quinta-feira, 5 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23231: Álbum fotográfico de João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72) (Parte I)

Relembrando a mensagem de apresentação do nosso camarada de armas, João Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72), com data de 24 de Abril de 2022:[1]

Caros camaradas
Antes de mais uma saudação especial para todos os que foram membros da mesma missão, seja em que local tivesse sido, um forte e fraterno abraço.
Anexo um pequeno texto com algumas fotos que achei interessantes.
Se entenderem podem anular as que acharem inconvenientes.
Quanto aos elementos que compõem as fotos, tenho a certeza que não se opõem ao facto.
Estou ao dispor do grupo para o que for necessário, pois infelizmente tenho bastante que contar, apenas necessito de tempo.

Sem mais de momento, forte e fraterno abraço para todos.
João Alves

Foto n.º 1 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > De Sargento de Dia
Foto n.º 2 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > O que sobrou de um Unimog depois de accionar uma mina anticarro em 3 de Agosto de 1972.
Foto n.º 3 > Guiné > Região de Gabu > De folga do serviço em Nova Lamego. Da esquerda para a direita: eu, o Alf Mil Martins e o Fur Mil Germano Penha.
Foto n.º 4 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > A chegada sempre agitada ao aquartelamento
Foto n.º 5 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Junto ao meu abrigo
Foto n.º 6 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Momento de lazer no Bar de Oficiais e Sargentos. Sentados: Fur Mil Germano Penha, Cap Arnaldo Costeira, um casal de sargentos que não me lembro o nome e o Fur Mil Moreira. De pé: Fur Mil Ramos (infelizmente já falecido) e eu.
Foto n.º 7 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Eu e o Fur Mil de Transmissões num momento de diversão. Em primeiro plano o Fur Mil Ramos, já falecido. Agachados: Fur Mil Amanuense José Perestrelo, eu e Fur Mil Alberto Antunes.
Foto n.º 8 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Mais um momento de repouso no bar: Alf Mil Manuel Neves, eu, Fur Mil Germano Penha e o Fur Mil Vaguemestre Vítor Caldeira.
Foto n.º 9 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Reunião de convívio. De frente: o Perestrelo, eu, o Fur Mil Alberto Caetano, o Alf Mil Martins e o saudoso Fur Mil Ramos. O Cap Costeira parecia desconfiado. Também de costas, salvo erro, o Fur Mil Penha, o Fur Mil Mec Auto Eduardo Melgueira e outro camarada que não consigo identificar.
Foto n.º 10 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude > Todos éramos amigos, civis e militares. Em baixo à direita o Alferes Miliciano Pedro Lamy.
Foto n.º 11 > Guiné > Região de Gabu > Canjadude  > O Ramadão em Canjadude no ano 1972
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Nota do editor

[1] - Vd. poste de 26 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23202: Tabanca Grande (533): João da Silva Alves, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 5 (Canjadude, 1970/72). Senta-se à sombra do nosso poilão no lugar n.º 860

Guiné 61/74 - P23230: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (22): Em Nova Vizela (topónimo criado por Spínola, cidadão honorário de Vizela), hoje Embunhe, na região do Oio, onde existem viveiros estatais de árvores autóctones

 




Guiné-Bissau > Região do Oío > Nova Vizela, na estrada entre Bissorã e Mansoa, hoje Embunhe (mas a placa ainda lá está)  >  12 de abril de 2022 > Viveiros florestais estatais.

Fotos (e legenda): © Patrício Ribeiro (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. O Ribeiro Patrício, nosso correspondente em Bissau, e que conhece a Guiné de lés a lés,  mandou-nos estas três fotos de "viveiros de árvores do Estado. De árvores autóctones. Em Nova Vizela...agora a tabanca tem o nome de Embunhe".


Nunca tinha ouvido falar em Nova Vizela / Embunhe. Encontrámos uma página no Facebook, a dos Filhos e Amigos de Embunhe (FAE), "Danfa-Mara", um grupo público...Há uma ONGD espanhola que lá trabalha (Bosque y Comunidad, com sede em Córdova).

Mas como havia, no nosso tempo, terras com nomes portugueses (Nova Lamego, Nova Sintra, Aldeia Formosa, etc.), porque não também Nova Vizela ?

Encontrei a explicação para topónimo que não chegou a ser grafado pelos bravos cartógrafos portugueses  dos anos 50/60: em 1972, "o General António Spínola, Governador da Guiné Portuguesa, foi  elevado a Cidadão Honorário de Vizela" (sic), depois de ter prometido,  às juntas daquela  então vila, "o nome de Nova Vizela" (sic),  para uma vila da Guiné o que veio a acontecer naquela antiga província ultramarina" (Fonte: Digital de Vizela, 12 de março de 2011). 

Recorde.se que a luta pela restauração do concelho de Vizela já vinha de 1964, e prolongar.se-ia até 1998,  o ano em que Vizela  voltou a ser concelho quase 600 anos depois..."O município foi restaurado em 19 de Março de 1998 por desmembramento de 5 freguesias de Guimarães, 1 de Lousada e 1 de Felgueiras, sendo na mesma ocasião a sua sede elevada ao estatuto de cidade."

Spínola, cujas ligações a Vizela eu desconhecia, acabou por ser uma aliado de peso nesta luta que deu brado na época, incendiando paixões bairristas...  Vizela tem hoje cerca de 24 mil habitantes

Desconhecemos se a tabanca de Embunhe / Nova Vizela está  geminada com a cidade de Vizela. Mas lemos no Digital de Vizela, em notícia de 14 de abril de 2019, que "o Presidente da Câmara de Vizela anunciou ontem no Dia do Combatente que o Município de Vizela tenciona visitar a província ultramarina (sic) que detém o nome de Nova Vizela desde a era Spínola à frente das forças militares naquela antiga colónia."

E mais acrescentava aquela fonte: "Segundo Victor Hugo terá de haver uma preparação minuciosa 'de forma a que essa visita em reconhecimento aos soldados de Vizela que ali prestaram serviço militar seja bem ponderada considerando os níveis de segurança e algumas acções de solidariedade com o povo da Nova Vizela que pretendemos fazer chegar'"... Vizela tem um Núcleo da Liga de Combatentes muito ativo.

Na carta de Mansoa pode ver-se a localização de Embunhe (que foi Nova Vizela por pouco tempo), no lado esquerdo da estrada Mansoa-Bissorã.



Guiné > Região do Oio > Carta de Mansoa (1954) (Escala 1/50 mil) > Posição relativa de Mansoa e Bissorá... Mais perto de Bissorã, fica Embunhe (que no tempo de Spínola chegou a chamar-se Nova Vizela).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2022)

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Nota do editor:

Último poste da série > 30 de abril de  2022 > Guiné 61/74 - P23215: Bom dia desde Bissau (Patrício Ribeiro) (21): Notícias de Mansabá

Guiné 61/74 - P23229: Parabéns a você (2061): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835 (Gandembel e Nova Lamego, 1968/69)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23223: Parabéns a você (2060): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da CCAV 3366/BCAV 3846 (Susana e Varela, 1971/73)

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23228: Agenda culural (808): "Margem Esquerda" (edição de autor, 2020, 343 pp), de Abílio Machado (ex-alf mil, adm militar, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72): Riba d'Ave (V. N. Famalicão) e as suas "geossociografias emocionais"


Capa do livro de Abílio Macahdo, "Margem Esquerda",  edição de autor, 2020, 343 pp. Capa  de Miguel Teixeira (Foto: mural evocativo dos 800 anos de História de Vila Nova de Famalicao, CM V.N. Famalicao, António Freitas). O livro, terminado em outubro de 2018,  foi lançado, por causa da pandemia de Covid-19, apenas em 10 de dezembro de 2021.


Dedicatória autografada: um homem de partilha de memórias e afetos... como são os amigos e camaradas da Guiné.



1.  O autor: Abílio Machado, o nosso "Bilocas" de Bambadinca, grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12 (1969/71) ; ex-alf mil, com a especialidade administração militar (contabilidade e secretariado), CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; passou pelo seminário e frequentou depois o curso de direito em Coimbra; foi delegado de informação médica, de 1973 a 2004; está reformado desde 2007; data desse ano a sua entrada a Tabanca Grande; tem cerca de duas dezenas de referências no nosso blogue; é também um dos fundadores do grupo musical "Toque de Caixa"; vive na Maia; estreou-se como escritor com  "Diário dos Caminhos de Santiago" (Porto, Edita-me, 2013, 358 pp. (*)



Lisboa > Centro Comercial Colombo > Loja FNAC > 12 de março de 2010 > Apresentação, ao vivo,. do novo CD ", "Cruzes Canhoro", do grupo musical "Toque de Caixa" Edição: Ocarina. 

Na foto, de pé, à esquerda, o porta-voz (e co-fundador) do grupo: Abílio Machado (que esteve connosco em Bambadinca, entre maio de 1970 e março de 1971; ex-Alf Mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72.. fizemos lá uma bela amizade...

A malta de Bambadinca apareceu em força na loja da FNAC: aqui o Machado troca impressões com ex-alf mil sapador Luis R. Moreira (DFA, reformado como professor do ensino secundário) e Júlio Campos, ex-fur mil sapador, ambos da CCS / BART 2917... O Júlio, de rendição individual, chegará a Bambadinca em março de 1971, quando a malta da CCAÇ 12 faziam as maltas, aguardando o respectivo periquito... Menos de dis meses seria expulso das fileiras do exército e do TO da Guiné o ex-alf mil capelão Arsénio Puim, de quem o Abílio Machado ficou um grande amigo para a vida.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2.  Em janeiro passado, recebi pelo correio, na minha casa da Lourinhã, esta bela prenda, o livro de um amigo e camarada que sempre muito estimei deste os tempos comuns em Bambadinca, na Guiné  (entre maio de 1970 e março de 1971). 

Confesso que só agora, em finais de abril passado, é que peguei no livro... Primeiro, e como sempre faço, uma leitura na vertical, um leitura mais pausada de um capítulo ou outro, que me chamou em particular a atenção, e depois devorei-o em dois ou três dias, ora à beira mar ora na cama à noite. E, claro, faço questão de lhe dedicar uma ou mais notas de leitura. Não hoje, mas quando regressar, daqui a duas semanas, do Hospital Ortopédico de Santana, na Parede, com um "joelho novo"...

O livro é, "grosso modo", um livro de memórias sobre  a vila de Riba d'Ave sua terra natal, a(s) sua(s) histórias, a(s) sua(s) gente(s)... Entre o pícaro, o sarcástico, o lírico,  o empático , o socioantropológico  e o historiográfico, o autor percorre  as geossociografias emocionais do seu passado e do passado dos seus antepassados, cingindo-se ao pequeno grande mundo que circula(va) entre a venda, o largo, o adro, a frábrica, mas também a infância, as crianças... e o futuro. Que a história não é feita só dos grandes nomes, e muito menos das grandes famílias que em três gerações dão cabo da fama, do património e do proveito. 

Obrigado, Bilocas, os ibéricos Padre António Vieira, Camilo Castelo Branco, José Saramago e  Manuel Vasquez Montalbán, no Olimpo dos Escritores, não se importarão de te lá ver um dia, em bicos de pés, não a pedir um autógrafo, mas a tentar falar com eles como par das letras, de igual para igual. Nunca é tarde para começar a escrever, e de ti se pode dizer que a tua vocação literária “tardia” (revelada em 2013 com as crónicas dos "Caminhos de Santiago") surge agora “amadurecida e consolidada" com esta "Margem Esquerda", de 2020).

Cmo me escreveste, em nota que reproduzo abaixo, "o título não engana e é malandro: o designer entendeu-lhe o espírito de rebeldia e atravessou-lhe Esquerdo por riba de Margem, como barco em desgoverno e arrastafo na enxurrada"...

Como  tu, também eu prezo a gratidão. Estou-te grato pelo prazer que me deste ao ler o teu livro, E este seguramente não vai parar à lareira ou à Feira da Ladra... LG (**)




3. Excertos de “Margem Esquerda”, escolhidos pelo autor e a qui reproduzidos como "prendida" para os leitores do nosso blogue;


Pág.s 90 e 91

- … A aldeia, o velho músico filosofava, o bigode revirado acentuava-lhe o ar de troça, tem seu mérito e seus heróis, mas não se endeusa nem os incensa, parece não se dar ao respeito, ri-se de si e dos seus, galhofa, não se leva a sério, melhor forma não há de se ter em boa conta; há outros , porém, importantes, de tão direitos e hirtos nem sombra deitam.

- Mas pior que eles, o velho operário põe sal na estória, ao tempo que fala solta pelas asas do nariz o fumo do cigarro, são os acólitos, sacristães de missas de que só escorropicham as galhetas, capatazes de um povo que mesmo se obedece não se submete – nervoso, sanguíneo, engasga-se, tosse.

- Uns faroleiros, é o que são todos, vaidade vácua…, conclui.

As estórias contadas na venda, no recato de quem se sente em terreno seu, rasgam a nu a pequenez de quem se julga grande.

Além da família, há na aldeia um grupo de ricos, proprietários, donos de quintas ou do que delas resta, mestres, encarregados, empregados ditos superiores. Caçadores e pescadores, batem os montes à cata de rolas e codornizes, os sabujos pilham lebres e coelhos, saem com os patrões a rios truteiros, ao Minho a fisgar salmão, as arcas, a abarrotar, ofereciam jantares opíparos, ceias babilónicas, consílio porém reservado a poucos, restrito a quem tenha algo de seu, herdado ou granjeado…

Destes, alguns, de baixo vieram; cuidando de esconder a origem, renegam pais e avós, calcam as raízes e o povo donde provêm, no afã de o esquecerem, sem temperança castigam nos operários tanto o descuido como a intenção, pensam a memória dos outros tão frouxa como a sua, julgam que a mando rijo melhor se obedece, olvidam que rei severo não é rei obedecido, este povo respeita os que se elevam da sua condição pelo senso e não pelo bordão, sempre se ouviu por aqui que manda mais a coroa que o ceptro.

A aldeia ri-se deles, inveja-os às vezes, pela fome que carrega na barriga e na alma, mas não se rebaixa nem os acolhe, tolera-os como mosca varejeira que o gado enxota com o rabo “.

- Pág. 223

… “ Cedo chegou à aldeia o cinema, na mesma garagem onde descansava a camioneta víamos nós as fitas que ela trazia, cada um aninhado no banco que sobraçávamos de casa.

Ajeitou-se depois lugar próprio, inda hoje lá está a casa, o Teatro de Santa Clara, onde a aldeia via cinema, - um dos que lá vi, os olhos arregalados até às orelhas, não mais o esqueço, foi o “ Fred na Montanha da Morte “ – e se levavam à cena os velhos, populares dramas da época.

Ao primeiro filme, agarrei a doença para a vida, verdade que nunca lhe busquei cura, ainda hoje lembro os filmes com que estrearam o cinema novo, junto à ponte, o Barão Aventureiro e Aloma, com Dorothy Lamour.

Eu próprio, já maduro, durante tempos, presidi à selecção dos filmes que à aldeia chegavam, as grandes epopeias, filmes históricos, o cinema italiano e francês.

O povo afeiçoou-se às fitas, acorria gente das freguesias vizinhas a ver os astros do cinema.

O Cardeal, quando recebia a féria, pagava bilhete de balcão, lá de cima, dizia, haveria de ver inteira a obra de Deus, a nudez capitosa de Gina Lollobrigida imersa em espuma no banho.

Outro, o Tamanca, turrão, domingos a fio no cinema, esperava, teimosamente esperava que o comboio que justo passava no instante em que Sophia Loren desnuda a Cary Grant o túrgido seio, esse comboio teimosamente pontual atrasasse os segundos precisos e lhe deixasse ver a esplêndida altivez daquilo 
que, na sua Balbina, era já decadência…”

Excertos de "Margem Esquerda", de Abílio Machado, edição de autor, 2020.  O livro pode ser adquirido através de pedido expresso ao autor, para já através do endereço de email do nosso blogue. 
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

31 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15060: Notas de leitura (753): "Diário dos Caminhos de Santiago", do nosso camarada Abílio Machado, português e minhoto, com costela galega, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72... Um livro que nos ajuda a aprender a envelhecer de maneira saudável, ativa e produtiva... (Luís Graça)

(...) Já aqui temos falado do Abílio Machado, nosso camarada e amigo de Bambadinca (CCS / BART 2917, 1970/72). E sobretudo a propósito de música. Ele é um dos fundadores, em finais de 1985, na Maia, de um notável grupo musical, o Toque de Caixa, de que saíram, além de inúmeros espetáculos ao vivo,  dois CD,  Histórias do Som (1993) e  Cruzes, Canhoto (2010).


(...) O  seu gsto pela música, as suas excecionais qualidades humanas, o sentido da camaradagem, a afabilidade, o gosto pelo convívio, o "espírito coimbrão", a irrequietude intelectual... eu já os conhecida de Bambadinca: o "Bilocas", como era tratado carinhosamente, esteve connosco em Bambadinca, entre maio de 1970 e março de 1971. Alf mil, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72, fizemos lá uma bela amizade: ele, "baladeiro", tocava viola, mas era um "periquito", um alferes de secretaria, e nós, operacionais, já calejados da guerra, "pretos de 1ª classe", da CCAÇ 12, uma companhia de intervenção africana, ao serviço dos senhores da guerra de Bambadinca e de Bafatá...

Quando digo nós, refiro- me a mim, ao Humberto Reis, ao Tony Levezinho, ao Zé da Ilha (José Vieira de Sousa, madirense), o GG ( Gabriel Gonçalves, o nosso cripto), e outros, noctívagos, que gostávamos de cantar, beber, conviver, de preferência, pelas horas altas da noite... Ele era dos poucos alferes, para além do Zé Luís Vacas de Carvalho, que nos acompanhava nessas noites de insónia, de copos e de tertúlia... Como se o bar de sargentos de Bambadinca (e os nossos quartos...) fosse uma república coimbrã... (...)


24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15405: Expedição Porto-Dakar, integrada na 2ª edição do Dakar Desert Challenge: Coruche, Marrakech, Bissau, Dakar: 26 de dezembro de 2013- 9 de janeiro de 2014 (Abílio Machado, ex-alf mil, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72) - Parte I

Guiné 61/74 - P23227: Historiografia da presença portuguesa em África (315): Anais do Conselho Ultramarino: Curiosidades da Guiné (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Maio de 2021:

Queridos amigos,
Pesquisar na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa é por demais aliciante, até porque de repente se fala no Seminário das Missões do Bombarral, de que nunca se ouvira falar e descobre-se que funcionou mesmo na terra da Pêra Rocha enquanto se faziam trabalhos de restauro no Colégio das Missões de Cernache do Bonjardim. E remexendo noutros papéis descobre-se o Portugal Missionário, publicação comemorativa da Reunião Missionária efetuada em Cernache no verão de 1928 e lá dentro se encontra um delicioso artigo intitulado "Por Terras da Guiné, notas de um antigo missionário, padre João Esteves Ribeiro". Estes Anais do Conselho Ultramarino têm que ser encarados como material subsidiário em qualquer investigação, mas há surpresas como o artigo de Tavares de Macedo sobre os Tangomãos, isto em 1852, seguramente que se estava a descobrir uma particularidade guineense que marcou a sua história, a sua civilização e a sua cultura.

Um abraço do
Mário



Anais do Conselho Ultramarino: Curiosidades da Guiné (2)

Mário Beja Santos

Perguntará o leitor que importância se pode atribuir às matérias constantes nestes anais. A primeira parte da resposta passa por atribuir importância ao Conselho Ultramarino, um órgão que iniciou a sua vida em tempos de Filipe II, teve interrupções, e mesmo com outras designações chegou a abril de 1974. As obras que estão em consulta na Biblioteca da Sociedade de Geografia referem-se concretamente ao período encetado na governação de Fontes Pereira de Melo e que irá durar até à década seguinte. Iniciei a consulta na série 1.ª, vai de fevereiro de 1854 a dezembro de 1858, a edição é da Imprensa Nacional, 1867. Tem-se a sensação quando se folheia estes anais que têm qualquer coisa a ver com o Diário da República colonial, o Conselho Ultramarino funcionava junto do Paço, refere nomeações, condecorações, composição de comissões, autorização de despesas… Há a parte oficial e a parte não oficial, a primeira tem a ver com pedidos de informação, instruções, acusa-se a receção de legislação, exigências orçamentais, abolição de impostos, abertura de portos, vencimentos, abolição da escravatura; a não oficial, tem a ver com a maioria dos casos com artigos, extratos de conferências, enfim, algo que não envolva diretamente nem o Conselho Ultramarino nem a política governamental.

É possível pois encontrar pareceres em que se diz que há dificuldade em se renderem os oficiais e praças de pré destacados para a Guiné, devido à insalubridade do clima, por amor à sua família e Pátria e pela diferença de preço dos géneros; e igualmente se considera que é de grande utilidade providenciar que estes destacamentos fiquem mais tempo na Guiné para evitarem indisciplinas e por razões económicas, e assim o Conselho é de parecer que o Governo expeça ordens ao Governador-Geral para render regularmente, e logo depois da estação das chuvas os destacamentos. Isto em 29 de novembro de 1853. Falando-se da nomeação do Governador de Cacheu, diz o Conselho Ultramarino que ela deve ser feita pelo Governador-Geral de Cabo Verde, deve ter uma gratificação e o seu grau de importância deve ser equiparado à dos comandantes militares das ilhas do arquipélago, entanto o Governador de Cacheu recebe ordens do Governador da Guiné que é subordinado ao Governador-Geral de Cabo Verde. E vem o parecer: Sempre que o Governador da Guiné for governado pelo Governador-Geral deve-se-lhe abonar a gratificação anual de 800 mil reis; é conveniente que o Governo deixe ao Governador-Geral da Província a nomeação do Governador de Cacheu, não devendo a gratificação ser reduzida de 400 mil reis. Isto em 24 de maio de 1855. E há notas curiosas como aquela que Sá de Bandeira assina em 30 de maio de 1857: “Sendo mandado estacionar o patacho de S. Pedro nos portos da Guiné Portuguesa, às ordens do governador da mesma Guiné: Sua Majestade El-Rei há por bem determinar pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e do Ultramar que o Governador-Geral da Província de Cabo Verde o guarneça de gente que pela terra do seu nascimento ou por outras causas esteja habituada ao clima da Guiné, sendo do comando encarregado a pessoa prática daqueles portos, e capaz de o conduzir ao arquipélago de Cabo Verde quando assim seja necessário”.

E temos agora um bom exemplo de texto não oficial, assinado por J. Tavares de Macedo acerca dos Tangomãos, de que eram os Tangomãos de que se fala na Ordenação do Reino. Reporta-se o autor a uma provisão régia de 15 de julho de 1565, extraída por Duarte Nunes de Leão nas suas Leis extravagantes: “que quando algum herdeiro de algum defunto Tangomão, que falecesse nas partes de Guiné demandar o Hospital de Todos os Santos da Cidade de Lisboa, para que lhe restitua a fazenda, que ficou de tal Tangomão, e que o dito hospital arrecadou, por lhe pertencer e lhe ser aplicada, por Provisões e Regimentos régios, por tal herdeiro dizer que não foi citado nem requerido ou que faltou alguma solenidade, das que conforme a direito se requerem, antes das fazendas dos ditos Tangomãos poderem ser julgadas por perdidas e se poderem entregar ao dito hospital, a quem são aplicadas, os juízes do dito hospital e quaisquer outros a que o conhecimento do caso pertencer, não publiquem a sentença final que no tal caso se houver de dar sem primeiro dar a Sua Alteza dele e do caso especial conta”. E o autor pergunta quem são estes Tangomãos. Para o jurisconsulto Molina é palavra que em terra de pretos significa os que vão pelas feiras e trocam mercancias por negros escravos que trazem aos portugueses a vender. Mas há outros que dizem “que Tangomãos sejam os que cativam homens livres, quais eram os que em Guiné andavam apanhando negros; outros finalmente dizem que Tangomão é o que persuada ao escravo que fuja ao seu senhor. Há também quem entende que “os que dizem que Tangomão é o que foge e deixa a sua Pátria e morre fora dela, ou por suas culpas, ou por seus particulares interesses; se a sentença pronunciada contra os bens do Tangomão há de subir à presença d’El-Rei, para se decidir se eles pertencem ou não ao real fisco, fica manifesto que o dono morreu ausente e fugitivo. Não negaremos, contudo, que havendo passada esta palavra de Guiné a Portugal, particularmente se entende dos que fogem e morrem por toda a Guiné e Cafraria”.

É patente que estes eruditos têm tido ideia pouco clara do que eram os Tangomãos, a que se referem as leis antigas. E cita-se o padre Fernão Guerreiro no que escreveu nas suas Relações Annaes: “Também fazem muito serviço a Deus de o ajudar a descativar muitos padres, que sendo livres os trazem cativos e injustamente da terra firma da Guiné os mercadores portugueses que disso tratam, principalmente quando consta da injustiça do seu cativeiro, metendo-os por força nos navios, ou havendo-os de outros negros que injustamente os salteiam e cativam, ou havendo-os também dos Tangomãos, ou lançados com os negros, e que andam neste trato por terra dentro; os quais são uma sorte de gente que ainda na Nação são portugueses e na religião ou batismo cristãos, de tal maneira porém vivem como se nem uma coisa nem outra foram; porque muitos deles andam nus, riscam o corpo todo com um ferro; desta maneira andam por todo aquele Guiné tratando e comprando escravos por qualquer tipo que os podem haver, ou seja bom, ou seja mau, andando tão esquecidos de Deus e da sua salvação como se forem os próprios negros e gentios da terra”.

E Tavares de Macedo diz que é tão clara esta notícia que são escusados mais comentários. “Só notaremos o facto notabilíssimo de como se afaziam a tão inóspitos climas homens que abandonavam inteiramente os hábitos da terra natal, para passarem a viver como selvagens, passavam vinte e trinta anos sem se confessarem nem se lembrarem mais que dos negócios da vida agitada e bárbara que haviam abraçado”. No final do seu artigo, e para confirmar o padre Fernão Guerreiro cita-se João Carreiro capitão de Cacheu em documento de 15 de janeiro de 1650: “Avisar-me-eis particularmente pelo Conselho Ultramarino das pessoas que andarem feitos Tangomãos, e dos que tiverem incorrido nessa culpa, e de suas qualidades, e que utilidade receberá meu serviço deles se reduzirem e virem povoar a viver na povoação, e se convirá ou haverá algum inconveniente em se lhe perdoar as culpas que tiverem, e com que condições se lhe deve conceder perdão, e do benefício que deles disso receberão com o mais vos parecer informar”. Considera Tavares de Macedo que fica cabalmente esclarecido a condição de Tangomão, caraterística ímpar do português que se lançava no mato e ali permanecia dezenas de anos, em qualquer ponto da chamada Senegâmbia Portuguesa.

(continua)


Guiné Portuguesa, mapa do século XIX, propriedade do Arquivo Histórico Ultramarino
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Nota do editor

Último poste da série de 27 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23207: Historiografia da presença portuguesa em África (314): Anais do Conselho Ultramarino: Curiosidades da Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23226: 18º aniversário do nosso blogue (11): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - IV (e última) Parte: 31 de agosto de 1972: "Spínola: Infelizmente ainda tenho que dar tiros, mas a guerra não se ganha aos tiros"... Mas o pior será quando a guerra acabar, conclui o Avelino Rodrigues...





Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17849, Ano 52, Quinta, 31 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5170 (2022-5-3)




























FIM



(Com a devida vénia ao autor, Avelino Rodrigues,
aos herdeiros do António Ruella Ramos, e à Fundação Mário Soares)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06815.165.26103 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17849 | Ano: 52 | Data: Quinta, 31 de Agosto de 1972 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "Suplemento Literário". Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos


Comentário do editor LG:

Registe-se: duzentos mil contos gastos em "infraestruturas de desenvolvimento" (educação, saúde e assistência, agricultura e florestas, veterinária, obras públicas...), em 1971, na Guiné, sendo goverador (e com-chefe) o gen António Spínola, representava, em valores de hoje, mais de 53,7 milhões de euros... Sem contar com as despesas de manutenção do exército e o custo da mão de obra dos militares que trocaram a G3 pela pá, a pica, a enxada, o martelo, o lápis, a caneta, a seringa...

A propósito d0 jornalism0 português na guerra colonial (tema do colóquio que se realizou em 28 de maio de 2015, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa), escreveu Humberto Silva na página da Apoiar, em 16 de julho de 2015:

(...) O jornalista Avelino Rodrigues recorda os seus tempos na Guiné. Lembrou que os jornalistas que ficavam deslumbrados com o espetáculo da guerra mas que mostravam apenas e sempre apenas o lado das tropas portuguesas. Em Bissau por exemplo respirava-se a guerra mas não se a sentia.

Na Guiné, Spínola usava os jornalistas especificamente para divulgar a sua visão alternativa da guerra e Avelino foi chamado à provínicia por ser de esquerda, quase como que para validar a visão de Spínola.

Foi por isso que as crónicas de Avelino Rodrigues foram dos primeiros trabalhos verdadeiramente jornalísticos sobre a guerra em Portugal. Só uma entrevista ao General Spínola não passou porque Marcello Caetano interveio e a sua censura negociou o conteúdo dessa entrevista. (...)


Percebe-se, neste quarto (e último) artigo da reportagem "Guiné: uma crónica imperfeita", que o conteúdo da entrevista com Spínola foi censurado. O jornalista apenas pôde publicar um excerto aqui e acolá. O "spinolismo" (que punha a política à frente das armas) começava a ser perturbador para o titubeante e fraco líder que sucedera a Salazar, temeroso das consequências que podiam desencadear uma franca e aberta divulgação e discussão da estratégia política do general para acabar com a guerra na Guiné, já longa de 9 anos, e cada vez mais "africanizada".

PS - O ten cor inf Herdade, acima citado, de seu nome completo Nívio José Ramos Herdade foi o primeiro comandante do BCAÇ 3833 (Pelundo, 1970/72), sendo depois subtituído pelo ten cor inf Bernardino Rodrigues dos Santos. Companhias de quadrícula: CCAÇ 3306 (Jolmete e Bachile), CCAÇ 3307 (Pelundo e ilha de Jete) e CCAÇ 3308 (Có, Bachile e Capó).
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terça-feira, 3 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23225: O Spínola que eu conheci (35): um militar de caracter reservado, com quem me cruzei várias vezes em Bissau no desmepenho das minhas funções na Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica (Ernestino Caniço)

                                 
Foto nº 1 > Spínola condecorando um alferes 'comando' africano... Em segundo plano, eu sou o portador da bandeja que contem a condecoração 



Foto nº 2 > O General Spínola cumprimentando um  desportista numa cerimónia de condecorações. Ao lado, o Coronel Pedro Cardoso cumprimentando um jovem da Mocidade Portuguesa


Foto nº 3 > O general Spínola cumprimentando a população 



Foto nº 4 > Manifestação de população muçulmana de apoio ao general Spínola


Foto (e legenda): © Ernestino Caniço (2022) . Todos os direitos reservados (Edição e legendag complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)




1. Mensagem de  Ernestino Caniço, (i) ex-Alf Mil Cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2208, MansabáMansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, fev 1970/dez 1971; (ii( médico, a viver em Tomar; (iii) membro da Tabanca Grande desde 21/5/2011; (iv) tem 50 referências no nosso blogue.


Data . terça feira, 3 de maio de 2022, 17h37
Assunto - Força Africana


Caros amigos

Votos de ótima saúde.

Face ao tema epígrafado envio-vos 2 fotografias:

(i) General Spínola condecorando um oficial africano;

(ii) General Spínola e cor Pedro Cardoso  condecorando deportistas e elementos da Mocidade Portuguesa

O interesse das fotos fica ao vosso critério.

Um abraço,

Ernestino Caniço

PS - O editor LG junta mais duas fotos (Poste P15272, de 20/5/2015) (*) que mostram o gosto do general Spínola pelo contacto com a população, apesar do seu "caracter reservado".


2. Em mensagem, anterior, de 18/10/2015, 18:21, publicada no poste P15272 (*), o Ernestino Caniço já tinha escrito o seguinte apontamento sobre o gen António Spínola (**):

Caros amigos

Rebuscando na memória remota algo sobre o tema "com-chefes da Guiné", encontrei algumas lembranças e fotos.

Só conheci o General Spínola, cruzando-me com ele algumas vezes, pois não foi infrequente o meu acesso ao Palácio do Governo. Isto porque, enquanto alferes da Repartição de Ação Psicológica (ACAP) e em funções na Secção de Operações Psicológicas, me dirigia ao Palácio nas minhas atividades correntes.

Um outro motivo pelo qual frequentei o Palácio, foi a minha participação num grupo de trabalho sobre o problema demográfico de Bissau, que integrava dois economistas, sendo um representante da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o outro não me recordo, e eu próprio em representação da área militar.

O caráter reservado do sr. General não me permitiu ilacionar qualquer opinião consubstanciada.

Anexo algumas fotos sobre a temática.

Um abraço,
Ernesto Caniço

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de  2015 > Guiné 63/74 - P15272: Inquérito "on line" (11): Sobre o tema Com-Chefes da Guiné, encontrei algumas lembranças e fotos do General Spínola (Ernestino Caniço)

(**) Último poste da série > 24 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20273: O Spínola que eu conheci (34): um testemunho, de um ex-combatente, Ângelo Ribau Teixeira (Angola, 1962/64), que mostra não ter sido inspiração de circunstância o conceito de “Por uma Guiné Melhor” que o meu saudoso Comandante-Chefe materializou na Guiné anos mais tarde (1968) (Morais da Silva, cor art ref, cmdt da CCAÇ 2796, Gadamael, 1970/72)

Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG



Guiné > s/l [Bambadinca ?] > s/d [c. 1971/73] > A Força Africana... O major inf Carlos Fabião, na altura (1971/73),  comandante do Comando Geral de Milícias, e o gen António Spínola, passando revista a uma formatura de novos milícias.(*)

In: Afonso, A., e Matos Gomes, C. - Guerra colonial: Angola,  Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d. , pp. 332 e 335. Autores das fotos: desconhecidos. (Reproduzidas com a devida vénia)


1. Estes dados  foram  retirados do trabalho do jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues,  enviado em julho de 1972, à Guiné, por convite (e com garantias) de Spínola . 

Merecem o devido destaque, salvaguardadas as necessárias reservas por não se tratar de uma fonte independente... Nomeadamente, os que respeitam aos efetivos do PAIGC  e à população sob o seu controlo. Não é por acaso que o jornalista deu ao conjunto desses quatro artigos de reportagem o título de "Guiné, uma crónica imperfeita" (**)


TERRITÓRIO:

(i)  "a superfície cresce e diminui todos os dias, consoante as marés, situando-se numa média de 32 mil quilómetros quadrados, com 193 quilómetros na extensão Norte-Sul e 330 de Leste a Oeste";

(ii) "a estas condições geográficas tão difíceis para um exército tradicional, vem juntar-se uma fronteira de 750 quilómetros, completamente aberta tanto no aspecto físico como no povoamento".


POPULAÇÃO:

(iii) "Bissau afirma controlar 487 448 habitantes (foram os que se deixaram recensear em 1970)",

(iv)  "mantendo-se outros 27 174 em 'zonas de duplo controle' ".

(iv) "no Senegal vivem 60 000 refugiados, e na Guiné 20 000, segundo informa o Comando-Chefe, apoiando-se em  dados da Comissão de Refugiados da ONU";

(v) "a ser assim, 89,5 por cento dos guinéus viveriam no interior do TO (teatro de operações) e 82 por cento do total estariam sob controle português."

(vi) "numa população que em 1970 era de 594 622 habitantes"

(vii) "os balantas seriam em 1963 perto de 200 mil, isto é, cerca de metade dos guinéus [ erro de cálculo do jornalista, é um  terço e não metade];

(viii) "uma maioria trabalhadora e explorada que forneceu à guerrilha os seus primeiros combatentes";

(ix) "um povo dividido, combatendo, com o PAIGC os fulas, dominadores,  e contra o PAIGC, ao lado de outros fulas da Força Africana".


PAIGC:

(x) "os dois mil combatentes que (...) actuam dentro das fronteiras, manobram a partir das 'zonas sob duplo controle' (...), situadas ao longo do corredor florestal e particularmente nas proximidades de Bissorã / Mansabá / Canjambari, confluência do Geba/Corubal, e sobretudo na zona ao sul do rio Buba, à volta de Catió".

(xi) "outra zona 'quente' situa-se perto do Cacheu, junto ao rio do mesmo nome, alastrando pelas florestas  ao norte do Bachile e do Pelundo";

(xii)  "calculam-.se em 7 000 os combatentes do PAIGC actuando a partir de 25 bases da fronteira senegalesa e de 8 da República da Guiné, incluindo aqueles que se encontram dentro do TO";

(xiii) "militarmente,  as forças do PAIGC estão estruturas em 'corpos de exército' integrados por um comandante, um comissário político, dois chefes de destacamento e três unidades: um grupo de bazookas, ou lança granadas foguete; uma bateria de artilharia, ou de armas pesadas de infantaria, como morteiros ou canhões sem recuo; e quatro bi-grupos";

(xiv) "cada bi-grupo é constituído por dois agrupamentos de trinta e cinco homens (agora reduzidos a vinte e cinco)".

FORÇA AFRICANA:

(xv) "compõem a  Força Africana perto de 5 mil soldados regulares, cerca de 6 mil milícias e mais de 6 mil auto-defesas, além de outros 5 mil homens enquadrados na guarnição normal";

(xvi) "os regulares negros estão enquadrados em companhias de comandos africanos (uma outra está a ser constituída) com oficiais nativos, destacamentos de fuzileiros (e mais um em constituição) com alguns quadros negros, e ainda doze companhias de caçadores instaladas no 'chão' das suas etnias e igualmente comandadas por alguns graduados nativos";

(xvii) "são a grande tropa de elite da guerra da Guiné, capazes de aguentar uma operação  de quatro a cinco dias nas zonas mais 'quentes' do mato, e sempre com um arrojo e ferocidade de fazer tremer a selva",

(xviii) "o corpo de milícias (nove semanas de instrução) é constituído por elementos novos com farda e soldo; são uma espécie de militares em part-time, com a missão fundamental de defesa das populações que habitualmente protegem durante a noite e acompanham nos trabalhos do campo; são todos voluntários, mas só em circunstâncias especiais participam em operações".

(xix) "as auto-defesas são constituídas por civis nativos, sem instrução militar". (***)





Guiné > s/l > PAIGC > Novembro de 1970 > Um bigrupo (em geral, constituído por 30/40 elementos). Na foto contam-se 27 guerrilheiros. Repare-se que na sua generalidade  usam sandálias de plástico (só um usa botas de lona) e há uma grande indisciplina no vestuário. Metade não usa boina ou barrete. Quanto ao armamento, vemos dois apontadores de RPG, e o resto empunha armas automáticas (Kalash, PPSH, Degtyarev...)

Imagem do fotógrafo norueguês Knut Andreasson (com a devida autorização do Nordic Africa Institute, Upsala, Suécia). A fotografia não traz legenda. E  alegadamente. terá sido tirada   em "região libertada" (sic).

Fonte: Nordic Africa Institute (NAI) / Foto: Knut Andreasson (com a devida vénia... e a competente autorização do NAI)  (As fotografias tem numeração, mas não trazem legenda. 

Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9526: As novas milícias de Spínola & Fabião (1): excerto do depoimento, de 2002, do Cor Inf Carlos Fabião (1930-2006), no âmbito dos Estudos Gerais da Arrábida (Arquivo de História Social, ICS/UL - Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa)

(**) Vd. poste de 2 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23222: 18º aniversário do nosso blogue (10): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - Parte III: 30 de agosto de 1972: uma formidável máquina de guerra africana contra o PAIGC

(***) Último poste da série > 15 de março de 2022 > Guiné 61/74 - P23079: A nossa guerra em números (15): Segundo o investigador Ricardo Ferraz, do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia, a guerra colonial (1961/74) custou ao Estado Português, a preços de hoje, e na moeda atual, cerca de 21,8 mil milhões de euros

Guiné 61/74 - P23223: Parabéns a você (2060): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux. Enfermeiro da CCAV 3366/BCAV 3846 (Susana e Varela, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23216: Parabéns a você (2059): Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)