sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20205: Notas de leitura (1223): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (26) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
A BVAC 490 retirou da ilha do Como, vem bastante mal tratada, fica em Bissau até partir para Farim e redondezas, em maio.
Era incontornável a referência a Armor Pires Mota, um diarista do Como, a ele nos iremos socorrer nas etapas seguintes.
Mas ao sair do Sul havia uma referência, brejeira e burlesca, inescapável, saída da pena de um grande escritor, José Martins Garcia, aquele alferes miliciano que deixou um romance brilhante "Lugar de massacre", continuamente a ser estudado em instâncias universitárias.
Tudo se passa entre Catió e o Cachil, e por vezes as fraquezas dos homens até permitem ir à procura de um responsável inexistente...

Um abraço do
Mário


Missão cumprida… e a que vamos cumprindo (26)

Beja Santos

“Todo o pessoal louvado,
pouco tempo descansámos.
Noutra saída, novamente
para Farim abalámos.

De novo metidos ao mar
no Vouga, Lanchas e Dragão,
todo o nosso Batalhão
irá ao cais atracar.
Vamos nós aquartelar
no quartel amuralhado.
Onde o Batalhão é formado, havendo grande reunião
e pelo Comandante da operação
todo o pessoal é louvado.

Em Bissau a passear,
para ver as matulonas
mas elas são tão mazonas
que à tropa não querem ligar.
Levando o tempo a andar,
as solas dos sapatos estragamos.
Muitas vezes chegámos
a faltar à comida.
Com esta tão boa vida,
pouco tempo descansámos.

Os médicos inspeccionaram
para ver os que estavam capazes.
Tivemos muitos rapazes
que para a guerra não abalaram.
Eu fui um dos que cá ficaram
junto a quem estava doente,
pois ficou cá muita gente,
que estava muito mal,
mas quase todo o pessoal
noutra saída, novamente.

Ao mês de Maio se chegou
e os batelões foram carregar.
Com os rebocadores a puxar,
pelo mar se navegou.
Muitos dias se demorou
porque grande carrada levámos.
Para muito tempo nos destinamos,
enfrentando sempre a morte,
e ansiosos por melhor sorte,
para Farim abalámos.”

********************

Vamos despedir-nos em grande dessa batalha do Como, temos um vate, um cronista, um diarista que por ali andou e deixou páginas de indelével impressão. Trata-se do “Tarrafo”, de Armor Pires Mota. Logo no Como, em 15 de janeiro:  
“Quando o sol, suavemente, se aconchegou vermelho no seio verde e agitado das ondas do mar, a distância que nos separava da ilha tão falada, era pouca, a indispensável para não quebrar a surpresa. E o barco ancorou, durante a noite estrelada, ao sul. Em cada rosto, em cada palavra, havia a incerteza do dia seguinte e o perigo do desembarque, pois há tempos que a tropa não punha ali os pés (…). E fez-se a noite do primeiro dia, escura e cheia de medos e fantasmas. Qualquer folha ou fruto caindo das árvores ou bulindo no chão, qualquer sapo saltitando, caindo no abrigo, lembrava um passo estranho que arrepiava. Em frente, na mata, separada de nós por uma pequena bolanha encharcada, duas ou três fogueiras crepitavam cinicamente.”

No mês seguinte, 8 de fevereiro, deixa estas considerações no seu diário: 
“A manhã correra bem. Os bandidos foram levados de rompão na tabanca grande de Cauane. E de lá trouxemos um crucifixo, cujo Cristo tinha um braço despregado. Uma explosão súbita de granada atroou os ares. Que seria, que não seria? Mas, logo, gritos de dor magoaram os ouvidos. Era o Quítalo que, alucinado, corria, a manquejar, gemendo, rosto mascarado de sangue e lama, peito ensanguentado e sem uma das mãos, enquanto a outra apresentava apenas dois dedos esfacelados. Correram a ampará-lo. Parecia uma visão terrível, um homem de calvário. A armadilha, que ele costumava montar todas as tardes para os terroristas, hoje, traiu-o, disparando-se-lhe nas mãos. Junto do buraco aberto pela explosão, pedaços de carne, terra avermelhada de sangue, uma alpercata desfeita, e, mais ao largo, o barrete e farrapos da farda”.

Armor Pires Mota
Estamos a 24 de fevereiro, regista o seguinte queixume:
“Há quarenta dias que o mundo para nós é incerteza da hora seguinte a devorar-nos a fronte atormentada. O mundo para nós é de luta, uma terra de sangue e fogo. Há refeições em branco, porque nada apetece senão a paz, o regresso. Há pesadelos e estonteamentos, cansaço. Uma grande parte da tropa está já inoperacional”.

O último texto do Como data de 15 de março:  
“A guerra esconde-nos as estrelas e faz-nos selvagens. Um tecto feito de troncos de palmeira, coberto de meio metro de terra, pesa, dói-me e sinto-me um condenado num exílio. Enfim, um abrigo à prova de morteiro, porque, de vez em quando, eles nos pregam uns sustos valentes. Tem 60 dias o meu abrigo. Da seteira larga olho, apreensivo, o dia seguinte, a mata densa e cheia de segredos”.
Nesse domingo houvera missa ao cair da noite, e ele despede-se dizendo: “Deus desceu à guerra para a paz”.
Só retomará o seu diário no mês de maio.

É importante voltar à história da unidade, sabemos que o BCAV 490 veio do Como em muito mau estado, estadeou em Bissau, cabe-lhe a partir de maio, com sede em Farim, proteger eixos como Cambajú – Sitató – Cuntima ou Canhamina – Canjabari – Junbembem. As atividades do PAIGC tinham-se alargado, excediam largamente o Oio. Ao BCAV 490 caberá a ocupação territorial da área da sua responsabilidade, irá mover-se entre Barro – Bigene – Farim – Cuntima, ocupando posições em Jumbembem e Cuntima, Binta, Bigene, Barro e Guidage. A seu tempo voltaremos a “Tarrafo”, de Armor Pires Mota. Iremos é despedir-nos da região Sul e nomeadamente de Cachil, o tal aquartelamento onde se posicionaram forças portuguesas depois da batalha do Como.

Temos à nossa disposição um importante escritor, José Martins Garcia, de um dos contos de “Morrer devagar”, de 1979, há para ali notáveis parágrafos brejeiros, onde o vitríolo mais mordaz é prática frequente:
“Na vila de Catió, lá para o Sul, onde a mosquitagem crescia delirante na estação das chuvas, o Batalhão de Caçadores tinha agora novo comandante, o Tenente-Coronel Galvão, um ser tratável, quase bondoso, um tanto sentimental, um tudo-nada neurasténico antes de se lançar nos uísques. O antigo comandante, o insuportável Tenente-Coronel Barradas, cuja paranoia crescera na proporção directa do entupimento dos tímpanos, havia sido afastado do activo, finalmente. E não deixara saudades aos militares nem aos civis respeitáveis do burgo.
Respeitáveis civis em escasso número, acrescente-se. Havia um comerciante transmontano, o único civil português totalmente branco da vila, o Barreiros, pequenino e rijo como um ouriço, que vendia arroz, aliás vianda, e amendoim, aliás mancarra, mais peixe seco e pano para blusas, saias e calções, e também vinho, aguardente e mistelas exóticas. (…) Os Fulas viviam quase todos em Priame, a um quilómetro de distância, sob autoridade feudal de João Bacar Jaló, Alferes de segunda linha do Exército Português. Os Nalus haviam desertado na totalidade. Só os Balantas adornavam as tardes rápidas de Catió, caindo bêbados de aguardente de cana e elevando ao crepúsculo uns risos lamentosos que os cães vadios, sarnosos, chagados, seguiam uivando horas a fio.

José Martins Garcia
No começo da guerra, em 1963, ordens e contraordens haviam produzido em Catió desusados movimentos de ida e volta. Um estratega iluminado decidira-se pela ocupação minuciosa das redondezas, fragmentando o batalhão, dispersando as companhias, fragmentando companhias, dispersando os pelotões, fragmentando pelotões, dispersando secções. O resultado foi desastroso, pois todas as ligações se mostravam extremamente complicadas, tanto por via rádio, como por via terrestre ou marítima, sucedendo-se às minas as emboscadas e às emboscadas as flagelações, com abundantes morteiradas alta noite. Confirmada a inoperância do iluminado estratega, logo lhe sucedeu um comandante de ideias diametralmente opostas, o qual, para demonstrar que a união faz a força, mandou recolher a Catió, com armas e bagagens, o batalhão que o antecessor havia disseminado. (…) Em Catió, onde os ataques nocturnos foram, por alguns anos, relativamente escassos, ouviam-se muito bem os rebentamentos das morteiradas vizinhas, desferidas contra Bedanda, Cachil, Ganjola e, mais raramente, Priame, ali mesmo ao fim da recta de um quilómetro, onde João Bacar Jaló, senhor de muita mancarra e de sete mulheres, valia, com a milícia Fula, por um exército inteiro. (…) O ataque à ilha de Como, onde posteriormente se instalaria a chamada Companhia do Cachil, nunca foi registado por cronistas. (…) O Cachil erguera-se, porém, nas imaginações. No passado recente, quando o surdo Tenente-Coronel Barreiros comandava o batalhão de Catió, a ameaça que mais insistentemente se lhe desprendia da boca era:
- Olha lá, ó militar! Queres ir prò Cachil?... 
Depois, quando o convivente Tenente-Coronel Galvão tomou conta daquela recalcada guarnição, logo um problema bicudo lhe veio pousar sobre a secretária: o Capitão Lourenço, comandante da companhia do Cachil, fora declarado incapaz para qualquer serviço militar, por conjugação de questões pulmonares com uma psicose verdadeiramente depressiva. (…)

Do Cachil não vinham nem bons ventos nem bons hóspedes, nem sequer boas notícias. A última irregularidade cometida por essas bandas rezava da alquimia operada no interior de um barril, cujo conteúdo vínico se revelara água, diante dos olhos crédulos e incrédulos. O comandante Galvão abominava as pequenas trapaças. E, por pensar em reabastecimentos, fez-lhe espécie, pela primeira vez, o facto de o Capitão Clemente, oficial de cavalaria, se ter enconchado na manutenção, superintendendo na batata, no vinho, no arroz, no bacalhau, como se fosse um desses da Administração, um ‘padeiro’. O Capitão Clemente empalideceu quando soube da decisão do Tenente-Coronel Galvão: mandá-lo para o Cachil, na qualidade de comandante interino da companhia, encarregando-o, ao mesmo tempo, mui honrosamente, de apurar a verdade acerca da transformação do vinho em água, alquimia tanto mais escandalosa quanto invertia a regra dos Evangelhos.

- Mas, meu comandante – gaguejou o Capitão Clemente – , logo agora, que a minha mulher veio para cá…
- Mas você fica lá só uns dias, homem! Há meses que não se ouve um tiro para aquelas bandas…
O Capitão Clemente partiu desmoralizado e começou a portar-se mal diante da escolta que o acompanhou ao cais, chegando ao ponto de gemer de voz embargada:
- Agora é que não torno a ver a minha mulher nem os meus filhos.

(…) O jantar foi servido ao ar livre, sob um poilão gigantesco. As escassas lâmpadas, tão débeis como o rumorejar irregular da geradora eléctrica, mais concentravam do que dispersavam os temores. (…) Mais tarde, quando deu as boas noites aos alferes e se fechou no quarto, voltaram-lhe à memória as fábulas incertas, tão incertas quanto divulgadas em terras da Guiné: dezenas de mortos e feridos, a cavalaria a atolar-se, a artilharia a esquivar-se, a infantaria a imolar-se. Tudo por uma questão de estratégia, ou por falta dela, na sinistra ilha do Como. (…) O Capitão Clemente começou a sentir dores de barriga. Tinha medo, é certo; mas a causa daquelas cólicas devia ser o mau estado do jantar: uns feijões embrulhados em farrapos de carne duvidosa… E era evidentemente um atentado à dignidade de um capitão não terem construído uma retrete, que diabo!, ali ao lado, uma retrete privativa, porque, se não há distinção entre o comandante e os subordinados, está em crise a hierarquia, a autoridade, a civilização…
O capitão Clemente dormiu pessimamente, revolvendo-se na cama dura, sentindo-se atolar na água negra do canal. Muito cedo, a passarada desatou a chilrear. O Sol, finalmente, viria trazer-lhe um pouco de alento, depois do horrível negrume daquela noite memorável.
O capitão Clemente espreitou por uma nesga da porta e avistou a sentinela. Com um berro indignado, onde perpassavam a aspereza e o peso do comando, mandou que o militar se aproximasse: - Entra, que temos de conversar!
O soldado mal abria os olhinhos atordoados, pois acabara de render um camarada:
- Estás a ver aquilo, pá!
Hirto, solene, o Capitão Clemente apontava um canto do quarto onde alguns cagalhões se cavalgavam.
- Põe-te em sentido! – uivou a indignação do bravo Capitão Clemente.
O soldado obedeceu, boquiaberto.
- E agora – rematou o bravo capitão, mais que fera – responde! Quem foi o filho da puta que fez uma coisa destas?”.

(continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 27 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20183: Notas de leitura (1221): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (25) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20190: Notas de leitura (1222): História das Tropas Pára-Quedistas Volume IV, é dedicado à Guiné e tem como título História do Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º 12; responsável pela redação e pesquisa Tenente-Coronel Luís António Martinho Grão; edição do Corpo de Tropas Paraquedistas, 1987 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20204: A Guiné-Bissau, hoje: factos e números (1): população e morbimortalidade; etnias, idiomas e religiões; doenças sexualmente transmissíveis



1. Infelizmente, os problemas de saúde materno-infantil e de saúde sexual e reprodutiva, hoje, na Guiné-Bissau (, país que amamos e onde temos amigos, ) continuam a ser muito graves...  

Há progressos, mas estamos ainda longe de ter os indicadores de saúde que desejaríamos para o povo da Guiné-Bissau, e que os guineenses merecem ter. O seu perfil sociodemográfico deve ser melhor conhecido, até porque alguns de nós continuam a lá ir com alguma frequência e/ou estão ligados a organizações não-governamentais que cooperam com a Guiné-Bissau, em diversos domínios, da saúde à educação.

De resto, a Guiné-Bissau integra, desde 1996, a CPLP -Comunidade de Países de Língua Portuguesa. E o nosso blogue tem como missão também construir pontes entre Portugal e a Guiné-Bissau.

Recentemente estivemos a ler o relatório da CPLP abaixo citado. Tem dados interessantes sobre a Guiné-Bissau e os estados-membros da CPLP.  Está escrito em português do Brasil: por exemplo, "fulani" em vez de fula, "soropositivo" em vez de seropositivo, "testagem" em vez de rastreio ou despiste... É, em todo o caso, um diagnóstico que tem muito  mérito, embora eventualmente  se ressinta do escasso tempo em que foi realizado o trabalho de campo, confinado a Bissau, e feito em menos de 4 dias, de 24 e 27 de agosto de 2015.  A autora do relatório é a Profª. Dra. Helena Maria Medeiros Lima, Pós Doutorada em Educação - Psicologia da Educação,  Bióloga e Doutora em Saúde Pública,  Psicóloga e Mestre em Psicologia Social.

Vamos reproduzir, aqui, com a devida vénia,  alguns excertos, dando início a esta nova série, "Guiné-Bissau, hoje: factos e números".

O relatório sobre a Guiné-Bissau corresponde ao capítulo 4 (da pag. 272 à pag. 337) do relatório final.

 Fonte:  Helena M. M. Lima - Diagnóstico Situacional sobre a Implementação da Recomendação da Opção B+, da Transmissão Vertical do VIH e da Sífilis Congênita,  no âmbito da Comunidade de Países de Língua Portuguesa- CPLP: Relatório final, volume único,  dezembro de 2016, revisto em abril de 2018. CPLP -  Comunidade de Países de Língua Portuguesa,  2018 [documento em formato pdf,  643 pp. Disponível em:  https://www.cplp.org/id-4879.aspx]


(i) População e morbimortalidade:

A população total da Guiné Bissau é estimada em 1.852.284 habitantes, sendo 895.836 (49,5%) de homens e 911 588 (50,4%) de mulheres. É uma população considerada jovem, com média de idade de 19,9 anos, sendo homens: 19.4 anos e mulheres: 20.4 anos.

É uma população constituída por 64% de pessoas com menos de 25 anos, sendo a expectativa de vida ao nascimento é de 50.23 anos, sendo 48,21 para os homens e 52,31 para as mulheres.

A baixa esperança média  de vida tem a ver com  a alta mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias diversas, decorrentes tanto da escassez de alimentação como falta de condições de saneamento básico.

Em relação às Infecções Sexualmente Transmissíveis e a SIDA [, no Brasill, Aids], os homens têm maior letalidade, uma vez que não procuram os serviços de saúde (mesmo que solicitados a realizar testes e exames), e quando chegam ao médico, já apresentam quadros graves e de difícil tratamento medicamentos.

 (...) Cerca de 49,3% da população total de Guiné Bissau é urbana, sendo que as mulheres representam mais da metade da população (cerca de 51%),  e a taxa de fecundidade é considerada relativamente alta (4,23 crianças por mulher).

A taxa de contraceção [, uso de meios contracetivos], de 14,2% , é considerada baixa. A fecundidade, especialmente feminina, é um valor cultural intrínseco, e não ter filhos ou ter poucos filhos não é bem valorizado pelas famílias. Há relatos e estudos que afirmam que muitas mulheres fazem uso de métodos anticoncepcionais escondidas dos respectivos parceiros.

A mortalidade infantil teve patamares de 200 crianças mortas por cada 1.000 habitantes em 2005, despertando fortes reações sociais. Atualmente está estimada em 89,21 mortes/1000 nascidos vivos, e mesmo assim é o 5º país do mundo em mortalidade infantil.

A taxa de mortalidade materna é bastante elevada, sendo a 7ª no mundo, com 749 mortes/ 100 mil partos.

(ii)  Etnias, idiomas e religiões:

São pelo menos dez grupos étnicos a compor a população guineense, estimadas as seguintes proporções: Fula 28.5%, Balanta 22.5%, Mandinga 14.7%, Papel 9.1%, Manjaco 8.3%, Beafada 3.5%, Mancanha 3.1%, Bijagó 2.1%, Felupe 1.7%, Mansoanca 1.4%, Balanta Mané 1%.

Essa marcada diversidade étnica tem reflexos na linguagem, especialmente nos idiomas, e na cultura, em relação aos diversos e arraigados hábitos das etnias.

Em relação aos idiomas, o mais prevalente é o Crioulo, falado por cerca de 90.4% da população. O segundo idioma mais falado, sendo também idioma oficial da Guiné Bissau, é o Português, falado por cerca de 27.1%, seguido pelo Francês 5.1%, Inglês 2.9%.

A religião predominante é a Muçulmana: 45.1% [44,7%] da população; depois vem o Cristianismo com 22.1% [25,4%], os Animistas 14.9% [23,9%], e os cristãos evangélicos, com 5,8%.

A poligamia é legalizada, e o homem pode ter até quatro esposas, desde que possa sustentá-las. Os valores muçulmanos de não-aceitação da homossexualidade, do não-uso de drogas, de submissão da mulher e da condição de dependência financeira que as esposas ficam dos respectivos maridos precisam ser trabalhados tanto no setor preventivo como no âmbito da assistência em saúde pública e direitos reprodutivos, pois são valores que estão presentes na população junto a outras tantas influências culturais e religiosas e que podem, ao proibir e punir, abrir espaços de vulnerabilidade específica que precisam ser compreendidos e trabalhados.


(iii)  Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST)

As Doenças Sexualmente Transmissíveis, segundo gestores e profissionais de saúde entrevistados, estão prevalentes em Guiné Bissau, sem, contudo, uma estatística específica.

As doenças mais prevalentes seriam o corrimento [, gonorreia ou blenorragia,] entre as mulheres, em particular mulheres jovens.

Em 2015 foram identificados e tratados 500 casos de DST,  porém não há notificação oficial sobre rastreio e tratamento das DST.

O dado mais recente em relação à sífilis é a estimativa que, dentre 5.666 mulheres grávidas testadas em consulta  pré-natal, 123 tiveram serologia positiva, ou seja, uma taxa de 2,1% . Mas não há notificação obrigatória da sífilis, e não há dados noutras outras populações.

A rastreio da sífilis é realizada durante a consulta pré-natal, porém há rupturas de estoques de testes, poucos testes disponíveis e dificuldades diversas em se obter a penicilina para o tratamento preconizado.

  (Continua)

Guiné 61/74 - P20203: Parabéns a você (1689): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 (Guiné, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apontador de Armas Pesadas da CART 2732 (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20198: Parabéns a você (1688): Cor Inf Ref Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74) e Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1970/72)

quinta-feira, 3 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20202: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte II: recruta no RI 5, Caldas da Rainha, na 5ª companhia, comandada pelo ten inf Vasco Lourenço

RECORDAÇÕES E DESABAFOS DE UM ARTILHEIRO > Parte II:  recruta no RI 5, Caldas da Rainha, na 5ª companhia, comandada pelo ten inf Vasco Lourenço

por Domingos Robalo (*)



[, Foto à esquerda: Domingos Robalo:

(i)  tem página no Facebook desde março de 2009 e administra também o grupo Artilharia de Campanha na Guiné-BAC1/-GAC7

(ii)  filho de militar, foi fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71; 

(iii) vive em Almada, está ligado à Universidade Sénior Dom Sancho I, de Almada, onde faz voluntariado, desde julho de 2013, como professor da disciplina de "Cultura e Arte Naval"; 

(iv) trabalhou na Lisnave: é praticante de golfe; 

(v) e passou a integrar a Tabanca Grande, com o nº 795, desde 21 de setembro último]

(Continuação)


Durante três meses e uns dias [, desde o início de janeiro de 1968] vamos aprender . [, no RI 5, Caldas da Rainha,] a “ordem unida”, o manejo da G3, fazer fogo em carreira de tiro e toda a teoria necessária e aplicável á época para se preparar um sargento para a “guerra colonial”. Mergulhar no tanque da merda, ou mesmo atravessar o cano dos esgotos sanitário era prática de alguns pelotões na recruta das Caldas, porém tenho de referir que a minha Companhia de instrução, a 5ª, não nos fez passar por estas situações.

Conhecer a hierarquia militar, a forma como no devíamos dirigir a um sargento ou a um oficial, fosse ele subalterno ou superior, fazia parte do conhecimento básico da instrução militar. Marchar bem e com garbo, manejar a arma; tudo fazia parte do nosso quotidiano.

Estou colocado na 5ª Companhia, tendo como comandante o tenente Vasco Lourenço, que em 25 de abril de 1974 viria a fazer parte do Movimento dos Capitães.

Não era um Comandante acessível. Militar oriundo da Academia Militar, chegou a castigar-me com cinco dias de detenção, embora a infração, disciplinarmente, e de acordo com o RDM, daria 3 dias de prisão. “Apenas porque me desenfiei de domingo para segunda, para poder participar no casamento de uma amiga da minha namorada que sendo Luso-Americano, obteve autorização dos seus superiores para vir dos USA casar a Portugal, mas já com guia de marcha para o Vietname." (Recordam-se do que era a guerra naquele território?). Mas isto dava outra história que agora não vem a propósito.

[Um ano depois,] em março/abril de 1969, sou mobilizado para a Província da Guiné. Dois cursos de CSM a seguir ao meu já tinham sido mobilizados e um terceiro a terminar a especialidade na EPA [Escola Prática de Artilharia], Vendas Novas. Estava com planos de casório, pois já estava na expectativa de não vir a ser mobilizado, resultado também da minha boa classificação de curso na Arma de Artilharia na especialidade de Campanha.

Lembro-me que o mundo desabou sobre os “noivos”. A guerra do Ultramar tinha este efeito devastador sobre a vida dos jovens do meu tempo. Interrompiam-se casamentos, carreiras profissionais e estudos académicos. Mas,  apesar de todos estes contratempos, a juventude dizia sim a Portugal, embora poucos ainda se questionassem sobre as motivações da guerra. 

Grande parte da juventude do meu país vivia longe das cidades, eram iletrados e muitas vezes ávidos de sair da casa dos pais onde trabalhavam de sol a sol e sem independência. Ou fugiam a salto para a Europa do pós-guerra, ou vinham à aventura da vida militar, muitos deles como voluntários, quer para a força aérea, quer para a marinha.

Cascais > Monumento aos Mortos do Ultramar > Guiné.
Foto: Cortesia do Blogue Povo de Portugal, 31/3/2016

A minha mobilização para a Guiné ocorrera para cumprir uma rendição individual de um militar que não teve oportunidade de chegar ao fim. Ia substituir o furriel miliciano Batista [,  António da Conceição Dias Baptista, natural de Murtal, São Domingos de Rana, Cascais ], que infelizmente não terminara a sua comissão no tempo normal. No dia 14 de fevereiro de 1969, morre heroicamente ao lado do seu Comandante de pelotão, o alferes Gonçalves [, José Manuel de Araújo Gonçalves, natural de Lisboa],  São vítimas de um ataque IN no aquartelamento de Guileje.

Merecem, entre muitos outros, serem aqui referidos porque o seu sacrifício resultou de um ato heroico, não por falta de discernimento ou inconsequente, mas, na sequência da intensidade do fogo IN terem querido proteger os seus soldados, todos negros e do recrutamento da Província. Ordenou o Alferes que todos se recolhessem no abrigo. O Furriel Batista manteve-se a seu lado respondendo ao fogo IN, como se de um duelo de artilharia se tratasse. Mas a má hora chegou. Uma morteirada cai sobre o ferrão do lado esquerdo do obús 10,5cm e ali morrem os dois. 

Guileje era uma povoação a sul da Província da Guiné e sobejamente conhecida de todos os militares mobilizados para esta Província Ultramarina.

A sete de maio de 1969, embarco no “Niassa” com destino a Bissau.

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20201: Efemérides (310): A libertação do meu camarada e amigo Arrifana aquando da Operação Mar Verde em Novembro de 1970 (Abel Santos, ex-Soldado At da CART 1742)

1. Mensagem do nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), com data de 29 de Setembro de 2019:

Pesquisando factos e temas sobre a passagem das nossas tropas pela Guiné Portuguesa, encontrei uma lista de nomes de prisioneiros de guerra libertados aquando da Operação Mar Verde, que decorreu no dia 22 de novembro do ano 1970 na Guiné-Conacri.

Desse grupo libertado fazia parte o meu camarada da CART 1742, António Castro Aguiar, conhecido por Arrifana, terra de onde é oriundo. O Arrifana foi feito prisioneiro, já ferido, na operação desenvolvida no Monte Siai, entre as localidades de Canjadude e o Cheche.





Foto da minha secção - Em cima da esquerda para a direita: Furriel Pontes, já falecido; 1ºs Cabos, Loura e Costa; Soldados Cruz e Abel. Em baixo: Soldados Ferreira; Silva; Miranda; Aguiar ("Arrifana") e Soares, já falecido.


Apresento foto do local do contacto com o inimigo, a 10 de Janeiro de 1968, um dia e noite complicado, mas a malta portou-se lindamente. Na manhã seguinte contabilizaram-se alguns feridos entre nós e a constatação da falta do Arrifana. Por sua vez o IN terá tido algumas baixas.

Mais tarde, através da rádio, num comunicado do PAIGC, ficamos a saber que o Arrifana tinha sido feito prisioneiro e que se encontrava ferido nas costas e no pescoço.


Região do Siai - Local onde o Aguiar foi capturado - Infogravura do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Lista dos prisioneiros libertados na Operação Mar Verde - Editada por CV



Depois da sua libertação foi para o Hospital Militar 241 para devida avaliação clínica, visto ser um prisioneiro que tinha sido ferido, onde permaneceu algum tempo, só chegando a Portugal a 26 de novembro de 1971. Passou ainda pela PIDE, onde esteve retido para prestar declarações.

Tive a felicidade de ver a sua chegada em direto, através da televisão, foi uma alegria indiscritível reencontrar o Aguiar, ele fazia parte do meu grupo de combate e da minha secção, e daí a minha enorme satisfação de o ver de novo entre nós.

Leça da Palmeira, 2014 - Convívio da CART 1742 - Abel, Aguiar ("Arrifana") e Ex-Alf Mil Magalhães

Leça da Palmeira, 2014 - Convívio da CART 1742 - Abel, Aguiar ("Arrifana") e ex-Alf Mil Magalhães

Termino enviando a todos um grande abraço, e aos que já partiram que descansem em paz.
Ao autor da lista os meus agradecimentos.
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Nota do editor:

Último poste da série de 21 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19999: Efemérides (309): Há 50 anos o homem chegava à lua... e eu ia caminho de Bissau, num "barco turra" que parou, no Geba Estreito, com uma avaria...Valeu-nos o proverbial "desenrascanço tuga"... Viagem inesquecível até ao fim da minha vida! (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)

Guiné 61/74 - P20200: Agenda cultural (704): lançamento de livro de João Cabral Pinto, "Guerra na Pele – As tatuagens da guerra colonial"... Data: próximo dia 26 de outubro; local: Biblioteca Natália Correia, Rua do Rio Cávado 3, em Carnide, Lisboa.


Capa do livro "Guerra na Pele – As tatuagens da guerra colonial", de João Cabral Pinto,
conceção gráfica de Mário Pais, ediçao de autor, 2019.




1. Mensagem do nosso leitor João Cabral Pinto;

De: Joao Cabral Pinto <jcabralpinto@hotmail.com>

DatA_: quarta, 2/10/2019 à(s) 11:05

Assunti: Convite para lançamento de livro «Guerra na Pele – As tatuagens da guerra colonial»



Ex.mos Srs. [Editores]

Tenho o maior prazer em convidar V. Exas para o lançamento e apresentação do meu livro, evento que se vai realizar em duas datas e locais diferentes:

(i) Lançamento: dia 26 de outubro às16H, na Biblioteca Natália Correia - Carnide, Rua do Rio Cávado, Lisboa

(ii) Apresentação: dia 24 de novembro, às 16H, na Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, na Ericeira.

Muito obrigado,

Com os melhores cumprimentos,

João Cabral Pinto


2. Sinopse do livro:

“Fruto da colaboração de militares veteranos, «Guerra na Pele – As tatuagens da guerra colonial» é um contributo para o estudo da tatuagem em Portugal que consiste na divulgação de um trabalho de campo de pesquisa iconográfica independente levado a cabo durante cerca de quinze anos, que teve como objectivo resgatar e preservar para memória futura um conjunto de imagens de tatuagens realizadas por militares das Forças Armadas Portuguesas durante o período da guerra colonial em África de 1961 a 1974.”

João Cabral Pinto







Lourinhã > Praia da Areia Branca > 6 de julho de 2015 > Braço tatuado de um veraneante que foi nosso camarada no TO da Guiné > Costuma passar férias na Praia da Areia Branca, já o encontrei pelo menos três vezes. Chama-se António Baraçal, "Tony", é lisboeta de gema, e trabalha ou trabalhou na EPAL. Diz que pertenceu a uma companhia de comandos. Não lhe ocorreu o nº da companhia, Esteve no TO da Guiné entre janeiro e outubro de 1974. "Fui lá fechar a guerra".

O Tony disse-me que estas tatuagens eram feitas a 4 agulhas... Não tive tempo para perceber a técnica (que não era muito apurada, a avaliar pelo traço grosso) e fazer-lhe mais perguntas... Embora simples, o padrão icónico é diferente de alguns que tenho visto: uma morança e um coqueiro erguidos numa ilhota .. Por baixo tem os dizeres: "Guiné-74 Tony". Estamos a falar do braço direito. No braço esquerdo, há apenas uma vulgaríssima tatuagem com os dizeres "Amor de pais"...




Lourinhã, 12 de agosto de 2018 > 10º encontro dos ex-combatentes do Seixal, participantes na guerra colonial > A tatuagem do João Patrício, da Areia Branca, DFA. m DFA - Deficicente das Forças Armadas (com 36,6% de deficiência)... Pertenceu à CART 1526, e foi gravemente ferido na mata do Ingoré, com uma bala alojada perto do coração... Mostrou-me a "medalha" e também a sua tatuagem.

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P20199: Controvérsias (139): As doenças sexualmente transmíveis: profilaxia e tratamento... Recordando o nosso saudoso camarada Armandino Alves (!944-2014), ex-1º cabo aux enf, CCAÇ 1589 (Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68)



Capa de uma brochura sobre higiene sexual, sem data [, 1954?],  publicada pela Direcção do Serviço de Saúde Militar, e com destino  essencialmente às praças do exército.

Reproduzida, com a devida vénia, da página da CCAÇ 3387, Escorpiões (Angola, 1971/73), mobilizada pelo RI 2  (Abrantes). bem como o excerto, abaixo ("ligeiros conselhos de higiene sexual").

Os nossos especiais agradecimentos ao Mário Ferreira da Silva, de Cacia, que criou e alimenta esta página, e a quem damos os nossos parabéns: era 1º cabo padeiro.



1. O documento aqui reproduzido é antecedido de uma pequena nota introdutória, da responsabilidade do editor da página da CCAÇ 3387:

Numa época em que um homem ainda podia ter relações sexuais sem o risco de apanhar doenças incuráveis, para as quais ainda não há qualquer hipótese de tratamento à vista [, referência  ao HIV/SIDA], o exército português, na segunda metade do século XIX [ou XX ?], tinha não apenas o cuidado de efectuar acções de sensibilização para os problemas das doenças venéreas, como também distribuía frequentemente documentação escrita, em forma de pequenas publicações num formato A5, na esperança de que os militares a lessem.

Volvidos mais de 30 anos após o término de um período em que os nossos homens eram obrigados a férias forçadas por terras distantes [, referência à guerra colonial],  vão-nos chegando verdadeiras relíquias documentais, que aqui arquivamos e damos a conhecer, após a devida conversão para um formato electrónico.

O presente documento é uma publicação da Direcção do Serviço de Saúde Militar, rigorosamente transcrito e do qual reproduzimos apenas a capa da publicação, num formato A5, tal como anteriormente dissemos.

O citado documento foi inserido em 1/7/2009, na página da CCAÇ 3387-


DIRECÇÃO DO SERVIÇO DE SAÚDE MILITAR

LIGEIROS CONSELHOS DE HIGIENE SEXUAL


Segundo pesquisa que fizemos na Porbase - Base Nacional de Dados Bibliográficos, esta brochura ou folheto,  de 2 folhas, data de 1954: 

Título Profilaxia das doenças venéreas no Exército: ligeiros conselhos de higiene sexual
Publicação: [S.l. : s.n.], 1954 ( Lisboa:  Tip. Pap. Fernandes)
Descrição física: 2 fl; 11 cm.


De qualquer modo é de registar que o exército (ou o seu serviço de saúde militar), nessa época já distante, sete anos antes do início da guerra colonial,  era muito mais pragmático e muito menos hipócrita, em matéria de prevenção  e tratamento das doenças sexualmente transmissíveis  do que a generalidade das outras instituições da sociedade portuguesa da época...

Recorde-se que a  ilegalização da prostituição e das casas de passe (ou de tolerância, ou casas toleradas, como a famosa Casa da Mariquinhas), com efeitos a partir de 1 de janeiro de 1963, foi feita pelo Decreto-Lei nº. 44579, de 19 de setembro de 1962, emanado dos Ministérios do Interior e da Saúde e Assistência, do Governo de Salazar (**).

Claro que o documento não deixa de ser misógino, diabolizando a  prostituição feminina... O médico miitar, qie terá redigido os conselhos, esqueceu-se de acrescentar que em todos os tempo a prostituição segue a tropa... Muitas mulheres que trabalhavam nas casas depasse, em 1963, terão emigrado para Angola (**)...


LEMBRA-TE:

– Que depois de teres contacto sexual com mulher é obrigatório procurares o posto antivenéreo  [PAV] da tua unidade; e deves procurá-lo dentro de 3 horas, o máximo, depois desse contacto, para tirares resultado;

– Que tens no PAV a garantia da tua saúde; e sabes que a tua saúde é o melhor capital de que dispões;


– E que, não procurando o PAV, não te desinfectando, arruínas a tua saúde para sempre, contraindo doença venérea; e depois levas para casa mal ruim que pegarás à tua mulher e que transmites a teus filhos.


FICA SABENDO:

– Que essas doenças venéreas são a blenorragia (corrimento de pus pela uretra) e que aparece alguns dias depois do contacto sexual;

– As feridas no pénis e órgãos genitais e até na boca e no ânus (cavalos duros) podem aparecer só passadas algumas semanas, e que muitas vezes se não dá pelo aparecimento, porque podem não doer; e há outras fendas no pénis (cavalos moles) que dão muitas vezes inchaços nas virilhas (as mulas).


TOMA CUIDADO:

– Com as mulheres que se dizem muito sérias e saudáveis e em geral são mais perigosas do que as outras. E procura não ter relações sexuais com mulher que tenha feridas, caroços nas virilhas ou no pescoço, rouquidão, aftas, purgação ou qualquer corrimento, que tenha as roupas manchadas, ainda que para isso te dê qualquer desculpa e que diga não ter isso importância alguma.


PROCURA:

– Fazer uma completa e boa desinfecção e para isso segue as regras que estão afixadas no PAV e assim:

– Urina com força (pois que, urinando, fazes uma boa lavagem da uretra) e baixando as roupas convenientemente utiliza o mictório,  cavalgando com a face voltada para a parede e ensaboa, com o sabão desinfectante, durante um minuto, tudo o que esteve em contacto com as partes genitais da mulher, lava bem tudo com bastante água e, a seguir, repete a lavagem com mais sabão e durante 2 a 3 minutos.

ATENÇÃO:

– Nunca te fies na experiência apregoada das praças velhas e procura sempre o PAV, nunca te esquecendo que o tens de fazer dentro de 3 horas, o máximo, pois que, mais tarde, a desinfecção já não tem efeito; e mais, sempre que tenhas qualquer suspeita de doença venérea, consulta sempre o médico da tua unidade.


[Revisão / fixação de texto para efeitos de edição no blogue: LG]


2. O nosso saudoso camarada, do Porto,  Armandino Alves (1944-2014),  ex-1º Cabo Auxiliar de Enfermagem, CCAÇ 1589 (, Beli, Fá Mandinga e Madina do Boé, 1966/68)  (*), escreveu a propósito deste documento o seguinte em 2009 (**)

(...) "Recebi o o teu e-mail e fiquei admirado com a existência do referido Livro. Nem na recruta nem no Ultramar foi distribuído tal livro ao serviço de saúde para ser entregue aos militares .

Mas pelo que depreendo deve ter sido para a Guerra de 1940/45 [, o documento é posterior, é de 1954]. E digo isto porque em 1960 [, mais exatamente em 1963] Salazar acabou com a prostituição. Isto diziam eles. Como deves saber até essa data havia as chamadas casas de tia e vários cafés especializados nisso (no Porto havia o Derby, o Royal, o Moderno e o Portuense onde elas estavam sentadas nas mesas e era só escolher)." (...)


E acrescentava sobre as práticas sanitárias da época:

(...) "Nessa altura elas possuíam um livrinho, tipo Boletim de Vacinas, onde era anotado pelo Médico o estado delas. Se fossem apanhadas pela Polícia com o livrinho com a inspecção fora da validade dava 3 anos de cadeia. No Porto essas inspecções eram feitas num anexo nas traseiras da Biblioteca Municipal do Porto .

"Ora como na teoria tinha acabado a prostituição para quê mandar editar esses opúsculos ?" (...)

E focando-se no seu tempo, enquanto militar:

(...) "A verdade é que o que existia nos postos médicos das unidades (e nem em todos) era umas caixinhas com umas bisnagas com um produto que eu nem me lembro do nome, que o soldado solicitava quando queria ir às putas, mas tinha que se anotar o nome, dia e hora a que era solicitado. Claro que ninguém ia buscar o dito tubinho.

"E foi assim que, quando a minha Companhia regressou do mato a Bissau e os soldados se sentiram livres, apareceu-me passados dias em vários soldados os sintomas da blenorragia.

Ora isto tinha que ser comunicado ao Médico que por sua vez informava o Comando da Companhia que por sua vez agraciava o infractor com cinco dias de detenção. Ora detidos já tinhamos estado nós no mato durante um ano e, como eu já sabia que o médico ia receitar Penicilina na dose mais forte, foi o tratamento que eu lhes prescrevi e para estarem na enfermaria a X horas para ser eu a aplicar as referidas injecções. Só que para meu azar um dos atingidos, por motivos de serviço não pôde estar no horário previsto e foi ter com o Cabo Enfermeiro de Dia para que lhe desse a injecção. Como ele não sabia de nada,  comunicou ao Médico,  que comunicou ao meu Comandante e este chamou o soldado que lhe disse que tinha sido eu que o mediquei.

Claro que fui chamado ao Comandante que me ameaçou com os referidos 5 dias de detenção. Eu então perguntei-lhe se fosse no mato o tratamento era o mesmo... Felizmente o Comandante, atendendo aos bons serviços prestados durante toda a Comissão, rasgou a participação do Médico e ficou tudo em águas de bacalhau."

E concluindo:

(...) "O que as brochuras dizem não é bem o que se passa no terreno a nível prático. A gente vai-se desenrascando conforme pode e sabe e isso às vezes salvava vidas." (***)

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Guiné 61/74 - P20198: Parabéns a você (1688): Cor Inf Ref Carlos Alberto Prata, ex-Capitão, CMDT da CCAÇ 4544/73 e CCAÇ 13 (Guiné, 1973/74) e Hélder V. Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20186: Parabéns a você (1687): António Bastos, ex-1.º Cabo At Inf do Pel Caç Ind 953 (Guiné, 1964/66)

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20197: Historiografia da presença portuguesa em África (179): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Janeiro de 2017:

Queridos amigos,
Quanto às ilustrações que aqui se apresentam, constam de uma esplêndida publicação da Sociedade de Geografia de Lisboa onde se mostram os seus tesouros artísticos. Pedi autorização ao seu presidente para destacar no nosso blogue estas quatro peças artísticas guineenses, amavelmente acedeu.
Continuo a frequentar com regularidade a biblioteca desta Sociedade, possuidora de valiosa documentação que me permite estudar e recolher belíssimos relatos de viajantes para uma obra que idealizei com o título "Guiné: as suas páginas de ouro", uma recolha de preciosidades escritas a partir de Zurara até aos nossos dias. O trabalho prossegue e o ânimo não desfalece, é um prazer documentar-me e descobrir pepitas de ouro nesta literatura tão injustamente esquecida.

Um abraço do
Mário


Francisco de Lemos Coelho, aventureiro seiscentista na Guiné (2)

Beja Santos

Francisco de Lemos Coelho é autor de duas impressivas descrições que avivam e complementam os conhecimentos e relatos de outros viajantes anteriores e contemporâneos.

Em texto anterior, vimos como ele define territorialmente a Guiné a partir do rio Senegal, viaja e comenta tudo quanto vê no que é hoje correspondente ao território senegalês, demora-se em Cacheu e Bissau e quando parte escreve: “Antes de passar daqui para diante me parece dar notícia das ilhas dos Bijagós que ficam já de trás e começam de frente das ilhetas ao mar, e vão correndo para a banda do Sul, farei sua narração, e direi primeiro o costume e natural dos negros, e o que foram, e são hoje de presente”. E enceta a descrição do território Bijagó, seus ritos e costumes: “Esta casta de negros dizem os antigos que foram povoadores do Reino dos Beafares, os quais foram conquistados pelos ditos Beafares, gente do sertão adentro e que vendo-se apertados fugiram em canoas que também chamam almadias, e vieram povoar estas ilhas”. Tendo sido perseguidos pelos Beafares acabaram por vencer e arrebanharam as suas presas como escravos. Os Bijagós fizeram-se grandes guerreiros, atacaram os Papéis, chegaram ao Geba e a Cacheu, em toda a parte eram temidos.

Mais adiante Lemos Coelho observa: “Hoje é a gente mais doméstica que tem a Guiné, e mais amiga do branco”. Considera as mulheres Bijagós como formosíssimas, dizendo que na sua terra vestem saias de palha até ao joelho. E adianta: “Não é proibido o matrimónio se não no primeiro grau de consanguinidade, o homicídio não se castiga mas os parentes do morto podem matar o matador se podem, não há rei entre eles mas os grandes são juízes em suas desavenças”.

O relato prossegue com a descrição a partir da ilha de Bissau para o rio de Geba. “Corre da ilha de Bissau para Leste o rio de Geba o qual tem à banda do Norte os Balantas, que vão correndo da terra de Antula, e da banda do Sul o Reino de Guinala, que é o maior que têm os Beafares; assim que da banda do Norte acabando a terra dos Balantas se dá logo no Reino de Gole, também de Beafares, aqui começa o rio a estreitar, e aqui começa o macaréu que há neste rio, o qual é uma correnteza de água quando vem a enchente com tanta veemência, que quando se sente que vem porque antes de chegar vem fazendo estrondo como de trovoada, e o navio que está solto suspende a âncora para não soçobrar”. Adianta que acima de Gole, da mesma banda do Norte está o reino de Amchomene, também de Beafares, “gente ruim os deste reino, e traidores, logo se segue a terra de Geba sujeita ao Farim de braço, tem seu reizinho, mas está a Farim sujeito”.

“Da banda do Sul está o reino dos Beafares sujeito ao rei de Guinala, ou do rio grande. É a povoação de Geba a terceira que há hoje na Guiné, e agora faz 30 anos que se podia dizer era a primeira no trato (comércio), como nos moradores, mas como o capitão de Cacheu mandou levar os moradores para com eles fazer a povoação de Tubabodaga (Farim) e hoje não há nela mais do que filhos da terra, se bem ainda destes há mais de 200 almas cristãs e costuma o Cabido de Cabo Verde mandar aqui um clérigo para administrar os sacramentos a estes cristãos”. E retrata Geba: “Era a dita povoação de Geba de maior trato de toda quantas havia em Guiné, aqui era que se vendia à cola, aqui se despachava muito ferro a troco de cera, aqui se comprava muito marfim que vinha da terra dos Cocolins, gente que confina com os Beafares. Esta é a povoação que foi de Geba à qual não ficou mais do que o nome, e com isto torno ao porto de Bissau para dele fazer o caminho para o Rio Grande”. E começa a descrição do Rio Grande, dizendo que indo de Bissau para o Sul se chega à ilha de Bolama, que era povoada de Beafares e que por causa dos Bijagós está hoje despovoada, observa que tem à entrada muito bons portos a que se chama prainhas por causa de umas alegres praias de área que tem em terra e junto delas há muito bons recifes de pedra; “a terra é fertilíssima mui cheia de palmeirais e de árvores frutíferas”.

E começa a descrição de Guinala: “Há no fim da terra de Guinala uma grande aldeia que se chama Corubal que é como feira adonde vêm mercadores de todas as partes a comprar e vender, vende-se nela principalmente muitos negros, roupas e tintas com que se tinge a roupa na Guiné de azul. Os moradores desta aldeia são geralmente Mandingas. Há também na terra de Guinala o melhor gado vacum que tem toda a Guiné, nem entendo se há melhor no mundo, assim na gordura como no sabor”. E começa a comentar o povo Beafare: “Os Beafares não têm religião nenhuma mais que adorarem uns paus a que chamam Chinas, aos quais sacrificam vacas e galinhas, e os untam com o sangue como os Bijagós”. E tece outros comentários: “Tem o porto de Guinala o melhor peixe que há em toda a costa da Guiné, principalmente umas tainhas brancas de que há tanta quantidade que fazem negócio delas secas ao sol".

O primeiro documento de Francisco de Lemos Coelho caminha para o fim, no que toca à descrição do território onde aproximadamente se vai constituir a presença portuguesa na pequena Senegâmbia. Este texto descreve o que ele vê do Rio Grande para o Rio de Nuno, ou seja a região Sul da Guiné e a orla litoral do que é hoje a Guiné Conacri. “Partindo do Rio Grande a primeira terra que nos fica pela costa abaixo é o rio dos Tambalis, os moradores da terra são Beafares, o negócio é negros, marfim e muito mantimento, não há má viagem para os brancos que vivem no rio Grande. Toda a mais terra daí até ao rio de Nuno que são pela costa abaixo mais de 30 léguas tudo são Nalus, se bem não temos comunicação com este gentio pelos seus portos por quanto há por este caminho muitas coroas e recifes”.

O rio de Nuno tinha grande importância nestas viagens até à Serra Leoa, daí a presença de brancos: “Tem na povoação do rio de Nuno uma igreja de Santo António, santo para quem se tem notável devoção, daqui para baixo não só os brancos mas também o gentio; morou aqui um frade capucho castelhano que veio morrer em Bissau. Também costuma o Cabido de Cabo Verde mandar aqui às vezes sacerdote administrar os sacramentos a estes cristãos”.

Vai seguir-se “Descrição da Costa da Guiné e situação de todos os portos e rios dela, e roteiro para se poderem navegar todos os seus rios”, quem o escreve é o Capitão Francisco de Lemos Coelho, em São Tiago, Cabo Verde, 1684.

(Continua)

Espada Mandinga
Irã Bijagó
Máscara Nalu

Machado, ritual Nokubê
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20174: Historiografia da presença portuguesa em África (177): “Duas descrições seiscentistas da Guiné”, de Francisco Lemos Coelho, introdução a anotações históricas por Damião Peres, Academia Portuguesa de História, 1953 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20196: Dando a mão à palmatória (32): O texto sobre os "Alentejanos de pele escura" é do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, é de 2008 e tem sido sistematicamente "pirateado" na Internet... O interesse pelo tema surgiu quando o autor conheceu, em Mafra, na EPI, no COM, um soldado-cadete que era um "mulato de Alcácer" e que, na recruta, foi vítima de "bullying" racista...


Alcácer do Sal > 28 de janeiro de 2018 > A frente ribeirinha, ao pôr do sol, vista da moderna ponte pedonal que faz a "cambança" do rio Sado...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário do Fernando de Sousa Ribeiro:

Luís, o texto intitulado "Alentejanos de pele escura" é meu! Fui eu que o escrevi! Juro que fui eu! O texto é meu, desde as quadras populares (exclusive, claro) até ao fim. [. Ou seja, excluimdo os três primeiros parágrafos.]

O que o blogue "Comporta - Opina" fez foi transcrever ipsis verbis o conteúdo de um post publicado em 2009 num fórum neonazi (!!!), chamado Stormfront, por um membro do dito fórum que usa o nick "Looking for a fight", que talvez seja um antirracista infiltrado no fórum. O poste está neste endereço: https://www.stormfront.org/forum/t592627/.

O membro do fórum "Looking for a fight" indicou os endereços de onde retirou os textos que transcreveu, mas o blog "Comporta - Opina" omitiu-os.

O texto "Alentejanos de pele escura" foi publicado pela primeira vez em 2008 no blogue "Da Kappo" (escrito propositadamente com K), da angolana Paula Santana, que é economista, vive em Londres e usa o nick Koluki. 

Um dia, Koluki convidou-me a escrever um poste destinado  a ser publicado no seu blogue, sobre um tema que eu muito bem entendesse. Como Koluki é negra, lembrei-me de falar sobre os negros que deram origem aos "mulatos de Alcácer".

"Como é que um gajo do Porto se atreveu a escrever sobre pessoas de Alcácer do Sal?", poderás perguntar. Por incrível que pareça, tudo começou na tropa!

Em Mafra, numa das casernas destinadas aos cadetes do 1.º ciclo do COM [, Curso de Oficiais Milicianos], eu partilhei um beliche com um "mulato de Alcácer". Ele dormia na cama de cima e eu na de baixo. 

Não consigo lembrar-me do nome dele, por mais que me esforce. Do que eu me lembro (bem demais) é do seu aspeto nitidamente mestiço, da sua inconfundível pronúncia alentejana, assim como do racismo de que ele era vítima por parte de alguns outros cadetes instalados na caserna. Este "mulato" era troçado e gozado por eles de todas as formas e feitios, naquilo que agora se chama "bullying". 

Como eu não o gozava, e além disso partilhava o beliche com ele, esse "mulato" deu-se bem comigo e contou-me as suas origens e a razão de ser do seu aspeto físico. Ele foi um excelente companheiro, que sofria muitíssimo com as manifestações de racismo de que era alvo, apesar de ser um português da Metrópole como os restantes cadetes.

Mais tarde, no meu pelotão em Angola, houve um soldado que era de Grândola, chamado Nunes. De vez em quando, este soldado fazia referências aos "mulatos de Alcácer", nas conversas que tinha comigo e com o resto do pelotão.

Depois de ter passado à disponibilidade e ao longo dos anos que se seguiram, continuei a ter uma certa curiosidade pelos "mulatos de Alcácer". Fui a Alcácer do Sal várias vezes, assim como a Grândola e ao Torrão, além de ter percorrido a Ribeira do Sado. Fui, nomeadamente, a S. Romão, que é, aliás, uma aldeia muito pequena.

Quando a angolana Koluki me convidou a escrever um artigo para o seu blog, fui à Biblioteca Pública Municipal do Porto consultar a bibliografia que lá existisse sobre os "mulatos de Alcácer" (escassíssima, para minha grande surpresa), no sentido de refrescar a memória e completar a informação que eu próprio tinha sobre o tema. 

Finalmente escrevi o pequeno texto que a blogger Koluki publicou em 2008 e eu próprio reproduzi no meu blog pessoal em 2012.

A concluir, lembro-me de uma canção que foi um grande êxito há uns quantos anos, chamada As Meninas da Ribeira do Sado. Em parte nenhuma da canção é referida a cor da pele das ditas meninas, e por isso toda a gente pensa que elas são tão brancas como as outras alentejanas. Mesmo assim, pergunto-me se não haverá algum racismo nesta canção, que troça das meninas da Ribeira do Sado, assim como foi troçado o cadete de Alcácer do Sal com quem partilhei o meu beliche em Mafra.

Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alferes miliciano, CCAÇ 3535 do BCAÇ 3880, Angola 1972-74

2. Comentário do editor Luís Graça:

Fernando, o seu a seu dono... Eu tinha visto o teu texto, "Alentejanos de pele escura", no blogue A Matéria do Tempo", de Fernando Ribeiro [ 18 de abril de 2012 > Alentejanos de pele escura],  nome que só agora relaciono com a tua pessoa...

Fernando Ribeiro, engenheiro, do Porto, só podias ser tu... Pelo nome, e sobretudo  pelos conteúdos... Aliás, o blogue já era meu conhecido e seguido por mim, ocasionalmente... Reparo agora, com mais atenção, que já existe desde dezembro de 2005, e tem entre os seus "companheiros de jornada" o nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.). Obrigado, e sobretudo parabéns,  o teu é um blogue de grande qualidade, temática e literária...   Por que é que nunca me falaste dele antes ?

Mas vi que este teu  texto, com maiores ou menores acrescentos (e sobretudo imagens) estava "espalhado" pela Net, desde 2010 a 2019... Tendo tido dúvidas sobre a fonte original, e sobretudo o autor, acabei por "encalhar" no blogue "Comporta-Opina", para mais tinha umas belas gravuras que me convinha reproduzir. Enfim, devia ter apurado a minha pesquisa...

O poste da "Comporta-Opina" é de 2010, mas afinal de contas o texto original é teu, e é mais antigo, é de 2008: como dizes, foi publicado pela primeira vez em 2008, sob pseudónimo ("Denudado", o teu "nickname"), no blogue "Da Kappo", da angolana Paula Santana ("Koluki"). E eu confirmo, acabei por descobrir aqui o link, que reproduzo:https://koluki.blogspot.com/2008/07/be-my-guest-ii-denudado.html.

O lapso foi involuntário, mas aqui fica o meu/nosso  pedido de desculpa... Nestes casos, costumo/costumamos dar a mão à palmatória. (**)

Deixa-me acrescentar que lamento a "praga" do plágio e de outras práticas desonestas,  de violação da propriedade intelectual... O mínimo que temos que é é dar o seu a seu dono, citado as fontes...  Enquanto professor na Escola Nacional de Saúde Pública, apanhei para aí uma dúzia de casos de "pirataria" em trabalhos académicos (em cursos de pós-graduação, mestrado e até doutoramento)... Nunca humilhei ninguém por isso, tinha sempre uma "conversa particular" com o/a prevaricador/a, e dava-lhe uma segunda oportunidade para refazer o trabalho... 

A nota final, naturalmente, ressentia-se. Mas cheguei a dar zero a um grupo de médicos estrangeiros que copiaram um trabalho uns pelos outros... Uma coisa "tosca", "grosseira"... Nos outros casos, havia sempre uma história pelo meio: gente com dificuldades (, a começar pelos estrangeiros que são admitidos em Portugal como médicos e não dominam o português escrito e falado), mas também de alunos, mães e pais, profissionais de saúde, para mais, que tinham dificuldade em lidar com o stress conjugado da vida académica, familiar e profissional...

"Copiar" é sempre mais fácil do que  "criar", mas é um "crime" que acaba por dar nas vistas, mais tarde ou mais cedo, e por não compensar... Eu costumava avisar os meus alunos, logo de início: "A cometerem um crime, que seja um crime perfeito"...

Obviamente, há aqui problemas éticos e deontológicos graves, mas também disciplinares e legais... A Academia só há pouco anos começou a levar estes casos a sério... Mas fico-me por aqui... LG
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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20195: (Ex)citações (358): Fernando Calado, camarada de Bambadinca, gostei de ler o teu poste... Também eu escrevia cartas diárias, com muitas páginas, para a minha namorada... (Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (1967/69) > c. set/out 1967 > Tabuleta com as indicações das distâncias, para Sul, Norte e Leste, localizada numa das saídas-entradas de Nova Lamego. Bafatá para sudoeste a mais longa, com 53 kms, e temos de juntar mais cerca de 60 dali até ao porto fluvial e depósito da Intendência em Bambadinca. 


Foto (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



1. Comentário (*) de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, é gestor reformado; tem 136 referências no blogue:



Fernando Calado (**), estive a ler com toda a atenção esta narrativa, e quase se confunde com a minha estadia na Guiné. 


Levei tempo a escrever, andei à procura do Batalhão que nos foi render em 26fev68 em Nova Lamego. Tinha ideia que era o BCAÇ 2856, mas afinal acabei por encontrar e era o BCAÇ 2835.

Quando ao resto,  eu em Nova Lamego, de 21set67 a 26fev68, as histórias e os locais eram quase os mesmos. Estive várias vezes em Bafatá, mas por Bambadinca, apenas passei por lá duas vezes, em 4out67 e 26fev68. 

Depois fui lá várias vezes à Intendência, em colunas para reabastecimentos, cujo Pelotão era comandado por um camarada do meu curso na EPAM [, Escola Prática de Administração Militar], o Alferes Ramos, pequenino como eu. Era do Pelotão de Intendência, é do Porto como eu, e por vezes falamos, ele tinha uma Galeria de Arte na Foz. Pouco falamos da Guiné, ele não deve gostar, suponho.

Eu era o Chefe do CA - Conselho Administrativo, dependia apenas do 2º comandante, quase não lidava com mais ninguém. O nosso Transmissões era o Alferes Mesquita, tinha vários fotos com ele, e ainda nos vemos nos encontros anuais, quando eu vou.

Frequentávamos muito a Tabanca do Morteiros,  do Alferes Azevedo, que afinal era de Évora e não de Beja como eu pensava. Soube há dias que tinha já falecido, nunca mais o encontrei.

Esse modo de vida era quase o meu, excepto as cartas, nunca joguei, escrevia cartas diárias com muitas páginas para a minha namorada, que afinal eram como seja um diário...

Das centenas delas, apenas me restam meia dúzia, as outras foram todas queimadas e centenas de fotos, devido a um incidente e ficaram cheias de bicharada. Estava lá toda a minha vida de 23 meses, mais os outros na recruta e antes de embarcar.

Nunca fui apanhado nessas posições matinais, normalmente dormia sempre com umas calças de pijama de "terylene" e por vezes o casaco, sem qualquer outra roupa, nem lençóis. Dormíamos uns 10-12 na mesma camarata, e não me lembra de situações dessas, embaraçosas. 

Pois quanto ao resto das DST [, Doenças Sexualmente Transmissíveis,]  não me faltaram,  era de tudo o que vinha nos cardápios, já falei nisso várias vezes, o nosso Pastilhas (mais tarde formou-se em médico, mas já falecido) tratava disso tudo, eram injecções de Terramicina, que nem podíamos andar depois...

O Whisky com a água Perrier e muito gelo era também a minha bebida preferida.

As bajudas, sempre as tratamos bem, elas apareciam lá pelos quartos com as roupas, e gente por vezes ficava embaraçado, mas elas, ainda miúdas, de 15 anos, e eu com mais 10 em cima, levavam aquilo de brincadeira. O quanto eu daria para ir hoje conhecer umas das minhas lavradeiras, quer seja em Nova Lamego quer em São Domingos.

Foi agradável este Poste, por vezes fazem-nos sonhar com aquela idade, e não havia ataque ao aquartelamento que eu não fosse fotografar.

Vamos continuando.

Abraço,

Virgilio Teixeira
ex-alf mil do SAM
BCAÇ 1933/RI15
1967-1969
__________________


Notas do editor:


(*) Último poste da série > 23 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P20005: (Ex)citações (357): para um fula, bom muçulmano, crente, como o pai do Cherno Baldé, o homem nunca chegou à lua (nem poderia chegar)... Do mesmo modo, só as mulheres grandes, como a Fatumatá, de Sinchã Sambel, chegavam às 100 luas ou mais (Cherno Baldé, Bissau / Hélder Sousa, Setúbal)


(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20191: (De) Caras (112): O aerograma de 1 de dezembro de 1969: "Meu amor, se calhar esta noite vou ter de pôr um lençol na cama, não vou transpirar a dormir, e… talvez tenha um sonho manga di bom"... (Fernando Calado, ex-alf mil trms, CCS/ BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

Guiné 61/74 - P20194: Blogues da nossa blogosfera (111): os alentejanos de pele escura: "Ribeira do Sado, / Ó Sado, Sadeta, / Meus olhos não viram / Tanta gente preta." (Blogue Comporta - Opina, 2/1/2010)





Imagens, sem data, documentando a presença de descendentes de escravos negros na lezíria e ribeira do Sado



Fonte: Blogue Comporta-Opina (2010), com a devida vénia..



1. Com a devina vénia, transcreve-se do blogue Comporta-Opina, este texto interessante sobre a colonização do vale do Sado por escravos oriundos da Senegâmbia, já provavelmente a partir do séc. XVI (*).




Comporta-OPinia > 2 de janeiro de 2010 > 




Durante séculos a Lezíria e Ribeira do Sado foram um território desabitado, com fama de insalubridade, rodeado de charnecas e gândaras. Apenas a exploração das salinas implicava a deslocação de trabalhadores temporários, funcionando o rio como via de comunicação e escoamento de diversos produtos regionais e locais, de onde avultava o sal, produto que, pelo menos desde o século XVI a meados do século XX, constituiu a principal actividade económica das regiões ribeirinhas entre Alcácer e Setúbal.


O paludismo, localmente conhecido por febre terçã ou sezões, era um mal endémico, correndo ainda hoje a versão que a pouca população existente em períodos anteriores ao século XX era constituída por africanos - supostamente imunes à doença - aí fixados pela Coroa como forma de assegurar alguma agricultura.


Lenda ou não, o certo é que Leite de Vasconcelos na sua monumental "Etnologia Portuguesa", refere e descreve os chamados pretos de Alcácer ou mulatos da Ribeira do Sado, correspondentes a habitantes desta região que apresentavam nítidos traços africanos.


Alentejanos de pele escura

Ribeira do Sado,
Ó Sado, Sadeta,
Meus olhos não viram
Tanta gente preta.

Quem quiser ver moças
Da cor do carvão,
Vá dar um passeio
Até São Romão
.

(do cancioneiro popular de Alcácer do Sal,
Alentejo, sul de Portugal)
Ribeira do Sado é o nome de uma região que se estende ao longo do vale do Rio Sado, no sul de Portugal, a partir de Alcácer do Sal e para montante, não longe de Grândola, a Vila Morena. São Romão do Sado é uma das aldeias existentes na referida região.

Quem agora for passear pela Ribeira do Sado, já não verá gente verdadeiramente preta diante dos seus olhos, nem encontrará moças da cor do carvão propriamente dito na aldeia de São Romão. A mestiçagem já se consumou por completo. Mas são por demais evidentes os traços fisionómicos observáveis em muitos dos habitantes da região, assim como a cor mais escura da sua pele, que nos remetem imediatamente para a África a Sul do Sahara.

Nem sequer é preciso percorrer a Ribeira do Sado. Se nos limitarmos a dar uma ou duas voltas pelas ruas de Alcácer do Sal, por certo nos cruzaremos com uma ou mais pessoas que apresentam as características físicas referidas. São os chamados mulatos de Alcácer, por vezes também designados carapinhas do Sado. O seu aspecto é semelhante ao de muitos cabo-verdianos, mas eles não têm quaisquer laços com as ilhas crioulas. São filhos de portugueses, netos de portugueses, bisnetos de portugueses e assim sucessivamente, ao longo de muitas gerações. Quando falam, fazem-no com a característica pronúncia local. São alentejanos.

É frequente atribuir-se ao Marquês de Pombal a iniciativa de promover a fixação de populações negras no vale do Rio Sado. Mas não é verdade. Existem registos paroquiais e do Santo Ofício que referem a existência de uma elevada percentagem de negros e de mestiços em épocas muito anteriores a Pombal. Segundo tais registos, já no séc. XVI havia pessoas de cor negra vivendo nas terras de Alcácer.


O vale do Rio Sado, no troço indicado, é um vale alagadiço onde hoje se cultiva arroz. Até há menos de cem anos, havia muitos casos de paludismo nesse troço. A mortalidade causada pelas febres palustres fazia com que as pessoas evitassem fixar-se naquela região.


No séc. XVI, muitos portugueses embarcavam nas naus, o que agravava ainda mais o défice demográfico existente. Terá sido esta a razão por que, naquela época, os proprietários das férteis terras banhadas pelo Sado terão resolvido povoá-las com negros, comprados nos mercados de escravos. Os mulatos do Sado dos nossos dias são, portanto, descendentes desses antigos escravos negros. (**)


[Nota, a posteriori: a autoria deste texto, não das imagens, deve ser atribuído ao nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro, que o publicou aqui, originalmente, sob pseudónimo ("DEnudadp"), no blogue "Da Kappo", da angolana Paula Santana ("Koluki"). 

Link: https://koluki.blogspot.com/2008/07/be-my-guest-ii-denudado.html ]

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Notas do editor:

(*) Últino poste da série > 7 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19756: Blogues da nossa blogosfera (110): O livro "Imagens e Quadras Soltas", de JERO e Manuel Maia, no Blogue da Tabanca do Centro (José Eduardo Reis Oliveira)

(**) Vd. poste de 30 de setembro de 2019 > Guiné 63/74 – P20192: Agenda cultural (703): Livro do nosso camarada ranger António Chaínho "A escrava Domingas". (José Saúde)

Guiné 61/74 - P20193: Em busca de... (298): ex-furriel Godinho, do Pelotão 1118 ou 1119, que esteve na Ilha da Boavista, Cabo Verde, em 1968 (Paula Spencer)


Posição relativa da ilha da Boavista (ou Boa Vista), que
pertence ao grupo do Barlavento do arquipélago de Cabo Verde.
Das 10 ilhas, é a mais próxima do contunente africano,
que fica a leste, a cerca de 450 km de3 distância.
Fomte: Adapt. de Wikipedia  (om a devdia vénua...)
1. Mensagem da nossa leitora Paula Spencer:

De: Paula Spencer <paula.spencer66@gmail.com>

Date: quarta, 7/08/2019 à(s) 11:27

Subject: Pedido de informação

Exmo Senhor,

Venho pelo presente, solicitar informação sobre o paradeiro de uma pessoa que fez parte do pelotão 1118 ou 1119 no ano de 1968, na ilha da Boavista, Cabo Verde. 

A única informação que tenho é que ele era furriel e se chamava Godinho.

Gostaria de saber o paradeiro deste senhor, caso seja possível.

Sem outro assunto de momento, subscrevo-me com os melhores cumprimentos.

Atenciosamente,

Paula Moura


2. Resposta do nosso editor, com data de 8 de agosto passado:

Paula:

Obrigado pelo seu contacto. Temos muito gosto em poder ajudá.la. Reencaminho o seu pedido para  um ou mais dos nossos colaboradores para eventual pesquisa no Arquivo Histórico-Militar, já que não dispomos, aqui, na base de dados do  blogue, de informação sobre forças militares estacionadas na ilha da Boavista, em 1968, ao tempo da guerra colonial. Pode ser também que alguns dos nossos leitores nos ajude.

No entanto, a informação de que dispõe a Paula também é escassa. Vamos para já tentar apurar que subunidade militar é que terá estado na ilha da Boavista em 1968, durante a guerra colonial: o nº 1118 ou 1119 é uma pista, mas tanto tratar-se de um pelotão de infantaria (por exemplo, um pelotão de morteiros) como de um pelotao de reconhecimento de cavalaria. (Panhard, Daimler, Fox)....

Vamos manter-nos em contacto. Presumimos que a Paula esteja a viver em Cabo Verde, não ? E já agora, dado o seu apelido, Spencer, diga-nos se tem algum parentesco com o nosso infortunado camarada Virgolino Ribeiro Spencer, furrriel miliicano, da Companhia de Caçadores 18 [, CCAÇ 18], morto "por acidente", em Aldeia Formosa / Quebo, no sul da Guiné, em 15/1/1972.

As nossas melhores saudações, Luís Graça

3. Resposta da Paula Spencer, em 10 de setembro último:

Bom dia,

Peço desculpa pelo meu silêncio mas estive a indagar com os meus familiares se tinham conhecimento do infortunado “Virgolino Spencer” mas ninguém tem conhecimento.

Nasci em Cabo Verde mas vivo em Portugal há 48 anos.

Muito obrigada pela atenção dispensada.

Atenciosamente,

Paula Moura

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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19785: Em busca de... (297): 46 anos depois, o reencontro de Alberto D'Aparecida Couto com o amigo José Augusto da Silva Dias que o salvou de morrer afogado, no dia 30 de Abril de 1973, no rio Geba, em Bambadinca (Sousa de Castro)