levanta-se novamente o problema da politização das F.A., e começa a esboçar -se uma divisão entre esquerda e direita". Ora este é um problema para os políticos. Não foi o MFA que definiu e constava do seu programa que a guerra colonial era um problema político e não militar? A política não deve entrar na Instituição Militar para isso temos a hierarquia, a disciplina e as sanções previstas no RDM, logo aquele problema tinha fácil solução.
Mais "foi criado o Comando Operacional do Continente COC que será uma organização de força",  que mais tarde adotou o nome de COP-CON e todos sabemos que papel esta organização desempenhou no País.
Mais, "os saneamentos foram dificultados por falta de legislação própria. Estão a ser criados os conselhos de Arma para saneamento a médio prazo, constituídos por um Gen... um Cor... um Ten.Cor...um Maj... e quatro Cap...".
Claro que alguns militares que tiveram um papel relevante na estratégia e condução do Golpe de Estado preferiram seguir o caminho da política onde não só não tiveram sucesso como acabaram envolvidos em situações muito graves para o País e acabaram por destruir a sua reputação militar. (continua)

Victor Costa disse...

(continuação)
Além da entrevista ao Pres. Leopoldo Sédar Senghor pouca informação existe neste documento e o que resta é só política e estes últimos 48 anos provaram que esta política estava errada, porque  até aos dias de hoje ainda não foi descoberto o sistema político de evolução e bem estar da sociedade, melhor que o Ocidental.
Eu sei que fui dos que beneficiou com o 25 de Abril 74 desde logo por não ser obrigado a cumprir a totalidade da minha Comissão de Serviço, mas também sei que o milagre das rosas a que me refiro começou em Junho de 74 e alguns beneficiários deste milagre ainda hoje se intitulam os donos do 25 de Abril, por isso devem levar a resposta à letra.
 Olhem para o desenvolvimento da Irlanda e digam-me se o D de desenvolvimento que constava do Programa do MFA foi cumprido e digam-me se não devemos seguir este ou outros exemplos parecidos. Se nos acomodamos a comemorar o 25 de Abril e esquecermos o cumprimento do seu Programa quando são duas coisas inseparáveis de que valem as comemorações?
Apesar de algumas vozes em contrário, eu irei continuar a defender o 25 de Abril de 74 e o 25 de Novembro de 75, porque se o primeiro foi muito importante, esquecer o último permite esquecer o PREC.
Obrigado Carlos Vinhal pelo teu comentário, mas não penses que estás sozinho. Em julho de 1975 tive o azar de ir visitar um amigo dono de um monte alentejano em Alvalade (Santiago do Cacém). Fomos almoçar a um restaurante na Vila. Depois do almoço , quando nos dirigia-mos para a nossa viatura passamos por um atrelado de trator que se encontrava estacionado na berma da rua e fomos premiados com um tiro de caçadeira, o tiro acertou no taipal bem perto. Eram três indivíduos ,eu virei-me para eles e perguntei se aquilo era para mim. Como não me responderam entrei na viatura e lá segui para o monte.
Perguntei ao meu amigo o porquê daquela atitude, ao que ele me respondeu, eles dizem que a terra que o meu pai me deixou lhes pertence porque é do Povo. Este não foi um caso  isolado no Alentejo, ainda bem que tudo passou.
As decisões tomadas pelo MFA na Metrópole, aprovadas pelo MFA na Guiné e publicadas no Bol. Inf. nº 2 do MFA na Guiné em 17 de Jun. de 74 abriam caminho às arbitrariedades que foram praticadas durante o PREC.. O 25 de Nov. 75 pôs fim a isso precisamente para não voltarmos ao Estado a que tínhamos chegado, mas de sinal contrário.
 Obrigado pelos vossos comentários e como diz o Valdemar, saúde da boa para todos.

 Victor Costa

Valdemar Silva disse...

Victor Costa, estás a ver o "assunto" com os olhos noutro tempo dos acontecimentos.
Então, tu no mato a ler o Bol. Inf. nº. 2 do MFA já botavas ponto por ponto as criticas que agora referes? Caramba, e todos habituados a bater a pala e pedir "dá-me licença" para entrar na vala ou no abrigo quando havia ataque do IN.
Não podes comentar os acontecimentos à vista do que sei hoje, ou então tinhas grande intuição do que haveria de acontecer que nem o Zandinga previa.
Em Julho de 1975 o teu amigo alentejano era dono de um monte? Monte ou propriedade, é que monte é um pequena aldeia com poucas casas. Pois, podia lá faltar, em 1975, uns tiros no Alentejo contra o dono de um monte.
E até a Irlanda já nos passou à frente em desenvolvimento, onde está o "D"? Esta é actual, mete economia e tens razão. O meu amigo irlandês O'Nello explicou-me 'era o que mais faltava Portugal passar à nossa frente', e é ver todos os anos milhares de irlandeses a esgotar todos os resorts mundiais a passar férias.
Mas, o importante é andarmos por cá a conversar sobre o extraordinário acontecimento que foi o 25ABRIL1974 que acabou com a guerra na Guiné.
E os irlandeses que se lixem, lá é tudo à grande e até é dos dez países mundiais mais difícil para se conseguir alugar uma casa.

Saúde da boa que bem merecemos
Valdemar Queiroz

Manuel Luís Lomba disse...

O excelente texto do Victor Costa merece felicitações. Demarca-se do politicamente correcto.
Não desvalorizamos o 25A74, mas o seu percurso até ao 25N75 foi revelador da ignorância das realidades nacionais por parte dos seus principais protagonistas militares-políticos.
A classe dos capitais revelou a sua habilitação e virtuosismo militar e a sua ignorância sociológica do seu povo e da própria história do seu país
O terceiro país mais antigo do mundo, com 900 anos da mais rica história, não precisava de perder um ano para fazer uma Assembleia Constituinte, de perder outro ano para fazer uma Assembleia Legislativa, e para cúmulo, de um Conselho da Revolução para nos tutelar durante 8 anos!...
Porventura tiveram esses escrúpulos em relação aos povos da Guiné, Angola e Moçambique?
Não passamos da "bandalheira revolucionária" à guerra civil, a exemplo daqueles países graças ao contributo dos ex-combatentes - sabiam o que era a guerra, experienciaram os seus horrores...
O 25A e o 25N foi obra dos mesmos; mas, sem este, aquele teria redundado em desgraça nacional.
O actual ministro da Cultura que se cultive - entende o 25N de fracturante da Nação portuguesa.
Abraço.
Manuel Luís Lomba


Valdemar Silva disse...

Luís Lomba
Depois do que aconteceu por cá, dá-nos uma ideia do tempo e com quem seria preciso para fazer "Porventura tiveram esses escrúpulos em relação aos povos da Guiné, Angola e Moçambique?". A guerra que durava há 13 anos ia se manter por mais quantos anos para haver paz e quantos mais anos teria de haver mobilização militar para se fazer todo o processo democrático no mesmo tempo do feito por cá?
Essa seria a melhor e ambiciosa saída de Portugal das suas colónias em África.
E prontus, como diz o puto Nóni, tudo ficaria bem e em perfeita harmonia com "Novos Brasis". Ou então poderia haver uma Angola que dividida dava para uns quatro países, um Moçambique em dois ou três e a Guiné logo se via o que ia dar. E todos viveriam felizes.
E a população branca existente nesses países, que foi para sua segurança que foram mobilizados milhares de soldados da metrópole?
E continua, sem necessidade à "poderia ter havido", a preparação das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril.
No início do regime republicano, foi baptizada uma rua em Braga como 'Rua dos Martyres da República' por causa da perseguição ao clero por Afonso Costa. Agora, era o que faltava nascer por cá a Avenida do que poderia ter havido entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Novembro de 1975.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

ps Luís Lomba aquela da 'A classe dos capitais....' está bem gralhado.

Victor Costa disse...

Valdemar, relativamente à questão por ti colocada, bater a palada "dá-me licença"sempre que necessário, tens alguma razão nisso. Sabes, eu na tropa aprendi duas coisas:
1º Se por qualquer motivo quiseres usar o RDM para exercer um direito teu, o melhor que tens a fazer é, a partir daí andares na linha, meteres-te fino e cumprires com rigor a disciplina e a hierarquia, porque se o não fizeres podes dar-te mal.
2º para usares o RDM precisas de ter conhecimentos básicos de Direito ou teres um amigo próximo que os tenha, para poderes fazer um "requerimento" ao teu superior e inserires o articulado e mais não digo. Quem sabe se um dia te mostro a utilização do Artº 148!
 Devo também dizer-te que não é muito difícil fazer tudo isto e depois torna-se um hábito.
Sobre o Monte Alentejano, o que me lembro dele é que era constituído por uma elevação de terreno onde se produzia trigo. No ponto mais alto tinha uma habitação simples de duas águas caiada de branco e uma cerca na traseira onde tinha galinhas e outros animais que não me recordo, pernoitei lá uma noite e no outro dia cedo regressei à Figueira.
Um abraço,
Victor Costa.

armando pires disse...

Caro Victor Costa.
Conhece, ou não, o livro que lhe recomendei?
armando pires

Valdemar Silva disse...

Victor Costa
Não ponho em causa os nº. 1 e o 2 do RDM e como fiz a recruta na EPC (Santarém) 6/67 e a especialidade na EPA (Vendas Novas) 9/67 saí como se costumava dizer com a Escola toda e quem sofreu foram os recrutas no RAP3 (F.Foz) e no RI10 (Aveiro), que me puseram a alcunha do Cabo Mil. Chico Reguila.
Por acaso, nos dois meses que estive destacado no RI10, estranhei bastante a disciplina com os recrutas, com insultos e até cargas físicas dos outros instrutores de Infantaria, que logo no primeiro dia embirraram comigo por usar um elástico a segurar as calças em vez de as meter dentro das botas. Eu respondia com sotaque lisboeta 'eu sou de Artilharia'.
Agora, outra coisa totalmente diferente, era a nossa aparência no "palco" da guerra da Guiné.
Tivemos um grande choque quando desembarcamos da LDM no Xime vermos no cais soldados em calções e tronco nu, chinelos, grandes patilhas e cabelo comprido agarrados às bajudas, parecia uma cena do filme Apocalipse Now. Também quando fui a Ponte Caium, um bidonquartel em cima da ponte, com militares fardados e não fardados cada um da sua maneira, não se sabendo se eram praças, sargentos ou oficiais.
A minha CART11, de soldados fulas, no nosso Quartel de Baixo, em N.Lamego, ou em reforço noutros, todos os dias fazíamos a cerimónia de içar e arriar a Bandeira devidamente fardados.
Há fotografias no blogue que testemunham estes casos.
Outro coisa é estar num aquartelamento em abrigos dentro do arame farpado duma tabanca e ter a disciplina quanto ao fardamento e a aparência, quando o que era necessário seria a disciplina para enfrentar um ataque do IN. Devia ser engraçado estar num destacamento, numa tabanca isolada, na vala a responder a um ataque do IN e chamar a atenção do soldado ao meu lado 'amanhã quero esse cabelo cortado'. Na Companhia houve 22 punições por falta de disciplinares que incluia soldados nativos e metropolitanos e dois Furriéis mil. sendo um destes punido um com transferência para outra unidade e um outro com uns dias de suspensão por ter ido tomar banho ao rio sem autorização.
Quanto ao Monte Alentejano seria, então, a propriedade e a casa do teu amigo.
Volto a referir que, ao longo dos tempos, muitas propriedades de latifúndio do Alentejo tinha meia dúzia de casas para habitação dos trabalhadores agrícolas que iam crescendo transformando-se em pequenas aldeias.

Saúde da boa
Valdemar Queiroz

Valdemar Silva disse...

Victor Costa, esqueci-me
Trabalhei dos 12 aos 72 anos.
Agora com 77 anos e DPOC não vou "requerer" oxigênio ao meu médico por ele saber perfeitamente a minha necessidade.
Quero com isto dizer para não te preocupares nº 1 e o nº 2, e muito menos com necessidade da explicações do 148º, pela simples razão de eu saber ler, escrever e contar ser suficiente.

Valdemar Queiroz

paulo santiago disse...

Armando Pires
Fazes cada pergunta.
Claro que não o livro,leu o RDM,sabes o que é? Tresleu uns boletins!
Coitados dos taipais,ficaram mais pesados com os chumbos.

Santiago