quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19008: Manuscrito(s) (Luís Graça (145): A minha coleção de "pedras jurássicas": Lourinhã, Praia de Vale de Frades...
















Portugal > Lourinhã > "Formação da Lourinhã" > Praia de Vale de Frades, entre a Praia da Areia Branca e a Praia do Paimogo > Agosto / setembro de 2018 > A minha coleção de "pedras jurássicas" (c. 150 milhões de anos).

[ Formação Lourinhã é uma formação geológica localizado no oeste de Portugal, nominada em homenagem ao concelho de Lourinhã. A formação é da idade do Jurássico Superior, e tem notável semelhança com a formação Morrison nos Estados Unidos da América e com as camadas de Tendaguru na Tanzânia (...) Além de abundante fauna fóssil,  sobretudo de dinossauros (...) comprovada pela ocorrência de ossos, a Formação Lourinhã também tem numerosas pegadas (...) e ovos. Fonte: Wikipédia]


 Fotos (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Praia de Vale de Frades,
em agosto, na baixa-mar :
à volta de um prato de sardinhas,
a vida podia não ter 

metafísica nenhuma
e mesmo assim ser
pura, emoção pura,
e simples, prazer simples.


Mandei pôr mais um prato
na mesa, sem toalha,
virada para o sul,
para o mar do Serro.
Não me esqueci do pão,
das sardinhas,
das batatas,
dos pimentos,
da salada e do vinho...

E eu esperava por ti,
que eras a oficiante da vida.



In: Paisagens Jurássicas, Excerto.
Lourinhã, agosto de 2004 / Revisto, setembro de 2018.


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Nota do editor:

Último poste da série > 2  de setembro de 2018 >  Guiné 61/74 - P18971: Manuscrito(s) (Luís Graça) (144 ): Se tens galinha pedrês, não a mates nem a dês

Guiné 61/74 - P19007: Historiografia da presença portuguesa em África (130): Relatório do Comando Militar do Oio, nascia o ano de 1915 (2) (Mário Beja Santos)

Construção do Palácio do Governador, imagem inserida no livro “Guiné, Início de um Governo”, 1954, obra hagiográfica dedicada ao Governador Mello e Alvim


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Entrou-se numa fase de pacificação, o Governador Oliveira Duque expede uma circular determinando aos administradores de circunscrição e comandantes militares com um sem número de requisitos, pretende ir compondo um retrato das etnias, dos usos e costumes, das práticas religiosas, apurar os tipos de agricultura e se existem indústrias, como se pratica a justiça, qual a organização familiar, etc.
Se o fez é porque não existe uma caraterização, não se conhece os povos que se colonizam, daí a originalidade da iniciativa e o interesse em ver as informações dadas pelos respondentes. Dir-me-ão que é tudo matéria consabida, convido a marcar distâncias, as autoridades desconheciam inteiramente o mosaico étnico, a organização económica, era uma ocupação de fresca data, e dou comigo a pensar a injustiça que praticamos em desconhecer estas iniciativas e medir o alcance dos seus resultados nas governações que se seguiram.

Um abraço do
Mário


Relatório do Comando Militar do Oio, nascia o ano de 1915 (2)

Beja Santos

Foi de Mansabá que em 1 de janeiro de 1915 o Tenente José Ribeiro Barbosa, comandante militar do Oio, enviou o seu relatório para o Governador Oliveira Duque, está depositado nos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa.

Antes de darmos a palavra ao Comandante que em Mansabá do Oio enviou ao Governador o seu relatório, em 1 de janeiro de 1915, importa situar as expetativas postas pelo Governador Josué de Oliveira Duque na circular que enviou aos administradores das circunscrições e comandos militares e que constam do Boletim Oficial da Guiné nº 33, de 15 de agosto.

Vejamos o teor da circular, vale a pena a sua reprodução integral:
“É da mais reconhecida conveniência, para o desempenho de cargos administrativos, em qualquer colónia, o conhecimento perfeito, quanto possível, dos usos e costumes dos indígenas que constituem a sua população, usos e costumes que, em grande número de resoluções a tomar, devem ser respeitados.
Este princípio, existente em diversos diplomas, dimanados das estações superiores, acha-se especialmente consignado para os Administradores das Circunscrições Civis, que mais de perto lidam com esses indígenas, e a quem compete, em primeira instância, a resolução de pendências entre eles suscitadas, tendo igual aplicação aos comandantes militares, acidentalmente investidos de iguais atribuições.
É, portanto, conveniente, para difundir o mais possível o conhecimento desses usos e costumes, que diferem de região para região da Província, segundo as raças que as habitam ou nelas predominam, reuni-los em um só diploma, cuja publicidade habilite todas as autoridades a proceder de modo que as suas deliberações, sendo as mais convenientes para os interesses da Província, sejam ao mesmo tempo acatadas pelos indígenas como as mais justas.

Nesta ordem de ideias, determina Sua Ex.ª o Governador que os Administradores de Circunscrições Civis e Comandantes Militares procedam, no prazo máximo de 2 meses, e dentro das regiões em que exercem a sua autoridade, a uma conscienciosa investigação desses usos e costumes, de cujo resultado enviarão relatórios circunstanciados, tendo em vista os seguintes pontos concretos:

- Que raça ou raças habitam a área da sua jurisdição?

- Essas raças são aborígenes ou imigrantes? Se são imigrantes, donde, e em que época imigraram?

- Qual a sua organização social e política? Têm um ou mais chefes? Graus hierárquicos, e poderes inerentes a cada um?

- Se há chefes, como são nomeados? Por eleição, por herança?

- Têm respeito pelos velhos, e têm estes qualquer predomínio na administração indígena?

- Como procedem para com delinquentes? Têm tribunais especiais, como são constituídos, quem preside ao julgamento? Que penas especiais são aplicadas?

- Como procedem nos seus contratos, e como são punidas as faltas do cumprimento dos mesmos?

- Quais as relações desses povos com os vizinhos?

- São guerreiros ou pacíficos? Que armas usam? Adquirem-nas ou fabricam-nas?

- Como é constituída a família? Quem é, na família, o detentor de autoridade? Poderes do marido sobre a mulher, dos pais sobre os filhos … etc.?

- Que formalidades e festas precedem o nascimento? Que cuidados têm com as crianças?

- Praticam as cerimónias do fanado, em que consistem?

- Praticam iniciação no momento em que chegam à idade da puberdade? Em que consistem as festas feitas então?

- Como é considerada a mulher em geral? Têm especiais cuidados com a mulher grávida? Há cerimónias especiais durante o período da gravidez, e antes ou depois do parto?

- Quais as formalidades que precedem o casamento? Quais as cerimónias e festas que acompanham este acto? Existe a mancebia?

- Dá-se com frequência o adultério? Como é punido?

- Quais as cerimónias que têm com os mortos? Onde os enterram? Há ainda cerimónias depois de enterrados? Usam o luto, em que consiste?

- Quem administra a propriedade na família? Como se transmite?

- Têm indivíduos especiais que os tratem nas suas doenças?

- Professam alguma religião, e qual? Que práticas religiosas têm? Têm entidades especialmente encarregadas dessas práticas? Têm locais adequados a elas?

- Que vestuários usam as mulheres, os homens e as crianças? Usam adornos especiais, e quais? Empregam a tatuagem?

- Há alguma indústria indígena? Quais os principais artefactos? Podem constituir, pela sua aplicação e abundância, artigos de comércio? Como são constituídas as suas povoações, e construídas as casas de habitação? 

- Dedicam-se a qualquer género de desporto? Equitação, jogos atléticos ou quaisquer outros?

- Cultivam a dança, o canto, a música? Têm alguma dança, canto ou instrumento musical caraterísticos?

- Procuram instruir as crianças? Como procedem a essa instrução? Têm escolas, ou instituições equivalentes?

- Qual a sua alimentação? Empregam nela carne, vegetais, frutos e quais?

- Entregam-se ao uso de bebidas? Quais preferem? Fabricam ou adquirem essas bebidas?

- Dedicam-se à agricultura? Quais os produtos que agricultam?

- São esses produtos destinados à sua alimentação exclusivamente ou a negócio?

- Como é feita a permuta desses produtos?

- Há outros géneros coloniais, como borracha, café, copra, marfim…etc.? Como procedem à cultura e extração destes produtos?

- Quem se dedica especialmente à agricultura? Os homens ou as mulheres?

- Que ferramentas e utensílios empregam na agricultura? Fabricam ou adquirem esses artigos?

- Quais as épocas das diferentes fases das culturas?

- Quais os principais utensílios de uso doméstico? Fabricam ou adquirem esses produtos?

- Quais as matérias empregadas, e como são fabricadas? Têm artífices especiais para os diferentes ofícios?

- Há abundância de caça? Quais as principais espécies e as mais abundantes? Dedicam-se a algum género de caça com fins comerciais?

- Há abundância de peixe? Quais as principais e mais abundantes espécies?

- Há abundância de gado? Qual o que predomina? Há alguma espécie que especialmente convenha conservar e aperfeiçoar?

- Há abundância de água potável? Qual a sua origem?

- Há algumas plantas especiais, tais como a que chamam forro, e de que fabricam cordas? Ou outras quaisquer, com aplicações mais ou menos úteis, que convenha tornar conhecidas?

Além destes quesitos, deverá cada um, segundo o seu bom critério, ocupar-se de quaisquer outros não mencionados, que julguem dignos de menção especial, tendo em vista que nenhum, por insignificante que pareça, pode considerar-se sem valor para o fim que tem em vista: o conhecimento mais completo possível da vida, dos costumes, enfim, do modo de ser especial dos indígenas da Província.
É conveniente também que as citadas autoridades procurem obter exemplares autênticos de todos os artigos, armas, utensílios, instrumentos diversos, vestimentas e outros quaisquer fabricados pelos indígenas da região, bem como amostras dos diferentes produtos da mesma região, a fim de, em Bolama, poder organizar um mostruário, ou museu provincial, que muito pode contribuir para difundir entre todos o conhecimento das aptidões especiais dos mesmos indígenas".

Máscara KONI, inserida no livro “Esculturas e Objetos Decorados da Guiné Portuguesa”, por Fernando Galhano, Junta de Investigações do Ultramar, 1971.

O comandante militar do Oio, como vimos no texto anterior, atirou-se afanosamente ao trabalho, foi respondendo a tudo o que o Sr. Governador Oliveira Duque lhe pedira, suspendemos as suas respostas até aos mortos, a cerimónia, o enterro e o luto. Diz ele que os Sonincas, logo após a morte de alguma pessoa sua, disparam vários tiros como sinal e abrem a cova debaixo de um coberto grande que em geral têm ao centro de cada morança. Se a família possui vacas, matam uma ou mais, de acordo com as suas posses. Fazem grande número de tiros para dentro da cova e enterram o cadáver. Só a mulher usa o luto quando o homem morre. Consiste em despir todos os enfeites, desmanchar o cabelo e usar um pano branco na cabeça. O luto dura três meses nos muçulmanos e um ano nos Sonincas e Fulas.

Falando da administração da propriedade, o oficial responde que o administrador é sempre o homem. Este passa-a, por herança, para os filhos, nos Mouros e Fulas. Nos Sonincas, os herdeiros são os sobrinhos. Acerca do tratamento das doenças, informa-se que os curandeiros confecionam remédios com folhas, cascas, raízes, tubérculos, etc. E diz o relator que consta haver peritos na cura da lepra que o indígena conhece como uma das piores doenças.

Na abordagem ao tema da religião, responde-se que uma parte dos Sonincas professa a religião maometana, praticam orações cinco vezes ao dia, têm um encarregado especial, “mouro grande”, que faz teorias às segundas e sextas-feiras, dias feriados para eles.

No que respeita ao vestuário e adornos, diz sem hesitar que os habitantes do Oio já não são gentios de tanga. A mulher usa panos a servirem de saia, blusa de manga curta e lenço apertado na cabeça. O homem usa o tradicional vestuário Mandinga, que inclui calça, usa um barrete de variadas formas, predominando o tipo turco, mais ou menos modificado. As mulheres, como adorno, usam braceletes, pulseiras, anéis, argolas nas orelhas, contas no cabelo e pescoço, etc. As mulheres Fulas costumam adornar o cabelo com pequenas moedas de prata e usam um toucado artificial em forma de barrete frígio. Não usam propriamente a tatuagem e apenas as mulheres fazem sobre o estômago e parte do ventre, com um ferro especial em forma de unha, uma série de pequenos golpes que depois de cicatrizados são considerados enfeite. Algumas mulheres pintam os lábios de preto.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18986: Historiografia da presença portuguesa em África (128): Relatório do Comando Militar do Oio, nascia o ano de 1915 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 . P19006: (De) Caras (117): A morte do fur mil, da CCAÇ 18, Virgolino Ribeiro Spencer, em Aldeia Formosa, em 15 de janeiro de 1972... Acidente ou homicídio na Consoada de Natal de 1971 ? A versão do Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/ BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73).

Manuel Gonçalves, alf mil mec auto
CCS/BCAÇ 3852
(Aldeia Formosa, 1971/73)
1. O Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73), já aqui foi apresentado à Tabanca Grande em 2 de agosto passado. (*)

Em longa conversa que tive com ele, no passado  dia 30 de julho, na Praia da Areia Branca, ele falou-me desses tempos em que esteve em Aldeia Formosa, aí tendo conhecido a CCAÇ 18 e o seu comandandnte, o ex-cap mil Rui Alexandrino Ferreira, nosso grã-tabanqueiro de longa data. (Tem 3 livros publicados, vive em Viseu e inbfelizmente sofre de doenca crónica degenerativa que o impede de continuar a colaborar com o nosso blogue.)

Também foi camarada, na CCS/BCAÇ 3852, do alf mil João Marcelino, que vive na Lourinhã, e que esteve presente no VII Enconro Nacional da Tabanca Grande (2012).



2. O Manuel Gonçalves, ex-aluno dos Pupilos do Exército, esteve sempre em Aldeia Formosa (ou Quebo). E estava lá quando se deu o caso do Virgolino Ribeiro Spencer, fur mil, CCAÇ 18, "morto por acidente",  em 15/1/1972 (**).  

Oficialmente, o exército considerou a sua morte como "acidente". Na realidade, ele terá sido assassinado, quando crculava pela tabanca com a sua motorizada. Era um guineense, de origem cabo-verdiana,  sendo naatural de Nª Sra. Natividade, Pecixe, Cacheu.

Era o único militar, ao que parece, que possuía uma motorizada. Para o Manuel Gonçalves, terá sido morto por alguém da CCAÇ 18, mais provavelmnete da sua própria companhia. As praças da CCAÇ 18 viviam na tabanca, estando por isso armados.

A haver crime. não se apurou o móbil do crime, nem se identificou o autor do disparo.. Pode-se pôr a hipótese de vingança ou racismo. Esta história acabou por ser um "pretexto" para uma "insubordinação militar", com o pessoal da CCAÇ 18,  a revoltar-se e virar as suas armas contra os "tugas" da CCS/BCAÇ 3852.

Foi preciso mandar avançar uma Panhard para serenar os ânimos... Isto passa-se na véspera de Natal, na noite de Consoada, 24/12/1971. O Spemcer, evacuado para o HM 241, em Bissau, acabou por não resistir aos ferimentos, três semanas depois.


Viseu > Regimento de Infantaria 14 > 4 de novembro de 2017 > Sessão de apresentação do último livro do Rui Alexandrino Ferreira, "A Caminho de Viseu" (Coimbra, Palimage, 2017, 237 pp. ) > Um abraço do João Marcelino (que vive na Lourinhã, esteve presente no VII Encontro Nacional da Tabanca Grande, em 2012, e que é amigo do autor desde a Guiné, tendo estado os dois juntos em Aldeia Formosa: o Rui como comandante da CCAÇ 18, o  João Marcelino, "Joneca", como alf mil, CCS/BCAÇ 3852).

Foto (e legendas): © Márcio Veiga / Rui Alexandrino Ferreira (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



2. Não sei como é que o Rui Alexandrino Ferreira ficou na "fotografia".  Nunca falei com
ele sobre esta história. Mas no seu penúltimo livro,  "Quebo - Nos confins da Guiné" (Coimbra, Palimage, 2014, 368 pp),  há uma referência a este trágico caso: capº 11º ( " A noite dos horrores, ou o conflito armado entre metropolitanos e africanos e ainda a morte de Virgolino Ribeiro Spencer").

Confesso que ainda não li o livro e, portanto, não sei qual é a versão do Rui... O Manuel Gonçalves tem o livro e ficou de ver alguns pormenores. Nessa noite, o Rui saiu com o seu guarda-costas e mais uma pequena força com vista a serenar os ânimos. Terá sido recebido à granada. O guarda-costas provavelmente salvou-lhe a vida.

Temos também na Tabanca Grande o Manuel Carmelita (ex-fur mil mecânico radiomontador da CCS/BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73), que nos pode dar a sua versão do que se passou nessa "noite dos horrores".

O Silvério Lobo, soldado mecânico, que esteve sob as ordens do Manuel Gonçalves, também é nosso grã-tahanqueiro e já voltou à Guiné inúmeras vezes, tem inclusive "cartão de residente"... Mas, a verdade, é que o caso do Virgolino Ribeiro Spencer é "virgem", aqui no nosso blogue (**)... Porquê tanto silêncio ?

Rui A. Ferreira
3. O Manuel Guimarães disse-me que o Spínola, face à gravidade dos acontecimentos,  deu um a "porrrada" ao comandante do BCAÇ 3852,  o ren cor Barata, considerando-o como "inapto" para comandar homens em situação de guerra.

Esse tenente coronel disse, ao alferes, que nesse dia "tinha acabado" a sua carreira militar... Já cá, na metrópole, o Manuel Guimarães soube, entretanto, do seu falecimento há uns anos.

O nosso conhecido Barros e Bastos  (, o célebre BêBê, major art do BART 2917, Bambadinca., 1970/72, de seu nome completo Jorge Vieira de Barros e Bastos ), depois de promovido a tenente coronel, foi comandar o BCAÇ 3852.

O Manuel, com 12 anos de Pupilos do Exército, "teve alguns problemas" com o seu novo superior hierárquico. Em Aldeia Formosa, tinha outro "nickname",  o Bagabaga...

Apelamos aos camaradas que estiveram em Aldeia Formosa, em 1972, para confirmar essta história. Não tenho, de momento, condições para falar com o Manuel Gonçalves, o Manuel Carmelita, o Silvério Lobo ou o João Marcelino nem muito menos com o Rui Alexandre Ferreira. (***)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 2 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18891: Tabanca Grande (466): Manuel Gonçalves, ex-alf mil manutenção, CCS / BCAÇ 3852, Aldeia Formosa, 1971/73; ex-aluno dos Pupilos do Exército, transmontano, vive em Carcavelos, Cascais. Senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 776.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19005: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte III




1. Parte III da publicação do álbum fotográfico do nosso camarada Adolfo Cruz (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796, Gadamael e Quinhamel, 1970-1972) com as fotos enviadas em mensagem do dia 21 de Julho de 2018, que retratam alguns dos momentos mais significativos da sua passagem por terras da Guiné.





Foto 18 - Gadamael

Foto 19 - Gadamael

Foto 20 - Gadamael  
Fotos 18 a 20 - Roupa de cerimónia

Foto 21 - Gadamael

Foto 22 - Gadamael
Fotos 21 e 22 - O meu casamento com Cira


O prémio: deixar Gadamael Porto e passar para o Norte, missão, defesa de Bissau, em quatro destacamentos, um grupo de combate em cada: S. Vicente da Mata, Bijemita (Ome), Quinhamel e Biombo.


Foto 24 - Destacamento de Bijemita - Festa (ronco) de recepção de alguns elementos da população local
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Nota do editor

Poste anterior de 6 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18991: Álbum fotográfico de Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhamel, 1970/72) - Parte II

Guiné 61/74 - P19004: Parabéns a você (1498): Adolfo Cruz, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2796 (Guiné, 1970/72) e José Parente Dacosta, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 1477 (Guiné, 1965/67)


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19001: Parabéns a você (1497): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Apont Obus 8.8 do BAC 1 (Guiné, 1966/68)

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19003: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLII: Pistas e aeronaves (ii): Nova Lamego, 1º trimestre de 1968


Foto nº 21 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 >  Nas asas de um caça T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante.


Foto nº 21 A > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 >  Nas asas de um caça T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante (dertalhe)


Foto nº22 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723.


oto nº 22 A  > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723.


Foto nº 26 > Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > VirgílioTeixeira e, por detrás, o caça-bombardeiro T6, na pista de Nova Lamego.



F23 – Avioneta Dornier [, ou Cessna ?]  dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Virgílio Teixeira, em grande plabo, à direita.


F23A – Avioneta Dornier [, ou Cessna ?]  dos TAGP [, Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa,] descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Virgílio Teixeira, em grande plabo, à direita (detalhe)


F24 – Nova Lamego, 1º trimestre de 1968 > Dakota estacionado na pista de Nova Lamego. Carregando pessoal com destino a Bissau


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >1

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 80 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:

T201 – PISTAS E AERONAVES NA GUINÉ

A) O SECTOR DE NOVA LAMEGO – L3 (Parte II)

Legenda:

F21 – Nas asas de um caça-bombardeiro T6, pormenores do cockpit do piloto e ajudante. Nova Lamego, 1º Trimestre de 1968. [Foto não enviada, por lapso, ou repetida: vd, foto nº 25]

F22 – Na placa 3 Caças T6 estacionados em Nova Lamego. Vista de trás, pode ler-se os números dos aparelhos, 1702,1791,1723. Ao fundo um Heli e pormenor do espaço reservado com cobertura, chamado, aerogare. Nova Lamego, 1º Trimestre de 1968.

F23 – Avioneta Dornier dos TAGP, descarregando pessoal e correio, na pista de Nova Lamego. Algum pessoal procede a pequenas reparações e verificações do estado da DO. NL, 1º.Trim/68.

F24 – Dakota estacionado na pista de NL. Carregando pessoal com destino a Bissau. Este pessoal a entrar faz parte de um conjunto musical que foi dar espectáculo em Nova Lamego, por alturas do Ano Novo de 67/68. Nova Lamego, 1º Trim/68.

F25 – Nova foto nas asas de um caça T6, vendo o Cockpit. NL, 1º Trim/68.

F26 – Foto imagem do autor e do caça-bombardeiro  T6, na pista de Nova Lamego. 1º. Trimestre de 1968.

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Nota do editor:

Últino poste da série > 9 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18999: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLII: Pistas e aeronaves (i): Nova Lamego, outubro e novembro de 1967

Guiné 61/74 - P19002: Notas de leitura (1099): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Fevereiro de 2018:

Queridos amigos,

Naqueles anos de 1980, a obra do José Brás teria que surpreender pela riquíssima associação criada entre as vindimas que ele conheceu a ponto das suas descrições serem páginas de antologia e as vindimas no capim, como ele relata no final do seu soberbo romance, vindimas de mil cansaços, dos estrondos, das rajadas, nas febres, na água podre, nas centenas de quilómetros de picada, de trilhos, de selva virgem, nas horas e horas a rastejar sobre capim, na lentidão do tempo para o regresso, no frio das tripas nos cercos da estrada de Guileje, de Buba-Tomboli e de Gadembel.

Um acaso feliz permitiu uma nova e naturalmente refrescada leitura de um livro de um confrade nosso que marcou presença, por direito próprio, no que há de melhor na literatura da guerra da Guiné.

Um abraço do
Mário


Relendo uma obra soberba: Vindimas no Capim, por José Brás (2)

Beja Santos

Chama-se Filipe Bento, veio do meio rural (concelho de Alenquer), depois o mancebo percorreu vários quartéis, está agora no Sul da Guiné, foi colocado em Cutima, uma localidade Fula.
Descreve o pesadelo das colunas, neste caso a primeira que lhe coube na rifa:

“Eram quinze ou dezasseis carros. Velhas GMCs, Mercedes, Unimogs, duas autometralhadoras Fox, duas Daimlers da grande guerra. Isto tudo fazia mais de um quilómetro de coluna. O pessoal sobre a carga, camuflados novos, caras pálidas, do Inverno de Santa Margarida e do enjoo do porão do Niassa…

E aquele calor sufocante das três da tarde. Os pulmões à rasquinha para separar o oxigénio da humidade.

A caravana pôs-se em marcha lentamente. Nas caras dos meninos podíamos ver o quê?
Sei lá! Como é que eu posso dizer o que é que ia naquelas caras se eu nem sei o que é que ia na minha! O que lhes ia nas caras era de certeza o que lhes ia nas almas.

Havia ali muita cagufa! Até eu, armado agora em cronista, até eu, repito, até eu não tinha muita certeza se a conversa dos outros gajos era a sério ou… Simples gozo, a acagaçar quem acagaçado estava já…”.

Estamos a falar de um livro soberbo, “Vindimas no Capim”, José Brás, 2.ª Edição, Publicações Europa América, 1987.

E Filipe Bento deambula, deriva para outras histórias, um Benedito que queria matar o capitão e feriu gravemente outros; o padeiro em Camba-Jate, que nunca tirava os pés do quartel, e que um dia lhe deu na bolha e acompanhou uma patrulha, achou um engenho, artesanal, já ferrugento. Fechou-se em copas, trouxe-o para o quartel.

Segue-se a brutalidade da descrição:

“Depois do banho e da cerveja fresca, lembrou-se daquilo. Foi buscá-lo para o mostrar ao cabo do bar e para explicar ao outro, um pouco assustado e a olhar de lado para a lata velha, que não havia perigo nenhum, aquilo havia passado invernos à chuva e já tinha pólvora que prestasse.
Tentou desmanchá-la. Começou a batê-la contra o cimento da cantaria. Uma, duas, três, quatro, pum!

O padeiro ficou todo arranhado no peito nu e na barriga. E a mão lá se foi!

No lugar dela havia uma pasta de sangue cheirando a trotil que tresandava. A mão válida agarrou-se ao pulso mutilado e o padeiro iniciou uma corrida doida, aos berros, em direção ao posto de socorros”.

O cabo do bar observou que tivera sorte em ser canhoto.

É uma escrita pontuada pelo pícaro, pela intensa coloquialidade, pela ênfase no horrível, na sensualidade, na muita insensatez no uso do mando, na vida insípida e num tempo aparentemente parado arame farpado adentro, de igual modo quando passa a limpo as tragédias das emboscadas.

Mas voltemos a Cutima, um hectare cercado de paliçada de cibos e lata de bidão. Um dito aparentemente vulgar introduz um novo ritmo na atmosfera: comia-se bem em Cutima-Fula, mas havia a ganância do vagomestre, as roubalheiras do despenseiro, ali a vida simulava o ritmo velho, com comerciantes a usar caminhos estranhos para vender a mancarra em Bafatá, as máquinas Singer continuavam o velho costume de juntar o tecido ao destino da linha, e depois chegou o Spínola e a guerra mudou de feição, se no passado em Cutima Fula a guerra só chegava nos estrondos dos ataques a Nhala, a Colibuia e ao Xitole, agora batia à porta de Cutima-Fula, as colunas tornavam-se duríssimas, o sangrento da guerra espalhava-se pelas picadas.

E há discursos que fazem avivar a perda da lógica, o contrassenso de todas as guerras, um exemplo:

“A mina antipessoal estava colocada do outro lado do tronco da árvore caída na picada. Era uma velha prática do PAIGC, toda a gente sabia, mas não havia maneira de evitá-las.

De resto, não era esta a única forma de semear minas e armadilhas num trilho qualquer. E vocês estão a ver! Como é que se podia perder tempo a procurar minas num percurso de vinte quilómetros de carril feito de capim podre e milhões de folhas secas? A bem dizer, de que cada vez que se assentava um pé era uma angústia, a cada passo a sensação de que era o último”.

Temos agora nova deriva, vamos até Gatoeira, não será muito longe de S. Jerónimo, terra da criança Filipe Bento, mas onde onde ele nasceu foi mesmo nesta Gatoeira, veio ao mundo numa das casas do avô materno, ao lado da adega, só aos oito anos é que mudaram para S. Jerónimo.

De novo uma descrição antológica, voltemos às vindimas:

“Fiz toda a limpeza da poda da vinha do meu avô paterno e quando chegaram as curas lá fui eu de novo para o patrão da vindima, agora a carregar o canequinho cheio de sulfato entre a barrica e o pulverizador.

Dias inteiros sem parar.

No princípio, as vinhas ainda têm as golas, as parras pequenas, levam pouco líquido, as boquilhas dos pulverizadores têm os orifícios estreitos, cada carrego do caneco leva um tempo razoável a esgotar-se no pulverizador. Se a barrica da cauda não ficar muito longe do local onde opera o sulfatador, o servente folga um pouco. Depois, começam as cepas a encorpar, as parras a crescer, os buracos de saída das boquilhas a alargar… É um vê-se-te-avias”.

E temos uma confissão, ainda a propósito destas sulfatadas:

“Nos sulfates, não imaginam vocês, o cobre da solução aquosa cola-se à pele, introduz-se nas unhas, penetra nos poros todos… Se passarmos as mãos apenas por água do poço, ou se as deixarmos até sem uma boa lavagem… Ou até ao fim da semana… Ou havia quem fizesse assim até ao fim da temporada toda das curas, três meses, mais ou menos, no final aquilo não são mãos, mas uma porcaria qualquer, nojenta, um polvo negro a agitar os tentáculos.

Eu cá, ao fim do dia, lavava as mãos com mijo! Acabava o trabalho, se tinha vontade de mijar afastava-me um pouco, virava-me a esconder o pirilau numa cepa mais ramalhuda, e vá de escorrer o freguês para as mãos. Aquilo era remédio santo. O cobre desaparecia e as mãos ficavam macias”.

Fala-se de bruxedos, de bebedeiras e navalhadas, de como se soube que havia uma guerra lá para as Áfricas, há queixas na GNR por maus tratos dos patrões, está aqui um retrato finíssimo de um mundo rural que se apagou, décadas atrás. Mas o autor justifica que há amarras entre os escravos brancos e pretos e que essas amarras rebentaram, a um preço sem igual carregámos aos ombros moribundos, conhecemos todas as cores da fome e da sede, do calor e do frio. Mas que o leitor não se iluda, aqui também fomos escravos, embora muitos “Não se sentiram nunca abusados, esmagados, nas madrugadas da praça de homens, valorados em lanços de coroa ou dez tostões, um quarto de pão escuro na mesa da ceia".

Para que conste, há muitas maneiras de falarmos das vindimas no capim. E José Brás foi magistral nas associações que criou entre o mundo rural de Alenquer e aquele devastador Sul da Guiné, onde ele também vindimou.

[José Brás foi fur mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68); nasceu em Alenquer; trabalhou na TAP como tripulante comercial de 1972 a 1997; foi sindicatlsta e autarca; mora em Montemor-o-Novo; tem cerca de 130 referências no nosso blogue; é também autor de "Lugares de Passagem", Chiado Editora, Lisboa, 2010]
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Notas do editor

Poste anterior de 3 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18977: Notas de leitura (1097): Relendo uma obra soberba - "Vindimas no Capim", por José Brás; Publicações Europa-América (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 7 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18992: Notas de leitura (1098): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (50) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19001: Parabéns a você (1497): Rui Baptista, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3489 (Guiné, 1971/74) e Tony Grilo, ex-Soldado Apont Obus 8.8 do BAC 1 (Guiné, 1966/68)


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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18997: Parabéns a você (1496): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso camarada Manuel Castro Sampaio (1949-2006) e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª CART/BART 6522 (Guiné, 1972/74)

domingo, 9 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P19000: Blogues da nossa blogosfera (104): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (22): Palavras e poesia



Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.


O MENINO DE BRILHO NOS OLHOS

ADÃO CRUZ

© ADÃO CRUZ


O menino corria
corria atrás do sol no correr de cada dia
e no doce brilho dos olhos toda a alma se lhe via.
O menino corria
corria atrás da lua que se erguia entre estrelas e magia
e no brilho dos olhos toda a alma luzia.
O menino corria
corria atrás do vento que fugia para lá do tempo
e nos olhos do menino o vento se perdia.
O menino corria
corria atrás da chuva
e quanto mais água caía
mais o brilho dos olhos se acendia.
O menino dormia
dormia no reino dos sonhos e da fantasia
e nos olhitos dormidos o brilho se escondia.
O menino acordava
acordava no alvor de cada dia
e a vida renascia no abrir dos olhos
onde a alma luzia.
Até que um dia…
Uma nuvem negra
muito negra
tombou do céu e se fez gigante
de longas barbas e olhar perfurante
com um relâmpago em cada mão.
Roubava o brilho dos olhos
e nas entranhas do trovão se desfazia.
O menino tremia
tremia sem saber o que acontecia.
O menino chorava
chorava sem saber a razão.
O menino fugia
fugia
mas algo lhe dizia que de nada valia.
Chamou as pombas rouxinóis e cotovias
sardões caracóis e libelinhas
enlaçou-se de gavinhas
abraçou as árvores beijou a terra
e tudo o que nele vivia.
Mas ninguém lhe respondia
todos o olhavam com tristeza e melancolia.
Perdera o menino o brilho dos olhos
porque neles a inocência morria.
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18974: Blogues da nossa blogosfera (102): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (21): Palavras e poesia

Guiné 61/74 - P18999: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XLII: Pistas e aeronaves (i): Nova Lamego, outubro e novembro de 1967


Foto nº 4 > Nova Lamego, outubro de 1967 >  Avioneta DO 27 e o piloto da FAP, alf mil Emanuel Leite, meu amigo do Porto.



Foto nº 2 > Nova Lamego, outubro de 1967 >  Um avião de transporte de tropas e carga, Dakota, com 2 motores, e respectiva tripulação de 2 membros, com fardas diferentes. Junto temos uma AML Daimler, trata-se de um blindado ligeiro e a sua tripulação.


Foto nº 1 > Nova Lamego, outibro de 1967 > Um caça-bombardeiro T6, estacionado na pista de Nova Lamego.


Foto nº 8 > Nova Lamego, novembro de 1967 >  Avioneta civil, dos TAGP,  uma Dornier, de 2 passageiros, aterrando em Nova Lamego.


Foto nº 7 > Nova Lamego, novembro de 1967 >  Esquadrilha de caças T6 estacionados em Nova Lamego.


F10 > Nova Lamego, novembro de 1967 > Uma escala do Dakota, entre Nova Lamego e Bissau, com paragem em Farim, para carregar e descarregar pessoal. Farim, Nov./67. Está ao meu lado um professor primário negro, que teria ficado em Farim.


Foto nº 3 > Nova Lamego, novembro de 1967 > Pista de Nova Lamego em terra batida, e placa dos seus 1000 metros de comprimento.


Foto nº 5 > Nova Lamego, novembro de 1967 >  Caminho de terra batida que leva à pista de aviação de Nova Lamego.


Guiné > Região de  Gabu >  Nova Lamego > CCS/ BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) >1

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira (*), ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, set 1967/ ago 69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já cerca de 80 referências no nosso blogue.


Guiné 1967/69 - Álbum de Temas:



T201 – PISTAS E AERONAVES NA GUINÉ

A) O SECTOR DE NOVA LAMEGO – L3

I - Anotações e Introdução ao tema:

NOTAS:

O presente Tema refere-se à amostragem das pistas de aterragem e movimento de aeronaves no Sector L3 – NOVA LAMEGO – No Leste da Guiné.

As fotos são do período de finais de Setembro de 67 até finais de Fevereiro de 68. Trata-se do período em que o autor das fotos permaneceu neste sector.

Nova Lamego era a sede e comando do Batalhão de Caçadores 1933, que foi substituir neste sector o bcav 1915. Nova Lamego tinha a sua pista de aterragem de aeronaves ligeiras, Dakotas, DO27, Caças Bombardeiro T6 e Heli AllouetteIII. Não tinha pista para os caças Fiat G91, nem outros semelhantes.

A pista tinha 1000 metros de comprimento, era de terra batida, contudo o Heliporto era uma placa de betão própria para estes aparelhos.

Estacionavam nesta Base algumas aeronaves em permanência: 4 Caças T6 e 1 Heli. O objectivo era dar apoio imediato aos vários aquartelamentos existentes no sector, o maior da Guiné, com quarteis que eram flagelados quase diariamente.

Vou publicando tanta coisa sempre na esperança que apareça alguém que está retratado nas fotos, ou que se lembre de alguma coisa, mas até hoje ninguém do meu BC1933 apareceu a dizer ‘estou aqui!’. Reconheço com alguma mágoa que não há referências ao pessoal do meu batalhão, com a infeliz excepção da CCAÇ1790, ligada a Medina do Boé, Béli, Cheche e à tragédia do Rio Corubal, em 06/02/1969.

Vamos aguardando.

Em, 2018-06-18, Virgílio Teixeira


II - Legendas das fotos:


F01 – Um caça-bombardeiro T6, estacionado na pista de Nova Lamego. Estão carregados com 3 bombas em cada asa, no total de 6. Era equipado com metralhadoras na frente do aparelho. Nova Lamego,  Outubro/67.

F02 – Um avião de transporte de tropas e carga, Dakota, com 2 motores, e respectiva tripulação de 2 membros, com fardas diferentes. Junto temos uma AML Daimler, trata-se de um blindado ligeiro e a sua tripulação. Nova Lamego Out/67.

F03 – Pista de Nova Lamego em terra batida, e placa dos seus 1000 metros de comprimento. O estado da pista é fraco, muito irregular, o que dava origem a aterragens pouco confortáveis. Tratava-se da época das chuvas, por isso a terra abria grandes fendas. Nova Lamego, Nov./67.

F04 – Aeronave, Avioneta de 2 passageiros, DO27, da FAP, equipada com apenas um motor, estacionada em Nova Lamego. Destinada a transporte de passageiros, carga ligeira, correio e artigos de emergência.

O seu piloto, o Alferes Miliciano Piloto Aviador Emanuel Lima Leite, era meu amigo de criança da zona do Amial no Porto, e acabamos por nos encontrar a primeira vez naquele local, e mais tarde noutras zonas de São Domingos por exemplo. Nova Lamego Out/67.

F05 – Caminho de terra batida que leva à pista de aviação de Nova Lamego. As estradas eram todas mal tratadas, mesmo que dentro da vila ou cidade. Nova Lamego, Novembro de 67.

F07 – Esquadrilha de caças T6 estacionados em Nova Lamego,  Nov/67.

F08 – Avioneta civil dos TAGP – uma Dornier, de 2 passageiros, aterrando em Nova Lamego. Estas aeronaves faziam voos privados, normalmente para levar ou trazer passageiros, que se deslocam de, ou para, Bissau. A população civil está presente. Nova Lamego, Novembro de 1967.

F09 – A bordo de um Dakota, com cadeiras de lona, a cerca de 3000 metros de altitude, na rota de Nova Lamego, vindo de Bissau. Nos céus da Guiné, Novembro de 1967 [. Não publicada por falta de qualidade técnica[

F10 – Uma escala do Dakota, entre Nova Lamego e Bissau, com paragem em Farim, para carregar e descarregar pessoal. Farim, Novembro de 67. Está ao meu lado um professor primário negro, que teria ficado em Farim.

 (Continua)


NOTA FINAL DO AUTOR:

As legendas das fotos em cada um dos Temas dos meus álbuns, não são factos cientificamente históricos, por isso podem conter inexactidões, omissões e erros, até grosseiros. Podem ocorrer datas não coincidentes com cada foto, motivos descritos não exactos, locais indicados diferentes do real, acontecimentos e factos não totalmente certos, e outros lapsos não premeditados. Os relatos estão a ser feitos, 50 anos depois dos acontecimentos, com material esquecido no baú das memórias passadas, e o autor baseia-se essencialmente na sua ainda razoável capacidade de memória, em especial a memória visual, mas também com recurso a outras ajudas como a História da Unidade do seu Batalhão, e demais documentos escritos em seu poder. Estas fotos são legendadas de acordo com aquilo que sei, ou julgo que sei, daquilo que presenciei com os meus olhos, e as minhas opiniões, longe de serem ‘Juízos de Valor’ são o meu olhar sobre os acontecimentos, e a forma peculiar de me exprimir.

Em, 2018-06-18

Virgílio Teixeira

«Propriedade, Autoria, Reserva e Direitos, de Virgílio Teixeira, Ex-alferes Miliciano do SAM – Chefe do Conselho Administrativo do BATCAÇ1933/RI15/Tomar, Guiné 67/69, Nova Lamego, Bissau e São Domingos, de 21SET67 a 04AGO69».
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Guiné 61/74 - P18998: Blogpoesia (584): "Deixem as ondas rolar...", "Lá se foi o primeiro poema..." e "Nariz empinado", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, CachilCatió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Deixem as ondas rolar…

Vaivém constante, desde o começo do mar,
Teimosas, vêm e vão,
Lavam a praia de espuma,
Ressumam a iodo,
Rolam cansadas e desmaiam no chão.
Sacodem os barcos parados no porto.
Chamam p’rá faina.
A pesca não espera.
Há que partir.
É hora!
Há ir e voltar.
Homens da pesca, obreiros do mar,
Lavram as ondas.
O barco é o arado.
O leme a raviça.
As ondas, as leiras.
P´rá frente e para trás.
Poisam gaivotas, ariscas,
Caçam os peixes,
Larvas das pombas,
Expostas ao ar.
Mar sossegado,
Campo lavrado,
Ao sol e ao vento,
Prenhe de pão…

Ouvindo “Somewhere in the time”
Berlim, 7 de Setembro de 2018
9h15m
Jlmg

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Lá se foi o primeiro poema…

Com esforço construi até ao fim, um poema bom.
“Semeando vento”.
Preparava-me para o gravar.
Não sei como, desapareceu…
Senti um baque.
Vou remexer cá dentro.
Pode ser que o reencontre,
Igual ou outro.
Ficar-me não.
Semeando vento, sempre vem a tempestade.
Só se faz a paz, fazendo guerra ao mal.
Corpo e alma fazem um só ser.
Separá-los é vibrar-lhe a morte.
Só erguendo pontes se consegue a união e se ganha tempo.
A ambição é erva daninha. Tudo tapa. Nunca morre.
Sufoca o corpo e mata a alma.
Só a serenidade nos traz a paz e, possivelmente, a felicidade…

Ouvindo Mozart, Beethoven, Bach, Chopin, Tchaikovsky, Handel – The Best of Classical Music
Berlim, 4 de Setembro de 2018
8h29m
Jlmg

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Nariz empinado

Todos os dias, pela manhã, sobe a costeira,
nariz empinado,
vestes brunidas,
e vai para a missa.
É catequista, de apelido, a "pulga",
olhando pró chão,
escorraçando o diabo,
não vá ela pecar.
Leva flores, criadas na horta.
à sua conta tem um altar.
É boa moça, bordadeira exímia,
aprendeu com a mãe,
bisbilhoteira, sempre à janela,
a meter-se com os miúdos da escola.
Um dia, eu disse "carago",
foi o fim do mundo!
Nem ripostando:
- assim, pode-se dizer...
ela absolveu.
- vou dizer à Leonorzinha!
A minha santa mãe...

Berlim, 3 de Setembro de 2018
9h33m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE SETEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P18980: Blogpoesia (583): "Eu amo", poema de Júlio Corredeira, Piloto Aviador Reformado (Mário Santos)

Guiné 61/74 - P18997: Parabéns a você (1496): Filomena Sampaio, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso camarada Manuel Castro Sampaio (1949-2006) e Raul Manuel Azevedo, ex-Cap Mil, CMDT da 2.ª CART/BART 6522 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de de 8 de Setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P18995: Parabéns a você (1495): Alberto Grácio, ex-Alf Mil Op Esp do BCAÇ 4615/73 (Guiné, 1973/74) e Carlos Alberto Fraga, ex-Alf Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74)