Magnífica Tabanca da Linha > Restaurante Oitavos, estrada do Guincho, Qta Marinha, Cascais > 23 de julho de 2015 > Um foto de grupo: da esquerda para a direita: 1.ª fila: Zé Rodrigues, Luís Graça, António Matos Martins, Avelar de Sousa e Manuel Resende; 2.ª fila, Juvenal Amado, Manuel Joaquim, José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017), o nosso "comandante Pombo" (assinalado a amarelo), e a sua filha mais nova, a Maria João Pombo Rodrigues
Foto: © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
FAP > s/l > s/d (anos 50) > Da esquerda para a direita: (i) em pé: Pombo Rodrigues, Velhinho, Valla, Moura Pinto, Lemos Ferreira, Tinoco, Moutinho, e Graça Faria; (ii) em baixo, mesma ordem: Lourenço, Rodrigues Pereira, Licínio Soares, Patrício, Cartaxo e Rego de Sousa. [Poste 26 de fevereiro de 2014 > Voo 3065]
FAP > Esquadrilha do F-86, "Sabre" > Junho de 1956 > Da esquerda para a direita: (i) de pé, alf Moreira, ten Ramiro, alf Neves Oliveira e Aj Tércio; (ii) De cócoras, fur Pombo (, então com 22 anos), fur Pessanha, 2º sarg Moutinho, fur Carvalheira. ["Só por curiosidade. O Carvalheira era mais antigo que eu. Foi punido e atrasou a promoção. Um dia ele ao comandar uma parelha de F-84 em que eu era o asa, foi fazer umas passagens baixas em Famalicão e houve queixa. Naquele tempo era a doer"]...
Fotos do álbum de Fernando Moutinho, da incorporação de 1951, cap pil, residente em Alhandra [Poste 3 de março de 2014 > Voo 3075]
Fotos (e legendas): © Fernando Moutinho /
Blogue Especialista da Base Aérea 12, Guiné 65/74 (2014). Todos os direitos reservados, (Fotos reproduzidas com a devida vénia...)
|
Cascais > Estrada do Guincho > Oitavos > Convívio da Magnífica Tabanca da Linha > 24 de setembro de 2015 >José Luís Pombo Rodrigues (Bucelas) e a sua filha mais nova, Maria João Rodrigues Pombo: "Adoro-te, meu pai e meu comandante!".
Foto (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
|
1. Família, amigos e camaradas disseram hoje o último adeus ao comandante Pombo (*). Tinha 83 anos, feitos em 3 de junho último. Tive o privilégio de falar com ele, duas ou trêz vezes, não na Guiné mas já cá e só muito recentemente. A primeira vez foi em 3/2/2015: a filha, Maria João, ligou-me e passou-lhe o telemóvel. Ela tinha ido com o pai a uma consulta médica. Ela informou-me que o pai tinha regressado do Brasil, para onde fora viver, em Maricá, perto do Rio, em agosto de 2010.
Tinha sido entretanto operado no hospital da Força Aérea ao fémur e fizera fisioterapia, voltara a andar. E já estava reformado.
Ao telefone. o nosso camarada, José Luis Pombo Rodrigues, popular e carinhosamente conhecido como o comandante Pombo, começou por falar-me dos problemas de saúde que o preocupavam então, e que terão motivado o seu regresso a Portugal. Transmiti-lhe os nossos votos de rápidas melhoras, em nome dos amigos e camaradas da Guiné. epois disso, recuperada a saúde, ele arranjaria, por certo, disposição para passar à escrita muitas das suas histórias e memórias da FAP e da Guiné. e partilhá-las connosco.
Nunca nos encontrámos pessoalmente na Guiné, embora no tempo em que eu lá estive (CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, maio de 1969/março de 1971), o comandante Pombo já fosse uma figura conhecido e até lendária. Aliás, eu transmiti-lhe (e reforcei) essa ideia, que pode ser colhida pela leitura do nosso blogue de cuja existência ele tomou conhecimento pela filha.
O Pombo é era então tenente ou capitão pil, reformado, já não posso precisar o posto. Tinha feito, segundo bem percebi, 4 comissões na Guiné. Voltara há pouco para Portugal, vivia então em Bucelas, sendo grande amigo do major gen paraquedista Avelar de Sousa, que passou pelo TO da Guiné, integrando o BCP 12, como comandante da CCP 123 (1970/71), e foi ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da república eleito democraticamente no pós 25 de abril. E esse fato é relevante para se perceber a influência, discretíssima, que o comandante Pombo terá tido na libertação do ex-1º primeiro ministro da Guiné-Bissau, Luís Cabral, depois do golpe Estado do ‘Nino’ Vieira em 1980. (**)
O comandante Pombo privou com os dois, o Luís Cabral e o 'Nino0 Vieira. Dos dois era incluive "amigo". Ao ‘Nino’ Vieira tratava-o mesmo por tu. E o Pombo continuou a ser o comandante Pombo, depois da independência da Guiné-Bissau. Terá havido um acordo entre as novas autoridades de Bissau e o governo português para que ele ficasse na Guiné... O PAIGC não tinha pilotos (muito menos Mig ou outros aviões). O comandante Pombo pilotava o pequeno Falcon que fora oferecido ao Luís Cabral, já não sei por quem. Este gostava muito dele, cmdt Pombo, e sempre que viajava com ele trazia-lhe uma garrafa de..
champagne.
Depois veio o golpe do ‘Nino’ e o Luis Cabral ficou preso na Amura… Sem cinto, por alegadas razões de segurança!... O comandante Pombo foi visitá-lo e encontrou-o sem cinto, com as calças na mão, numa situação humilhante para um ex-chefe de Estado… Diziam-lhe, os seus carcereiros, que era para ele não poder fugir. Achando essa uma situação indigna, o Pombo foi falar ao seu amigo ‘Nino’, que lhe deu razão…
Mais tarde o Pombo moveu as suas influências, junto do seu amigo e camarada Avelar de Sousa… O presidente Ramalho Eanes, como é sabido publicamente, exerceu forte influência junto de ‘Nino’, no sentido de obter a libertação de Luís Cabral que, primeiro, foi para Cuba e mais tarde para Portugal, onde virá a morrer, no antigo Hospital do Barro, em Torres Vedras, em 30/5/2009.. Ramalho Eanes e Luís Cabral tinham muita estima mútua.
Mas, e contrariamente ao boato que corria na Guiné, no tempo da guerra colonial, o comandante Pombo não estava feito com os “turras”… E a prova disso é que umas das aeronaves (não era um Cessna, era uma outra avioneta tipo DO 27…) foi perseguida por dois mísseis Strela, já depois do último avião da FAP ter sido abatido…
Ele contou-me os pormenores ao telemóvel: deve ter sido, deduzo eu, por volta de março ou mesmo abril de 1974, um ano depois do aparecimento dos Strela. O comandante Pombo vinha de Bissau para Farim, na “carreira normal” dos TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa)… O PAIGC conhecia o horário e os apontadores do Strela estavam à espera da aeronave nas imediações de Farim…
Havia a indicação de que a guerrilha queira mesmo cortar todas as ligaçãoes aéreas como nordeste da Guiné. Deve ter havido falhas na segurança militar, nas imediações da pista de aviação… Para iludir os guerrilheiros, o comandante Pombo vinha coma sua avioneta a baixa altitude e a baixa velocidade. como mandavam as egras de segurança emitidas pela FAP no período pós-Strela. Mas antes de chegar ao destino ele fez inteligentemente uma mistura de combustível que não deixava rasto, isto é, "fumaça"… E, antes de aterrar, terá feito uma manobra de subida, na vertical, seguida de um voo a pique…
Foi o que eu percebi, desculpem-me se o relato é tecnicamente grosseiro… Mesmo assim não se livrou de ver passar-lhe, por perto, dois Strelas que lhe vinham dirigidos…Conseguiu, por fim, aterrar em segurança… "Não ganhei para o susto: os auscultadores saltaram-me da cabeça!" ...
Esta é umas das suas muitas histórias de piloto lendário, desde a famosa "Missão" (1961)...
No final da nossa conversa, reforcei mais uma vez o convite para ele se sentar à sombra do poilão da nossa Tabanca Grande e nos poder contar, na primeira pessoa, estas e outras histórias da sua longa vida na Guiné… Infelizmente a doença que o perseguia, não lhe deu tréguas...
Troquei vários emails om a filha Maria João e inclusive arranjámos ainda maneira de nos encontrarmo-nos e conhecermo-nos pesssoalmente na Tabanca da Linha, no verão de 2015.
O comandante Pombo esteve depois muitos anos no antigo Zaire em Kinshasa a trabalhar como piloto da companhia Sicotra Aviation (aviões de carga). Trabalhou ainda em Angola antes de ir para o Brasil em 2010.
2. Mas o que o munca foi, isso não, o comandante Pombo, foi "piloto privativo" do Sékou Touré, a seguir à independência da Guiné-Bissau, como chegou a constar por aí... Esse boato foi desmentido pela filha. Nas conversas que tive com ele, apercebi-me apenas que tinha pilotado o pequeno Falcon da presidência da Guiné-Bissau, tendo estado ao serviço do Luís Cabral e depois do 'Nino"... E que nessa condição chegou a levar várias vezes o presidente de São Tomé e Príncipe, isso sim, no avião que era do Luís Cabral e que e este emprestava ao seu amigo são-tomense...
O que muita gente também não sabia (eu incluído…) é que o comandante Pombo era um orgulhoso sobrevivente da “Operação Atlas”, a primeira (e única) travessia Monte Real – Bissalanca, feita pela Esquadra 51/201 (BA 5), constituída por aviões F-86F “Sabre”, realizada em agosto de 1961… Era então um jovem 1º sargento piloto, com 27 anos...
Recorde-se que no dia 8 de agosto de 1961, oito F-86F "Sabre" descolaram da BA-5 para dar início a uma longa viagem que os levaria até Bissalanca (!)... Os aviões escolhidos para a missão foram os seguintes 5307, 5314, 5322, 5326, 5354, 5356, 5361 e 5362. A missão foi executada com êxito, os 8 aviões aterraram em Bissalanca no dia 15 de agosto. Segundo informação do blogue dos nossos camaradas "Especialistas da BA 12, Guiné, 65/74", o Pombo terá levado para Bissalanca o F-86F "Sabre" 5314. Essa história, quase épica, já foi aqui contada, no nosso blogue.(**)
Chega ao fim a vida terrena, aventurosa, do nosso camarada José Luís Pombo Rodrigues. Segundo informação do Miguel Pessoa, ele teria 84/85 anos. O Manuel Resende soube, por um dos filhos, que o comandante Pombo tinha nascido a 3/6/1934. Completara, portanto, este ano os 83 anos.
Na noticia da sua morte, domingo, dia 3, escrevemos o seguinte:
"O comandante Pombo tem já
cerca de 2 dezenas de referências no nosso blogue. Por proposta do fundador, administrador e editor do blogue, Luís Graça, ele passa doravante a integrar, a título póstumo, a nossa Tabanca Grandem sob o nº 752. Enfim, é uma figura lendária dos céus da Guiné e muitos de nós guardam dele uma grata recordação." Por questões de tempo, só hoje formalizamos o processo. O cmdt Pombo continuar a voar connosco nas nossas histórias e memórias. (***)
O Cmdt Pombo aos comandos do seu Cessna dos TAGP, c. 1972/74
(Foto de Álvaro Basto, 2008)
(i) António Graça de Abreu:
Com o CAOP 1, dei-lhe apoio na pista de Teixeira Pinto, em 1972/73, voei com ele na Guiné, de Bissau para Catió, já em 1974. Era um excepcional piloto e excelente pessoa. Reencontrei-o no ano passado, numa conferência que fiz na Associação da Força Aérea, na Avenida do Aeroporto, Lisboa. Selámos então um último abraço. Descança em paz, meu Amigo.
(ii) Carlos Matos Gomes