sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19291: Notas de leitura (1131): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (64) (Mário Beja Santos)

Edifício de habitação na esquina da Rua Teófilo Braga com a Rua de Cascais
Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Abril de 2018:

Queridos amigos,
Durante anos, a historiografia oficial, a portuguesa e a do PAIGC, dava como ponto de arrancada da luta armada a flagelação a Tite, em 23 de  janeiro de 1963, era apresentado como ato primigénio, não tinha passado. Há anos que se sabe que não foi exatamente assim, houvera assaltos e atos vandálicos praticados pelo Movimento de Libertação da Guiné, a partir do Senegal, ainda continuados em 1963, mas no segundo semestre de 1962 fora profundamente alterada a ordem na região Sul, isto a despeito do gerente do BNU de Bissau que falara numa quase perfeita normalidade. Se assim fosse, se a luta armada tivesse caído quase de paraquedas, ele não iria descrever o precioso legado de informações, em grande continuidade, logo a partir de fevereiro, não é difícil concluir que o Sul rapidamente foi avassalado por um caos militar, económico, social e político.

Um abraço do
Mário


Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (64)

Beja Santos

A subversão está em marcha, manifesta-se ao longo do segundo semestre de 1962. Logo em 26 de junho, o gerente do BNU em Bissau informa Lisboa:

“ É nosso dever levar ao conhecimento de V. Ex.ª que por volta das três da madrugada de ontem, pequenos grupos de indivíduos, que se supõe pertencerem ao PAIGC, atacaram a tiros de pistola em Catió a Administração do Concelho, a Central Eléctrica, o posto da PIDE e os CTT, cortando os fios telefónicos e atravessando árvores na estrada.

Incendiaram também a jangada e três pequenos barcos que fazem a ligação de Bedanda para Catió.
Entre Buba, Empada e Fulacunda, foram cortadas as comunicações telefónicas e destruídos alguns pontões feitos de paus de cibe.

O ataque foi prontamente repelido, tendo-se deslocado para o local alguns efectivos militares, como medida de segurança.

Não foram feitas capturas, sendo desconhecido o número dos assaltantes. Não houve feridos. O assalto, pela sua curta duração e reduzido número de tiros disparados, é interpretado como o início de uma campanha de pânico a estabelecer pelo PAIGC.

Devemos, contudo, dizer a V. Ex.ª que o ataque não teve qualquer reflexo sobre a população”.

Nova mensagem em 18 de dezembro:

“Segundo nos foi hoje revelado, vindo de fonte fidedigna, foi obtida a informação que na noite de 11 de Dezembro, vindos da vizinha República da Guiné, entraram no nosso território pelo local denominado Gam Dembel, na área de Fulacunda, munidos de espingardas e pistolas-metralhadoras, infiltrando-se nas matas de Forreá e Cantanhez, que cobrem uma extensa área na parte sul da Província.

No dia imediato, essa informação foi confirmada, desconhecendo-se, contudo, o número dos componentes desses bandos.

Apenas se sabe que as tropas fixadas na parte sul da Província já pegaram no rasto, e estão seguindo esses grupos para uma operação de limpeza. É a primeira vez que bandos de terroristas se apresentam armados de espingardas e metralhadoras. A entrada fez-se por um sítio isolado, distante 12 km da fronteira, e as condições atmosféricas locais não têm permitido que a aviação, em sucessivos voos de reconhecimento, consiga determinar o local onde se acobertaram.

A informação está rodeada do maior sigilo, pois receia-se que o pânico substitua o optimismo e confiança que predominam, nesta época de início da campanha da mancarra.

A divulgação da notícia traria o risco de uma paralisação de negócios no interior da Província”.

O gerente de Bissau volta a dar notícias em 21 de janeiro de 1963:

“Em aditamento à nossa carta-extra de 18 de Dezembro passado, cumpre-nos levar ao conhecimento de V. Exas. que foram nulas as pesquisas realizadas pela tropa para a descoberta dos grupos de terroristas entrados no território na noite de 11 de Dezembro.

Duas hipóteses se formulam quanto ao desaparecimento dos referidos grupos:
- Uma rápida infiltração, facilmente proporcionada pela extensa e pantanosa área em que teve lugar, coberta pela densa vegetação que forma as matas de Cantanhez e Foreá, ou - O regresso ao vizinho território da República da Guiné em grupos dispersos que não foram referenciados.

O certo é que se sumiram todos os vestígios da sua passagem pelo local da infiltração, o que levou a tropa a abandonar o prosseguimento das buscas, depois de porfiadas diligências.

Os acontecimentos que tiveram lugar no decorrer desta semana, que nos foram hoje revelados pelo inspector da PIDE, fazem-nos admitir relativo êxito da infiltração, pois notou-se certa actividade da parte dos elementos perturbadores da ordem.

Assim, no norte da Província, a ponte de Campada, a 16 km de S. Domingos, foi parcialmente danificada; registou-se o ataque a uma serração situada a 8 km da mesma povoação, levado a efeito por um grupo constituído por cerca de 20 indivíduos munidos de pistolas, que se refugiaram no Senegal logo se aperceberam da aproximação da tropa; em Ganjandim, também próximo de S. Domingos, foi atacado um jipe militar com tiros de zagalote disparados por uma arma caçadeira; e a estrada que liga S. Domingos a Susana, a 8 km da primeira, foi cortada pela abertura de uma vala.
Não se registaram feridos.

Quanto à parte sul da Província, na vasta área de Fulacunda, foram referenciados 50 indivíduos armados de pistolas-metralhadoras, sobre os quais a tropa prontamente agiu.

Na mesma área, efectuou-se uma surtida a determinada tabanca já referenciada pelas autoridades, tendo sido abatido um indivíduo, ferido vários e capturados outros.

Foram apanhadas granadas de mão de fabrico italiano, alguns pacotes de explosivos de origem russa e americana, e ainda pequenos pacotes contendo explosivos de matéria plástica. A captura revelou que já dispõem de algumas dezenas de pistolas-metralhadoras, além de outro material.
Todos estes acontecimentos não têm perturbado as actividades, que continuam a processar-se normalmente”.

Mas dois dias depois dava-se a notícia do primeiro ataque a um quartel:

“Em complemento à nossa carta-extra de 21 do corrente, cumpre-nos informar V. Exas. que, segundo nos acaba de ser revelado, à 1,45 horas de hoje, um grupo de terroristas munidos de pistolas-metralhadoras, atacaram o Quartel de Tite, sede do Batalhão que faz a cobertura da área de Fulacunda.

Uma bomba de regular potência foi lançada, causando a morte de um soldado, e ferindo outros sem gravidade. A tropa prontamente respondeu ao ataque, fazendo numerosas baixas entre os terroristas.
O audacioso ataque à própria sede do Batalhão, confirma ter sido bem-sucedida a infiltração levada a cabo na noite de 11 de Novembro.”

Em 30 de janeiro, o gerente de Bissau complementa a notícia da flagelação a Tite com mais informações:

“O ataque perpetrado visou o paiol das munições e, não tendo sido bem-sucedido na primeira tentativa, de novo foi atacado às 4 horas do mesmo dia, decorridas portanto, cerca de 2 horas da primeira investida.

As numerosas baixas sofridas pelos terroristas, levou-os à desistência de renovarem os ataques ao aquartelamento de Tite.

No dia imediato, uma viatura militar que seguia escoltada por um jipão, do Enxudé para Fulacunda, foi alvejada por tiros de zagalote, sendo atingido um pneu da viatura, despistando-a.

Nenhum dos ocupantes do jipe estava armado, tornando-se fácil aos terroristas alvejá-los à vontade, pondo-se em fuga logo que se aproximou o jipão que servia de escolta que, em marcha mais moderada, vinha ainda bastante distanciado.

Do ataque, resultou a morte de um soldado e ferimentos em mais dois.

No dia 26, uma patrulha do exército, do sector de Buba, numa acção de repressão, caiu numa emboscada, morrendo um sargento, um cabo, dois soldados e dois guias indígenas, e sendo feridos um alferes e dois soldados.

Foram muitas as baixas sofridas pelos atacantes.

No dia 28, pelas 20 horas, fomos procurados pelo gerente da Sociedade Comercial Ultramarina que nos comunicou ter recebido a informação de ter sido assaltada a propriedade do Banco denominada ‘Brandão’, arrendada aquela Sociedade.

Do assalto não eram conhecidos pormenores.

No dia imediato fomos informados pelo oficial que chefia os Serviços Secretos do Exército, que o assalto incidira apenas sobre algumas moranças de indígenas Fulas, suspeitos de colaborarem connosco, sendo poupadas as tabancas dos indígenas da raça Beafada, que sempre foram hostis à nossa colonização.

Quanto ao edifício onde está instalado o estabelecimento da Sociedade, segundo as informações que possuía, nada lhe tinha sucedido.

Como o estabelecimento estava encerrado por ausência do respectivo encarregado que se deslocara a Bolama, não se sabe, por enquanto, se foi roubado.

Segundo nos declarou o gerente da Sociedade, no estabelecimento existia dinheiro, mercadorias e produtos da actual colheita, tudo no valor de cerca de 240 contos.

A notícia divulgada pela Emissora Nacional na sua emissão de hoje não corresponde à verdade, quando diz ter sido incendiado o edifício.

Sabemos que o Comando Militar chamou a atenção de alguns correspondentes de jornais, pela forma precipitada como as notícias são prestadas, fazendo supor o pior.

Achamos conveniente incluir nesta carta a tragédia ontem ocorrida com o navio da Sociedade, ‘Coruche’.

Fazemo-lo no sentido de esclarecer V. Exas. que o sinistro não tem qualquer correlação com os acontecimentos insurrecionais vindos a registar-se.

Atracou ontem, cerca das 17 horas, ao cais de Bissau, com um carregamento de combustível destinado à Aviação Militar o navio motor ‘Coruche’.

Quando se procedia à descarga de bidons, soltou-se um de uma lingada, provocando pela fricção uma chama que originou a inflamação do carburante que transportava.

O incidente ocorreu precisamente pelas 18,45 horas, tendo comparecido, além do pessoal da Casa Gouveia, agentes da Sociedade Geral, material da cooperação dos bombeiros locais. O fogo foi dado por extinto pelas 19 horas para, decorrido pouco tempo, voltar a deflagrar com toda a intensidade. Seriam 21 horas quando o Senhor Governador, segundo nos informaram, ter mandado retirar o barco da ponte de cais, pelo perigo de uma explosão. O navio anda à deriva, subindo e descendo o rio, consoante o sentido das correntes e das marés. Admite-se que os prejuízos sejam totais. Sentimos a necessidade de incluir o incidente neste relato, receando que ao mesmo fosse atribuído um sentido diferente.

Com excepção do ataque à serração de S. Domingos, relatado a V. Ex.ª em 21 do corrente, e em que não houve prejuízos a registar, os incidentes têm visado sempre objectivos militares.

O extraordinário de todos os acontecimentos, que não queremos deixar de evidenciar, é continuar a processar-se, com toda a normalidade, a vida económica da Província”.

Mas o tom otimista desta carta será contrariado pelo que irá escrever em 13 de fevereiro seguinte:

“Toda a parte sul da Província, se encontra infestada de grupos armados de terroristas, que à luz do dia circulam com a maior das liberdades, sem depararem com a oposição.”

E vai relatar que começaram os ataques às infraestruturas económicas, o Sul entrou inexoravelmente num profundo desequilíbrio.


Imagem retirada do livro 'Portugal no Ultramar', 1954, Edições Sotramel - Sociedade de Comércio e Propaganda, Lda com o apoio na cedência de fotos da Agência Geral do Ultramar.


Subúrbios da cidade de Bissau, anos 20
Mapa pertencente ao acervo do Arquivo Histórico do BNU, a quem se agradece a reprodução.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 7 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19264: Notas de leitura (1128): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (63) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 13 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19285: Notas de leitura (1130): "Sótão, Rés-do-Chão e Outras Vidas", por Alberto Branquinho; Edições Partenon, 2018 (Carlos Vinhal)

Guiné 61/74 - P19290: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (2): Mário Lourenço, que vive na Amadora, e foi 1.º cabo radiotelegrafista, CCAV 2639 (Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)


Guiné > Região do Cacheu > Pete > CCAV 2639 (1969/71) > O Mário Lourenço no "Bu...rako dos Transmissões". Foto do álbum do Mário Lourenço (*).


Foto (e legenda): © Mário Lourenço (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Mário Lourenço (ex-1.º cabo radiotelegrafista da CCAV 2639, Binar, Pete, Bula, Ponta Consolação e Capunga, 1969/71)


Data - 14 de dezembro de 2018 às 13:42

Assunto - Prova de Vida

 Camaradas, aqui vai a minha prova de vida, com os desejos de um FELIZ NATAL E UM BOM
ANO 2019, para todos os camaradas e familiares. (*)

Com grande abraço,

Mário Lourenço,  tabanqueiro nº 662 (**)

(i) faz anos a 7 de janeiro;

(ii) vive na Damaia-Amadora;

(iii) está reformado de uma firma do sector automóvel onde trabalhou 43 anos;

(iv) é um dos habituais organizadores do encontro anual da companhia;

(v) da CCAV 2639 fazem ainda parte, da Tabanca Grande, pelo menos,  o Victor Garcia (1º cabo at cav) e o  António Ramalho (fur mil at cav)... 

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Guiné 61/74 - P19289: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (1): Alberto Sousa e Silva, de Vila Nova de Famalicão, ex-sold trms, CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70)



Lourinhã >  Praia da Areia Branca >  1 de dezembro de 2018  >  11h18 >  Maçaricos-das-rochas. Nome científico: Actitis hypoleucos.. Estado de conversação: espécie vulnerável... "Com o seu incessante movimento de balanceamento da cauda, o maçarico-das-rochas é uma das mais irrequietas limícolas, que raramente é vista em repouso", diz o portal das Aves de Portugal. ( Os meus antepassados Maçaricos, marinheiros, mareantes, navegantes, pescadores, mercadores, construtores navais... desde Quinhentos, devem ter ido buscar o apelido a estas aves, que eu vejo com frequência junto à foz do Rio Grande, na Praia da Areia Branca.)

Vídeo de Luís Graça (2018). Alojado no You Tube > Luís Graça (1' 15'')


1. Apelo do fundador, administrador e editor do blogue:

Chegámos ao fim de 2018, olhamos para trás
e o caminho percorrido, desde a Guiné,  de1961 a 1974,
desde o fim da "comissão" de cada um de nós até agora,
é já  muito, mais de meio século,
é já muita lonjura, a das nossas vidas,
são muitas e muitas picadas,
muitas minas e armadilhas,
alegrias, tristezas, euforias, depressões...

Somos irrequietos como os maçaricos-das-rochas,
pequenas aves limícolas que ainda abundam na nossa costa...
Mas quantos camaradas não ficaram já para trás, cá e lá?!
Só na nossa Tabanca Grande, contabilizamos 70 de um total de 782,
desde que o nosso blogue existe, vai fazer 15 anos em 23 de abril de 2019...

Quinze anos são, no mínimo,  sete comissões na Guiné, já imaginaram ?!

Mas há camaradas de quem, infelizmente,
não temos notícia há muito tempo...
Na nossa idade, teme-se sempre o pior:
quantos camaradas e amigos não fomos já a enterrar,
mais novos do que nós?!

É verdade,  alguns estão vivos, mas vivem sós,
sofrem de solidão e de abandono,
podem até ter muitos amigos do Facebook,
mas estão sós, terrivelmente sós...
Não  admira por isso que se tenham desligado,
do blogue, da Tabanca Grande, do mundo,
correndo o risco de se desligarem também da vida, um dia destes.

Por isso, fica aqui o desafio:
por favor, amigos e camaradas da Guiné,
mandem-nos por este Natal e Ano Novo de 2018/19
um "cartanito" de boas festas,
se possível com boas notícias (ou  menos más...).

Aproveitemos esta quadra (, mesmo que ela seja uma ilusão!)
para acrescentarmos mais vida à vida,
mais saúde à saúde,
mais amizade à amizade,
mais amor ao amor...
e pormos mais cores na paleta do nosso arco-íris,
que tem andado tão  tristonho e cinzento...

Mandem, por favor. uma mensagem
 (nem que seja telegráfica,
como se fosse a resposta a um SOS),
com os seguintes dizeres:

"Camaradas, estou vivo!... 
Aqui vai a minha prova de vida!"


Relemebremos aqui os 9 camaradas, membros da Tabanca Grande, que este ano já partiram para a sua derradeira "comissão de serviço", e que nos deixam imensa saudade. Esta lista, infelizmente, pode estar incompleta. A média de idades rondava os  71 anos (mínimo, 66; máximo, 75).

António Manuel Sucena Rodrigues (1951-2018)
Armando Teixeira da Silva (1944-2018)
Carlos Cordeiro (1946-2018)
Gertrudes da Silva (1943-2018)
João Rebola (1945-2018)
João Rocha (1944-2018)
Joaquim Peixoto (1949-2018)
Luís Encarnação (1948-2018)
Manuel Carneiro (1952-2018)




Guiné > Região de Tombali > Contabane > CCAÇ 2382 (1968/70) >   O Alberto Silva, ex-sold trms... Em 22 de Junho de 1968,  a aldeia e o destacamemto foram completamente destruídos num ataque do PAIGC.  "Todos os meus haveres foram consumidos pelas chamas que destruíram a palhota que se vê nas minhas costas e que utilizava como caserna"... Foi "noite de São João"... Silva tinha então menos de dois meses de Guiné. Foto da sua página no Facebook: Alberto Silva, a viver em Vila Nova de Famalicão.

Foto (e legenda): © Alberto Silva  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Vamos publicar a primeira mensagem qne nos chega este ano, do  Alberto Sousa e Silva  (ex-soldado de transmissões, que vive em Vila Nova de Famalicão,  não tivemos notícias  dele ao longo do ano que vai findar; costuma mandar-nos um "cartanito" de Natal; e já tem organizado os convívios anuais da companhia).

Da rapaziada desta desta companhia (CCAÇ 2382, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70) que faz parte da nossa Tabanca Grande,  temos ainda os nomes do Manuel Traquina (ex-furriel miliciano) e do Carlos Nery (ex-cap miliciano), além do José Manuel Moreira Cancela ( ex-soldado apontador de metralhadora pesada).

Descobrimos  há tempos também o ex-1º cabo Alfredo Ferreira, o "Geada", que era o padeiro da companhia... Vive na Murteira, Cadaval.


Distintivo da CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70).
Cortesia de Manuel Traquina.


Mensagem do Alberto Sousa e Silva (ex-soldado de transmissões), da CCAÇ 2383  (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70): 


11 de dezembro de 2018 às 17:18

Amigo,

Que tenha um Feliz Natal e agradeço a publicação,  no blogue, da mensagem  em epigrafe, destinada aos componentes da CCaç 2382 – 1968/1970.

Um abraço,

Alberto Silva
CCAÇ 2382

Guiné 61/74 - P19288: Parabéns a você (1538): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário do BART 733 (Guiné, 1964/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19280: Parabéns a você (1537): Francisco Palma, ex-Soldado Condutor da CCAV 2748 (Guiné, 1970/72) e Luís Dias, ex-Alf Mil Inf da CART 3491 (Guiné, 1971/74)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19287: Tabanca Grande (471): apresenta-se o camarada da diáspora lusitana na América (para onde emigrou há mais de 40 anos), António Cunha (Tony), que foi fur mil enf, de rendição individual, tendo passado pela 38ª Ccmds, pelo HM 241, pela CCS/BCAÇ 4514/72, e, por fim, pela CCAÇ 6 (Bissau, Mansoa, Bolama e Bedanda, 1972/74)... Senta-se, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 782.


Guiné > Região de Tombali > Bedanda > CCAÇ 6 > c. 1973/74 > O fur mil enf António Cunha, de rendição individual, na placa do heliporto.

Foto (e legenda): © António Cunha (Tony) (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de António Cunha (Tony), novo membro da Tabanca Grande, com o nº 782:

Data - Segunda-feira, 10/12/2018,  00h49

Assunto - 38ª Companhia de Comandos

Caro Luís

Obrigado pela resposta (*) e por encaminhares o meu pedido para a pessoa certa...

Como pediste, aqui vão as duas fotos:

- A primeira, tirada em Bedanda ], CCAÇ 6,], no "heliporto", que ficava perto do meu abrigo;

- A segunda, mais ou menos recente, aqui nos Estados Unidos.

Neste heliporto havia formação do pessoal branco sempre que havia alguma evacuação de helicóptero. Como eu é que mandava vir o helicóptero, sempre tinha requerimento colectivo de que pedisse acompanhamento…

O meu nome é Antonio Cunha, fui furriel enfermeiro, destacado para a Guiné em rendição individual que nunca se concretizou.

Quando cheguei e me apresentei, disseram-me que havia um outro furriel que se tinha oferecido para uma segunda comissão e, portanto, o meu destino de férias, o Destacamento de Engenharia no Quartel General [, o BENG 447, ] tinha sido ocupado.

Enviaram-me para o Hospital Militar [, HM 241],  e fiz serviço em Dermatologia e em Cardiologia.

Quando a 38ª CCmds chegou à Guiné, mandaram-me ocupar,  durante o IAO, o lugar do enfermeiro da Companhia, que ia para o Hospital tirar o curso de sangue. Lá estive, até o curso acabar.

Quando voltei ao Hospital, foi-me dito para não desfazer as malas, que ia para Bolama, dar instrução ao Batalhão 4514 [, BCAÇ 4514/72, presume-se]. Coitados, o PAIGC deu as boas-vindas com meia dúzia de morteiradas e, sem saberem o que se estava a passar, muitos foram para as janelas ver "o fogo"…

De volta ao Hospital, em Bissau, antes de me apresentar, um Primeiro Sargento meu amigo, deu-me a boa notícia de que ia ser enviado para "outro lado". E assim foi. Fui enviado para a CCAÇ 6,  para Bedanda, no sul, na região de Tombali, onde fiz boas amizades mas onde passámos uns maus bocados, de que talvez tenhas ouvido falar inúmeras vezes.

Enfim, já lá vão 44 anos, e não pensei muito naqueles tempos, até começar a ler os teus blogues. Já não me lembro de muita gente com quem convivi, lembro-me do Alferes Dino, do Furriel Fidalgo (que visitei em Setúbal), do Furriel Pires (a quem "salvei" a vida, levando-o aos fuzileiros, debaixo de fogo, quando foi ferido, e depois morreu num acidente de mota no Continente…), do doutor Nuno Ferreira (o meu médico quando cheguei a Bedanda).

Há mais de 40 anos nos Estados Unidos, nunca mais convivi com ninguém daquele tempo. Fui, aqui, reconhecido por um soldado do 4514 [, BCAÇ 4514/72], e é só… e tive um bom amigo ex-comando, chamado Nuno Álvares Pereira. Alguém o conhece?

Por favor não pares com os blogues. Mesmo que sejam acerca de pessoal que não conheço, todos são como família, na confraternização que nos une naquela Província que, embora pobre, nos enriqueceu na apreciação da amizade.

"Manga di abraço pra todo", tugas e não-tugas.

Tony

PS -  Peço desculpa se alguma gralha escapa, mas o teclado Inglês tem vontade própria e troca-me algumas palavras… Obrigado também pela correção que fizeram, de facto tratava-se da CCAÇ 15, de Mansoa. (*)
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Contactos nos EUA:

Antonio Cunha (Tony)
President

TD PRINTING SERVICES
92 Park Avenue
North Arlington, NJ 07031

TOLL-FREE fax: 1-866-593-4804

mobile: 1-201-709-0166

e-mail: tony@tdprint.com

www.tdprint.com


2. Comentário de LG:

Tony, como já te expliquei, passas a ser conhecido na Tabanca Grande como o António Cunha (Tony), já que temos um homónimo, mais antigo,o António Cunha (Lassa). Obrigado pela tua rápida resposta ao meu convite. Este blogue não é meu, é nosso. E, nessa medida, cabe-nos a todos alimentá-lo (com fotos, histórias, memórias...), lê-lo. comentá-lo, divulgá-lo...

Temos, além disso, um pequeno número de regras de convívio que poderás ler aqui: são 10 regras que respeitamos e que definem o essencial da nossa política editorial. São (ou têm sido) consensuais...

Há muitos camaradas nossos. que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974, a viver e a trabalhar na América, quer do Continente quer das regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Ficamos felizes quando aparece um camarada da diáspora lusitana, como tu, a dar sinais de vida e a mostrar interesse em juntar-se aos "bravos" da Guiné...

Temos aqui gente de todas as armas (Terra, Ar e Mar), de todas as especialidades, do "back office" e do "front office", de todos os anos, de 1961 a 1974, e a viver nos 5 continentes, da Austrália aos EUA. Como costumamos dizer, sem qualquer fanfarronice, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

Passas a sentar-te, como já te disse, no lugar nº 782, à sombra do nosso mágico, protetor e fraterno poilão. Ficas, desde já apresentado ao pessoal todo da caserna, bem como aos nossos amigos que, não sendo ex-combatentes, têm uma ligação especial à Guiné (desde familiares de camaradas nossos já falecidos, na guerra ou depois da guerra, até cooperantes, investigadores, jornalistas, etc.,  além de naturais da Guiné-Bissau): grosso modo, são uns 10% do total.

Vou pedir ao Amílcar Mendes que te mande um exemplar do livro com a história da 38ª CCmds para a morada que indicas acima, e que é a da sede da tua empresa TD - Printing Services.

Partir daqui, de Portugal, há mais de 40 anos, cmo emigrante, e tornar-se empresário, é motivo de regozijo para todos nós. Vai dando notícias, partilhando memórias e emoções, fazendo comentários nas respetivas "caixas", disponíveis no final de cada poste ("Enviar comentário"), e divulgando o nosso blogue entre a comunidade luso-americana... Temos muitos visitantes desse lado...

O teu nome, António Cunha (Tony), passa a figurar, desde hoje, na lista alfabética dos membros da Tabanca Grande, constantes da coluna estática, do lado esquerdo, da "página de rosto" do nosso blogue.

Qunato ao médico do teu tempo, em Bedanda. na CCAÇ 6, Nuno Ferreira... Temos que o descobrir... Temos aqui dois camaradas médicos, que passaram pela CCAÇ 6, em Bedanda,  mas são mais  "velhinhos" do que tu e do que o Nuno Ferreira: Amaral Bernardo (1970/72), e Mário Silva Bravo (1971/72)... Mas vou perguntar a outros camaradas da CCAÇ 6... Tens que nos dizer em que altura exatamente andaste por aquelas bandas, quando é que chegaste à Guiné, quando regressaste a casa, etc... Sabes que um ano na Guiné era uma eternidade...

Desejo-te, a ti e à tua família, e aos teus colaboradores e amigos, um "Holly, Happy Christmas"... Aproveitemos todos esta quadra para dar mais vida à vida e aumentar as cores do  arco-íris do nosso planeta, que tem andado muito cinzento... Um bom ano de 2019, em termos de saúde, amor, amizade e negócios...Um alfabravo fraterno do editor, coeditores e colaboradores permanentes. Luís Graça
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19282: O Nosso Livro de Visitas (198): Gostava de ter o livro da história da 38ª Companhia de Comandos (António Cunha, 'Tony', ex-fur mil enf, camarada da dáspora, empresário, North Arlington, New Jersey, USA)

(**)  ÚLtimo poste da série > 26 de novembro de 2018 >  Guiné 61/74 - P19235: Tabanca Grande (470): Vítor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014), cor art ref, DFA, cmtd da CART 2715 (Xime, 1970/72), senta-se, a título póstumo, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 781, no dia em que se comemoram os 48 anos da Op Abencerrragem Candente, em que as NT tiveram 6 mortos e 9 feridos graves na antiga picada da Ponta do Inglês

Guiné 61/74 - P19286: FAP (113): Os pilotos do Lobo Mau (helicanhão), José Duarte Príncipe e Raul Coelho, foram quem identificou e sinalizou a ambulância russa do PAIGC, entre Copá e a fronteira do Senegal, quando estavam a dar proteção ao grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", em fevereiro de 1974 (Miguel Pessoa)


Guiné > Região de GTabu > Setor L3 >  Nova Lamego >  1974 > ; Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelas NT em fevereiro de 1974. (*)

Foto (e legenda): © António Santos (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu >  Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 > O fur mil mec auto Amílcar Ventura em ambulância capturada ao PAIGC [, entre Copá e a fronteira, em fevereiro de 1974, pelo Grupo do Marcelino da Mata e o Astérix, nome de guerra do cap paquedista Valente dos Santos, da CCP 122 / BCP 12,  BA 12, Bissalanca, 1972/74. Fotos do álbum de Amílcar Ventura, ex-fur mil mec auto, 1ª CCAV / BCAV 8323 (Pirada, Bajocunda, Copá, 1973/74), natural de (e residente em) Silves. (**)

Foto (e legenda): © Amilcar Ventura (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego >  CCS/BART 6523 (1973/74) >  O ex-1º cabo enf Alfredo Dinis, já falecido, junto à ambulância capturada ao PAIGC.

Foto do álbum do José Saúde, ex-fur mil op esp / ranger, CCS do BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), residente em Beja. (***)

Foto (e legenda): © José Saúde  (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Gabu > Bajocunda > 1.ª CCAV/BCAV 8323, 1973/74 >  Mais uma foto da ambulância capturada ao PAIGC, de matrícula FF554CN.  Foto do álbum do camarada António Rodrigues, um dos bravos de Copá, ex-soldado condutor auto, da 1ª CCAV do BCAV 8323 (Bajocunda e Copá, 1973/74) (****)

Foto (e legenda): © António Rodrigues  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Miguel Pessoa,  com data de hoje, 17h36:

Caros editores

Li no blogue o texto do José Saúde sobre a famosa ambulância “sacada” ao PAIGC e trazida pelo Marcelino da Mata para o nosso território (Poste 19283) (***).

Sabendo de uma versão mais apurada do acontecido, resolvi contactar o José Duarte Príncipe, o piloto do helicanhão que esteve envolvido directamente neste episódio e, porque não quero falar por interposta pessoa, pedi-lhe um comentário ao que ali foi escrito.

Aqui fica a sua resposta. Para que conste.

Abraço.
Miguel Pessoa

José Duarte Príncipe.
Foto: cortesia da sua  página do Facebook
2. Mensagem do José Duarte Principe, hoje piloto da aviação comercial, ref, ex-alf mil pil, AL III, Bissalanca, BA 12, 1972/74,  recebida e retransmitida pelo Miguel Pessoa:

Caro Miguel Pessoa:

Em resposta ao teu mail,  fui fazer uma visita ao blog que me enviaste e constatei que a história está incompleta (***).

De facto, o Marcelino participou com os seus "muchachos" no transporte e escolta à ambulância, inicialmente até Piche e depois até Bissau. (Esta segunda hipótese é apenas um palpite da minha parte, porque eu e o Raul Coelho estávamos em destacamento em Nova Lamego e aí permanecemos, não acompanhando portanto o seu trajecto até ao destino final.)

Efectivamente, a descoberta foi feita por mim e pelo primeiro cabo Cardoso, cuja destreza no canhão era sobejamente conhecida .

O avistamento do veículo aconteceu durante uma acção de apoio de fogo e reconhecimento da área em que o Marcelino estava a operar na picada entre Bajocunda e Daifa,  no pressuposto de existir armamento abandonado pelo PAIGC no trajecto entre as duas povoações .

Foi com alguma dificuldade que conseguimos identificar o veículo, porque estava coberto com um camuflado - o que inicialmente, pela silhueta, nos pareceu um carro de combate parecido ás nossas Panhards.

Depois de algumas manobras á vertical,  pedi ao Cardoso para fazer um tiro, com o intuito de acalmar algum "meliante"  que estivesse por perto e com vontade de nos "abonar".

Para grande surpresa nossa, como o tiro bateu relativamente perto do alvo, levantou-se o referido camuflado,  pondo assim a descoberto a tal silhueta, que mais não era que uma ambulância, por sinal muito parecida com as antigas Comet,  de fabrico inglês.

Depois disto, em contacto com o grupo do Marcelino, foi-lhe dada orientação por mim para o local que curiosamente era em território senegalês, bem encostadinho à fronteira que dividia os dois territórios.

A tarefa de recuperação do veículo não se apresentava fácil, porque a vegetação era densa em direcção á nossa fronteira e era necessário transpô-la o mais rapidamente possível para evitar surpresas ou encontros indesejados.
Marcelino da Mata, alferes graduado, c. 1974.
 Foto: DN - Diário de Notícias,
de 4 de janeiro de 1998 (com a devida vénia)

Para isso, foi necessário munir o grupo com uma motosserra que o Raul Coelho tratou de ir buscar a Nova Lamego, enquanto eu continuei a dar proteção ao grupo, não fosse o diabo tecê-las.

Quando o Raul chegou com o tão desejado equipamento, ficou ele a dar protecção á rapaziada, enquanto eu voltava à "rasquinha" de combustível para Nova Lamego para abastecer e substituir o Raul Coelho que também já estava perto do "bingo" (nos limites de combustível).

O resto foi uma alternância entre os dois na protecção ao Marcelino, que durou até ele conseguir chegar à picada e prosseguir depois duma forma mais rápida com destino a Piche, onde a ambulância permaneceu até ser enviada para Bissau dias depois.

Esta tarefa terá demorado seguramente parte de toda a manhã, entrando pela tarde,  até estarmos todos num estado de esgotamento apreciável.

Curiosamente descobri no Facebook o MMT do Exército que conduziu o veículo ao longo de todo o trajecto. Infelizmente não consigo as fotos que me enviou durante o nosso diálogo, porque ele desistiu de ser facebookiano e eu não guardei a preciosidade que as fotos representavam.

Espero que esta "seca" sirva para te esclarecer dos acontecimentos tal como foram vividos na altura.

Duarte Príncipe.


3. Comentário do editor LG:

Miguel, vem mesmo a propósito, o depoimento do teu amigo e nosso camarada José Duarte Príncipe... Nada como ir à fonte...O José Duarte e o Raul Coelho, pilotos de AL III, e os respetivos 1ºs cabos apontadores de canhão (O Cardoso e outro camarada, de que não sabemos o nome) é que são os heróis desta história, sem com isso queremos tirar o mérito ao grupo do Marcelino da Mata que trouxe o "ronco", a ambulância russa, até pelo menos Nova Lamego.

Eu já tinha ido recuperar um poste do Carlos Fernandes, de há oito anos atrás, em que ele diz ter feito parte do Grupo do Marcelino da Mata, "Os Vingadores", na qualidade de guarda-costas do cap pára Valente dos Santos ...e ter participado nesta operação (Op Gato Zangado)... O mérito da descoberto é do piloto do helicanhão, parece não haver dúvidas... E imagino que terá sido preciso muito sangue frio, persistência, coragem e perícia por parte dos pilotos... voando tão baixo.(*****).

Agradece muito, da minha parte, ao José Duarte Príncipe. Acabo de publicar a sua versão, preciosa, neste poste da série FAP... E já agora fica aqui o convite para ele (e o Raul Coelho) se juntarem aos bravos da Guiné, de terra, ar e mar, e dar-nos a honra, aos vivos e aos mortos, de sentarem à sombra do nosso poilão... (*******)

PS1 - O Carlos Fernandes, nosso grã-tabanqueiro, alega ter sido eliminado dos páras (CCP 122) pela "Aeronáutica Militar" (sic) em novembro de 1973... Não diz porquê... Passou para o exército e depois foi guarda-costas do Asterix (o Valente dos Santos)... Sabes algo mais sobre este camarada Carlos Fernandes, ex-1º cabo pára, também da CCP 122 / BCP 12, que andou por lá entre finais de 1971 e agosto de 1974 ?...  Vd. aqui entrevista sua ao DN, Diário de Notícias, de 4 de janeiro de 1998. Nâo tenho há muito notícias dele.

PS2 - Em complemento, o Miguel Pessoa diz.me que o Duarte Príncipe e o Cardoso formavam a equipa do Lobo Mau (Helicanhão). O Raul Coelho também pilotava na altura um Helicanhão, AL-III.  Devia também um apontador. Não era habitual haver uma parelha de helicanhões numa operação.  Mas nesta operação (Op Gato Zangado) talvez se justificasse. Quanto ao Carlos Fernandes, o MIguel não tem ideia dele.
______________

(**)  17 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14156: Casos: a verdade sobre... (3): Jaime Mota (1940-1974), combatente do PAIGC, natural da ilha de Santo Antão, Cabo Verde, morto em 7 de janeiro de 1974, em Canquelifá por forças da CCAÇ 21 - Parte III (Luís Graça / José Vicente Lopes / José Manuel Matos Dinis)

(***) Vd. poste de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)

(****) Vd. poste de 3 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14214: Memórias de Copá (5): Janeiro e Fevereiro de 1974. (António Rodrigues)

(*****) Vd. poste de 21 de outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7150: Tabanca Grande (249): Carlos Fernandes, ex-1º Cabo Pára (CCP 122, 1971/74) e ex-elemento do Grupo Os Vingadores, do Alf Grad Marcelino da Mata

(...) Luis Graça, o que de momento me leva a enviar estas palavras é para falar a respeito da notícia sobre a Ambulância, que foi capturada entre Copá e a Fronteira [com o Senegal]. Eu estive nessa operação, eu e o capitão Asterix (que não era o António Ramos, mas sim o Valente dos Santos).

Nessa altura, ou seja entre fins de 1973 a agosto de 74, quem fez parte do COE , foram o Major Veiga da Fonseca, do Exército, já falecido, e o Capitão Pára Valente dos Santos de quem junto uma foto de grupo, onde estou eu e o Valente dos Santos (...) . Foi tirada em Bula a quando da entrega das Boinas Vermelhas. Foi o nosso grupo o primeiro a usar tal cor de boina.

Hoje a Boina, que o Marcelino usa nesta foto , que também junto (...) , fui eu que lha ofereci, antes de ter vindo viver para a Madeira. Dei-lhe o crachá bem como os emblemas do grupo, os Vingadores.

Pois nessa operação, que teve por nome Gato-Zangado, em Fevereiro de 74, saímos de Bajocunda, andámos toda a noite... A operação consitia em armadilhar as linhas de água, com as "Bailarinas" e as "Viúvas Negras", pelo Alferes Tarro, do Exército. Eu fiquei encarregue de lhe fazer a segurança, a esse Alferes.

Já tinhamos colocado algumas armadilhas na zonas de água e estavamos no nosso descanso, quando aparecem dois sujeitos da população do PAIGC, com uns baldes, para irem buscar água, dentro do território deles. Aí começa a caça ao inimigo. Houve uma troca de tiros e, na perseguição, encontrámos caixotes de Armamento, granadas de RPG, bem como Armas.

Foi pedido apoio aéreo, na retirada do material, e foi numa das voltas do héli-canhão, que se deu com algo escuro, que de cima não deu para ver o que seria. Foi com base na informação do piloto do héli, que deparámos com uma viatura tipo Ambulância que se encontrava tapada, camuflada com árvores cortadas, com o sistema de ligação estragado. Foi o Marcelino que conseguiu colocá-la a trabalhar, depois de pedir combustível a Bajocunda, que era o quartel mais perto. Depois a Ambulância foi levada até Massacunda, local onde estava uma coluna de mantimentos para Copá e Bajocunda.(...)


(******) Último poste da série > 24 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19133: FAP (112): Há aviões... e aviões, há o Cessna 152 e o Dornier, DO 27 (E. Esteves de Oliveira)

Guiné 61/74 - P19285: Notas de leitura (1130): "Sótão, Rés-do-Chão e Outras Vidas", por Alberto Branquinho; Edições Partenon, 2018 (Carlos Vinhal)


Capa do livro

Depois de "Por Século e Meio", Edições Partenon, 2017, Aberto Branquinho lançou recentemente um livro de contos a que deu o título de "Sótão, Rés-do-Chão e Outras Vidas", Edições Partenon, 2018.

Estamos perante uma prosa que retrata a sociedade actual, nos seus caminhos tortuosos, o quotidiano da classe média, vítima dos tempos incertos e o descartar de pessoas que se julgavam insubstituíveis.

Podemos encontrar ainda pequenos contos, histórias de famílias e até, no dizer do autor, um resumo para telenovela, "História Breve de Uma Família", os Lidões e a sua dedicada empregada Ludovina.

Habituados como estamos ao estilo de Alberto Braquinho, lembro as suas séries: "Não venho falar de mim... nem do meu umbigo" e "Contraponto", encontramos neste livro flashes do quotidiano e do imaginário.

Como exemplo aqui ficam, a "Parábola dos Dedos da Mão" e "Le (Petit) Déjeuner sur L´Herbe":

Estavam os dedos das mãos em conversa animada, quando o indicador da mão direita, a propósito de coisa nenhuma, se empinou todo, apontou o polegar da mão esquerda e, depois, fazendo um esforço, torcendo-se todo, apontou, também, o polegar da sua própria mão, disse:
- Se não fossem esses dois, nós tínhamos uma vida muito mais sossegada. Por causa deles é que nós trabalhamos tanto.
- Ora essa! - foi a reacção imediata do polegar direito.
- Pois! Vocês, os polegares, sem nós não servem para nada. Nada. Ficavam sem ocupação. E, sozinhos, também não fazem coisa nenhuma. Mas, só porque estão aí, obrigam os outros a trabalhar, a fazer esforços.
- Sem nós, o que é que vocês faziam? - insistiu o polegar direito.
- Pouco, mas era mais do que o suficiente. Era um descanso. Eu por mim, limitava-me a apontar. Aqui o meu vizinho do lado direito fazia aquelas coisas que, embora não sejam bonitas, aliviam muito; o outro a seguir, segurava os anéis e o pequeno coçava os ouvidos. Mais nada. Era um descanso de vida.
- Então e nós, os polegares não servimos para nada?
- Para nada! Nada! Só sabem fazer oposição e a obrigarem os outros a trabalhar. É demais!


(Pág. 55)

********************

À noite, depois do jantar, o homem saiu de casa levando o cão pela trela. Era um pretexto para caminhar um pouco.

O cão cheirou, no tronco da árvore, as urinas de cães que o precederam. Deu três ou quatro voltas ao tronco, depois outras três ou quatro em sentido contrário. Encostou o corpo do lado esquerdo, alçou a pata posterior (para não se atingir com o disparo urinário...) e despejou três ou quatro esguichos. O homem olhou satisfeito: - Hoje já não vai fazer em casa.

A seguir, o cão andou, desandou, cirandou, cheirou arbustos do jardim, passou para a rua, voltou ao jardim, sacudiu as patas traseiras, esfregando a relva. Mais adiante cheirou outro tronco de árvore, hesitou em abordá-lo se pela esquerda ou pela direita, encostou-se, alçou a pata, mas não conseguiu mais que um esguicho e... meio.

Voltou à ciranda, agora com mais vivacidade, obrigando o dono a mudar a trela de mão diversas vezes, quando andava à volta das árvores. Chegou-se outro cão. Cumprimentaram-se cheirando cada um, simultaneamente, a zona do traseiro do outro. Os donos disseram, também, "boa noite" (mas a uns metros de distância) e cada um seguiu o azimute traçado pelos cães.

O passeio continuou, avançando, recuando, na rua, voltando à relva do jardim publico e, novamente, para a rua. A dada altura o cão acelerou o andamento a caminho da relva, esparramou-se sobre as patas traseiras, expulsando uma barra redonda de excremento. Avançou um pouco na mesma postura e saíram mais duas ou três. E, logo a seguir, outra. Chegou-se um pouco à frente e esfregou fortemente as patas traseiras na relva, O dono olhava, embevecido. Talvez pensasse: - Mais um bocadinho e voltamos para casa.

E, assim foi.

Na manhã seguinte as crianças que costumam brincar no jardim, irão pisar, tropeçar nas barras largadas na relva (e outras mais), talvez caírem sobre elas, fazendo com que elas passem a confundir-se com a própria relva do jardim, adubando-a.

("Na natureza nada se perde...")

(Pág. 79)

************

SOBRE O LIVRO:
Título - Sótão, Rés-do-Chão e Outras Vidas
Edição - Edições Partenon
Autor - Alberto Branquinho
Capa - Ângela Espinha
Número de páginas - 145
1.ª edição - Lisboa, Outubro de 2018
ISBN - 978-989-8845-25-2
Depósito legal - 445732/18
Preço - 10,00€
© Alberto Branquinho
Publicação - Sítio do Livro

SOBRE O AUTOR:
Alberto Branquinho é natural da região agora denominada “Douro Superior”.
Esteve na guerra colonial, na Guiné. 
Tem publicações sobre esse tema em blogues e em livros.
Terminado o serviço militar, regressou a Coimbra em plena crise académica de 1969.
Vive em Lisboa desde 1970.
Depois de várias andanças e cambanças, a ver mais mundos, acabou sendo advogado em relações e contratos internacionais.
Publicou romance, livros de contos e poesia.

OBRAS PUBLICADAS:
PROSA:
- Cambança - Guiné: morte e vida em maré baixa
- Contos com Encontros
- Parições & Aparições - panfletos & divertimentos
- Cambança Final - Guiné/guerra colonial
- Filhos d'outrem ou d'algures
- Por Século e Meio

POESIA:
- Sobre Vivências
- Quasoutono?!
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19274: Notas de leitura (1129): “Lineages of State Fragility, Rural Civil Society in Guinea-Bissau”, por Joshua B. Forrest; Ohio University Press, 2003 (5) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19284: Agenda cultural (665): primeiras fotos da sessão de apresentação do livro do António Martins de Matos, "Voando sobre um ninho de Strelas", ontem, no Hotel Travel Park, em Lisboa (Miguel Pessoa)


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas"  (*) >  Da esquerda para a direita, o autor, António Martins de Matos, e os editores dos blogues Especialistas da B12 Guiné 65/74, Tabanca do Centro e Tabanca Grande, respetivamente, Victor Barata, Joaquim Mexia Alves e Luís Graça, que fizeram curtas intervenções de 5 minutos sobre o autor e o livro. Segiu-se depois uma discussão aberta ao público, composto essencialmente por antigos militares da FAP e do exército, que passaram pelo TO da Guiné, incluindo o casal mais 'strelado' do mundo, os nossos queridos amigos e camaradas Miguel e Giselda Pessoa. "Este livro foi escrito, não para vós, mas para os vossos filhos e netos", disse o autor.


 Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" >  Intervenção do nosso editor, Luís Graça, em representação do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" > Aspeto (parcial) da assistência: em primeiro plano, o JERO (Jose´Eduardo de Oliveira) e o Juvenal Amado, dois dos nossos talentosos escritores.


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" > Aspeto (parcial) da assistência: em primeiro plano ao centro, a filha do autor, Teresa Dores Martins de Matos, psicóloga clínica, autora do capítulo 42 ("O sabor do medo",  pp. 277-285).


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" > Aspeto (parcial) da assistência > Na fila do lado direita, em primeiro plano, a Teresa Martins. Vieram também represententantes da Tabanca de Porto Dinheiro (Lourinhã) e da Tabanca do Centro...



Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" >  O  nosso editor, Luís Graça, e o autor



Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" >  O Vitor Caseiro, de Leiria, que veio com uma delegação da Tabanca do Centro. Em segundo plano, a Giselda Pessoa fala com a Teresa Matos, psicóloga clínica, filha do ten gen ref António Martins de Matos.


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de dezembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas" >  Três representantes da Tabanca do Porto Dinheiro, Lourinhã, ao centro, o Eduardo Jorge Ferreita, à esquerda o Carlos Silvério, o nosso próximo grã-tabanqueiro nº 783, e à direita, um camarada que esteve em Moçambique, e cujo nome não retive... O Eduardo Jorge Ferreira foi alf mil da Polícia Aérea. na BA 12, Bissalanca,  de 20 de janeiro de 1973  a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre).

Fotos: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. As primeiras fotos do evento de ontem, a sessão de apresentação do livro de António Martins de Matos (*), em Lisboa, no Hotel Travel Park, aos Anjos, em Lisboa. (**) 

As fotos são do Miguel Pessoa, o primeiro piloto da FAP a ser abatido por um Strela, em 25 de março de 1973, sob os céus de Guileje. Tem já cerca de 2 centenas de referências no nosso blogue.
_____________

Notas do editor:

Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série. 

Gabu em memórias 
Ambulância apanhada ao PAIGC 

Tento, amiúde, fixar-me em restos de memórias que me sobram dos tempos em que passei por terras de Gabu onde me deparei e ouvi falar de viva voz com as incessantes atividades guerrilheiras de índole diversa. Hoje, porém, trago à estampa uma dessas muitas atividades operadas pelo grupo de Marcelino da Mata, então um Alferes que se apresentava para o IN como um alvo a abater, sendo o tema uma ambulância apanhada ao PAIGC. 

Sabeis, ou ouviste falar, caros camaradas da versátil mobilidade no terreno de guerra do requintado grupo comandado pelo Marcelino da Mata. Não vou, como é evidente, focar-me na plenitude das muitas operações que tiveram o cunho do antigo guerrilheiro. Desconheço o detalhe da ação. Vou, sim, focar-me, resumida e exemplarmente, sobre a sua eficácia determinante no momento de enfrentar o IN. 

Não comento e nunca farei pressupostas opiniões, algumas quiçá devastadoras para quem deu o corpo às balas, acerca de um homem pelo qual guardo imenso respeito. Cada um opina dentro de valores que lhe vão na alma, não obstante os consensos de pareceres sobre uma realidade pública de “assaltos” consumados em pleno palco de guerra. 

A guerrilha no terreno impunha precaução ao mais humilde militar. O insólito do exato momento de luta, sempre inesperada, obrigava a minuciosas cautelas. E, pelo que me foi dado saber, Marcelino da Mata era um guerrilheiro que não temia uma missão que lhe fora confiada. 

Aliás, as suas diversas condecorações, ofertadas pelo Exército Português, são a prova evidente que o atual Tenente Coronel foi, sem dúvida, um osso duro de roer para o PAIGC. Neste contexto, não vou negligenciar a sua atividade ou os atos de bravura averbados na guerrilha. A sua história está concluída. 

Conheci-o pessoalmente na então Nova Lamego. Dele contavam-se surpreendentes explanações guerrilheiras. Histórias que iam pela qualidade da limitadíssima formação de homens que integravam o seu pequeno grupo, até ao conteúdo das suas ações no confronto direto com o IN. 

Um belo dia “aportou” no meu quartel, Gabu, uma ambulância apanhada ao PAIGC com o cunho do grupo do Marcelino. O Marcelino da Mata conhecia, e muito bem, as “silhuetas” do terreno ao pormenor, bem como os trilhos por onde o IN se movimentava. 

Estudado ao pormenor o objetivo previamente traçado, eis que o surpreendente golpe de mão às forças guerrilheiras contrárias, causou a “safra” de uma ambulância, desconhecendo-se o “rombo” de capital humano. Falou-se em vários cenários, todavia, o que se constou é que na ambulância seguia uma enfermeira sueca. 

Verdade ou mentira só o Marcelino, e os seus subordinados, poderiam testemunhar. A voz corrente que passava de boca em boca nos aquartelamentos da zona, findava pela valentia do grupo sobre aos “turras”. Baixas? Não se sabe se as houve! 

A curiosidade da narrativa passa, naturalmente, que junto ao veículo “sequestrado”, que acusava inúmeras batidas na chapa, está o saudoso enfermeiro Dinis, um rapaz, natural do Porto, ao qual já dediquei um texto, frisando o seu excelente companheirismo. 

O Dinis era moço simpático. A sua fisionomia atirava para o franzino e a sua estatura para o baixo. Porém, assumia-se como um jovem amigo do seu amigo e sempre disponível para mais uma missão ao interior de um mato que persistentemente camuflava o medo. 

Naquelas rondas às tabancas para a execução de mais uma missão dominada “psicó”, o Dinis transportava na sua sacola “mezinhos” para a cura dos nativos. Outras vezes era o Dinis que “desenrascava” o pessoal com comprimidos que ocasionalmente a malta procurava, de entre outros instantes de aflição em que a necessidade imperava e o nosso enfermeiro, sempre com um sorriso nos lábios, amavelmente aplicava medicamentos para a cura. 

Hoje rendo-me à humildade do saudoso Dinis, evocando o momento em que o "ronco" causado ao IN serviu para mais uma conversa entre ambos numa guerra em que o Marcelino da Mata era figura de proa no palco de um conflito que terminou pouco tempo depois. 

(Foto do 1º Cabo Enfermeiro Alfredo Diniz - Já falecido)

Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

20 DE OUTUBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19123: Memórias de Gabú (José Saúde) (72): Jau, o nosso guia (José Saúde) 

Guiné 61/74 - P19282: O Nosso Livro de Visitas (198): Gostava de ter o livro da história da 38ª Companhia de Comandos (António Cunha, 'Tony', ex-fur mil enf, camarada da dáspora, empresário, North Arlington, New Jersey, USA)


O ex.fur mil Cunha esteve temporariamente colocado em Mansoa, em 1973, na 38ª CCmds. Acabou a comissão na CCAÇ 6, em Bedanda, onde era conhecido como o Furrel Mezinho Djaló. Vive em North Arlington, New Jersey, USA. E aceitou integrar a nossa Tabanca Grande. Vai ser apresentado, em próximo postem,  como o grã-tabanqueiro nº 782.



1. Mensagem de António Cunha (Tony),. nosso camarada da diáspora nos EUA (*)


Date: segunda, 3/12/2018 à(s) 01:20
Subject: 38ª Compendia de Commandos
Caro Luis Graça

Tenho recebido os seus blogues em e-mail, e leio-os, sempre, com avidez. Obrigado pela assiduidade.

Na passada quinta-feira, foi apresentado um livro editado acerca da 38ª Companhia de Comandos. O coração  "apertou" imediatamente. (**)

Não sendo eu um Comando, nem parte da Trigésima Oitava, esta Companhia foi-me sempre muito querida, porque, em parte, fiz parte dela.
Capa do livro 

Quando eles chegaram a Bissau, o Furriel Enfermeiro da Companhia, o Rogério (se não estou em
erro), foi para o Hospital Militar tirar um curso rápido de sangue. Eu fui "encomendado" para o ir substituir na Trigésima Oitava, enquanto o curso durava.

No dia em que cheguei, tinha a Companhia sofrida a primeira casualidade que, creio, consta no livro: o soldado que, a limpar a arma, tinha fatalmente disparado a única bala de que se tinha esquecido na câmara e atingiu o companheiro.

Nessa Companhia fiz de todos amigos, especialmente o Simão (enorme de corpo e de coração), o Pignatelli (com quem várias vezes fui jantar às "Libanesas") e, inclusivamente, o (na altura) Capitão Pinto Ferreira (que sempre me tratou com muita consideração).

Quando a Companhia sofreu o primeiro grande ataque no mato, na Mata do Morés, fui com a CC 11 recebê-los, creio que em Mansabá. Foi quando vesti pela primeira vez na minha comissão a farda camuflada, surpreendendo todos quando me apresentei.

Depois do IAO, o Furriel Enfermeiro não quis trocar comigo e voltei para o Hospital Militar, tendo sido enviado a dar instrução ao Batalhão de Caçadores 4514, em Bolama, e, quando de volta, fui "enviado" até ao fim da minha comissão para Bedanda, para a CCaç 6, onde as coisas estavam bem "quentes", e onde fiquei conhecido como "Furrié Mezinho Djaló".

Quanto ao livro publicado acerca da Trigésima Oitava, seria possível indicar-me como o posso adquirir? Não creio que seja "exclusivo" para Comandos, mas se for, por favor envie (creio que deve ter o e-mail) este e-mail ao coronel Pinto Ferreira (creio ter lido ser este o posto corrente), com o requerimento de um livro, da parte do Furriel Enfermeiro Cunha. A morada está na assinatura.

Uma vez mais, obrigado pelo entusiasmo na distribuição de notícias de todas as Tabancas. Há tantos anos fora de Portugal, todas as notícias relacionadas com aqueles tempos são sempre avidamente lidas.

Cumprimentos fraternais,

António Cunha (Tony)

2. Resposta do nosso editor LG, com data de 5 do corrente:


Tony: Obrigado pelo teu contacto!...Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, à boa maneira romana... Quero, antes de mais, convidar-te para integrar esta grande comunidade virtual, a Tabanca Grande, já com 781 membros (70, infelizmente já falecidos) em menos de 15 anos... Como já há um António Cunha, tu serás o António Cunha (Tony), tal como te conhecem nos Estados U nidos.

Quanto ao teu pedido, vou já encaminhá-lo para a pessoa certa, o camarada o ex-1º cabo 'comando' Amílcar Mendes, da 38ª CCmds... E se não te importares gostava de publicar a tua mensagem. Se me mandares duas fotos (, uma do antigamente e outra atual), com uma pequena apresentação (sou fulano de tal, assim assim...), passas a ser o camarada nº 782 a sentar-se à sombra do nosso mágico e fraterno poilão...

Bom Natal, mas até lá quero mais notícias tuas. Luís Graça

PS1  - Temos malta do teu tempo, em Mansoa (38 CCdms,  CAOP 1) e depois em Bedanda (CCAÇ 6), bem como do Hospital Militar de Bissau (HM 241) ... que vais gostar de reencontrar e recordar. O batalhão a que deste formação, em Bolama,  deve ser  o BCAÇ 4514/72, que esteve em Cadique (1973/74).

PS 2 - A "CC 11" que referes, não pode ser a 11ª CCmds (, que esteve em Angola, de 1967 a 1969). Devia ser uma companhia africana, talvez a CCAÇ 13 (Bissorã), a CCAÇ 15 (Mansoa) ou CCAÇ 16 (Bachile). A CART 11 / CCAÇ 11 estava na região de Gabu. A minha CCAÇ 12 estava no setor L1 (Bambadinca). A CCAÇ 14 devia estar em Cuntima, Farim.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 29 de outubro de 2018 > Guiné 61/74 - P19147: O nosso livro de visitas (197): Conheci em Angola o cap inf António Jacques Favre Castel-Branco Ferreira, ex-cmdt da CCAÇ 2316 / BCAÇ 2835, que passou por Guileje (1968/69) e que esteve prisioneiro na Índia (1961/62), tendo falecido em 2014 (Fernando Sousa Ribeiro, ex-alf mil, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3380, 1972/74)

(**) Vd. poste de 28 de novembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19243: Notas de leitura (1125): 38.ª COMPANHIA DE COMANDOS "Os Leopardos" - A História, coordenação de João Lucas (Belarmino Sardinha)

Guiné 61/74 - P19281: Historiografia da presença portuguesa em África (140): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
No mesmo ano em que o padre Dias Dinis começava a dar à estampa este seu trabalho sobre as etnias guineenses, surgia o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa e a sua publicação de referência, o Boletim Cultural, ainda hoje de consulta obrigatória. Foi a partir dessa data, por incentivo de Teixeira da Mota, que os funcionários coloniais começaram a publicar trabalhos monográficos sobre as diferentes etnias, assim se abria a via para um certo desabrochamento em período colonial das investigações em antropologia, etnologia e etnografia. Isto para sublinhar que este franciscano, padre Dias Dinis, vem de outro tempo de leituras e observação, seria lastimável deixar no olvido uma tão ternurenta expressão pelo deslumbramento do mosaico étnico guineense.
É o que aqui pretendemos fazer.

Um abraço do
Mário


As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (2)

Beja Santos

O trabalho do franciscano padre Dias Dinis foi publicado em “Portugal em África, Revista de Cultura Missionária”, com datas de 1946 e 1947, constitui um meritório esforço para a análise, com recursos parcos das ciências sociais e humanas do tempo, das etnias da Guiné Portuguesa. No texto anterior, fizeram-se referências a Felupes, Baiotes, Banhuns, Cassangas e aos Balantas. Vejamos seguidamente os Manjacos e Mandingas.

Os Manjacos habitam a região de entre os rios Cacheu e Mansoa até à Costa de Baixo e as ilhas de Pecixe e Jata, território dos Brames, segundo André Alvares Almada. O padre Marcelino Marques de Barros faz derivar os Manjacos dos Papéis. Sem dúvida, Brames, Papéis e Manjacos mantêm afinidades etnográficas e linguísticas, que podem ter brotado de cruzamentos havidos durante séculos. Papéis e Brames são inimigos há dezenas de anos, com rixas frequentes e sanguinolentas na sua história mais recente, o que pode denunciar protesto dos Brames contra o predomínio político dos Papéis na ilha de Bissau, de onde os Brames foram escorraçados.

O autor trata os Mandingas como uma das etnias mais vetustas, habitavam as regiões de Farim, Oio e Pecixe. O berço desta etnia é situado pelos historiadores no Alto Níger, onde vivia o seu Chefe ou Mansa. Na primeira metade do século XIII, o Mansa de nome Sun-Diata conseguira estender a hegemonia dos Mandingas do Mali por grande parte dos territórios circunvizinhos, caso dos Jalofos e a Gâmbia. O apogeu do Império Mali aparece situado em meados do século XIV. O Mansa achava-se em contacto com os sultões brancos da África do Norte. O império estava dividido em províncias e cantões, administrados por governadores e lugares-tenentes, esta informação foi prestado pelo geógrafo árabe Ibn Batuta. Zurara fala no Império de Méli. Aos Mandingas da Gâmbia se referem Cadamosto e Martinho da Boémia. Mas as notícias mais extensas e precisas foram-nos transmitidas por Valentim Fernandes. André Álvares de Almada alude aos Mandingas em vários capítulos da sua obra, assim circunscrevendo o reino: “Este reino dos Mandingas é mui grande, porque corre por este rio (Gâmbia) acima mais de duzentas léguas. E está povoado todo de gente, de uma banda e da outra. Pela banda do Norte, se mete muitas léguas pelo sertão até partir com os Jalofos, e quase que estão todos de mistura. E, pela banda do Nordeste, vai por cima dar na terra dos Beafares (Biafadas), como se dirá; e, pela banda de Leste, vai partir com os Cassangas e Banhuns”. Almada assevera que estes indígenas formavam muro por cima dos Cassangas e demais tribos do além-Cacheu e estendiam-se por Goli, povoação das margens do Geba (Porto Gole), até à região dos Beafadas. A zona dos Mandingas ter-se-á alargado, portanto, durante o século XVI, para a região de Mansoa e até às margens do estuário comum aos rios Geba e Corubal.

Passemos agora em revista o que Dias Dinis descreve sobre os Papéis, os Brames e os Biafadas.

Não há qualquer referência aos Papéis nem em Valentim Fernandes nem em Duarte Pacheco Pereira, a primeira referência data de 1573, foi de Luís del Caravaial Mármol, o qual, depois de falar do rio Cacheu, escreve: “A Província que segue é a dos Papéis, onde nasce um outro grande rio, que eles chamam das Ilhetas, por causa de duas pequenas ilhas povoadas de negros, que se encontram na sua foz”. O rio em questão é o Mansoa. Aparecem pois localizados entre o Geba e a ilha de Bissau, viveriam predominantemente aqui. Trocavam com os portugueses diferentes mercadorias, como ouro, escravos e presas de elefante; os portugueses levavam cavalos, contas, manilhas e panos. Diz Valentim Fernandes que chegaram a dar 14 escravos por um cavalo. Diz o padre franciscano (atenção, escreveu o seu documento em 1946) que o Papel é a única etnia guineense a estimar a carne de cão como alimento. Segundo ele, na ilha de Bissau trocavam um bom porco por um cão magro, para o comer, “segundo ali me informou um velho colono”. Os Papéis estariam dispersos pela ilha de Bissau, pelas imediações da vila de Cacheu, onde seriam tratados por Papéis do Churo.

Quanto aos Buramos ou Brames ou Mancanhas, distribuíam-se pelos regulados de Bula, Có e Jol, entre os rios Mansoa e Cacheu. São mencionados pela primeira vez na obra de Almada. Por não se venderem como escravos, explica este autor cabo-verdiano, cresceram muito, numericamente, e passaram-se para a margem esquerda do mesmo rio, acantonados na região de Putama. Mais tarde os Brames espalharam-se por toda a região entre os rios de Cacheu e Geba. O padre Marcelino Marques de Barros di-los subdivisão dos Banhuns. Seria interessante apurar-se esta afirmação, observa o autor. André Alvares de Almada descreve os seus usos e costumes, e com grande vivacidade. Que viviam em casas de taipa como as de Casamansa; descreve a indumentária daqueles que viviam na Corte dos régulos enquanto no sertão andavam nus. E adianta que os Brames eram bons e serviçais escravos. Homens e mulheres limavam os dentes. Para estas não serem «palreiras nem comilonas», logo de manhã metiam na boca um pouco de cinza e traziam-na até ao jantar, para não falarem nem comerem. Davam-se bem com os Portugueses, entregavam-lhes escravos, cera e marfim e recebiam camisas, calçado e alimentos.

Os Biafadas habitam a região de Quínara, entre os rios Geba e Buba. Almada refere-se bastante à terra dos Biafadas pelo ativo comércio que nela se desenvolvia, principalmente nas povoações de Guinala, Bolola e Buba, grafada também por Buguba e Biguba. Habitavam assim a região de Quínara. É minucioso e dá-nos muitas informações sobre os reis e o cerimonial da sua morte, as práticas de justiça, o modo do apuramento da verdade, que eram ladrões e vadios, que semeavam pouco e vestiam camisas compridas. Os Biafadas estavam sujeitos ao Farim-Cabo, Mandinga. O seu modo de habitação era peculiar, não viviam em aldeamentos mas em casas isoladas. Em Babel Negra, Landerset Simões diz dos Beafadas: “Imigrado em data impossível de precisar, por força da expansão que a certa altura tomou os Mandingas a que pertence (Djola), o seu contacto com os Papéis vem de longe e hoje ele próprio o tem por parente”. Segundo o missionário, julgava-se que do facto da aturada convivência dos Beafadas com os Mandingas se ter deduzido erradamente o parentesco. O professor Mendes Correia asseverava haver algumas leves afinidades linguísticas entre Biafadas e Manjacos. Parece ser de aceitar a observação do padre Marcelino Marques de Barros, diz o autor, que os Biafadas eram parentes próximos dos Cassangas.

Iremos prosseguir esta descrição das etnias falando dos Bijagós, dos Nalus, Fulas e Futa-Fulas, e ouviremos as confissões deste missionário que investigou com tanto empolgamento etnias da Guiné-Bissau.

(Continua)

Imagem retirada do livro “Guiné Portuguesa”, Luís António de Carvalho Viegas, 1936.

Imagem retirada do livro “Estudos, Ensaios e Documentos, Acerca da casa e do Povoamento da Guiné”, Francisco Tenreiro, 1950. A fotografia é do professor Orlando Ribeiro, que visitou a Guiné em 1947.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19260: Historiografia da presença portuguesa em África (138): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (1) (Mário Beja Santos)